tag:blogger.com,1999:blog-82524133252827321272024-03-19T09:49:54.028+00:00Estudo GeralUma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem".
Coordenação de Edição: Luís Santos.estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.comBlogger3165125tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-89724045665733613362024-03-19T09:14:00.002+00:002024-03-19T09:49:22.448+00:00Do Diário de Vida de Raul Iturra<p> </p><p><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 18pt; text-align: center; white-space-collapse: preserve;"> Estar Dividido</span></p><span id="docs-internal-guid-bc83f849-7fff-da36-de1b-285e3fc8ac8c"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Estou muito dividido,</span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 18pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> </span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">diário amigo. A Lídia Jorge com o seu livro Misericórdia, fez-me pensar na eterna luta entre funcionários e utentes de um lar, como tenho te dito antes. Parece que a lógica do utente não condiz com a realidade quer na sua vida pessoal, quer com o momento da história da vida social; a lógica dos funcionários é totalmente ligada a esta história, é uma lógica formal e estruturada pelo acontecer quotidiano. Eis porque estas duas lógicas esbarram e há gritos dos funcionários e falta de entendimento dos utentes que sofrem porque não são percebidos no que procuram e no que querem. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">No entanto, eu próprio fico impaciente quando quero interagir com um colega do lar e não sou entendido, quando tenho da sua parte como resposta um imaginário idealizado. Como essa colega residente do lar a quem solicitei sentar-se no sofá ao pé de mim para eu lhe explicar o que acontecia na televisão e ela, nem curta nem preguiçosa, disse-me que não podia porque o seu boneco, esse brinquedo que ela apaparica não quer sentar-se aí. Perante esta situação impacientei-me e gritei: “sente-se onde quiser, eu não lhe explico nada!”. Após minutos de discussão, ela feliz, eu farto e de mau humor, digo-lhe “é apenas um urso de pelúcia que a senhora tem!”. É evidente que a senhora não entendeu porque esse boneco para ela é uma criança que chora, que tem frio, que ela embala no seu colo: uma realidade da lógica ideal que ela usa para a sua compreensão dos factos.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> O que para mim não tem valor nenhum para ela é a base do seu quotidiano, do seu viver, da importância que o urso de pelúcia tem na sua vida. Observo que os funcionários nestas situações gritam e zangam-se. Eu também gritei e zanguei-me com a senhora sendo no entanto apenas uma ocorrência entre mim e ela. Os funcionários têm centenas de ocorrências deste tipo durante o dia, cansam-se, zangam-se, gritam, empurram, desistem. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Quando eu me zango com um colega utente entendo os funcionários que não conseguem aceitar e entender as aldrabices da lógica mágica do utente por falta de preparação ou de condições de trabalho.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Tenho observado que os funcionários conseguem adaptar-se à racionalidade do utente quando estão de bom humor. O funcionário trabalha com intuição e emotividade, base da sua perdição. Quantas vezes, no outro extremo, quando um funcionário comporta-se com impaciência com um utente, eu corro para defender o utente. É esta conduta de funcionários e utentes que me tem partido em dois. Ora admiro o trabalho do funcionário, ora critico esse trabalho. Eu próprio ora resgato o utente do magma em que o funcionário o colocou, ora também o coloco nesse magma. Normalmente acarinho com palavras e carícias o utente que sofre e não é entendido nessa lógica mágica. O que eu tento é conseguir um equilíbrio entre as duas lógicas do lar. Se eu faço bem ou faço mal já não sei, não estou treinado. Como não estão treinados os funcionários do lar e ainda muito menos treinado está o residente que a senilidade em qualquer idade o levou a falhar na racionalidade social.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> A Lídia Jorge no seu romance “Misericórdia” remete o leitor para estas lógicas em confronto mas como escritora não residente num lar acaba por romancear o que presenciou nas suas visitas. A mãe, que ela denominou Dona Alberti, transmite-lhe através do seu diário de vida os elementos que me permite pensar na lógica do lar. O livro serve como um panegírico para reformular essas vidas, diário amigo. Obrigada Lídia Jorge que me tem ajudado a perceber a minha vida como utente de um lar. </span></p><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O livro de que falo é “Misericórdia”, Lídia Jorge, Dom Quixote, 2022</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Professor Doutor Raul Iturra, Catedrático Emérito do ISCTE-IUL</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Texto Editado por Claire Smith Antropóloga</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Barra Mansa, Março de 2024 </span></p><div><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div></span>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-86236391193849226222024-03-17T12:24:00.001+00:002024-03-17T12:24:49.131+00:00Paulo Borges, curso online<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4fU4OOSa2CdWgDCHJLJPqCgwn0Ncnehs5xLjm9XrUg8cXE7hjnQRSf_QzQtvQUJw8xqhGDHtkr8QeWluVdgpsLbRIwZtrhezIwCPL7n-pQfevs6jLR3KVh_u3ui-ARYwAA8I6nBDNMyvtVGVO9ZQbKRCuid-54Q3X38Kq90kHA5uYc0LEAWE5pdHkkkt4/s1350/PB%20Vis%C3%A3o%20Pura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1350" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4fU4OOSa2CdWgDCHJLJPqCgwn0Ncnehs5xLjm9XrUg8cXE7hjnQRSf_QzQtvQUJw8xqhGDHtkr8QeWluVdgpsLbRIwZtrhezIwCPL7n-pQfevs6jLR3KVh_u3ui-ARYwAA8I6nBDNMyvtVGVO9ZQbKRCuid-54Q3X38Kq90kHA5uYc0LEAWE5pdHkkkt4/w320-h400/PB%20Vis%C3%A3o%20Pura.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E se tudo fosse uma Presença luminosa, sem princípio nem fim, aquilo a que uns chamam Buda, outros "Deus", outros "Tao", ouyros "Brahman" e outros o que não tem nome?</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E se a tua essência, tal como a de tudo quanto existe, nada fosse senão esta mesma Presença infinita, consciente e amorosa, livre de nascimento e morte? </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se o que chamas “eu” não fosse senão a máscara desta Presença, que num sentido a manifesta e noutro a encobre? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se </span><span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span><span style="font-family: inherit;">toda a tua vida, bem como a vida do universo e de todos os seres, nada fosse senão a manifestação contínua desta Presença? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se tudo o que experiencias, gratificante ou doloroso, não fossem senão oportunidades para reconheceres quem verdadeiramente és? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se tudo o que mais procuras – liberdade, felicidade, conhecimento, amor, beleza, poder, riqueza, realização – não fossem senão qualidades desta Presença que é a verdade mais funda de ti e de tudo? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se o sentido último e supremo da tua vida e do cosmos fosse descobrires e realizares isto, para assim ajudares os outros a cumprirem-se plenamente? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se tudo isto fosse o Tesouro que és e ignoras, enquanto estiveres a dormir e sonhar que não és desde sempre a plenitude que procuras? </span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">E se desde tempos imemoriais até hoje muitos seres humanos, mulheres e homens como tu, houvessem despertado e, movidos por amor e compaixão, tivessem deixado mensagens e instruções claras sobre como podes também despertar do sono e do esquecimento para a fruição da Preciosa Jóia em ti escondida?</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><a class="x1i10hfl xjbqb8w x1ejq31n xd10rxx x1sy0etr x17r0tee x972fbf xcfux6l x1qhh985 xm0m39n x9f619 x1ypdohk xt0psk2 xe8uvvx xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r xexx8yu x4uap5 x18d9i69 xkhd6sd x16tdsg8 x1hl2dhg xggy1nq x1a2a7pz xt0b8zv x1fey0fg" href="https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fvisaopura.pt%2Factividade%2Fpresenca-luminosa-o-despertar-espiritual-nas-sabedorias-do-mundo%2F%3Ffbclid%3DIwAR2-tjS9aMyMYIf9c3_jJJvZi8xQwCTau2utx5exHnoMwjDY5ihOPNISFIQ&h=AT0RgNoYwUEUytQYU-XthIodcoSDweBXXM9O31ibVcCUAIp7UVWVsDodNdl7BiLahncg3buC0a78U2WAZi5MZ1I3ABG5PKcF2afCxjuUqXcnkJM5DEyKE_bfcP0oJeeVTw&__tn__=-UK-R&c[0]=AT2ZZzoqaWVHGn1OO5ubA6UXU46_Ww9XDujMeMmOznwGoQ2XpLrLcy4idPWFwYmoyWqx0lWRQVbEXnThS2eYUXB9ykBFFjcOZYqO4qkcPNQtc6a4_wgby0eqHeyW4KTMdVIXx9btrFII8pUR2VI0B7FJVsu-553cva2U6vYkfvUwtLhMxEFkXw" rel="nofollow noreferrer" role="link" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: transparent; border-style: none; border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: inherit; text-decoration-line: none; touch-action: manipulation;" tabindex="0" target="_blank">https://visaopura.pt/.../presenca-luminosa-o-despertar.../</a></span></div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-84021197569039129552024-03-15T10:05:00.003+00:002024-03-15T10:10:58.609+00:00JOSÉ GIL<p> <span color="var(--primary-text)" style="font-family: inherit; font-size: large;"><i>"O homem, professor e amigo, mais apaixonado pelo Teatro que nós conhecemos"</i></span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir1gA_7S3prcRkBLrbGDPnq9EHUuUtmjfC9-_TA57rweyY3lqpczAIRZUgirpCi8QnbUkjEIyv7OtZV8o2TKUOz2avcUmSkxpsFdXsbDnKgmBLwaA2Zfmy7jtPeWpifffLd3vsMSwnXOJgjlgSYacdpqyEKuvQXUBXquvR_wyh0qrcL7yc16uPvdI61VtG/s2040/Jos%C3%A9%20Gil.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2040" data-original-width="1536" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir1gA_7S3prcRkBLrbGDPnq9EHUuUtmjfC9-_TA57rweyY3lqpczAIRZUgirpCi8QnbUkjEIyv7OtZV8o2TKUOz2avcUmSkxpsFdXsbDnKgmBLwaA2Zfmy7jtPeWpifffLd3vsMSwnXOJgjlgSYacdpqyEKuvQXUBXquvR_wyh0qrcL7yc16uPvdI61VtG/w301-h400/Jos%C3%A9%20Gil.jpeg" width="301" /></a></div><p></p><div class="xieb3on" style="color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 20px;"><div class="x9f619 x1n2onr6 x1ja2u2z x78zum5 x2lah0s x1qughib x1qjc9v5 xozqiw3 x1q0g3np x1pi30zi x1swvt13 xyamay9 xykv574 xbmpl8g x4cne27 xifccgj" style="align-items: stretch; box-sizing: border-box; display: flex; flex-flow: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; justify-content: space-between; margin: -6px; padding-left: 16px; padding-right: 16px; padding-top: 16px; position: relative; z-index: 0;"><div class="x9f619 x1n2onr6 x1ja2u2z x78zum5 xdt5ytf x193iq5w xeuugli x1r8uery x1iyjqo2 xs83m0k xsyo7zv x16hj40l x10b6aqq x1yrsyyn" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px; position: relative; z-index: 0;"><div class="x2b8uid x80vd3b x1q0q8m5 xso031l x1l90r2v" style="border-bottom-color: var(--divider); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-family: inherit; padding-bottom: 16px; text-align: center;"><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;">encenador dramaturgista ator teatro artes do palco e de rua<br />de 1973-2024 teatro mundial</span><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><br /></span><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;">novos dias novas fotos teatro trabalho regular sempre, lutamos por estrear em Setúbal 24-maio-2024 pode escrever joseamilcarcapinhagil@hotmail.com</span><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><br /></span><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;">Professor Adjunto de Teatro na empresa Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal durante muitos anos, agora jubilado, mas não por vontade própria.</span><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u" color="var(--primary-text)" dir="auto" style="display: block; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><br /></span></div></div></div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-45571778292807054392024-03-06T08:59:00.000+00:002024-03-06T08:59:08.450+00:00Textos Soltos<p> <b>Luís Santos</b></p><h4 style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">"De que árvore florida chega? Não sei. Mas é seu perfume."</span></span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">(Matsuo Basho)</span></span></div></h4><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizbBK3aHkIWPvoHsLmxldsjxF81kXQj-Xu1ZtuOBRQC52LibUdmvQD4k19ycGIJ3fZDQ9upAls3BvvJRzblNfKrKK_YHMqfbDzs-V5cbWFvWg3McjcZBS5rSfTGhmqU3kkAwM8BtJHiqrpG-CLhCOlU0hdPL2gi9wjM8s1nKvuGQxq7UjL7KcyXy06ZFCg/s270/mar%C3%A7o%206.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="213" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizbBK3aHkIWPvoHsLmxldsjxF81kXQj-Xu1ZtuOBRQC52LibUdmvQD4k19ycGIJ3fZDQ9upAls3BvvJRzblNfKrKK_YHMqfbDzs-V5cbWFvWg3McjcZBS5rSfTGhmqU3kkAwM8BtJHiqrpG-CLhCOlU0hdPL2gi9wjM8s1nKvuGQxq7UjL7KcyXy06ZFCg/s1600/mar%C3%A7o%206.jpg" width="213" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O ESTUDO GERAL, um pasquim digital que temos vindo a realizar, fez 14 anos. Ao longo destes anos muita e boa gente tem passeado por aqui. A tónica dominante tem sido a Língua Portuguesa, mas não exclusivamente. A última publicação foi do chileno Professor Catedrático Emérito Raul Angel Iturra, com quem temos tido gosto em aprender, já lá vão 40 anos. Um texto próprio de um sábio.</span></div><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Muito mais se pode ver neste ESTUDO... Já este ano participaram autores como Firmino Pascoal (Projeto Musical Lindu Mona), Luís Souta (Literatura, o pão nosso de cada dia), Agostinho da Silva (a propósito dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões), Luís Santos (editorial e fotografia) e, por último, Raul Iturra (Leitura em Voz Alta).</span></div><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Fica também um apreciável, adorável, "photopoema de Kity Amaral, pintora brasileira, mineira, que muito estimamos.</span></div><div class="separator" style="clear: both; color: #050505; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt; text-align: justify;"><br /></div>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #050505; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><div class="separator" style="clear: both; font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivpS7BSEkyp0GggxQupyI4fbnxMO58Wbj3olkTA0j2ZcIVTntpO_EgWjl71oAKbAhOm7ZQsCtv3GCI8ebGaaGEj_F-yNqOB634HI1IvGotEBK3biR0x0JRJfIBm3HVagF9ZxEsp51tby6-PZngKK1Mdd0F72htu9Czez99PtRVtylrmc_UNam5sbmS9g5j/s2048/mar%C3%A7o%209.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivpS7BSEkyp0GggxQupyI4fbnxMO58Wbj3olkTA0j2ZcIVTntpO_EgWjl71oAKbAhOm7ZQsCtv3GCI8ebGaaGEj_F-yNqOB634HI1IvGotEBK3biR0x0JRJfIBm3HVagF9ZxEsp51tby6-PZngKK1Mdd0F72htu9Czez99PtRVtylrmc_UNam5sbmS9g5j/w200-h150/mar%C3%A7o%209.jpg" width="200" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: arial;"> Vou até lá, mas volto já. Um miradouro, uma paisagemm uma paz: que beleza de natureza, aquela que gosta de regressar. E, depois, um rio que dá num rio, num doce balançar que trás à memória proncesinha do mar. Um antigo estaleiro naval e a água escura que molha a areia branca. Abaeté. A chuva molhava-me o rosto. Bacalhau de molho. Fevereiro, Carnaval e Março. Alô, Alô, Ernestina aquele abraço. Mas náo é José que o Egito resplandece em plemo umbigo e o sinal que vejo é este, onde o cujo faz a curva, o cu do mundo esse nosso </span></span><span style="font-family: arial;"><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt; white-space-collapse: preserve;">sítio. E para você que me esqueceu, aquele abraço. Aquela bahia já me deu régua </span><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt; white-space-collapse: preserve;">e compasso, quando Jorge assentou praça na cavalaria e eu fiquei feliz, porque </span><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt; white-space-collapse: preserve;">eu também sou da sua companhia. De Iaparica à cidade da Praia, uma cidade com </span><span style="background-color: transparent; font-size: 12pt; white-space-collapse: preserve;">dois nomes. Logo mais, mornas e coladeras.</span></span></div></span></div><p></p><p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #050505; font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1mdI3pEKIOLb9u3LKEJGmr2OLbvtTjAIjuQ51cFIicfEoa4Oz9WH-fK1GdQNzxlUp1JSOJAgqLMyrHC6jotaDIWvnxXYmDdeoTlMyGxHXHEIhy9LU0HMv7mG17f8-K2ZeziR8WJjsf1GmxoBC3ETxIqLL-E-TIgPsdcoFwdZhsjCGvFq_vUZ2Tn3WdQGd/s2048/mar%C3%A7o%2018.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1mdI3pEKIOLb9u3LKEJGmr2OLbvtTjAIjuQ51cFIicfEoa4Oz9WH-fK1GdQNzxlUp1JSOJAgqLMyrHC6jotaDIWvnxXYmDdeoTlMyGxHXHEIhy9LU0HMv7mG17f8-K2ZeziR8WJjsf1GmxoBC3ETxIqLL-E-TIgPsdcoFwdZhsjCGvFq_vUZ2Tn3WdQGd/w150-h200/mar%C3%A7o%2018.jpg" width="150" /></a><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 12pt; line-height: 107%; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">HOJE ao pequeno-almoço
estivemos muito bem acompanhados. Uma roda de amigos, foi o Pomar que se
lembrou, vieram o Ricardo, o Álvaro, o Alberto e a Hoffélia, como se vê na
foto. Mais do que uma teoria, uma mónada de verdade, uma congregação de
espíritos simples que encontramos amiúde, e que já vêm desde o início,
inacessíveis e incorruptíveis a tudo quanto existe, pois que existe por inteiro
e é ela própria sem partes. Uma evolução e desenvolvimento até chegar ao
intelecto. União perfeita de espírito e matéria. Um frequenta o mesmo hipermercado e é engenheiro, outro vive na mesma rua ajudante de telecomunicações, também um guardador de rebanhos, ela professora, o promotor do encontro é pintor. Um deles disse que "o Homem é do tamanho do seu sonho", ao que se aproveita a ocasião para perguntar, afinal quantos somos cada um, ó Fernando Pessoa?</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 12pt; line-height: 107%; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></div><p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #050505; font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMs7D2ICKx5x85I0uz0k8cakK2Xaq6EE4CSGD5ff8i3Z974sLN4zLoK1wuxDqfYh23Smm8lVBb_wTMki_3d2otYSNYKjcgJaQmtr0OF-4f2-HLw80MdUrl_iD-QxBR2I-fCWiHPPOOMvhR4pg65LJWooXCe3ECU2Nm3wqX0kKoktt97pf2EO-0w50gf_uA/s2048/mar%C3%A7o%2024.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMs7D2ICKx5x85I0uz0k8cakK2Xaq6EE4CSGD5ff8i3Z974sLN4zLoK1wuxDqfYh23Smm8lVBb_wTMki_3d2otYSNYKjcgJaQmtr0OF-4f2-HLw80MdUrl_iD-QxBR2I-fCWiHPPOOMvhR4pg65LJWooXCe3ECU2Nm3wqX0kKoktt97pf2EO-0w50gf_uA/w200-h150/mar%C3%A7o%2024.jpg" width="200" /></a><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Sentimos saudades daquele pequeno promontório do nosso
familiar ROSÁRIO. Já não nos permitíamos aquela boa contemplação, fazia
demasiado tempo. Um dia destes António Lobo Antunes há-de descrevê-lo por
magistrais palavras. À beira do sítio onde mora, uma pequenina igreja que está
perto de comemorar quinhentos anos. Portal manuelino, arco triunfal de volta
perfeita do mesmo estilo e paínéis de azulejos azuis e brancos com cenas da
Senhora com o Menino. Senhora que certamente lhe dá nome, tantas as voltas que foram
dadas a desfiar as contas maiores e as contas menores... o Rosário.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Mas, desta vez, o que nos levou lá foi aquela boca da ponta da passadeira por onde, depois de kilómetros a fio, nos entras o Tejo. Por detrás, ponte 25 de Abril e Cristo-Rei, Almada e Lisboa, foz do rio feito um estuário que se despeja no Atlântico. Oceano que nos trás a água do rio misturada com o salgado vai-vém do mar. Movimentos de maré. E até o Coina que vem descendo da Arrábida e se enfia neste seu braço do Tejo, ali na crescente beleza do nosso Barreiro, ajuda à festa da dança prateada das águas que nos assistem. O resultado é esta baía de águas calmas, mar da palha, onde tantas vezes nos enfiámos da cabeça aos pés e nos vai ajudando a desfiar esta maravilhosa coisa rara e preciosa, do estar aqui.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Bem hajam.</span><br /></span></div><br /><p></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-50650825527096710342024-02-21T11:54:00.002+00:002024-02-21T11:54:54.611+00:00DO DIÁRIO DE VIDA DE RAUL ITURRA<p style="text-align: center;"><b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; white-space-collapse: preserve;"><br /></b></p><p style="text-align: center;"><b style="font-family: Arial, sans-serif; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: large;">Sobre o livro “Misericórdia” de Lídia Jorge</span></b></p><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: center; white-space-collapse: preserve;"><b><span style="font-size: large;"></span></b></span></p></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: center; white-space-collapse: preserve;"><b><span style="font-size: large;"></span></b></span></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: center; white-space-collapse: preserve;"><b><span style="font-size: large;"></span></b></span></p></blockquote><p><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: center; white-space-collapse: preserve;"><b><span style="font-size: large;"></span></b></span></p><span id="docs-internal-guid-339b47d9-7fff-7ee9-671c-104d2d908422"><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Em Janeiro passado fiz 83 anos, meu querido diário de vida. A minha filha mais nova veio visitar-me desde a nossa linda cidade de Cambridge, Inglaterra, e me ofereceu um William Boyle; três das minhas amigas almoçaram conosco e encheram-me de Ken Follets; a minha mulher, de forma mais concreta, ofereceu-me um Lídia Jorge, era o seu mais recente romance “Misericórdia” que me impactou profundamente. Ela contraria a lenda sobre os lares de idosos ao falar da vida da sua recente falecida mãe num lar da Misericórdia. Construiu uma teia de relações sociais entre a dona Alberti e as suas amigas do lar o que a ajudam a manter a sua mente activa. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">A sua personagem central, essa Dona Alberti, escreve tudo o que vê e faz no seu diário de vida e em notas de papel que guarda e esconde e que a romancista recolhe, lê e elabora. Há um mistérioso facto de uma morte de um velho que namora com outra idosa do lar e que falece no meio da noite no quarto desta mesma senhora. Eles namoravam, contrariando as histórias que existem da falta de sentimentos amorosos entre anciões. A romancista desmonta a ideia de que os adultos maiores não teriam libido, engano de muita gente. As pessoas mesmo atacadas de senilidade como nos mostra Lídia Jorge, são capazes de estabelecer amizades, simpatias, empatias e amores secretos. Ela salienta o que a sua mãe diz no seu diário, a existência de uma luta incrível entre utentes do lar que vivem segundo a sua lógica senil bem primária que devia ser respeitada, ser tratada com dignidade e os funcionários que aí trabalham que a querem ignorar. Os anciões tem a sua vontade de viver e sua vontade de ser. O desejo de ser pessoa digna existe profundamente nos velhos como salienta Lídia Jorge ao longo do seu livro e como reparo no lar onde moro. Ela também desfaz o mito da alegria que é a vida numa casa de repouso em que tudo estaria feito à medida de proporcionar esta alegria entre os utentes aí residentes. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Na realidade os funcionários agem como se os anciões fossem parasitas inadequados para vida em sociedade, pensem que de nada se lembram, pensam que não sentem frio, pensam que são entes sem objetivos de vida. Este livro parece ter sido feito à minha medida. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Identifico-me em tudo o que Lídia Jorge diz fruto da minha experiência de oito longos anos da minha permanência numa chamada casa de repouso, cheia dos gritos dos trabalhadores e dos utentes, das raivas entre eles e do mau entendimento das suas lógicas. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Também é possível observar como trabalham mais estrangeiros do que nacionais entre as paredes quer da Misericórdia do livro quer na casa de repouso onde eu moro. Estes imigrantes procuram seu primeiro emprego em Portugal mas quando conseguem uma alternativa, fogem do cansaço de mudar fraldas, vestir roupas limpas todos os dias, de lavar as mãos usadas para comer. Essa falta de urbanidade não desejada pelo anciões mas que deve ser tolerada por ser a lógica que reina na vida senil. Lógica estudada mas nunca estruturada para ser ensinada aos trabalhadores sobre o entendimento que devem ter os funcionários acerca do pensamento dos velhos nem para melhorar as suas condições de trabalho. Este livro é o emblema do que deve ser reformulado na atenção das pessoas idosas e das condições de trabalho dos funcionários e de vida dos utentes. Meu querido diário, mais tarde vou referir outros assuntos. O livro de que falo é “Misericórdia”, Lídia Jorge, Dom Quixote, 2022.</span></p><p style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: left;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Professor Doutor Raúl Iturra, Catedrático Emérito do ISCTE-IUL</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Texto editado por Claire Smith, antropóloga.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Barra Mansa, 20 de Fevereiro de 2024.</span></p><div><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div></span>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-65019963525359417422024-02-18T16:22:00.001+00:002024-02-19T14:29:43.071+00:00"Literatura: o pão nosso de cada dia" (XXIII)<p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><b>Luís Souta</b></span></p><p style="text-align: center;"> <b><span style="font-size: medium;">LITERATURA NO ENSINO</span></b></p><h4 style="text-align: left;"></h4><h3 style="text-align: left;"><p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: right;"><span style="font-size: small; font-weight: normal;"> «A ingente tarefa de ensinar literatura é a de dar a conhecer por meio da leitura </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: small; font-weight: normal;">o conteúdo e o sentido daquilo que chamamos existência humana» </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: small; font-weight: normal;">(Salvato Telles Menezes, </span><i style="font-size: small; font-weight: normal;">Literatura</i><span style="font-size: small; font-weight: normal;">, 1993:42)</span></div><p></p></h3><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No território escolar, a crise parece também instalar-se. “Acabar de vez com a literatura”[1] e “A literatura morre na escola?”[2] são títulos sugestivos de artigos que prenunciam um certo mal estar, ou pelo menos, o reconhecimento de um domínio que está longe da consensualidade. Tal foi evidente nos dois processos de revisão curricular do ensino secundário, entre 2001 e 2003. Em causa estava o fim da obrigatoriedade d’<i>Os Lusíadas</i> (no10º e 11º anos)[3] sendo a leitura (de excertos!) passada para o 12º, a substituição da disciplina de «Português» pela de «Língua Portuguesa» nos cursos gerais, e o entrincheirar da «Literatura Portuguesa» ao Curso Geral de Línguas e Literaturas[4]. Estas opções tinham como base três pressupostos, ainda que não explicitados: (i) a generalidade dos alunos termina o ensino básico sem o domínio da língua materna; (ii) uma certa desvalorização da literaturacomo propiciadora, por excelência, da formação linguística dos alunos; (iii) restringir a utilidade da literatura apenas àqueles que prosseguem estudos superiores nessa área; (iv) «o ensino se deve aproximar cada vez mais da preparação do estudante para o mundo do trabalho (o chamado mundo das realidades), libertando-o das disciplinas que representam o queaparentemente é inútil (as disciplinas de humanidades)»[5], ou «disciplinas simplesmente toleradas», como as classificava Rui Grácio (1959:122).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Muitos escritores contestaram esta revisão curricular[6] em que a literatura (que já era pouco importante) passava a marginal.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih5xKrMCWgcOid50YFQYATQ8Nch7c09NtfINvo7ivclIzY9gb04K1NyYUV6V5jusbU1y9JEbAEF8mK45fDjo96ZEjzZSpoa_jaGJyVijL0IWM64YKJLHJBcUmIjMTc2hzEpr_5sckymkCtnEabJeFbEJfBIezzhO7mehz78ewpyfwEQu6v_wlp5d7XlhlM/s320/LS30.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="196" data-original-width="320" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih5xKrMCWgcOid50YFQYATQ8Nch7c09NtfINvo7ivclIzY9gb04K1NyYUV6V5jusbU1y9JEbAEF8mK45fDjo96ZEjzZSpoa_jaGJyVijL0IWM64YKJLHJBcUmIjMTc2hzEpr_5sckymkCtnEabJeFbEJfBIezzhO7mehz78ewpyfwEQu6v_wlp5d7XlhlM/s1600/LS30.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Manuel Gusmão</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Manuel Gusmão (2003) alertava para o facto de o «ensino da língua materna, expurgada da sua literatura, reduz a língua a uma função veicular, empobrece-a e pode aproximar-se perigosamente das técnicas específicas do ensino de uma língua estrangeira.» Carlos Ceia chegava a considerar estas decisões curriculares com uma «sentença de morte que é passada ao património literário português» (2001:8), onde o ensino da língua e o ensino da literatura deviam em caso algum ser separados. Nesta mesma linha se posicionava a escritora e jornalista, Alexandra Lucas Coelho (2001) que, em artigo de opinião, considerava que «a rasura da literatura dos programas de língua portuguesa só fará menos pela leitura e pelo amor aos livros.»</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiceHBQirPNE7kFRuXV2E_VJ9-8EjCGW68-WgleizLS4W_Lf7UqMCQOdDihhBAF_avKb7KIBaXjormpTaxHHdsc1FyrsA3SUrqpHtPymFepe9LZfuPISSBE942bABfsreAqVaRM71NAJpdlL734Mxl9-MfGqr1DHgRGNcQBDcVwkTJE_BNAitmHm79GgQXN/s320/LS31.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiceHBQirPNE7kFRuXV2E_VJ9-8EjCGW68-WgleizLS4W_Lf7UqMCQOdDihhBAF_avKb7KIBaXjormpTaxHHdsc1FyrsA3SUrqpHtPymFepe9LZfuPISSBE942bABfsreAqVaRM71NAJpdlL734Mxl9-MfGqr1DHgRGNcQBDcVwkTJE_BNAitmHm79GgQXN/s1600/LS31.jpg" width="240" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Alexandra Lucas Coelho</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Por sua vez, António Guerreiro (2003) sintetizava: «A separação entre língua e literatura prevista na proposta leva às últimas consequências uma concepção do estudo da língua materna que a reduz a uma dimensão meramente instrumental, e para a qual a literatura não passa de um empecilho.» Já uma outra voz, muito respeitada nos meios académicos, Vítor Aguiar e Silva (2001), ainda que defendendo, no essencial, as opções curriculares anunciadas pelo ME, sempre ia dizendo: «Sou dos que pensam que a componente literária dos programas devia ser mais densa e mais rica, porque é nos textos literários que as línguas históricas manifestam toda a sua riqueza, toda a sua criatividade, toda a sua beleza, e porque os textos literários, exactamente por serem construídos na língua e com a língua, proporcionam uma modelização e um conhecimento insubstituíveis do homem, da vida e do mundo». A literatura seria, deste modo, o veículo por excelência para a aquisição da «cidadania culta».</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Claro que o debate assumiu muitas outras vertentes, onde se esgrimiram argumentos do mais variado teor: desde o tradicional corporativismo por quem toma as deliberações (linguistas vs culturalistas), às opções programáticas (abandono da orientação historicista do programa de literatura e “exclusão” dos clássicos[7]), às abordagens pedagógicas (muito centradas, ainda, em manuais escolares), às potencialidades de leituras complementares ao cânone das obras e autores obrigatórios e que as actividades extra-curriculares (agora designadas de «enriquecimento») podem possibilitar, à inevitável questão da formação dos professores e do perfil específico daqueles a quem cabe, o dever primeiro, de ensinar a língua e a literatura[8], até à falência da eficácia do ensino básico (incapaz de cumprir uma das suas finalidades centrais numa disciplina com um lugar charneira no currículo).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Esta última merece algum desenvolvimento: o Português, a par com a Matemática, tem vindo a ganhar um lugar de destaque no currículo, sendo agora evidente a hierarquização disciplinar. O que até aqui não passava de um currículo oculto – em que as práticas concretas nos estabelecimentos de ensino revelavam a existência de disciplinas de 1ª e de 2ª – é agora, de forma inequívoca, assumido como currículo oficial. Essas duas mega-disciplinas têm presença em todos os anos de escolaridade, com uma alta carga horária, e foram até há pouco as únicas a serem testadas a nível nacional, quer através das «provas de aferição» (no 4º e 6º anos) quer dos exames reintroduzidos (no 9ª ano). Acresce ainda que desde a Lei de Bases do Sistema Educativo (1986)[9] e que agora se reforçou com as «formaçõestransdisciplinares»[10], se passou a responsabilizar todos os professores, e todas ascomponentes curriculares, pela valorização da língua portuguesa. Os resultados, no entanto, são, até agora, no mínimo, insatisfatórios.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Mas este subestimar da literatura, é também uma preocupação sentida ao nível pós- secundário. Carlos Azevedo, ao analisar o lugar da literatura nas sociedades modernas, onde o critério custo/benefício, numa lógica neoliberal de rentabilização e eficácia económica dos “produtos”, coloca a literatura e, muito em especial a poesia, no domínio do “inútil”; consequentemente, «o professor de literatura ou de <i>humanidades</i> corre o risco de ser olhado como o sem-abrigo das universidades, ou até da própria sociedade» (1999:14). O viver quotidiano e pragmático nas nossas sociedades complexas e globalizadas, é muito marcado quer pelo utilitarismo (imediato de preferência) quer pelo totalitarismo científico-tecnológico que tem, pretensamente, as soluções para os mais variados problemas dos indivíduos, dos grupos e das comunidades, numa sociedade que pensa que «se faz a si mesma através da ciência» (Cabral, 2002:1211). E se a isto, acrescentarmos o “reino todo poderoso” do audiovisual, o primado da imagem, e da internet, em simultâneo com uma frequência crescentemente massificada do ensino superior (procurado mais como rampa de lançamento para um emprego e uma carreira do que para se adquirir saber), temos um quadro padronizado, no qual à literatura dificilmente se reconhece algum valor de uso social e muito menos de acesso ao mercado de trabalho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A versão definitiva – “Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário” – datada de 10/04/2003, acabou por acolher algumas das críticas então formuladas pelo campo literário: vingou a designação «Português» para a disciplina obrigatória da formação geral; surgiu a disciplina de opção anual «Clássicos da Literatura» nos cursos de “Ciências e Tecnologia” e “Artes Visuais” (mas curiosamente o “Curso de Ciências Sociais e Humanas” não ficou com nenhuma disciplina ligada à Literatura!); e a oferta da disciplina «Literaturas de Língua Portuguesa» (embora só fazendo parte do curso de “Línguas e Literaturas”) deixou de estar dependente do projecto educativo das escolas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Entretanto, as reformas sucedem-se… E presentemente[11], qual a situação? Temos a disciplina de “Literatura Portuguesa”, na formação específica (10º e 11º anos) do Curso de Línguas e <u>Humanidades</u> [e já não “Literaturas”], e uma disciplina de opção “Clássicos da Literatura” (numa lista de 11 disciplinas e «dependente do projecto educativo de escola») nos restantes três Cursos Científico-Humanísticos. Nada sobre literaturas lusófonas e/ou internacionais! Fechamento completo sobre a realidade literária nacional.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl4PVzlDuLNa-UEVdSMTgVU7Vc_BOoVZ__KMsmvIOz5gprjOOB2f9NwbNiHmn1TMicfgrCU-bub6zeDye32lEZYU_2c1KMEuDPQcoDBDVUaqsHXyL0F9eLmE2N-oi0TgbbNk-jhBNtLLQ5QKxHxfSBKRFfBPw-XSYLkBMoCp5_sGy2T4iWfV0OfX2IWZFu/s320/LS32.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="320" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl4PVzlDuLNa-UEVdSMTgVU7Vc_BOoVZ__KMsmvIOz5gprjOOB2f9NwbNiHmn1TMicfgrCU-bub6zeDye32lEZYU_2c1KMEuDPQcoDBDVUaqsHXyL0F9eLmE2N-oi0TgbbNk-jhBNtLLQ5QKxHxfSBKRFfBPw-XSYLkBMoCp5_sGy2T4iWfV0OfX2IWZFu/s1600/LS32.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Maria Adresen S. Tavares</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Já Maria Adresen Sousa Tavares, em 1986, defendia (para o ensino nas ESE) o oposto: «creio que no âmbito de um <i>corpus</i> literário para a infância não devem caber apenas, nem exclusivamente, obras de autores nacionais – as grandes obras e os grandes autores para crianças são, como se sabe, universais, o mesmo se podendo dizer de certos motivos e temas – nem exclusivamente as obras escritas expressamente para crianças.» Salvato Telles Menezes (1993:119-120), ex-docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, situa-se nessa mesma linha: «Embora a literatura não seja uma disciplina específica no ensino primário, a verdade é que constitui (ou deveria constituir) o espírito da aprendizagem da leitura. Todos aqueles que frequentaram o ensino primário e secundário deveriam possuir uma boa orientação literária. Boa orientação: nada mais, nada menos.» É nesse sentido que se aponta em Espanha (Junta da Andalucía), onde a minha neta frequenta o 1º ano da Educação Primária, ano lectivo 2023-24 (Mijas Costa - Málaga): na sua ficha de avaliação de 1º período, uma das sete áreas de aprendizagem designa-se “Lengua Castellana y <u>Literatura</u>”. Por cá, esse 2 em 1, nem no Secundário![12]</span></p><h4 style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;">Um dos grandes problemas do sistema educativo nacional, sempre residiu num certo autismo dos responsáveis do respectivo Ministério. E não é de agora. Recordemos <i>Os Maias</i> (1888):</span></span></div><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">«– Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em Inglaterra havia também literatura?</div><div style="text-align: justify;">Ega olhou-o com espanto:</div><div style="text-align: justify;">– Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste país é capaz de fazer essa pergunta?</div><div style="text-align: justify;">– Não sei… Há tanta gente capaz…</div><div style="text-align: justify;">E o Ega radiante:</div><div style="text-align: justify;">– Oficial superior de uma grande repartição do Estado!</div><div style="text-align: justify;">– De qual?</div><div style="text-align: justify;">– Ora de qual! De qual há-de ser?… Da Instrução Pública!» (p. 402)</div></span></span></h4><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Já Rui Grácio, num texto de Abril de 1959 em que criticava o lugar da literatura portuguesa contemporânea no ensino secundário, constatava «o carácter ainda sumptuário das letras e das artes [e] a feição estreitamente pragmatista do ensino» onde domina(va) «a inflação da análise gramatical e a dominância de critérios historicistas na articulação dos programas de Português e de Literatura Portuguesa».</span></p><h4 style="text-align: left;">Notas</h4><h4 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;">1. Carlos Ceia “Reforma curricular no ensino secundário: acabar de vez com a Literatura”, <i>JL/Educação</i>,16/05/2001, pp. 8-9.</span><br /><span style="font-weight: normal;">2. Leonel Cosme “A literatura morre na escola?”, a <i>Página da Educação</i>, Julho 2001, p. 30.</span><br /><span style="font-weight: normal;">3. Esta proposta parece assentar nas conclusões do estudo realizado pelo Observatório das Actividades Culturais: «ao prescrever obras de leitura obrigatória», fecha-se aos jovens estudantes «todo um universo a descobrir».</span><br /><span style="font-weight: normal;">4. O documento “Linhas orientadoras da revisão curricular”, apresentado pelo ministro David Justino, em 21/11/2002 e que esteve em discussão pública até Janeiro de 2003, (i) manteve a «Língua Portuguesa» como disciplina da componente de formação geral obrigatória em todos os cursos do secundário, e (ii) acentuou ainda mais o “apagamento” da Literatura: a disciplina (bienal) de «Literatura Portuguesa» passou a opcional, na componente de formação específica, mesmo no curso de “Línguas e Literaturas” e a leccionação da disciplina «Literaturas de Língua Portuguesa», para além de ser também uma opção (em 4 cursos do 12º ano), fica dependente da disponibilidade das escolas. Cf. <i>JL/Educação</i>, 05/09/2001, pp. 1-6 “A revisão curricular do Secundário”.</span><br /><span style="font-weight: normal;">5. Nelson de Matos “A literatura e o ensino da língua”, <i>DNA</i>, nº 344, 05/07/2003, p. 41.</span><br /><span style="font-weight: normal;">6. <i>Público</i>, 25/01/2003, p. 30 “Escritores Contestam Revisão do Secundário”.</span><br /><span style="font-weight: normal;">7. O debate centrou-se, naturalmente, sobre o ícone literário nacional – Camões e o ensino/aprendizagem d’<i>Os Lusíadas</i>. Rui Grácio falava-nos do «rancor juvenil pelos clássicos».</span><br /><span style="font-weight: normal;">8. Cf. de Carlos Ceia: “O ensino do Português: o papel dos professores”, <i>JL/Educação</i>, 26/12/2001, p. 8 e “A má fortuna da língua e da literatura portuguesas”, <i>Público</i>, 09/11/2003, p. 34.</span><br /><span style="font-weight: normal;">9. Artº 47º nº 7 da Lei nº 46/86 de 14 de Outubro. D.R. nº 237, I Série.</span><br /><span style="font-weight: normal;">10. Artº 6º dos Decretos-Lei nº 6/2001 e nº 7/2001 de 18 Janeiro, D.R. nº 15, I Série-A. Reorganização curricular do ensino básico e do ensino secundário.</span><br /><span style="font-weight: normal;">11. Decreto-Lei nº 139/2012, de 5 de Julho, alterado pelo Decreto-Lei nº 91/2013, de 10 de Julho e pelo Decreto-Lei nº 176/2014, de 12 de Dezembro.</span><br /><span style="font-weight: normal;">12. No programa de Português do 5º ano do ensino básico, na «operacionalização das aprendizagens essenciais», domínio da Educação Literária, prescreve-se «Ler integralmente textos literários de natureza narrativa, lírica e dramática (no mínimo, <u>um livro infanto-juvenil</u>, <u>quatro poemas</u>, duas lendas, três contos de autor e um texto dramático – seleccionados da <u>literatura para a infância</u>, de adaptações de clássicos e da tradição popular)» [sublinhados nossos].</span></h4><div><span style="font-weight: normal;"><br /></span></div><h4 style="text-align: left;">Referências</h4><h4 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;">AZEVEDO, Carlos (1999) “O Lugar da Literatura”. <i>Línguas e Literaturas</i>, revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, II Série, vol. XVI, pp. 9-22.</span><br /><span style="font-weight: normal;">CABRAL, João Pina (2002) “Novas articulações universitárias – pós-graduação, investigação e massificação do ensino superior”. <i>Análise Social</i>, vol. XXXVI, nº 161, pp. 1209-1217.</span><br /><span style="font-weight: normal;">GRÁCIO, Rui (1959) “A literatura portuguesa contemporânea e o ensino secundário” in <i>Educação e Educadores</i>. Lisboa: Livros Horizonte/ Biblioteca do Educador Profissional, nº 4, pp. 121-7.</span><br /><span style="font-weight: normal;">GUERREIRO, António (2003) “A literatura exclusa”, <i>Actual-Expresso</i>, nº 1583, 01/03/03, p. 46-7.</span><br /><span style="font-weight: normal;">GUSMÃO, Manuel (2003) “A literatura atrapalha o ensino da língua?”, <i>Actual-Expresso</i>, nº 1583, 01/03/03, p. 48.</span><br /><span style="font-weight: normal;">COELHO, Alexandra Lucas (2001) “Além da esquerda e da direita”, <i>Público</i>, 27/08/2001, p. 10.</span><br /><span style="font-weight: normal;">MENEZES, Salvato Telles (1993) <i>Literatura</i>. Lisboa: Difusão Cultural/ O que é, nº 4.</span><br /><span style="font-weight: normal;">QUEIROZ, Eça de (1888) <i>Os Maias</i>. Lisboa: Livros do Brasil/ Obras de E.Q., nº 5, s/d.</span><br /><span style="font-weight: normal;">SILVA, Vítor Aguiar e (2001) “O ‘naufrágio’ de <i>Os Lusíadas</i> no ensino secundário”, <i>Público</i>, 01/09/2001, p. 7.</span><br /><span style="font-weight: normal;">TAVARES, Maria Andresen de Sousa (1986) “Porquê o ensino da literatura nas Escolas Superiores de Educação?”, comunicação apresentada ao Encontro sobre o ensino e a aprendizagem da literatura portuguesa, Braga 30-31/10/1986.</span></h4>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-83185410780602356192024-02-13T18:04:00.002+00:002024-02-13T18:04:21.793+00:00Agostinho da Silva 118 anos <p><i><span style="font-size: medium;">Em dia de aniversário do Professor Agostinho da Silva, um pensamento vivo, deixamos aqui imagens de um "powerpoint" que fizemos para sessão na Fnac do Chiado, em Lisboa, no ido 19 de setembro de 2013.</span></i></p><p><span style="font-size: medium;">Luís Santos</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhghZQnegoNyEyz-j4m7dj6czjt4JEXbnwdUiL-AoVxzsrPneaTYlSEzKvxHWnx1b1kl4bXqd7aw3xpLzJgls3rtvS7MrgFjXcz1OilPDvXXQAYKCMl2Eg_0mei0f5zY9YGXpR6Y2tOANkUJVvQ4p1PLta_fmbEPOWOkJ8tkvZ6yCkf2Deh2WpVsH-oIuXH" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhghZQnegoNyEyz-j4m7dj6czjt4JEXbnwdUiL-AoVxzsrPneaTYlSEzKvxHWnx1b1kl4bXqd7aw3xpLzJgls3rtvS7MrgFjXcz1OilPDvXXQAYKCMl2Eg_0mei0f5zY9YGXpR6Y2tOANkUJVvQ4p1PLta_fmbEPOWOkJ8tkvZ6yCkf2Deh2WpVsH-oIuXH" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiiDiFG9dHhRtGYjcvQHrhfE92UvSKtkvvQcQ20vuECDOPnqBr2fvVZabu3IG3rf-rV3f9DqqVClpgw_1yyyLamreW2TMwJ4xyr2JULrzmFpN5j7DiGJnAgj7EZMzsSt2az51nqcKW4OMY4u8uxoPLmuuE3Jezh8R0zmYPkG9Jy3H26aa4bAtxGn2XbqFae" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiiDiFG9dHhRtGYjcvQHrhfE92UvSKtkvvQcQ20vuECDOPnqBr2fvVZabu3IG3rf-rV3f9DqqVClpgw_1yyyLamreW2TMwJ4xyr2JULrzmFpN5j7DiGJnAgj7EZMzsSt2az51nqcKW4OMY4u8uxoPLmuuE3Jezh8R0zmYPkG9Jy3H26aa4bAtxGn2XbqFae" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi11GmSG3-jSj8Ocq3wR-mx9-vjyZq58PAEl98muHt5XmkAX9x5U8ojePsdPZOx-xI3P1T-WxPF07CcibpRc3AdoueJQogpHNhIAEY721bp1Rlp9e2GAu7lhaWG3AuLeW16Y27p6a0lsUgvom3vWgkVquMZ49A4huSaFu5NazRrh7nOCApuaT4Y38b7ZVL7" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi11GmSG3-jSj8Ocq3wR-mx9-vjyZq58PAEl98muHt5XmkAX9x5U8ojePsdPZOx-xI3P1T-WxPF07CcibpRc3AdoueJQogpHNhIAEY721bp1Rlp9e2GAu7lhaWG3AuLeW16Y27p6a0lsUgvom3vWgkVquMZ49A4huSaFu5NazRrh7nOCApuaT4Y38b7ZVL7" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgtVThla_VRf0Pb99Z_G6qkEL9QT8e1gVt0FBjI1EQx3muKb04HTqxTJjdnZ0rROnQEGJsK7gVEOXczv7JIUVFkg3sKqnpm85dQcM7gh9qh472ndKrF2CYwv9ttuMyiMwj9Xc70SdplPBzJHbyK80KXg-PaQSntxLAjsgAxg2Jn8m69g69SwbM0YjqZ8uqu" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgtVThla_VRf0Pb99Z_G6qkEL9QT8e1gVt0FBjI1EQx3muKb04HTqxTJjdnZ0rROnQEGJsK7gVEOXczv7JIUVFkg3sKqnpm85dQcM7gh9qh472ndKrF2CYwv9ttuMyiMwj9Xc70SdplPBzJHbyK80KXg-PaQSntxLAjsgAxg2Jn8m69g69SwbM0YjqZ8uqu" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiMQlzZyFzC5CeRsy0a1-hQyMZqHnaykNLL7LkekKrvSGL7Yw2uqHe3NCD-f_uAxFTSNsa_XqTCZ9U5RsfwUkmYc43yCqheKLjiDFd4uvdfi1-PSU8RQozupaoWu0wKDECl7YzJxrt3asn13bRgNiJPCz9cJJE_j21QBUaB7lDA4xfP5lTB6rjaLAnPH9Mf" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiMQlzZyFzC5CeRsy0a1-hQyMZqHnaykNLL7LkekKrvSGL7Yw2uqHe3NCD-f_uAxFTSNsa_XqTCZ9U5RsfwUkmYc43yCqheKLjiDFd4uvdfi1-PSU8RQozupaoWu0wKDECl7YzJxrt3asn13bRgNiJPCz9cJJE_j21QBUaB7lDA4xfP5lTB6rjaLAnPH9Mf" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhdZfEPIADXg8aJiAADSs6TnqUmPTghhBp1XnJ6omSwEg6-DMTbAGTrs1ArT90_tSoQK3Dzw__j-2obkrbV8kmBbxECTFy2lg1G7Kqs-4kOQ2hlb_N5SfgYUNsn4z3FbV2YyfO3K5u1Lfv8cIu3CyfNGWWae18xZRRZSixzWvaAt2_dzqUIRZV-WdcfFwBp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhdZfEPIADXg8aJiAADSs6TnqUmPTghhBp1XnJ6omSwEg6-DMTbAGTrs1ArT90_tSoQK3Dzw__j-2obkrbV8kmBbxECTFy2lg1G7Kqs-4kOQ2hlb_N5SfgYUNsn4z3FbV2YyfO3K5u1Lfv8cIu3CyfNGWWae18xZRRZSixzWvaAt2_dzqUIRZV-WdcfFwBp" width="320" /></a></div><br /><br /></div><br /><br /></div><br /><br /></div><br /><br /></div><br /><br /></div><br /><p></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-17519229777087895462024-02-03T14:29:00.001+00:002024-02-03T14:29:32.267+00:00Dia UNESCO - Leitura em Voz Alta<p><span style="font-size: medium;"> </span></p><p><span style="font-size: medium;">Somos seres que aprendemos com a experiência que se acumula no tempo. A dita experiência repete-se e melhora-se. Para este processo acontecer é necessário guardar a memória do acontecido para reter o experimentado e assimilar a sabedoria do já feito e assim aprender e ter uma vivência melhor. A experiência é entendida e corrigida, é um processo histórico. Esta guarda-se em símbolos que aprendemos e denominamos palavra escrita. Atesoura-se em documentos que chamamos livros. O livro guarda essa memória do feito e permite a sua utilização e aperfeiçoamento. O livro guarda os símbolos que permitem essa desejada ideia provada que permite o avanço da humanidade. O livro é a memória que reproduz e melhora a vida. É essencial para o progresso da história humana. Melhorar a vida é possível pelos livros. Esta é a importância da leitura que comemoramos hoje, dia 1 de fevereiro, especialmente a leitura em voz alta para os que não conhecem os símbolos e precisam de saber a história na qual estão inseridos.</span></p><p><span style="font-size: medium;"><br /></span></p><p><span style="font-size: medium;">Professor Doutor Raul Iturra</span></p><p><span style="font-size: medium;">Catedrático Emério do ISCTE-IUL</span></p><p><br /></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-39403986793064895922024-01-23T16:55:00.007+00:002024-01-23T16:59:39.154+00:0014 anos de Estudo Geral<p> O Estudo Geral faz hoje, 23 de janeiro de 2024, 14 anos, o que denota uma existência persistente e significativa. Pressupostamente, o mesmo dia em que se assinalam os 500 anos de nascimento de Luís Vaz de Camões. Parabéns aos dois. Não querendo deixar de assinalar a data aqui deixamos uma quadra de Agostinho da Silva, do seu livro Quadras Inéditas, p. 72, Ed. Ulmeiro, que reza assim:</p><p><br /></p><p style="text-align: center;"><b>Naquela Ilha dos Amores</b></p><p style="text-align: center;"><b>que sonhou Camões outrora</b></p><p style="text-align: center;"><b>só entra e fica liberto</b></p><p style="text-align: center;"><b>quem lá viva desde agora</b></p><p style="text-align: center;"><b><br /></b></p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-NxNSEk6pKmv7Mfa2488xkbkG0rpGtdwOJhUvQ_9B39JAn5db-SkQC0blldRJ0SL_5IOVuwrb4FLLMi8nAUzO2FPthdRg2dIFohjCzMzvMFAkfqvolgEcx03l-VcNKEpGeE1WjFIQgVpLokOExZLHWiekQvcJZ0tUqq2spwcVuo51iMSEeFEA8FDEiTKM/s3264/AS117.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="2448" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-NxNSEk6pKmv7Mfa2488xkbkG0rpGtdwOJhUvQ_9B39JAn5db-SkQC0blldRJ0SL_5IOVuwrb4FLLMi8nAUzO2FPthdRg2dIFohjCzMzvMFAkfqvolgEcx03l-VcNKEpGeE1WjFIQgVpLokOExZLHWiekQvcJZ0tUqq2spwcVuo51iMSEeFEA8FDEiTKM/s320/AS117.JPG" width="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><h4 style="text-align: center;"><span style="font-weight: normal;">Travessa do Abarracamento de Peniche, nº7, frontaria do prédio onde o Professor Agostinho da Silva viveu os últimos anos da sua vida.</span></h4><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: normal;">Fotografia de Luís Santos</span></div><p></p><p style="text-align: center;"><b><br /></b></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-58963861283139831282024-01-20T19:46:00.004+00:002024-01-21T12:45:29.311+00:00Literatura: o pão nosso de cada dia (XXII)<p> <b><span style="font-size: medium;">Luís Souta</span></b></p><p style="text-align: center;"><b>LITERATURA E EDUCAÇÃO</b></p><h4 style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-weight: normal;">«Alguém viu a literatura como infância recuperada</span><span style="font-weight: normal;">.</span></span></div><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">Por isso escrevo, sim»</div><div style="text-align: right;">(Mortal e Rosa, Francisco Umbral, 2003:81)</div></span></span></h4><p>A Educação não ganhou ainda autonomia própria enquanto campo temático específicona literatura. Esta evidência pode ser constatada na não existência de nenhuma entrada com essa designação nos Dicionários de Literatura; por exemplo, num dos de maior referência, o dirigido por Jacinto do Prado Coelho, já com várias edições, a “Escola” não é contemplada, mas sim a «Infância» e a «Adolescência»[1], também eles temas, relativamente, recentes no universo literário. E é nestas duas “gavetas” que aparecem indicadas algumas das obras quenos interessaram para a análise do fenómeno educativo. Naturalmente, que estas duas grandes etapas da vida humana são, nos últimos tempos, marcadas por uma ocupação forte na vidaacadémica. Tanto assim é que, como nos relembra Calvino, «o romance de educação [termina] quando o herói atinge a maturidade» (1990:163).</p><p>Poder-se-ia supor que seriam os escritores realistas aqueles que, por querem captar o “mundo real”, a sua essência, mais interessaria uma <i>démarche</i> deste tipo. No entanto, vemos que as problemáticas escolares – adjacentes à centralidade que a infância e a adolescência têm em muitas das obras – estão presentes nas diferentes correntes literárias – romantismo(Camilo Castelo Branco), neo-romantismo (Trindade Coelho), realismo (Eça de Queiroz), naturalismo (Fialho de Almeida), simbolismo (Aleixo Ribeiro), saudosismo (Teixeira dePascoaes), orfismo (Fernando Pessoa), presencismo (José Régio), neo-realismo (SoeiroPereira Gomes), existencialismo (Vergílio Ferreira), surrealismo (Mário-Henrique Leiria) – e a especificidade e focagem desses olhares, em vez de nos “embaraçar”, servem antes para complementar o <i>puzzle</i> humano e educativo, que se (re)faz em dinâmicas permanentes.</p><p>O romance português, nos anos 40 e 50, dedica particular atenção à vida do jovem em (de)formação na clausura do internato, seja ele numa instituição laica, religiosa ou militar. Várias são as obras que o abordam: <i>Ilha Doida</i> (1945) de Joaquim Ferrer, <i>A Velha Casa I - Uma Gota de Sangue</i> (1945) de José Régio, <i>Internato</i> (1946) de João Gaspar Simões, <i>Uma Luz ao Longe</i> (1948) de Aquilino Ribeiro, <i>Manhã Submersa</i> (1954) de Vergílio Ferreira, <i>Malta Brava</i> (1955) de Alexandre Cabral, <i>Adolescente Agrilhoado</i> (1958) de José Marmelo e Silva, e, ainda que só em alguns episódios, <i>A Origem</i> (1958) de Graça Pina de Morais. Mais tarde temos o romance <i>Lúcialima</i> (1983) de Maria Velho da Costa dando particular destaque, em episódios marcantes, à vida do colégio interno feminino e do colégio militar. Em todoseles, a vida de estudo, as aulas, o quotidiano da escola-prisão estão presentes de forma constante e intensa. Esta é a instituição escolar em que, de forma mais explícita, e brutal, se procura domesticar os jovens e uniformizar os seus comportamentos. Pela disciplina, pelo medo e pelo castigo. O internato é, simultaneamente, um local de educação e de repressão. Aviolência da “pedagogia musculada”, o a mbiente asfixiante e despótico que neles dominava, leva a que se tome o microcosmos do internato como metáfora do país-prisão que vive em ditadura, privado de liberdade, fechado sobre si. Tal como na sociedade, também ali se registam resistências, se subvertem as regras, e na revolta os alunos procuram a evasão para oexterior. Para o reencontro com o lar de que foram, forçosamente, apartados.</p><p>Muitos outros escritores produziram romances geracionais, onde a vida escolar preenche parte substancial do jovem adolescente, em especial no liceu ou na universidade(aqui numa separação desejada da família, na procura dos caminhos da autonomia, da liberdade e, até de uma certa, boémia). Eis algumas dessas obras: <i>A Via Sinuosa</i> (1918) de Aquilino Ribeiro, <i>Um Fio de Música</i> (1937) de Raquel Bastos, os três volumes de <i>A Criação do Mundo</i> (1937, 1938, 1939) de Miguel Torga, <i>Bússola Doida</i> (1938) de Aleixo Ribeiro, <i>As Sete Partidas do Mundo</i> (1938) e <i>Fogo na Noite Escura</i> (1943) de Fernando Namora, <i>Amigos Sinceros</i> (1941) de João Gaspar Simões, <i>O Caminho Fica Longe</i> (1943) de Vergílio Ferreira, <i>Adolescentes</i> (1945) de Adolfo Casais Monteiro,</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSIuvqLomJPgh4Rhr5qyVjOk3kcT3HoAH_SpzOnbCmGmX11wvLyUvbEYOiqdpA6CPh8JQYJmlXWkgmXq3YSqoelQMubMYIV3o7qSWE6WBhB5uJN2rEAyNkTOQ9XSSbD0amInIZBevET8Pp32D5z0z-EgNFtJwGBTjb7wDlQtmZ7O6xee61LMxOj9XyF7j5/s320/22%20ACM.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="226" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSIuvqLomJPgh4Rhr5qyVjOk3kcT3HoAH_SpzOnbCmGmX11wvLyUvbEYOiqdpA6CPh8JQYJmlXWkgmXq3YSqoelQMubMYIV3o7qSWE6WBhB5uJN2rEAyNkTOQ9XSSbD0amInIZBevET8Pp32D5z0z-EgNFtJwGBTjb7wDlQtmZ7O6xee61LMxOj9XyF7j5/s1600/22%20ACM.jpg" width="226" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Adolfo Casais Monteiro (desenho de António Dacosta, 1946)</span></div><p></p><p>os cinco volumes de <i>A Velha Casa</i> (1945, 1947, 1953, 1960, 1966) de José Régio, <i>Montanha Russa</i> (1946) de Tomaz Ribas, <i>Porta de Minerva</i> (1947) de Branquinho da Fonseca, <i>Rapariga</i> (1949) e <i>Companheiros</i> (1959) de Ester de Lemos, <i>Grades Vivas</i> (1954) de Celeste Andrade, <i>Alvorada</i> (1955) de Manuel Mendes, <i>Bárbara Casanova</i> (1955) de Maria da Graça Freire, <i>A Gata e a Fábula</i> (1960) de Fernanda Botelho, <i>Chamada Escrita</i> (1988) <i>Fala de uma Professora ao volante no IC1</i> (2004) de Orlando Ferreira Barros, <i>Inveja - uma novela académica de Mário Avelar</i> (2010). Como se pode constatar, o adolescentismo, e a personagem infanto-juvenil, têm o seu período áureo nos meados do século XX (muitocultivados pela geração presencista e neo-realista), com predominância ainda do herói masculino. No entanto, sente-se já o importante contributo que vem da “escrita feminina”, apesar da sua entrada tardia no campo da literatura, fazendo emergir esse universo próprio da infância e adolescência femininas e, naturalmente, «desocultando interacções e modelos de socialização nos espaços escolares tradicionalmente destinados às mulheres» (Souta, 2000:109). Maria Gabriela Llansol (2006:169) contrapõe: «quando eles se perderam na discussão aberrante da escrita feminina,/ se o tálamo da escrita tem sexo,/ o que eles estão é a desviar a atenção da ressuscitação do texto.(…) é um único o leito da linguagem».</p><p>A atracção da nossa literatura pelas personagens infantis e juvenis[2], traz associada a emergência do escolar, com uma vantagem acrescida: permite-nos ver a instituição escola pelos olhos daqueles que são os seus destinatários primeiros (“clientes” na terminologia neo-liberal). A explicitação dos objectivos da escola, dos seus mecanismos de funcionamento e organização é tarefa de adultos, em especial dos professores, pedagogos e políticos da educação. É sob a perspectiva do adulto especialista (que em geral se exprime sob a forma do ensaio) que se conhece esse mundo peculiar, onde as crianças e os jovens, aparecem como sujeitos indiferenciados sem “voz e pensamento”. Ora o olhar infantil da narração ficcional, o da criança-aluno (ainda que agora, num distanciamento temporal e racionalizante do adulto-escritor, maduro e sabedor), fruto de um acentuado introspectivismo, revela-nos um outro ângulo de apreciação, muito descurado nos trabalhos de investigação empírica. A forma comoa criança e o jovem entendem essa “máquina” organizacional, percepcionam as matérias curriculares, reagem aos métodos e orientações pedagógicas, se relacionam com osprofessores, interagem com os colegas, debatem com os seus familiares as questões escolares, são apenas algumas das muitas dimensões possíveis de captar através da sensibilidade e da linguagem única dos mais novos.</p><p>A força da narrativa tem vindo a impor-se, ultimamente, tanto no campo educativocomo no da psicologia. A proposta de desenvolvimento educacional de Kieran Egan (1979, 1986)[3] assenta no uso da narrativa como técnica de ensino – «teaching as story telling». Por sua vez, Óscar F. Gonçalves (1994) vem advogando, em vários trabalhos, uma linha de investigação e prática de uma psicoterapia narrativa, ligada ao campo da formação e da cognição.</p><p>Também António Damásio veio defender[4] as potencialidades formativas da narrativa, ligando o processo de contar histórias à capacidade de fazer “sentir”; as histórias que se contam têm uma força intrínseca capaz de desencadear o «processo de emoção e sentimento» e, paralelamente, despertam nos indivíduos memórias, pelo conjunto de associações,comparações que naturalmente sugerem. Para Damásio, as histórias podem ainda ter um outro <i>apport</i>: fazer com que «os estudantes aprendam mais sobre si». As implicações, para a área da educação, daqui decorrentes, poderão ajudar a escola, num processo de reconfiguração, a questionar o absolutismo, até aqui, dominante do “cognitivo” (reconhecendo ao “afectivo” utilidade formativa), abrir-se a outras dimensões consideradas “menores” (caso das histórias, do imaginário e da fantasia); e também, aceitar rever algumas “verdades” pedagógicas como aquela que considera o “contar histórias” como uma actividade de ensino a “evitar” (em especial em idades para lá do pré-escolar) porque promove a passividade; partidários acríticos dos «métodos activos», confundem uma postura de escuta com imobilismo intelectual[5].</p><p>Ora a narrativa tem a sua expressão de excelência na literatura. Os escritores são os exímios, e incontestáveis, contadores de histórias. Rentabilizá-los é um dever. Conhecer e estudar as suas obras, uma obrigação. O texto literário possibilita essa convergência do cognitivo, do emotivo e do sensorial.</p><p>A junção da escrita poética ou ficcional e da reflexão pedagógica é cultivada, entre nós, por um reduzido número de escritores. Foram os escritores/professores que mais o fizeram. O poeta Sebastião da Gama é talvez o caso mais emblemático porque o seu <i>Diário</i>, escrito entre Janeiro de 1949 e Outubro de 1950, se centra quase integralmente na experiência do estágio pedagógico de Português que realizou na Escola Técnica Veiga Beirão, em Lisboa (há um curto «Apêndice» sobre os primeiros dias de actividade lectiva na Escola Industrial e Comercial de Estremoz, onde efectivou). E que acabou por se tornar um livro de referência para aqueles que procuram abordagens alternativas, e se posicionam numa linha humanista que privilegia a dimensão relacional e afectiva. O que não deixa de ser curioso tratando-se de um jovem professor estagiário. O lema da sua vida ficou sintetizada na frase: «Tens muito que fazer? Não. Tenho muito que amar». Não se considerava apenas um professor de Português, mas um professor de Alunos, para quem essa tarefa não se restringia à sala de aula. O grande tema do <i>Diário</i> é, sem dúvida, o relacionamento entre professor e aluno. Daí as páginas do <i>Diário</i> estarem longe de ser uma fonte inspiradora exclusiva para os professores de língua materna. Muitas questões, para além das didácticas, são ali descritas e reflectidas. Por exemplo, as ligadas à (in)disciplina. É interessante como uma vida tão curta (morreu com 27 anos) e uma tão reduzida experiência docente (5 anos) foram tão marcantes no pensamento pedagógico nacional.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqy75GEFuIC4qTHsxCQsh3MoSc8Rj_exlBq7aGFIn6Kb5GLb_C1EA2V2wb0D9fVnKGJsdI40YO2XIV_2RbBYfr9VOso8e4onGPdvG_Hpog-FbLps0XJyiOKK0plVEA120053PUbSlnzV6NanJPe954cv2U8iCUez_JwdaHQ0Sdd-Uy6om6Pjc7ceumktop/s320/22%20SG.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="219" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqy75GEFuIC4qTHsxCQsh3MoSc8Rj_exlBq7aGFIn6Kb5GLb_C1EA2V2wb0D9fVnKGJsdI40YO2XIV_2RbBYfr9VOso8e4onGPdvG_Hpog-FbLps0XJyiOKK0plVEA120053PUbSlnzV6NanJPe954cv2U8iCUez_JwdaHQ0Sdd-Uy6om6Pjc7ceumktop/s1600/22%20SG.jpg" width="219" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Sebastião da Gama</span></div><p></p><p>Outros exemplos de professores/escritores, bem conhecidos, poderiam ser avançados. Uns exerceram a profissão docente a tempo inteiro (Garibaldino de Andrade, Mário Dionísio, José Marmelo e Silva, Ondina Braga, Matilde Rosa Araújo, Maria Rosa Colaço, Eduarda Dionísio), outros por períodos mais ou menos longos (Aquilino Ribeiro, Ruben A., José Rodrigues Miguéis, Ruy Belo, Augusto Abelaira), no ensino básico (Irene Lisboa), secundário (José Régio, Vergílio Ferreira, João de Melo) e superior (Vitorino Nemésio, Almeida Faria, Cristóvão de Aguiar), mas em nenhum se consubstanciou a prática de um diário exclusivamente sobre o mundo escolar. Para além do <i>Diário</i> de Sebastião da Gama e do <i>Bom dia, s'tora (diário duma professora em Macau)</i> de Graciete Nogueira Batalha (1991) pouco mais temos em Portugal neste género literário. Isto apesar de alguns dos escritores terem cultivado a prática do diário – <i>Conta-Corrente</i> de Vergílio Ferreira, <i>Diário</i> de Miguel Torga, <i>Dias Comuns</i> de José Gomes Ferreira, <i>Relação de Bordo</i> de Cristóvão de Aguiar – mas onde as questões ligadas ao ensino surgem de forma esparsa, sem a preocupação de as destacar ou de lhes dar relevo especial. De realçar o caso de José Rodrigues Miguéis e de Irene Lisboa, que no início dos anos 30, foram integrados num grupo de bolseiros que a Junta de Educação Nacional enviou para a Europa com o intuito de se especializarem em Ciências Pedagógicas. Ambos, em muitas das suas obras têm episódios sobre a experiência escolar: no caso de Rodrigues Miguéis – <i>Páscoa Feliz</i> (1932), <i>A Escola do Paraíso</i> (1960), <i>O Espelho Poliédrico</i> (1973), <i>Paços Confusos</i> (1982);</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm64mIrMwoI8xzqQApZ0Mi8yKX4Y4f-vsyAWsNfzuF0sCvE1FnhCo5X2tYtpAsxuf3agotp55tlzKimVlJfRxShxcBSsX373jz6tjfhsj0NR7RnIb5enyYc_7OSF4Tt_UpjXbQ58XELluPTOw5oSVD_LdyKCwgjkISdQDB6htng6TypW2_O4qLYTq134TR/s320/22%20JRM.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="229" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm64mIrMwoI8xzqQApZ0Mi8yKX4Y4f-vsyAWsNfzuF0sCvE1FnhCo5X2tYtpAsxuf3agotp55tlzKimVlJfRxShxcBSsX373jz6tjfhsj0NR7RnIb5enyYc_7OSF4Tt_UpjXbQ58XELluPTOw5oSVD_LdyKCwgjkISdQDB6htng6TypW2_O4qLYTq134TR/s1600/22%20JRM.jpg" width="229" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">José Rodrigues Miguéis (desenho de José Tagarro, 1925)</span></div><p></p><p>e no de Irene Lisboa – <i>Solidão: Notas do punho de uma mulher</i> (1939), <i>Começa uma Vida</i> (1940), <i>Apontamentos</i> (1943), <i>Voltar Atrás Para Quê?</i> (1956). Nalguns casos estamos perante romances com fortes marcas autobiográficas. Em Irene Lisboa, essa linha é ainda mais notória, pois desenvolveu, com a persistência de uma escrita afectiva, tensa e amargurada, o «diário íntimo» e a autobiografia romanceada. Opções literárias usadas, no entanto, mais com objectivos de autoconhecimento mas onde também afloram análises a experiências de inovação pedagógica (arte infantil) em que esteve envolvida na sequência dessa formação adquirida no estrangeiro.</p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p>«Coitadas das professoras! Havia algumas simpáticas, merecedoras, não muitas; mas isso não <span> </span><span> </span>importava… Sentiam que eu trazia a ideia nova, uma pequena ideia… Mesmo a novidade é sempre bruxuleante; é preciso acalentá-la, dar-lhe forças. Três professoras, ou quatro, ou cinco, criam que eu ia renovar o ensino. Não as interessava o meu programa, mas o meu espírito, as minhas ideias… submetiam-se-lhes com graça e com coragem.» (<i>Apontamentos</i>, Irene Lisboa, pp. 80-1).</p></blockquote>João de Melo, autor de <i>Gente Feliz com Lágrimas</i> (1988) onde se encontram múltiplas passagens sobre a escola (açoriana), salientava essa eficácia do professor/escritor: «tenho a sorte de amar a literatura e de a ensinar e de a praticar. Talvez haja nisso uma dupla convicção. Os alunos lêem essa paixão nos olhos do professor/escritor»[6].<br /><p><b><span style="font-size: x-small;">Notas</span></b></p><p><span style="font-size: x-small;">1. Entrada também existente no volume I do <i>Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária </i>dirigido por João José Cochofel (1977). </span></p><p><span style="font-size: x-small;">2. Óscar Lopes destaca <i>Cinco Réis de Gente</i> de Aquilino Ribeiro, de 1948, como «o melhor romance português que tem como protagonista uma criança».</span></p><p><span style="font-size: x-small;">3. E de sua “discípula” em Portugal, Maria do Céu Roldão (1995): «não se trata de contar “histórias” de ficção, mas sim de organizar os conteúdos de aprendizagem de qualquer das áreas curriculares segundo a estruturada história, e de acordo com os níveis etários dos alunos, ou seja, enquadrando-os numa estrutura narrativa».</span></p><p><span style="font-size: x-small;">4. Intervenção de António Damásio no fórum “A arte de se aprender”, Porto, 24/02/2001.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">5. Vergílio Ferreira diz a este propósito: «Não é mexendo-nos muito que aprendemos muito. Pelocontrário, é a imobilidade que permite ao pensamento levantar ferro» in Dacosta (2001:117).</span></p><p><span style="font-size: x-small;"> 6. Entrevista de João de Melo ao <i>DN</i>, 23/12/00, p. 33.</span></p><p><b><span style="font-size: x-small;">Referências</span></b></p><p><span style="font-size: x-small;">CALVINO, Italo (1990) <i>Seis Propostas para o Próximo Milénio (Lições Americanas)</i>. Lisboa: Teorema, 3ª edição, 1998.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">EGAN, Kieran (1979) <i>O Desenvolvimento Educacional</i>. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">EGAN, Kieran (1986) <i>O uso da Narrativa como técnica de ensino: uma abordagem alternativa ao ensino e ao currículo na escolaridade básica</i>. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1994.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">GONÇALVES, Óscar F. (1994) “Cognitive narrative psychotherapy: The hermeneutic construction of alternative meanings”. <i>Journal of Cognitive Psychotherapy</i>, vol. 8, nº 2, pp. 105-125.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">LLANSOL, Maria Gabriela (2006) <i>Amigo e Amiga. Curso de silêncio de 2004</i>. Lisboa: Assírio &amp; Alvim/ arrábido, nº 5.</span></p><p><span style="font-size: x-small;">SOUTA, Luís (2000) “Antropologia da Literatura: a multiculturalidade num <i>corpus</i> literário português”. <i>Educação, Sociedade & Culturas</i>, nº 14, pp. 103-119.</span></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-18572914787115271482024-01-09T14:25:00.004+00:002024-01-09T14:31:46.323+00:00Firmino Pascoal, Lindu Mona, Kalunga<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIbj4EtUTJp2SUlRnPKJZwf8dH8UI_geI8yII9xmkJy-CUE55RHoBa-X8nsUUyVn2urzuPCQTkhs9HLH1VgE_HfoNWs-I5h8Wcei-S_seIaAFa06TFNCsP1L_M96UyOqQyHS4bd9S1-hRBA1DtCkK5ZgIshq4J6IbW1cZ4v6IW352mZNC90Da5dtR8BN3_/s3024/FP1.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2719" data-original-width="3024" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIbj4EtUTJp2SUlRnPKJZwf8dH8UI_geI8yII9xmkJy-CUE55RHoBa-X8nsUUyVn2urzuPCQTkhs9HLH1VgE_HfoNWs-I5h8Wcei-S_seIaAFa06TFNCsP1L_M96UyOqQyHS4bd9S1-hRBA1DtCkK5ZgIshq4J6IbW1cZ4v6IW352mZNC90Da5dtR8BN3_/w320-h288/FP1.jpeg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLlKbtSVod6UtzDWlUEIMC_WKYv-HX6RnM6eceuO5UIyDnprlgOLXLB9gEaUxshRSAR_jSeRgpC9pwoUtuYiiwj8es0Ro-_v5BlvtQyEpl0n9ClBPc1LfQG40EXbu3u1802uvkK6YuF5r42OQ5fH6L5L0C_YdVXn2IrAZ8MFeOdd1Di1xx4cuIELQy7CdL/s3024/FP2.jpeg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2511" data-original-width="3024" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLlKbtSVod6UtzDWlUEIMC_WKYv-HX6RnM6eceuO5UIyDnprlgOLXLB9gEaUxshRSAR_jSeRgpC9pwoUtuYiiwj8es0Ro-_v5BlvtQyEpl0n9ClBPc1LfQG40EXbu3u1802uvkK6YuF5r42OQ5fH6L5L0C_YdVXn2IrAZ8MFeOdd1Di1xx4cuIELQy7CdL/w200-h166/FP2.jpeg" width="200" /></a></div><p></p><p><span face="verdana, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: x-small;"><i>Firmino Pascoal aka Lindu Mona lançou em 2023 o seu novo álbum «Kalunga» nas plataformas digitais e na Loja da Zoomusica em Vinil. Este disco conta com o apoio à edição fonográfica por parte da GDA.</i></span></p><div class="gmail_default" style="background-color: white; color: #222222; font-family: verdana, sans-serif; font-size: large;"><div><br /></div><div>Lindu Mona nasce no conceito musical criado por Firmino Pascoal nos finais dos anos 80 para dar a conhecer e evoluir temas de influências étnicas de Angola misturadas com electrónica, jazz e blues. Com Lindu Mona, o regresso a África é Espiritual e Físico. Assim sendo, na sua música sentimos os Pássaros e os filhos da Floresta, o tambor e os Passos de Dança, os Nzumbi (almas dum Outro Mundo), o dialecto e os Instrumentos de música tradicional como o Kissange.<br /></div><div><br /></div><div>Em Maio de 2021, Lindu Mona juntamente com a Mainha Irene e o Dj e Engenheiro de Som Pedro Cardoso iniciaram esta viagem ancestral e espiritual da música angolana. Com fortes inspirações do álbum outrora trabalhado por Lindu Mona - Bantu - a sonoridade de Kalunga remete-nos para uma experiência cultural afro-brasileira, que arrebata pelo trabalho da percussão e pelas harmonias que a acompanham. Neste sentido, Kalunga é uma viagem discográfica a Angola marcada pelos batimentos da percussão de Tiago Tocha, das guitarras do Dasoul e Rui Pais, dos baixos ritmados do Diogo Antunes e Jorge Silva e do canto de Tristany, Trista e Ritta Tristany que casa com as melodias do Dj Pedro Cardoso. Ao piano contamos com o João Oliveira e Octávio Salles no saxofone.<br /><br /></div><div>Pode-se dizer também que a homenagem à Natureza Africana que Lindu Mona profetiza nos seus temas reflete-se não só nas composições rítmicas como também na forte presença sonora da fauna e flora, que nos transporta à imensidão e grandeza de Kalunga.</div><div> </div><div>Kalunga tem origem a partir do quimbundo de Angola que significa “mar”. Durante a escravatura, para se referirem aos negros no Brasil, os brancos chamavam Calungas aos escravos trazidos de Angola. Por outro lado, os negros utilizavam este nome para se referirem ao Deus dos brancos, pois consideravam-no vago como a imensidão do mar. Para Lindu Mona, Kalunga é o lugar tanto físico quanto espiritual onde o mar, a imensidão e a grandeza se encontram. Kalunga é Terra, Kalunga é casa. <br /></div><div><br /></div><div>Mais informações e músicas, AQUI:</div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://www.instagram.com/lindumona/&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw33m2499miNy21Yf3ts1U22" href="https://www.instagram.com/lindumona/" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://www.instagram.com/lind<wbr></wbr>umona/</a> </div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://www.youtube.com/@lindumonaoficial5341&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw0fcrs6v2J3dvFh0fDBuKDN" href="https://www.youtube.com/@lindumonaoficial5341" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://www.youtube.com/@lindu<wbr></wbr>monaoficial5341</a> </div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://youtu.be/Wj9ZyHNuprk&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw3MvBy9_QQ0N2COY0HV0iRv" href="https://youtu.be/Wj9ZyHNuprk" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://youtu.be/Wj9ZyHNuprk</a> <br /></div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://youtu.be/iR7dvhO_YO4&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw0IzWeI20OSJqzGcOyVv9ri" href="https://youtu.be/iR7dvhO_YO4" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://youtu.be/iR7dvhO_YO4</a> <br /></div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://youtu.be/eWZ5Q6rjOJo&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw1M4bybMSVjkZkZ2SpT31Nm" href="https://youtu.be/eWZ5Q6rjOJo" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://youtu.be/eWZ5Q6rjOJo</a><br /></div><div><a data-saferedirecturl="https://www.google.com/url?q=https://zoomusica.pt/artistas/lindu-mona/kalunga-press/&source=gmail&ust=1704895222017000&usg=AOvVaw3wL95fTMDLHxJmnrwM_VBk" href="https://zoomusica.pt/artistas/lindu-mona/kalunga-press/" style="color: #1155cc;" target="_blank">https://zoomusica.pt/artistas/<wbr></wbr>lindu-mona/kalunga-press/</a> </div><div><br /></div><div>Melhores <span class="gmail_default" face=""comic sans ms", sans-serif">cumprimentos</span></div><span style="color: #888888;"><span style="color: #888888;"><span style="color: #888888;"><span class="gmail_default" face=""comic sans ms", sans-serif">Firmino Pascoal</span></span></span></span></div><div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><br /></div><span class="gmail_signature_prefix" face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">--</span><div class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature" dir="ltr" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div>Firmino Pascoal<br /></div><div>ZOOMUSICA</div><div>968972450</div><div><b><span style="color: blue;"><a href="mailto:firminopascoal@gmail.com" style="color: #1155cc;" target="_blank">firminopascoal@gmail.com</a></span></b></div></div></div></div></div></div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-47874734131531116962024-01-06T17:05:00.008+00:002024-01-07T19:04:44.905+00:00Crónicas de Dezembro<p> <span style="color: #050505; font-size: 14pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-font-family: Calibri; mso-ligatures: none;"><i>Luís Santo</i></span><i style="color: #050505; font-size: 14pt;">s</i></p><p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #050505; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBmi7_0xWi29Oy7ay16jbG_P3p01xRTdcKCYmEr4gUuE8DB6xQmPwBXWYAKnZesmWb34DDsNMuAdxIWJwrh5NQoTbZoz_6ibiR3KI1rAifouLWmfvnsH_j-l4qTEPmEaMQVkhUUKlE-J8vHjDNtjtJwviGj30BbcRvXr3bAuE2qNe8kt27YxmvmbSIk4Vv/s3264/Out2015%20008.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="1836" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBmi7_0xWi29Oy7ay16jbG_P3p01xRTdcKCYmEr4gUuE8DB6xQmPwBXWYAKnZesmWb34DDsNMuAdxIWJwrh5NQoTbZoz_6ibiR3KI1rAifouLWmfvnsH_j-l4qTEPmEaMQVkhUUKlE-J8vHjDNtjtJwviGj30BbcRvXr3bAuE2qNe8kt27YxmvmbSIk4Vv/w131-h232/Out2015%20008.JPG" width="131" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a name="_Hlk155454025"><span style="background: white; color: #050505; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O meu amigo LEONEL LIMÃO estaria hoje 74 anos,
mas, em boa verdade, não é essa a sua idade. Somos verdadeiros amigos. Juntos
atravessamos idílicos e maravilhosos uni-versos. Histórias para contar consigo.
Aprender a viver através dos contos. Tempos de ser. Assunção de sonhos. É o
grande promotor do movimento cultural "avant garde" pelos sítios onde
vai passando: Alhos Vedros, Grândola, Regueirão dos Anjos... 50 anos de uma
revolução de costumes. Transformado amante na coisa amada, na literatura e no cinema, cumpre-se no teatro. Mas, acima de tudo, um artista na arte de viver, na forma como sabe estrelar o sol, no Martinho da Arcada, num poema do Pessoa. Abril em Maio. </span><span style="text-align: start; white-space-collapse: preserve;"> </span></a></p></div><p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #050505; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSdAdrcAr2g8ty64QK6srMdgwRq0LH8fzBuMvRfJRRI8_PC_6EZi0S0WV7uIBO8u1aHFomvx7ouIhGibYQ_0W57o64jOj8VCZjlXOblnOghAL1Ut-NJcXYV8OoBQqhGPDqciQsDwN0g6ic2Bxo69aD01HIJjabYVOPKSFGMSxJxOm6Nxv45TjtZYjvuT30/s4000/Bocage.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="4000" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSdAdrcAr2g8ty64QK6srMdgwRq0LH8fzBuMvRfJRRI8_PC_6EZi0S0WV7uIBO8u1aHFomvx7ouIhGibYQ_0W57o64jOj8VCZjlXOblnOghAL1Ut-NJcXYV8OoBQqhGPDqciQsDwN0g6ic2Bxo69aD01HIJjabYVOPKSFGMSxJxOm6Nxv45TjtZYjvuT30/w232-h174/Bocage.jpg" width="232" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">É a Hora. Fomos de visita à LIVRARIA
UNI VERSO, em Setúbal, que muito se recomenda, ali a uma dezena de metros da
lateral esquerda da Câmara Municipal. Muito mais que bons livros. Amistoso
atendimento. Bons presentes de Natal. Entre-tanto, o nosso amigo Bocage ia-se
fazendo anunciar. Entrámos em pastelaria a que deu nome e, curiosamente, entre
as muitas pessoas que se entrecruzavam, entrando e saindo, mónadas de
interligadas almas, a larguíssima maioria eram mulheres. Tal como atrás do
balcão, umas quantas empregadas em atarefado serviço, tudo mulheres. Não havia
como não pensar, eis as musas do Bocage que se vão multiplicando e saltitando
entre poemas. As suas muito cantadas mediadoras divinas, qual carrocel mágico
de eternas curvas rodando sem parar. Nelas, todas as ~~~ do mar, todas as ***
do céu, tudo o que não tem mais fim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">P.S.: Este textinho, inspirado pelo
dia em que faria 87 anos, é dedicado ao meu pai.</span></p></div>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-size: 12pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-hansi-font-family: Calibri; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGvPFYm8HbwzaC9SM0KP_fBTtXRIrbL_nNhh-s9cHVuyb-YfeNiYOQ40w_zBCAMTjzW-b9I5Y3mOaz8-e2I-wj_FNKrQsnn5qLCddlGkmnhSpWZPciZuTERiN5ikZFQFx9iZWTngGPKJmhwwcE-dx2j8luTUUPREYrirQ3ikeoc3MUxkvIuuJTjDC4JYtG/s3264/PLAV1_20231215.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2448" data-original-width="3264" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGvPFYm8HbwzaC9SM0KP_fBTtXRIrbL_nNhh-s9cHVuyb-YfeNiYOQ40w_zBCAMTjzW-b9I5Y3mOaz8-e2I-wj_FNKrQsnn5qLCddlGkmnhSpWZPciZuTERiN5ikZFQFx9iZWTngGPKJmhwwcE-dx2j8luTUUPREYrirQ3ikeoc3MUxkvIuuJTjDC4JYtG/w232-h174/PLAV1_20231215.jpg" width="232" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Breve testemunho do Encontro de
ontem no Moinho de Maré do Cais Velho, a culminar a 1ª edição do PRÉMIO
LITERÁRIO DE ALHOS VEDROS, patrono Leonel Eusébio Coelho, onde se comemoraram
também os 509 anos da atribuição de Carta de Foral à vila, pelo alcochetano rei
D. Manuel I, ainda que a idade da terra, pelo menos com este topónimo, vá até
perto do início do país oitocentos anos atrás. Mas, o que mais importa agora
reconhecer é que este Prémio Literário, cuja segunda edição para 2025 foi
anunciada, já que a sua periodicidade se determinou bienal, vem mais enriquecer
as boas dinâmicas culturais e artísticas que caracterizam esta região e, muito
em particular, este lugar que nos dá porto de abrigo.<o:p></o:p></span></p></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-27111493856186278252023-12-24T16:22:00.004+00:002024-01-21T13:14:23.132+00:00“Literatura: o pão nosso de cada dia”(XXI)<p><b> <i style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Luís Souta</span></i></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: Cambria;">A ESCOLA
SELECTIVA E </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">OS NOVOS EXCLUÍDOS</span><span style="text-align: right;"> </span></b></p>
<span style="font-size: x-small;"><div style="text-align: right;">«o acto educativo é porventura, na sua raiz, um acto provocatório.»</div><div style="text-align: right;">(Rui Grácio, Educação e Educadores, 1996:99)</div></span><div><br />
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: Cambria;"><b>A aprendizagem na escola</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">A criação da escola alterou substancialmente o quadro de
aprendizagem no lar (traçado no final do nosso artigo de Novembro). Um novo
modelo económico e de desenvolvimento estava a emergir. A indústria não se
compadecia com este tipo de trabalhador “(des)qualificado”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">A existência de uma instituição, em edifício próprio,
dedicada integralmente à transmissão dos saberes, com gente especializada e
treinada para o exercício dessa função, teve, naturalmente, fortes implicações
na vida individual, familiar e colectiva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">Em Portugal, a sua implantação no tecido nacional foi lenta
e muito irregular, ao longo destes últimos dois séculos. Em particular, a sua
penetração no mundo rural, ficou-se, durante muitas décadas, pelos níveis
elementares. O pós-primário, estava quase em exclusivo nas capitais de distrito
e o universitário nas três principais cidades. No entanto, a política de
escolarização foi progressivamente delapidando as famílias desse bem precioso
que são os seus filhos (enquanto força de trabalho) e esvaziando-as da sua
tradicional função educativa. Começou primeiro por lhes retirar os rapazes,
para mais tarde as raparigas seguirem caminho idêntico. Inicialmente, durante
uma parte do dia e num número reduzido de anos (os 3-4 correspondentes aos
estudos primários). Para agora, nos nossos dias, as políticas de democratização
do ensino – no âmbito de uma escolaridade obrigatória e universal
progressivamente alargada e de um processo de massificação também no secundário
– acabarem por levar ao limite essa separação entre a escola e o lar. Passa-se
o dia na escola e durante anos a fio. Em certos casos, houve desvinculação
geográfica com o local de origem: ter que sair da aldeia para frequentar a
escola situada na vila ou na cidade. E assim emerge um “situated self” decorrente
destas adaptações a novos contextos de diversidade, valores culturais e estilos
de vida. A aprendizagem na escola é agora formal, explícita, dirigida por
professores de que nada se sabe, para além daquele contacto fugaz que o tempo
lectivo estipula (em regra, também eles uns “nómadas” vindos de longe). O
professor é a fonte de um saber letrado, que se complementa nos manuais
escolares. A trilogia do «saber ler, escrever e contar» torna-se no
instrumental técnico de base que permite o acesso do aluno a outros
conhecimentos, de que nunca ouviu falar ou sentiu que lhe fizessem falta (a si
ou aos seus). Mas uma vez na posse de tais competências, as relações no seio
familiar sofrem profundas mudanças. O detentor do saber inverteu-se: os pais
nada têm agora para ensinar aos filhos (os seus conhecimentos práticos não são
pertinentes para o saber teórico e abstracto da escola); os filhos “sabem mais”
que eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 1.0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">«As batatas vieram da América», disse eu à minha
mãe ao jantar, quando ela me pôs o prato à frente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 1.0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">“Logo haviam de vir da América! Sempre houve batatas”,
sentenciou ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 1.0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">“Não. Dantes comiam-se castanhas. E o milho também veio da
América.” Era a primeira vez que tinha a clara sensação de, graças ao mestre,
saber coisas do nosso mundo que eles, os pais, desconheciam.» (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que Me Queres, Amor?</i>, Manuel Rivas,
1998:33)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">Paulatinamente, afastam-se do trabalho manual (o tempo de
estudo exige-lhes exclusividade), concebem formas alternativas de vida, têm
outras aspirações sociais e profissionais. A ruptura está consumada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Cambria;">A função clássica atribuída à escola como transmissora de
saberes, isto é, privilegiando o ensinar (imprimir uma marca), tem, mais
recentemente, vindo a ser contrabalançada pelo acentuar do aprender (incorporar
em si). De qualquer modo, estaríamos sempre numa relação entre alunos e
professores de «simples troca de bens e não da comunhão de pessoas» (Garcia,
2000:571) que um verdadeiro processo de educação, entendido como relação,
pressupõe (ajudar alguém a ser). Ora é essa dimensão que prevalece no interior
do grupo doméstico. O hábito de aprender, que pautava o viver dos jovens no
seio familiar, deveria ser também a forma de estar no terreno escolar. Aprender
seria assim um processo de continuidade, permanente e duradouro. Tal como o era
nos contextos de aprendizagem informal no lar. E deste modo se evitariam
rupturas sem sentido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12.0pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>A escola selectiva</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A «escola para alguns» era, no essencial, uma escola
selectiva na entrada e na passagem de um ciclo a outro da escolaridade. Nesse
sentido, os professores eram treinados no desempenho de uma função tida como
primordial à sua actividade: ensinava-se mais com intuitos de avaliação do que
de aprendizagem; avaliava-se para seleccionar, premiando ou excluindo conforme
o (de)mérito dos alunos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Essas práticas criaram raízes tão fortes no corpo docente
que ainda estamos lembrados do tempo em que o valor de um professor variava na
razão directa do número de alunos que reprovava. Claro, que neste crivo
entravam apenas algumas disciplinas – Matemática, sempre em primeiro lugar, a
Física, a Química, a Geometria Descritiva, o Português, as línguas estrangeiras
– e desta forma se consolidava uma hierarquia docente e curricular (em que as
«disciplinas bastardas» nem contavam para a nota).</span></p><p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="color: #0f0f0f; font-family: "Times New Roman", serif; text-align: center; text-indent: 1cm;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyiKKWC5DQ6JKO_nrSdALyLNgcgSJH3a-KVpMkeVXW13AC76VQ18V6mMfLEuiPZVc1qTH2gzpi33htQcz0oy9NFs31s5uuikK04R_FMzSBXpEyPRCc1b20zDTkc1fzZH55ET_BXwNXhq-tbBdHuDEas4HGM4PY0UdD_RScAj3rukvd1wzV2Po_5PKn68Ry/s309/RG.jpg" imageanchor="1" style="font-size: x-small; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="309" data-original-width="240" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyiKKWC5DQ6JKO_nrSdALyLNgcgSJH3a-KVpMkeVXW13AC76VQ18V6mMfLEuiPZVc1qTH2gzpi33htQcz0oy9NFs31s5uuikK04R_FMzSBXpEyPRCc1b20zDTkc1fzZH55ET_BXwNXhq-tbBdHuDEas4HGM4PY0UdD_RScAj3rukvd1wzV2Po_5PKn68Ry/w155-h200/RG.jpg" width="155" /></a><span style="text-indent: 1cm;"><span style="font-size: x-small;">Rui Grácio</span></span></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Uma consequência imediata era o mercado paralelo das
«explicações»: mais uma sobrecarga financeira no orçamento familiar e o
aparecimento de uma nova profissão (o explicador), para a qual concorriam
muitos professores numa dúbia situação de duplo “emprego” [1].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Por isso não é de estranhar que a mudança de paradigma de
uma «escola para alguns», onde a selecção constituía um traço distintivo do seu
funcionamento, para uma «escola para todos», onde o acesso e o sucesso devem
ser universais, se tenha vindo a processar com enormes dificuldades e
resistências. A comprová-lo estão as elevadas taxas de insucesso e abandono
escolar. Estes indicadores mostram o desencontro de culturas (v.g., oral vs
escrita) e como largas camadas da população mantêm com o ensino e os saberes
escolares relações marcadas por estratégias de resistência ou de mera
credencialização (cf. artigo XIX, nesta rubrica). A escola é vista como a
instituição que confere um diploma que facilitará o acesso ao trabalho, mais do
que um local onde se aprende e, se reforça a identidade cultural. Se tempo
houve, em que a escola habilitava com graus e certificações que permitiam a
integração na sociedade, a entrada garantida no mercado de trabalho e a
consequente mobilidade social ascendente, hoje o diploma académico abre menos
portas, vale cada vez menos. A sua desvalorização é célere.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A nossa escola, confronta-se com problemas crónicos que
atravessam épocas, regimes e governos. O insucesso escolar é um dos mais
notórios. Nos últimos anos, ao nível do ensino básico (com provas de aferição
mas sem exames), tudo se fez para baixar esses valores. Foram caindo
lentamente, mais por alterações administrativas na forma de o contabilizar e
por pressão de factores endógenos (como o PIPSE - Programa Interministerial
para a Promoção do Sucesso Escolar, de 1987, ou a(s) Reforma(s), ávidos de
mostrar resultados positivos) do que propriamente por uma quebra do fenómeno em
si. Estamos cientes que o insucesso real é bem maior do que o oficial, tornado
público em pautas e fichas de avaliação final. Muitas das vezes não se avaliam
as aprendizagens reais mas as «enviesadas manifestações». A participação em
estudos internacionais (PISA ou TIMSS, por exemplo, que avaliam as competências
da leitura, Matemática e Ciências, e onde são usados instrumentos de maior
validade e fiabilidade) evidenciam as lacunas na formação académica dos nossos
jovens (vejam-se os desastrosos resultados do PISA 2022 [2]). A consequência
imediata do insucesso acumulado traduz-se no abandono escolar [3], com a
entrada precoce no trabalho produtivo. É a chaga do trabalho infantil que não
se estanca. Os mecanismos de selecção económica conjugam-se aqui com os baixos
rendimentos académicos. A escola mostra-se incapaz de segurar no seu seio este
tipo de alunos. A alternativa ao fracasso escolar não tem sido o de recomeçar,
em novos moldes, os estudos, mas antes a saída da escola e procurar emprego,
mesmo clandestino e ilegal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Perante os números de abandono e reprovação, a generalidade
da população mantém uma estranha atitude de benevolência perante estas
instituições que não são capazes de cumprir as grandes finalidades que a
sociedade lhes impôs. Em termos comparativos, que crédito nos mereceria um
hospital onde morressem 20% daqueles que lá entram ou um estabelecimento
prisional de onde fugissem, todos os anos, 20% dos seus reclusos, ou ainda de
uma empresa industrial com semelhantes valores de desperdício no seu ciclo de
produção? Estranha-se, de facto, no campo educativo, a falta de indignação,
quer dos utentes directos (crianças e jovens), quer dos utentes indirectos
(pais e suas associações), quer mesmo dos cidadãos em geral que financia as
escolas, através dos seus impostos. A ausência de uma cultura de intervenção
cívica em paralelo com o diminuto associativismo (mais acentuado ainda nas
minorias étnico-culturais) pode explicar, em parte, que perante resultados tão
negativos não se peçam responsabilidades à direcção das escolas, aos
professores e, naturalmente, aos decisores de política educativa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A “crise na educação” parece que passou de cíclica a
permanente. Os professores oscilam entre a posição do “náufrago” e a do
“astronauta” (Simões e Boavida, 1999), ou seja, ou se agarram à segurança da
tradição, do conhecido e testado, ora avançam para inovações constantes, sempre
na busca da novidade e da mudança pedagógica. E neste quadro ninguém se
satisfaz com as condições em que exerce a sua profissão. Os investimentos
aumentam mas os resultados não são proporcionais. As Reformas sucedem-se mas os
problemas persistem. A recessão demográfica na população estudantil tem
possibilitado melhorar os edifícios escolares e a sua funcionalidade
(finalmente acabaram os “pré-fabricados” da fase do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">boom</i>), mas as escolas continuam longe de possuir os equipamentos,
os materiais técnicos e pedagógicos que se impõem nesta sociedade altamente
tecnológica. A excepção regista-se no campo das tecnologias de informação e
comunicação. Aí sente-se uma enorme vontade em alterar profundamente a situação
de alguma escassez em que muitas ainda se encontram; há políticas, programas e
acções.<span style="color: red;"> </span>Os ventos sopram de feição: os
propósitos não são só nossos mas de toda a comunidade europeia… É o imperativo
básico para que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">e-commerce</i>
funcione, se expanda e se rentabilize. Estamos em crer que também na Educação,
só a pressão de factores externos, leia-se da UE [4], através da definição de
“critérios de convergência” poderá superar as fragilidades do nosso sistema educativo,
onde o analfabetismo [5], o insucesso, o abandono, a iliteracia e, agora
também, a falta de professores (!), são males que, parece, não se conseguir
sarar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12.0pt; mso-outline-level: 1; tab-stops: 32.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>Os novos excluídos</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Em Portugal são extremamente preocupantes os números que
nos dão conta dos baixos níveis de literacia. Muitas dessas pessoas
frequentaram a escola e chegaram mesmo a concluir os primeiros ciclos de
estudo. Mas as aprendizagens escolares ficaram inertes e de nada lhes servem
nas tarefas do quotidiano – são os analfabetos funcionais. Este fenómeno veio
demonstrar que não basta haver escola. Quando «a escolarização se reduz a mero
rito sem substância social» (Esteves, 1999:42) é porque os alunos a vão frequentando,
sem motivação, com irregularidade, com muitas faltas, pouco trabalho. As
aprendizagens não se realizam e o aproveitamento é mais que insuficiente… mas
acabam por ir transitando de ano para ano. A escola, bem pelo contrário,
precisa de funcionar com eficácia e cumprir a sua principal função que é
habilitar os alunos com os conhecimentos, competências, atitudes e valores
necessárias ao desempenho de tarefas nas esferas do emprego, da família e da
cidadania. O clássico «ler, escrever e contar» (consignado já na Constituição
de 1822) não é de modo algum suficiente numa sociedade cognitiva, da informação
e digital como a do século XXI.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 28.0pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A escola para além de não ter conseguido, até agora,
cumprir propósitos essenciais – como escolarizar <u>todas</u> as crianças,
possibilitar a <u>todas</u> a conclusão com êxito do percurso escolar legal
mínimo, o ensino obrigatório – começa a falhar também ao não preparar
adequadamente aqueles a quem atribui um diploma académico. Vários estudos têm
mostrado que «a maior parte das matérias ensinadas na escola são completamente
inúteis para a vida prática»; outros indicam que a escola não prepara, ou
prepara mal, «para a vida prática e profissional». O descrédito da escola e dos
seus diplomas atinge hoje também aqueles que apesar de estudos superiores
engrossam as fileiras do desemprego. Ou, quanto muito, aceita-se um trabalho
mas que pouco ou nada tem a ver com as habilitações académicas obtidas no curso
de origem, quantas das vezes segunda ou terceira escolha no acesso ao ensino superior
[6]. Outra das vias a que se recorre é o permanecer no sistema da “educação
permanente”, saltitando de curso em curso, de estágio em estágio, ganhando
créditos, “fazendo currículo”, mas sempre adiando a entrada efectiva no cenário
de emprego a tempo inteiro. E neste círculo vicioso parece que (quase) todos
ganham: as instituições de formação que não deixam de ter clientes, os
empregadores que vão tendo mão-de-obra paga ao preço de estagiário e o Estado
que consegue, artificialmente, mostrar estatísticas de um desemprego
controlado, abaixo da média comunitária. Queixam-se as famílias, hoje
profundamente afectadas pela “síndrome do ninho cheio”, ou seja, o lar não se
esvazia como seria natural na sequência da autonomia plena dos seus filhos. Mas
a maioridade já poucas alterações traz para a vida familiar. A «geração
canguru» acomoda-se, sente-se bem em casa (os conflitos de gerações cessaram),
adia o casamento [7], prolonga os estudos, tarda em arranjar emprego. Os filhos
não deixam a casa, não ganham independência. E quando finalmente saem, às
vezes,… acabam por voltar. As separações e os divórcios esses são precoces e
não param de aumentar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>Notas</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 15.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: -15.0pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">1. Cf. “Explicações” in</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Direito ao Erro: a batalha da educação em
Portugal</i></span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">de José Alberto Quaresma</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;">. Lisboa: Vega/ Outras obras</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">, </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">2000.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">2. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Público</i>
06/12/2023, pp. 6-9.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">3. A taxa de abandono no 10º ano foi de 23% no
ano lectivo de 1999-2000, o valor mais alto desde 1974. Em 2022, apenas 6% dos
jovens entre os 18 e os 24 anos não tinham completado o ensino secundário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">4. António Barreto em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tempo de Incerteza</i> (Relógio d’Água, 2002) considerava, então, que
muitas das transformações ocorridas, na última década e meia, em vários
sectores da sociedade portuguesa se devem à imposição europeia.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">5. Nos Censos de 2001, o analfabetismo atingia
os 9%; em 2021, é de 3,1% (292.809 pessoas com 10 ou mais anos que não sabem
ler ou escrever).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">6. Em 2002, só 6 em cada 10 alunos entraram nos
cursos de primeira opção; em 2023-24, foram 56%.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">7. Segundo a Pordata, em 2022, os homens casam
aos 35,1 e as mulheres aos 33,7 anos quando, no início do milénio, a maioria
dos casamentos se registava no grupo dos 25-29 anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>Referências</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 15.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: -15.0pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">ESTEVES, António Joaquim
(1999) “Mitos, ritos e símbolos: a escola, o trabalho e a cultura nacional”. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cadernos de Ciências Sociais</i>, nº 19-20,
Outubro, pp. 39-60.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 15.0pt; text-align: justify; text-indent: -15.0pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;">GARCIA,
Mário (2000) “O horizonte da beleza no ensino da literatura”. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brotéria</i>, nº 5/6, vol. 150, </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Maio-Junho, pp. 567-577.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 14.25pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;">GRÁCIO,
Rui (1963) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Obra Completa I - Da Educação</i>.
Lisboa: FCG, 1995.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;">RIVAS, Manuel (1995) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que Me Queres, Amor?</i>. Lisboa: Publ. Dom Quixote/ Ficção Universal,
nº 197, 1998.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 15.0pt; text-align: justify; text-indent: -15.0pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">SIMÕES,
Mª das Dores Formosinho e BOAVIDA, João (1999) “Náufragos ou astronautas?
Pós-modernidade e educação”. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revista Portuguesa
de Pedagogia</i>, nº 1, pp. 5-17.<o:p></o:p></span></p></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-86983759656133013592023-12-02T18:38:00.003+00:002023-12-03T12:55:51.701+00:00Agostinho da Silva no Brasil<p><span style="color: #050505;"><span style="background-color: white; font-size: 15px; white-space-collapse: preserve;"><b>por Manuel Luiz Touguinha</b></span></span></p><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">O sebastianismo erudito de Agostinho da Silva, continuador de Fernando Pessoa, influenciou, no Brasil, o tropicalismo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé... e o cinema novo de Glauber Rocha.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Agostinho também manteve uma relação muito próxima e profícua com Dora e Vicente Ferreira da Silva, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Cecília Meireles, além de Ariano Suassuna, Pierre Verger, Darcy Ribeiro e José Aparecido de Oliveira. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">Sua interlocução com muitos dos intelectuais portugueses que, como ele, encontravam-se exilados no Brasil foi igualmente ampla: de Eudoro de Sousa e Hernani Cidade a Adolfo Casais Monteiro, de Eduardo Lourenço e Manuel Rodrigues Lapa a Jaime Cortesão.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;">(Ao lado), uma dica de 2 recentes publicações, organizadas pelos professores Amon Pinho e Romana Valente Pinho, recentemente lançadas pela Cátedra Agostinho da Silva da UFU (Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais).</div><div dir="auto" style="font-family: inherit; text-align: justify;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">P.S.: os parêntesis são nossos.</div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-6140430831692915942023-11-26T14:34:00.010+00:002024-01-21T13:13:58.479+00:00"Literatura: o pão nosso de cada dia" (XX)<p> <b>Luís Souta</b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Questionar a
escola<o:p></o:p></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>PERSPECTIVAS DA
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO</b></p>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">«A escola parecia-lhe bastante
néscia, local onde geralmente insistiam no desinteressante,</span></div><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span style="line-height: 107%;"><div style="text-align: right;"><span>escamoteando tudo o que pudesse ter
um brilho de fascínio ou utilidade.»</span></div></span><span style="line-height: 107%;"><div style="text-align: right;"><span>(“O companheiro sinistro” in </span><i>Os
Sensos Incomuns</i><span>, Maria Isabel Barreno, 1993:62)</span></div></span></span></div>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Outras razões
se podem avançar como explicativas para o não cumprimento da escolaridade
obrigatória de 12 anos. Com a crescente massificação na entrada, coube ao insucesso
escolar a função de manter a selectividade do sistema. A escola continuava fiel
à sua génese: «criada para desnivelar as diferenças entre seres humanos»
(Iturra, 1995:99). A instituição escolar não deu mostras de adaptabilidade à
heterogeneidade dos novos públicos, portadores de culturas e estilos de vida
bem distintos dos há muito dominantes no ensino. Exigiu-se, pelo contrário, a
descaracterização cultural dessas crianças e jovens. A assimilação era o
objectivo. A escola massificadora pautava-se por uma matriz estandardizada, unificadora
e de rejeição das diferenças, fossem elas de género, classe social, étnicas, religiosas,
linguísticas ou outras. Aos alunos exigia-se a aceitação do intocável <i>modus vivendi</i>
escolar. Nesta perspectiva, os saberes de que os alunos eram portadores eram
ignorados e depreciados, pois desconsiderava-se toda essa vivência exterior ao
aprendizado escolar. As relações com o meio e, em particular, com as famílias
eram evitadas. A escola fechada e centrada sobre si, auto-suficiente, era um
“bunker” para a transferência livresca do saber letrado, abstracto e
descontextualizado. No essencial, mantinha os traços fundadores e, naturalmente,
continuava a “produzir” um tipo de aluno – o <i>homo scholaris</i> – que,
também ele, não se distinguia das gerações precedentes. Hábitos, comportamentos
e valores reproduzem-se, num processo de ensino e aprendizagem marcados pela
continuidade e conservadorismo. De facto, a escola pouco tem mudado. O discurso
político, dos líderes pedagógicos ou dos reformistas vai-se alterando (ainda
que ao ritmo do “pêndulo oscilante”), mas a retórica e o texto legal não se
podem confundir com a realidade das práticas escolares, que a observação
participante e a literatura revelam como estáveis.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>É no quadro de
alargamento da escolaridade a populações que tradicionalmente dela estiveram
arredadas e dos problemas daí decorrentes – insucesso e abandono – que a Antropologia
da Educação emerge com um importante contributo para a compreensão destes fenómenos.
Historicamente, a Antropologia esteve próxima destes novos destinatários do “civilizacional
bem educativo”, fossem eles (e/i)migrantes, gente rural, piscatória ou de grupos
sociais mais ou menos marginalizados pelo desenvolvimento e pelo urbanismo. O conhecimento
dessas culturas tinha sido, em certa altura, a razão de ser da disciplina antropológica.
Foram o seu objecto de estudo privilegiado. As formas como adultos e crianças se
relacionam e partilham a vida, em contextos informais de aprendizagem quer as experiências
quer os saberes necessários à manutenção e reprodução da vida do grupo, foi dos
aspectos que mereceu particular interesse por parte dos professores. A escola
começava agora a questionar-se. Os seus ancestrais pilares eram postos em
causa. O problema não estava tanto na criança (e no seu grupo doméstico) a quem
era detectado um “défice cultural” mas na estrutura, organização e práticas
curriculares da própria escola.</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>«Lembro-me de
pensar: “Como é que é possível que crianças tão criativas, tão observadoras,
tão prontas a fazer perguntas e a defender as suas ideias tenham tão maus resultados
na escola” E lembro-me de chegar à conclusão que era a escola que estava errada
e não elas. Em muitos casos, aliás, ainda está.» (Elvira Leite e a sua
experiência com os miúdos do Bairro da Sé, no Porto, em 1976-77).</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Reconhecer que
também estes jovens eram portadores de um «capital cultural» e de formas
próprias de entender e dar significado ao mundo real foi o princípio da mudança
que ao respeitar a iden tidade do “outro” lhe atribui capacidades para um
percurso de sucesso no seio escolar. Para tanto, a escola teria que repensar a
sua escala de valores, abandonar a sua «cultura social de discriminação»
(Afonso, 1998:272), legitimar um conjunto de saberes práticos que este tipo de
alunos eram detentores e diversificar os métodos de ensino no sentido de uma
maior individualização. Articular esses
dois mundos – o escolar e o de origem dos alunos – passou a ser um objectivo de
acção educativa, agora já numa lógica de «escolapara todos» a que, alguns, apelidam de «inclusiva». Os professores passam
então a percepcionar o «meio» como uma recurso potenciador de aprendizagens
significativas para os seus alunos e a ele recorrem como fonte de conhecimento,
“laboratório” social e terreno pedagógico. Já Rui Grácio (1963:120-1) propunha:</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>«Uma óptica que
alargasse o campo de visão, da aula até ao pátio da escola e ao lar do aluno, e
discernisse nestes três personagens que habitam uma só personalidade, repartida
entre as obrigações familiares, discentes e de camaradagem.»</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>E é neste novo
quadro, de contacto directo com o «meio social envolvente», onde a aproximação
às famílias ganha outro sentido para além da instrumental colaboração pedagógica,
que a Antropologia da Educação evidencia toda a sua utilidade científica e metodológica.</p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Tal como o
exprime Telmo Caria «a etnografia cria condições para entender a cultura do
outro» (1999:27). A abordagem directa, personalizada e continuada junto das
populações permite conhecer as culturas em presença, na sua globalidade. O
conhecimento desses <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>saberes particulares
possibilita a compreensão daquilo a que Raúl Iturra (1990) designa como a «memória
cultural» dos jovens estudantes, marcada pela genealogia, pelo local e pelasexperiências
do agir quotidiano. Na “posse” de tal conhecimento (que as histórias de vida mais
facilmente possibilitam), o professor saberá então articulá-la com a «memória
nacional», de que a escola é depositária. E deste modo o aluno deixa de ser
esse ente anónimo para passar a ser visto pelos professores como pessoa,
portadora de uma cultura. O desencontro entre o <i>que</i> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o <i>como</i> se ensina e o <i>que</i> e o <i>como</i>
aprende tende assim a ser minimizado. Utopia? Apenas o caminho que a
Antropologia da Educação tem vindo a desbravar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p><b>A
aprendizagem no lar</b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><o:p> </o:p></b>Qualquer grupo
social precisa de transmitir a sua experiência e o seu saber acumulados no
tempo às novas gerações. Nisso reside a condição básica da sua continuidade
histórica. A aquisição desses saberes fez-se, durante séculos, de uma forma
informal, no seio de um grupo doméstico
alargado, pela observação, acompanhamento e contacto directo, permanente e continuado,
dos mais jovens em todo o desenrolar das múltiplas actividades que os adultos(pais,
avós, irmãos,…) protagonizavam. Nas sociedades agrárias, de tradição oral, os
saberes pragmáticos do quotidiano agro-pastoril transmitem-se de forma directa
no trabalho compartido de adultos e crianças. «Ver fazer e ouvir dizer são a
base do seu envolvimento» (Iturra, 1990:121). Gradualmente, as crianças vão
sendo solicitadas à participação nos trabalhos caseiros, nas actividades de
produção, religiosas e de lazer. Num primeiro momento, fazem-se pequenos
serviços, simples ajudas, bastantes “recados”; aprende-se mais na rua com os
amigos e os companheiros, em jogos, brincadeiras, e num conversar constante.
Nestes grupos de crianças, apesar de as diferenças etárias não serem
acentuadas, há sempre os “mais velhos” que acabam por assumir papéis de
liderança e de “mestres”; a experiência do que já se fez, no cumprimento das
normas ou na sua transgressão, e do muito que se (ou)viu fazer aos adultos (em
público ou numa privacidade “violada”), são um capital reconhecido entre os pares.
Mas a brincadeira está sempre sujeita a ser interrompida, a qualquer momento,
pela intervenção do adulto. Basta que o chame, para um trabalho a que é preciso
dar cumprimento imediato. Vai, contrariado, mas vai. O adulto põe e dispõe,
marca o ritmo da vida da criança. Decide o que ela deve fazer e o que ela deve
aprender. Define o permitido e o interdito. A autoridade de quem deu a vida, dá
o pão e fornece o saber (agrícola ou artesanal), não é questionada. E de um tra
balho pontual, esporádico e ocasional, na infância, passa-se, com o avançar da
idade, ao cumprimento de tarefas específicas de que progressivamente se é responsável
(tratar do rebanho ou cuidar do irmão mais novo, por exemplo). No decorrer dessa
longa aprendizagem, o trabalho faz-se sempre sob tutoria; aprende-se vendo,
fazendo, errando… E logo no momento recebe-se <i>feedback</i>, é-se corrigido,
repreendido ou premiado. Neste processo de endoculturação, a finalidade última
é fazer da criança e do jovem um igual aos outros, torná-lo um do grupo, com os
mesmos princípios, crenças, valores, comportamentos e práticas. Numa educação
não formal que se confunde com a vida real e quotidiana do próprio grupo. Eles
são educados no grupo e para o grupo:</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>«Sou apenas o
produto/ Do meio em que fui criado» (<i>Este Livro Que Vos Deixo</i>…, António
Aleixo, 1975:49)</p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2Ra9U15En_AfiF13qQGcPaYfPR6NoEeJ3eP_sw0q41q-zo3bJ5XIZBDMaw9njdg_xMvz4gDbmdf78gTD4295pfxfJ7o1jEn3AUN3B6HEyI-vaUrQ1T2aAHa31JQg7AzSZhwwQVQ7-MlQR9AbAhoYRz2qmAQM4_7OZUIcIXp9ngPJWfyUb0DaGd44MK2Fe/s320/LPNCDa.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="233" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2Ra9U15En_AfiF13qQGcPaYfPR6NoEeJ3eP_sw0q41q-zo3bJ5XIZBDMaw9njdg_xMvz4gDbmdf78gTD4295pfxfJ7o1jEn3AUN3B6HEyI-vaUrQ1T2aAHa31JQg7AzSZhwwQVQ7-MlQR9AbAhoYRz2qmAQM4_7OZUIcIXp9ngPJWfyUb0DaGd44MK2Fe/s1600/LPNCDa.jpg" width="233" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">António Aleixo</span></div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p>Adquirem a
cultura com os seus «outros significativos» (Spiro, 1998:206). Assim se forma,
o que Spindler & Spindler (1993) designam como “enduring self” (o
sentido de continuidade, a ligação a um passado, a identidade social). Essa é a
herança oral que recebem dos seus progenitores e de toda uma comunidade que
funciona como uma rede de apoio e enquadramento. Quando adultos, autónomos e
independentes, num novo ciclo de vida, espera-se que dêem continuidade à
herança recebida e procedam de igual modo com os seus descendentes. Assim se
garante a continuidade e a coesão do grupo.</p>
<p class="MsoNormal"><b><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">Nota<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">1. “Elvira
Leite. Tudo o que eles queriam era brincar na rua e uma sala para trabalhar”,
Ípsilon, 25/08/2023, p. 8.</span></p>
<p class="MsoNormal"><b><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">Referências<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">AFONSO,
Almerindo Janela (1998) <i>Políticas Educativas e Avaliação Educacional. Para
uma análise sociológica da Reforma Educativa em Portugal (1985-1995)</i>.
Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia, Centro de Estudos
Centro em Educação e Psicologia.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">ALEIXO, António (1969) <i>Este Livro Que Vos Deixo... </i>Lisboa: Edições Vitalino Martins Aleixo, 3ª ed., 1975.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">CARIA, Telmo
H. (1999) “A reflexividade e a objectivação do olhar sociológico na
investigação etnográfica”. <i>Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 55</i>,
Novembro, pp. 5-36.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">GRÁCIO, Rui
(1963) <i>Obra Completa I - Da Educação</i>. Lisboa: FCG, 1995.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">ITURRA, Raúl
(1990) <i>Fugirás à Escola para trabalhar a terra: ensaios de Antropologia
Social sobre o insucesso escolar</i>. Lisboa: Escher/ A aprendizagem para além
da escola, nº 1.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">ITURRA, Raúl
(1995) <i>“Tu ensinas-me fantasia, eu procuro realidade”</i>. Educação,
Sociedade &amp; Culturas, nº 4, pp. 91-103.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">SPINDLER,
George e SPINDLER, Louise (1993) “The Processes of Culture and Person: Cultural
Therapy and Culturally Diverse Schools” in Patricia Phelan e Ann Locke Davidson
(eds.) <i>Renegotiating Cultural Diversity in American Schools</i>. NY and
London: Teachers College Press, pp. 27-51.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-size: x-small;">SPIRO,
Melford E. (1998) “Algumas reflexões sobre o determinismo e o relativismo
culturais com especial referência à emoção e à razão”. <i>Educação, Sociedade
& Culturas, </i>nº 19, pp. 197-230.</span><o:p style="font-size: 10pt;"></o:p></span></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-10648713075119746182023-11-17T19:18:00.008+00:002023-12-08T10:14:24.469+00:003 Poemas Escolhidos<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;"><i>Luís Santos</i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">(organização, palavras introdutórias e fotos)</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><b><span style="color: #202122;"></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span style="color: #202122;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM_gVclfGwQz8CK7A6CYtMwqxnZy9lTy3qSO8GReafZThIqU3cCf1PhE71j4WBC7bLrpjbY-Hn0cz0qLQBa5PTGP85qlSeu4N0-Zy4Pp-Kb3tkug_nUJJ_I9RXo1R6e6xE3S5O-Gsw8UBe5eyHqdFp4sn5yJJtz5XwwJbPpKh7bSwXuCPCHTz6U4OIJNde/s4000/COC_20230107.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="4000" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM_gVclfGwQz8CK7A6CYtMwqxnZy9lTy3qSO8GReafZThIqU3cCf1PhE71j4WBC7bLrpjbY-Hn0cz0qLQBa5PTGP85qlSeu4N0-Zy4Pp-Kb3tkug_nUJJ_I9RXo1R6e6xE3S5O-Gsw8UBe5eyHqdFp4sn5yJJtz5XwwJbPpKh7bSwXuCPCHTz6U4OIJNde/w320-h240/COC_20230107.jpg" width="320" /></a></span></b></div><b><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></b><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><b><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">A ILHA DOS AMORES</span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">A dimensão espiritual que se liga à demanda portuguesa dos mares, descrita de forma magistral por Luís de Camões nos Lusíadas, muito particularmente no canto IX, refere-se a uma certa Deusa, que há muito acompanhava os lusitanos e, quem sabe, já andava por esta nossa terra, quando foi tomada a célebre Decisão que se fosse além dos mares, no regresso da Índia liberta os nautas do tempo e do espaço e fá-los desembarcar nessa Ilha divina de sonhos mil, onde acaba por expor ao Gama, capitão da frota, os mecanismos pelos quais se regem os destinos do mundo. E o canto é, de facto, uma deliciosa marav-ilha dos amores. E, assim sendo, aqui ficam seis das noventa e cinco estrofes que perfazem o idílico canto, muito se aconselhando total leitura.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><b><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">CANTO NONO</span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">(…)</span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">Porém a Deusa Cípria, que ordenada<br /></span><span style="color: #202122;">Era, para favor dos Lusitanos,<br /></span><span style="color: #202122;">Do padre Eterno, e por bom génio dada,<br /></span><span style="color: #202122;">Que sempre os guia já de longos anos,<br /></span><span style="color: #202122;">A glória por trabalhos alcançada,<br /></span><span style="color: #202122;">Satisfação de bem sofridos danos,<br /></span><span style="color: #202122;">Lhes andava já ordenando, e pretendia<br /></span><span style="color: #202122;">Dar-lhes, nos mares tristes, alegria.</span><span style="color: #202122;"> </span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">…</span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">Ali, com mil refrescos e manjares,<br /></span><span style="color: #202122;">Com vinhos odoríferos e rosas,<br /></span><span style="color: #202122;">Em cristalinos paços singulares,<br /></span><span style="color: #202122;">Formosos leitos, e elas mais formosas;<br /></span><span style="color: #202122;">Enfim, com mil deleites não vulgares,<br /></span><span style="color: #202122;">Os esperem as Ninfas amorosas,<br /></span><span style="color: #202122;">De amores feridas, pera lhe entregarem<br /></span><span style="color: #202122;">Quanto delas os olhos cobiçarem.</span><span style="color: #202122;"> </span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #202122;">…</span><span style="color: #202122;"> </span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">Mil árvores estão ao céu subindo,<br /></span><span style="color: #202122;">Com pomos odoríferos e belos;<br /></span><span style="color: #202122;">A laranjeira tem no fruto lindo<br /></span><span style="color: #202122;">A cor que tinha Dafne nos cabelos.<br /></span><span style="color: #202122;">Encosta-se no chão, que está caindo<br /></span><span style="color: #202122;">A cidreira com os pesos amarelos;<br /></span><span style="color: #202122;">Os fermosos limões ali, cheirando,<br /></span><span style="color: #202122;">Estão virgíneas tetas imitando.</span><span style="color: #202122;"> </span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">…</span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">Nesta frescura tal desembarcavam<br /></span><span style="color: #202122;">Já das naus os segundos Argonautas,<br /></span><span style="color: #202122;">Onde pela floresta se deixavam<br /></span><span style="color: #202122;">Andar as belas Deusas, como incautas.<br /></span><span style="color: #202122;">Algumas, doces cítaras tocavam,<br /></span><span style="color: #202122;">Algumas, harpas e sonoras flautas;<br /></span><span style="color: #202122;">Outras, com arcos de ouro, se fingiam<br /></span><span style="color: #202122;">Seguir os animais que não seguiam.</span><span style="color: #202122;"> </span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">…</span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">Ó que famintos beijos na floresta,<br /></span><span style="color: #202122;">E que mimoso choro que soava!<br /></span><span style="color: #202122;">Que afagos tão suaves, que ira honesta,<br /></span><span style="color: #202122;">Que em risinhos alegres se tornava!<br /></span><span style="color: #202122;">O que mais passam na manhã, e na sesta,<br /></span><span style="color: #202122;">Que Vénus com prazeres inflamava,<br /></span><span style="color: #202122;">Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,<br /></span><span style="color: #202122;">Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.</span><span style="color: #202122;"> </span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">…</span></span></p><h3 style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial; font-size: small;"><span style="color: #202122;">E fareis claro o Rei que tanto amais,<br /></span><span style="color: #202122;">Agora nos conselhos bem cuidados,<br /></span><span style="color: #202122;">Agora com as espadas, que imortais<br /></span><span style="color: #202122;">Vos farão, como os vossos já passados.<br /></span><span style="color: #202122;">Impossibilidades não façais,<br /></span><span style="color: #202122;">Que quem quis sempre pôde; e numerados<br /></span><span style="color: #202122;">Sereis entre os Heróis esclarecidos<br /></span><span style="color: #202122;">E nesta Ilha de Vénus recebidos.</span></span></span></h3><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;">Os Lusíadas, Canto IX (A Ilha dos Amores), estrofes 18, 41, 56, 64 83, 95.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #202122;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB7BXEyt6_UBJeI4YcQljq_Ksul7ObToCvPHtjrtT_Ihx0F3RMKnrm0IdXAAhwVh55SUqGY-FvM5R4QTlfApb1cZ-j1iX33lkx9osiHeJek2sCAnWdjpu2WqnhMuN5Dl7GrCpiKdNlQyjzZfchioJzWmC5e1uLyYcVG-vkqSQix7SKusol8BD2112A4wvA/s4000/%C3%89%20Aqui_20220808.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4000" data-original-width="3000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB7BXEyt6_UBJeI4YcQljq_Ksul7ObToCvPHtjrtT_Ihx0F3RMKnrm0IdXAAhwVh55SUqGY-FvM5R4QTlfApb1cZ-j1iX33lkx9osiHeJek2sCAnWdjpu2WqnhMuN5Dl7GrCpiKdNlQyjzZfchioJzWmC5e1uLyYcVG-vkqSQix7SKusol8BD2112A4wvA/w240-h320/%C3%89%20Aqui_20220808.jpg" width="240" /></a></div><span style="font-family: arial;"><br /></span><p></p><div class="texto-poesia" style="line-height: 1.2em; margin: 1.2em 0em 2.4em;"><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;"><b>INICIAÇÃO</b></span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Não dormes sob os ciprestes,</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Pois não há sono no mundo.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">......</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">O corpo é a sombra das vestes</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Que encobrem teu ser profundo.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Vem a noite, que é a morte</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">E a sombra acabou sem ser.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Vais na noite só recorte,</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Igual a ti sem querer.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Mas na Estalagem do Assombro</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Tiram-te os Anjos a capa.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Segues sem capa no ombro,</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Com o pouco que te tapa.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Então Arcanjos da Estrada</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Despem-te e deixam-te nu.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Não tens vestes, não tens nada:</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Tens só teu corpo, que és tu.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Por fim, na funda caverna,</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Os Deuses despem-te mais.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Teu corpo cessa, alma externa,</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Mas vês que são teus iguais.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">......</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">A sombra das tuas vestes</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Ficou entre nós na Sorte.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Não estás morto, entre ciprestes.</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">......</span></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: arial;">Neófito, não há morte.</span></p></div><div class="data" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><span style="font-family: arial;">s. d.</span></div><div class="data" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><p style="display: inline; font-family: arial; height: auto; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; text-indent: 0em;">Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). </p><span style="font-family: arial;"> - 233.</span></div><div class="data" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><span style="font-family: arial; text-indent: 0em;">1ª publ. in</span><span style="font-family: arial; text-indent: 0em;"> </span><b style="font-family: arial; text-indent: 0em;">Presença</b><span style="font-family: arial; text-indent: 0em;"> </span><span style="font-family: arial; text-indent: 0em;">, nº 35. Coimbra: Mai. 1932.</span></div><div class="data" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><span style="font-family: arial; text-indent: 0em;"><br /></span></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5FY6QR24VzDWY1Z1VpiA8hpu76XeRfSzsdjR8-SfopfnHVPY_6X1QrcJqDbTc9SErMNY9_1r2tzb7HEvkq72OiR4V1DgE7eL2yvwjVHmdzZguQI0FaC9JtnURCH77HimolLbuaaI8XCjdZv8E2fkJvEzqnXtBYuPJUegKxVtsBTGyGvqROwkt6VmD06MM/s4000/arco%20da%20velha_20231107.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4000" data-original-width="3000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5FY6QR24VzDWY1Z1VpiA8hpu76XeRfSzsdjR8-SfopfnHVPY_6X1QrcJqDbTc9SErMNY9_1r2tzb7HEvkq72OiR4V1DgE7eL2yvwjVHmdzZguQI0FaC9JtnURCH77HimolLbuaaI8XCjdZv8E2fkJvEzqnXtBYuPJUegKxVtsBTGyGvqROwkt6VmD06MM/w240-h320/arco%20da%20velha_20231107.jpg" width="240" /></a></div><span style="font-family: arial;"><br /></span><p></p><p><span style="font-family: arial;"> Depois da visita do arco da velha, a lembrar que "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", aqui fica para os amigos outro dos poemas mais significativos, de tal forma que deu porta de entrada para um duradouro estudo que nos coube fazer:<span> </span><span> </span> </span></p><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;">Se eu chegasse a ser dum Outro<br /><span> </span><span> </span><span> </span>mas de mim não me perdendo<br /><span> </span><span> </span><span> </span>e esse Outro todos os outros<br /><span> </span><span> </span><span> </span>que comigo estão vivendo</span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;">não só homens mas também<br /><span> </span><span> </span><span> </span>os animais e as plantas<br /><span> </span><span> </span><span> </span>e os minerais ou os ares<br /><span> </span><span> </span><span> </span>e as estrelas tais e tantas</span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;">terei decerto cumprido<br /><span> </span><span> </span><span> </span>meu destino e com que sorte<br /><span> </span><span> </span><span> </span>para gozar de uma vida<br /> já ressurecta da morte.</span></div><div style="line-height: 150%; margin-left: 70.8pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><p>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: arial;">Agostinho da Silva, uns poemas de
agostinho, Lisboa, ulmeiro, 1990, p.106 (2ª ed.)</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-88652712815748944072023-10-31T23:10:00.001+00:002023-10-31T23:10:44.817+00:00Farfalla<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_LeDsUib2B7JUpr9Qfn74PBmnrsNpKTw1RfSMR4qRakrab1Twoi9BQMT6voR60pAHlpffb4wFYEQij8VmFG_UWyE1DV0fBp5nqT11-eEJ4-T2uBDpzVBnOyJTEUaGU0gbH8WEGLbIE-EuRra50CGA7XKRp_pUXzzhf9l7wonw3vKVirfMfNdMdWpdQVJc/s1167/Farfalla.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1128" data-original-width="1167" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_LeDsUib2B7JUpr9Qfn74PBmnrsNpKTw1RfSMR4qRakrab1Twoi9BQMT6voR60pAHlpffb4wFYEQij8VmFG_UWyE1DV0fBp5nqT11-eEJ4-T2uBDpzVBnOyJTEUaGU0gbH8WEGLbIE-EuRra50CGA7XKRp_pUXzzhf9l7wonw3vKVirfMfNdMdWpdQVJc/w400-h386/Farfalla.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b>Farfalla</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b>Kity Amaral</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">2023</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Técnica Mista</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">... que inspirou poema de <b>Luís Santos</b>:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><a name="_Hlk149406522">FARFALLA</a></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<p class="MsoNormal">Voo di farfalla, voe
amaralla <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">voi besuntalla di multicolorito<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">latino amore mio<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">demantequilla, amarilla <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">verdilla, palmita di flore<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">amorosita metamorfosis <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">uno ovo di sementilla<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">una parole encarnata<a name="_Hlk149406581"><o:p></o:p></a></p>
<p class="MsoNormal">una larvasita de pupa <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">vulva vulcanita di fogo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">alaranjata<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">saliente y corata crisalida<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">di rosada rosa calorosa<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">colo-rosa</p>
<p class="MsoNormal">imago feita una muller<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">recanto de azulata semente<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">mio Dio<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">una blanca pombita<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">fragilita, tremidita, indeciso voio <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">por lo mundo, pero lo mundo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">qui si planta em nuestras palmillas<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">di celeste decorala, voi pintalla<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">voe amaralla, <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">voia farfalla<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><b>Nota final</b> em jeito de diálogo entre poeta e pintora:</p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;">- um poema meio estranho que talvez se entranhe, mia farfallasita.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;">- muito legal, mio poeta maluquito! Adorei! Alegre!</p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;">- sai no Estudo Geral à chegada do 1 de novembro, dia de Todos-os-Santos, que vão sair para te ver passar.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;">- trabalhei mais a Farfalla depois dos seus escritos:</p></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRHl6t9IGRzgEYxoxRSPfwIM2fMSynrH18cZE6Fe2s4IAuUQj0Fn0PXpmQ9AolxY6na9d7y3rZZaxhBZlv3LNMeWVt7q_kWgITrI1GXiYEI-ONnwy1COv0YwIGpinR7ArpxKyaAYYKaMyV2-0NuH8Vcs_XP3E37P9fvDCkIU6mkf0m9RtMj4O46CV-bf3c/s1167/Farfalla%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1128" data-original-width="1167" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRHl6t9IGRzgEYxoxRSPfwIM2fMSynrH18cZE6Fe2s4IAuUQj0Fn0PXpmQ9AolxY6na9d7y3rZZaxhBZlv3LNMeWVt7q_kWgITrI1GXiYEI-ONnwy1COv0YwIGpinR7ArpxKyaAYYKaMyV2-0NuH8Vcs_XP3E37P9fvDCkIU6mkf0m9RtMj4O46CV-bf3c/w400-h386/Farfalla%202.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-3303452730904064572023-10-28T21:11:00.002+01:002024-01-21T13:13:35.982+00:00Literatura: o pão nosso de cada dia (XIX)<p style="text-align: left;"> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-style: italic; font-weight: 700; text-align: justify; white-space-collapse: preserve;"><span style="font-size: medium;">Luís Souta</span></span></p><span id="docs-internal-guid-f0756b99-7fff-32b5-e73e-4a43e368509a"><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Times, serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">REACÇÕES À ESCOLARIZAÇÃO</span></p><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">«Não aprendeu a ler. A escola franqueava-se pouco às crianças nascidas no sulco das enxadas. </span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Lá foi entretanto algumas vezes, quando o tio Taimão lho consentia (somente nos dias de inverno mais agrestes).»</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-right: 0.2pt; margin-top: 6pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">(“Narrativa Bárbara” in </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O Sonho e a Aventura</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, José Marmelo e Silva, 1943:13)</span></p><br /><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Uma das temáticas constantes ao longo de décadas da nossa história refere-se à resistência, voluntária ou involuntária, aos processos de escolarização. O país rural, não letrado, vivendo nas incertezas da sobrevivência económica, resistia à perda dos seus filhos desviados para os «caminhos do ABC» (como lhe chamava Rogério Fernandes). Na síntese de Guerra Junqueiro, num dos seus poemas de 1874:</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 6pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">«Mandam-no ir à escola e põem-lhe ao ombro a enxada!» (“A Morte de D. João” in </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Poesia</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, p. 152)</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: center; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: 12pt; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjniuOV4L3j62Olc5dJcnx7MINrf0y9ypfmLNayzbc9yDNWREH634hBD-1eCn3M0JFj8iuPw95FbkVFt_yz690BRnW47YnvqkMAoS8JjOxliJpQOizaNT_zorH_iZBjgrsZH3plzmOvti0WTguAr320IWJgU7LirukH9POzd1vYD2rCTPkb53IU9KOfo4fB/s320/19a.jpg" imageanchor="1" style="color: #3366ff; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjniuOV4L3j62Olc5dJcnx7MINrf0y9ypfmLNayzbc9yDNWREH634hBD-1eCn3M0JFj8iuPw95FbkVFt_yz690BRnW47YnvqkMAoS8JjOxliJpQOizaNT_zorH_iZBjgrsZH3plzmOvti0WTguAr320IWJgU7LirukH9POzd1vYD2rCTPkb53IU9KOfo4fB/s1600/19a.jpg" width="240" /></a><span style="font-size: small; text-indent: 28.35pt;"><span style="color: #181717;">Guerra Junqueiro</span></span></div></span><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">As aprendizagens escolares eram consideradas de pouca, ou nenhuma, utilidade prática para quem exercia actividades ligadas ao sector primário (agricultores, pastores, pescadores). A ida para a escola, quantas vezes forçada pela legislação do ensino obrigatório ou por pressão social de figuras proeminentes do meio local (padre, médico ou professor) quando reconheciam qualidades intelectuais em alguns garotos, acabava por se traduzir num percurso mínimo.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 6pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">«E onde é que temos nós dinheiro para tu estudares?» (</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Para Sempre</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, Vergílio Ferreira, 1983:51)</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">E assim, com frequência, se interrompia precocemente o percurso académico – «fugirás à escola para trabalhar a terra» (Iturra, 1990) –, excepto se um “padrinho” tomava o encargo tutelar de lhes providenciar os meios materiais. A escola tornava-se fortemente selectiva logo no seu acesso e por razões exógenas ao próprio processo educativo. Factores culturais e socioeconómicos acabavam por excluir da escolarização muitos daqueles que manifestavam desejo, vontade e capacidade para aprender.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O caso português, ofereceu sempre, ao longo da sua história, exemplos (em demasia) de resistência aos intuitos alfabetizadores. Dois tipos de razões concorrem nesse sentido – económicas e culturais.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">A alfabetização pouco ou nada diz(ia) às comunidades acústicas e/ou ágrafas. Em primeiro lugar, era percepcionada como um modelo cultural elitista, vindo do exterior, das urbes, do poder central. Funcionava aqui o sentido conservador do mundo rural, que resistia à “invasão” e à mudança, por defesa e segurança. Em segundo lugar, o camponês não sentia que a escolarização lhe trazia vantagens.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">«Nos campos a família é hostil à escola, diz-se. Erro. A família não nega o filho à escola, requer o filho para o trabalho. A criança aí, de sete a dez anos, já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha, colabora na cultura. Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de madrugada, recolhe às trindades, com o seu dia rudemente trabalhado. Mandá-lo à escola, de manhã e de tarde, umas poucas de horas, é diminuir a força produtora do casal. Um aluno de mais na escola é assim um braço de menos na lavoura. Ora uma família de lavradores não pode luxuosamente diminuir as suas forças vivas. Não é por o filho saber soletrar a cartilha que a terra lhe dará mais pão. Portanto tiram a criança à escola para a empregar na terra.» (</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Uma Campanha Alegre - II</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, Eça de Queiroz, 1891:77)</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: center; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><span style="color: #3366ff; font-size: 12pt;"> </span></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: 12pt; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnSS-Ds_aveMnED9mSdfQEpNAoNp6XadIf8A9KzWcNMiSV0E5o3SjQXTpcuZ9RnPxX4uPG4gGTVrAJj1ojGWeEaqIC3JIrgZ6xe3cheFkK9soCL8EN3Lo1lTOKUoaqDsq1rZ2z1eVVNB4w_DFyHZl4Sbj1icYQbYsrUslrecgAtB_sgfnnPpc_do2_3K0y/s315/19b.jpg" imageanchor="1" style="color: #3366ff; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="241" height="315" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnSS-Ds_aveMnED9mSdfQEpNAoNp6XadIf8A9KzWcNMiSV0E5o3SjQXTpcuZ9RnPxX4uPG4gGTVrAJj1ojGWeEaqIC3JIrgZ6xe3cheFkK9soCL8EN3Lo1lTOKUoaqDsq1rZ2z1eVVNB4w_DFyHZl4Sbj1icYQbYsrUslrecgAtB_sgfnnPpc_do2_3K0y/s1600/19b.jpg" width="241" /></a><span style="font-size: small; text-indent: 28.35pt;"><span style="color: #1a1818;">Eça de Queiroz</span></span></div><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Aqui é o sentido pragmático e de curto prazo que se impõe. Para as sociedades agro-pastoris, a escola é pouco (ou nada) atractiva porque não parece fornecer o instrumental imediato a uma reutilização, e investimento, na actividade produtiva. E mais do que isso, chega a ser entendida como um luxo: não lhes dá nada de concreto como ainda lhes tira elementos da força de trabalho – os seus filhos, preciosos adjuvantes nas lides da agricultura e do pastoreio. Deste modo, a troca da enxada pela caneta é vista como um prejuízo económico, nunca como um ganho. Já Almeida Garrett, num dos seus discursos, questionava: «Que incentivo há para os pais mandarem seus filhos às escolas?». Quanto àqueles que não se conformavam com o lugar ocupado na hierarquia social porque sofriam situações crónicas de carência económica, «a ambição de promoção social foi em larga medida canalizada para a emigração e não para a escola» (Matos, 1997:93). Esta implicava não só um acréscimo de despesas como os retornos desse investimento não eram garantidos, «sabe-se lá se o rapaz tem cabeça para os estudos?»</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Apesar de, legalmente, termos um ensino obrigatório e com penalizações para pais incumpridores…</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">« – Ó diabo, isto é uma multa…</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">– Multa?!… Ó compadre Custódio, veja lá isso bem, </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">home… Nam </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">pode ser… </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Nam </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">fiz nada…</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Repôs os óculos, reuniu melhor as palavras, confirmou:</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">– Sim, homem. Multado em vinte escudos… Parece que por causa da cachopa. Não a mandaste à escola, eles souberam e como está na idade e tu tens uma casa… Vai à vila, anda, paga a multa e fica o caso arrumado.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Longe, a enxurrada rebramia na represa.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Após aquele aviso veio outro. E outro. Por fim o fiscal das execuções ameaçou-o com a venda da casinhola para pagamento do relaxe.» (“Planície” in </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Mosaico</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, Sousa Marques, pp. 190-3)</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Em termos práticos, a escolaridade obrigatória nunca foi sinónimo de gratuitidade. A entrada na escola trazia, inevitavelmente, despesas com o material escolar básico – livros, cadernos, caneta, pasta, bata, etc. – e encargos colaterais – deslocações, vestuário, alimentação. Para aqueles (poucos) que iam para além da «primária», havia ainda que adicionar o pagamento das propinas. Dispêndios incomportáveis em contextos de pobreza e até de alguma miséria.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">E com estes constrangimentos, acabava-se a frequentar a escola mas já em adulto…</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 28.35pt; margin-right: 28.35pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">«a única chama que queríamos ver acesa dentro de nós era a preciosa arte de assinar um nome. Receber carta de chamada, ir correr papéis para o embarque e poder dizer que tinha um nome e que o sabia assinar.» (</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Gente Feliz com Lágrimas</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, João de Melo, 1988:105)</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: center; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: 12pt; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYqcIRoRqlS9pgA-h2Tkl6lUnfVQHUt0h503CFAnFdprLQHD_DFDGSqQmBv6qKi5Z1EP8e8JQmEI0DUS-Sw_nhYtoyes1X6ozexWxUJDbyKARlh5zI1VF0H0GrWtnMjWuvxvrCbQIw85FTW2UNGGRad1u6g4Ku9XULR2qmHNvqID5roTpdLOSwiW5MPh6I/s298/19c.jpg" imageanchor="1" style="color: #3366ff; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="298" data-original-width="241" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYqcIRoRqlS9pgA-h2Tkl6lUnfVQHUt0h503CFAnFdprLQHD_DFDGSqQmBv6qKi5Z1EP8e8JQmEI0DUS-Sw_nhYtoyes1X6ozexWxUJDbyKARlh5zI1VF0H0GrWtnMjWuvxvrCbQIw85FTW2UNGGRad1u6g4Ku9XULR2qmHNvqID5roTpdLOSwiW5MPh6I/s1600/19c.jpg" width="241" /></a><span style="font-size: small; text-indent: 28.35pt;"><span style="color: #1d1c1c;">João de Melo</span></span></div><p></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Hoje, as despesas com o ensino são de outra ordem, não deixando de continuar a constituir um pesado fardo no orçamento familiar, tão difícil de suportar como no passado. Novos obstáculos se levantam gerados pelo </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">marketing</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"> agressivo da sociedade de consumo. O fim das batas, por exemplo, veio desocultar desigualdades e despoletar pressões para se vestir apenas roupa ou calçado “de marca” ou outros símbolos de pertença associados às classes média e alta, tal como os telemóveis e outros dispositivos electrónicos (cf. Gilles Lipovetsky sobre a “massificação do luxo”). Neste contexto, as famílias sentem-se pressionadas agora no seu interior. São os filhos que reclamam equipamento e vestuário adequado à “altura”, para não se sentirem “marginalizados”, para poderem estar ao nível (do ter, não do saber!) dos colegas. Para muitos agregados familiares, este é um adicional financeiro difícil de comportar e que os leva, perante eventuais maus resultados académicos dos filhos, a abdicar da sua manutenção na escola.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Muitos agregados familiares colocaram entraves aos processos de alargamento da escolaridade obrigatória, primeiro, para 9 anos (a que correspondem os três ciclos do ensino básico, prescrito pela LBSE de 1986) e depois para os 12 anos (Lei nº 85/2009, mas entrando em efectividade apenas no ano lectivo de 2012-13). A universalidade no acesso ainda hoje não é integralmente cumprida e, menos, a sua conclusão. Tal ocorrência é mais flagrante em certos grupos étnicos-culturais, tradicionalmente marginalizados (Surdos, Ciganos e Circenses). Mas não se restringe a esses grupos. Outros sectores específicos da população, residindo em nichos urbanos e suburbanos, nas chamadas “bolsas de pobreza”, desenvolvem estratégias de resistência, fugindo ao dever de escolarizar os seus filhos, obstaculizando quer o acesso quer o seu percurso académico. Apesar da oferta escolar se ter alargado progressivamente, numa “rede de malha fina”, a procura por parte destas famílias mantém-se escassa, continuando esses grupos sociais a contornar impunemente (com mais ou menos subtileza) os dispositivos legais da obrigatoriedade do ensino formal. Essas crianças e jovens, em vez da estarem nos bancos da escola, andam a pedir, arrumam carros, vivem de todo o tipo de biscates e expedientes, num trabalho infantil clandestino (mas visível). «Crianças coisas tão profundas tão perdidas» (1). Mas quantos miúdos e quantos jovens não deixam de estar “em-risco” (“endangered self”) para mergulharem no “risco”, empurrados para marginalidades várias, ligadas ao narcotráfico, à prostituição, a furtos e a </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">gangs</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Com dinheiro fresco no bolso, querem lá, eles ou as famílias, saber da escola, onde todos os eventuais benefícios são “sempre para amanhã”.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Nota</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">1. Ruy Belo, “Transcrição de uns olhos pretos e de uns sapatos de fivela” in </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Todos os Poemas</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, 2000</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">p. 336.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 28.35pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-weight: 700; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Referências</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 6pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">FERREIRA, Vergílio (1983) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Para Sempre</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Venda Nova: Bertrand Editora/ Obras de V. F., 10ª edição, 1996.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-left: 0.05000000000000071pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">ITURRA, Raúl (1990) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Fugirás à Escola para trabalhar a terra: ensaios de Antropologia Social sobre o insucesso escolar</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Lisboa: Escher/ A aprendizagem para além da escola, nº 1.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">JUNQUEIRO, Guerra (1972) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Obras de Guerra Junqueiro: Poesia</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Porto: Lello & Irmãos Editores, 2ª edição, 1974.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">LIPOVETSKY, Gilles (1987) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">O Império do Efémero: a moda e o seu destino nas sociedades modernas</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Lisboa: Dom Quixote/ Biblioteca Dom Quixote, nº 5, 1989.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">MARQUES, Sousa (1953) “Planície” in </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Mosaico</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Colectânea de Autores Desconhecidos. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural/ Contos e Novelas.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">MATOS, Sérgio Campos (1997) “Política de Educação e Instrução Popular no Portugal Oitocentista”. </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Clio</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">, nova série, vol. 2, pp. 85-107.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">MELO, João de (1988) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Gente Feliz com Lágrimas</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Lisboa: Publ. Dom Quixote - Círculo de Leitores.</span></p><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; padding: 0pt 0pt 0pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">QUEIROZ, Eça de (1891) </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-style: italic; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">Uma Campanha Alegre</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;">. Volume II. Mem Martins: Europa-América/ livros de bolso, nº 494, [1987].</span></p><div><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; vertical-align: baseline; white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-33005899773157885682023-10-05T13:38:00.002+01:002023-10-05T13:38:47.541+01:00Paulo Landeck<p><br /></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit",serif; font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-family: "Segoe UI Historic"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPgwqns1xQbzw8-4QsB-Q7AmwI8dQlOdym1xBjWJlaNYvWH1WuiUzZsmKsZm0cFxJPFHvi8yVFsrT-v6emgcMM2ZqSM1kxU7aNldKABu7LV5qOEx-g06U1eBDC133zFcYuYSrP9GmyipmwLIjWakLarhhzM7HQOJX_LZ390Xdf1YzWl20Go419847WN2wX/s2048/PL.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1536" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPgwqns1xQbzw8-4QsB-Q7AmwI8dQlOdym1xBjWJlaNYvWH1WuiUzZsmKsZm0cFxJPFHvi8yVFsrT-v6emgcMM2ZqSM1kxU7aNldKABu7LV5qOEx-g06U1eBDC133zFcYuYSrP9GmyipmwLIjWakLarhhzM7HQOJX_LZ390Xdf1YzWl20Go419847WN2wX/w300-h400/PL.jpg" width="300" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><p></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><b>ACANTO</b><span style="background-color: transparent;"> </span></span></p><p></p></blockquote></blockquote></blockquote><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Anoitecem no limbo</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">por rega desmedida</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">esquecem as vivas matizes</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">dos seus veios<span style="background-color: transparent;"> </span></span></p><p></p></blockquote></blockquote><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Na moldura saliente</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">alma singular</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">tombada aos vermes<span style="background-color: transparent;"> </span></span></p><p></p></blockquote></blockquote><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Alimentam humificação das estações</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">derramado sangue e poesia</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">corpo a corpo</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Perenemente injustiçado</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">como se </span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">piores castigos</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">do suplício ao ofício</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">horas trocadas a granel</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Amarelecem sorrisos</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">no que resta dos escombros</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">da cidade</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Urdida e vencida na teia</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">renovada</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Algodão e marfim dos novos tempos</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">borracha queimada</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Reverbera esplendorosamente a decadência</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Só os eletrões são livres</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">indiferentes</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">à clorofila dos dias</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">asfixiantes.<span style="background-color: transparent;"> </span></span></p><p></p></blockquote></blockquote></blockquote><p><span style="font-size: medium;"> </span></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">(3/10/20213)</span></p><p></p></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><p style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Auto-retrato, a pensar no 5 de Outubro - Poema em Construção</span></p><p></p></blockquote></blockquote></blockquote><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span style="color: #050505; font-family: "inherit", serif;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><p></p>
estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-83034009960807901522023-09-25T10:29:00.003+01:002024-01-21T13:13:16.781+00:00Literatura: o pão nosso de cada dia (XVIII)<p style="text-align: left;"></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Luís Souta</span></i><span style="text-align: left;"> </span></span></b></p>
<h4 style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b>A ESCOLA ATRAVÉS DO
TEXTO LITERÁRIO</b><span style="text-align: right;"> </span><span style="text-align: right;"> </span></span></h4><h4 style="text-align: left;"><span style="text-align: right;"><br /></span></h4><h4 style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-family: times;"><span style="font-weight: normal;">«</span><span style="font-weight: normal;">reconstituir a infância e a adolescência de cada um, perdidas e</span><span style="font-weight: normal;">m longínquos caixotes de
lixo.»</span></span></div><span style="font-weight: normal;"><div style="text-align: right;"><span style="font-family: times;">(<i>Coleccionador de Absurdos</i>, José Gomes Ferreira, 1978:11) </span></div><div style="text-align: right;"><br /></div></span></h4>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">A literatura portuguesa tem reservado espaço
temático à escola através do seu interesse pelo mundo das crianças e dos
jovens. Nas suas vidas em formação, a actividade escolar ocupa um tempo
significativo. Abordar o quotidiano infantil e juvenil é nele incluir essa
dimensão educativa formal. Muito frequentemente, nas obras de ficção, quando o
enredo gira em torno de jovens personagens (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bildungsroman</i>),
ou quando os adultos recuam ao tempo da infância, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">flash backs</i> rememorativos, as vivências escolares acabam por
aparecer. Nas narrativas assumidamente autobiográficas, o tempo de escola tem
sempre lugar cativo. E são esses episódios, onde a escola e o ensino aparecem
de forma clara, que foram alvo da nossa pesquisa. Esta recolha sistemática
permitiu-nos organizar um vasto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corpus</i>
temático, em que a escola, nos seus diversos níveis de escolaridade (da
infantil à universidade), os seus actores (alunos e professores) e todos
aqueles que giram em torno dela (em particular as famílias dos alunos) se
constituem como elementos centrais de análise. A diversidade de autores, de
géneros, de épocas e de contextos permite-nos uma visão diacrónica,
multifacetada e global sobre uma das mais importantes instituições sociais da
nossa sociedade. Este tipo de material oferece enormes potencialidades para
quem está interessado na compreensão aprofundada dos fenómenos educativos. Uma
dessas virtualidades tem a ver com a possibilidade de, por seu intermédio,
acedermos a um outro olhar, o dos destinatários primeiros dos processos de
acção educativa – as crianças e os jovens. Como eles percepcionam a organização
escolar, como apreendem os conteúdos disciplinares, como interpretam os
comportamentos dos professores, como enfrentam as pressões familiares ou como
dão sentido ao seu labor estudantil são apenas alguns exemplos de outras
lógicas de pensamento e acção, nem sempre coincidentes (e quantas vezes
divergentes) com a dos adultos (pais ou educadores). Reconhecer nesta
perspectiva singular (a das mundivivências juvenis) uma importante achega à
compreensão alargada de uma instituição (a escola) e de um processo (de ensino
e de aprendizagem) delineados por políticos, técnicos e professores é
incorporar o real vivido no confronto com as intenções discursivas de textos
legais ou de orientação pedagógica. Este olhar que nos vem da literatura,
reporta-nos para o realizado e não para o idealizado. Coloca-nos no terreno das
interacções reais (possíveis ou verosímeis), de sujeitos “concretos” e
contextualizados, que operam segundo motivações, constrangimentos, sentimentos
e racionalidades (mas também com muito de alógico e de não-racional). O formato
da narrativa possibilita-nos essa dinâmica das acções de que a vida se processa
nas suas rotinas, rupturas e mudanças. A escola surge-nos assim com movimento e
continuidade, isto é, com vida.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">É certo que os escritores gostam de ser lidos,
de preferência na íntegra, mas não analisados. Eles são avessos a
interpretações exteriores. A obra vale por si, e só o autor lhe dá o sentido
pleno. Isso o nota José Jorge Letria na sua poesia “Abrir as asas e voar”
(2001:39-40):<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 1.0cm; margin-top: 6.0pt; margin: 6pt 1cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">«A literatura quer viver a sua vida/ sem ter
quem a policie e interprete./ Não quer estar confinada aos laboratórios,/ nem
ao exercício interminável da pesquisa/ Ela fala de pessoas e dos seus dramas/ e
não gosta que a cataloguem ou classifiquem».<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">Não é neste sentido que o fazemos. Não se trata aqui
de análise literária, e muito menos de juízos críticos sobre qualidade da
escrita ou construção ficcional. O que para nós é relevante é o conteúdo: a sua
riqueza informativa e descritiva sobre a escola e toda a teia de relações que
em torno dela se estabelece. Por isso, defendemos um processo de inclusão total,
sem marginalização de quem quer que seja (autores, correntes ou movimentos) ou
do que quer que seja (géneros literários). Neste propósito, todos nos merecem
igual apreço. O que importa é ter um diversificado leque de situações
escolares, que nos ajudem a ter uma visão global, e não parcelar, do mundo
educativo formal. Teríamos deste modo um “texto” que, como dizia o desconstrutivista
Jacques Derrida, seria um “tecido de enxertos”. O termos optado por um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corpus</i> de dimensão alargada permite-nos
também identificar um conjunto de “subtemas” com forte presença na literatura:
a escola primária ocupa, de longe, lugar de destaque; segue-se o “liceu”, o
“colégio” (em especial o internato), a “universidade”; por fim, o “ensino
doméstico” e a “escola de adultos”; na escola primária, o primeiro dia de aulas
e os castigos, com a palmatória, são descritos por vários escritores; tanto no
que respeita à “primária” como ao “liceu”, o Português e a Matemática são os
saberes disciplinares que sobrelevam todos os outros; também os exames, a
figura do professor e as resistências à escolarização (por motivos económicos)
acabam por ser recorrentes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">Mas para além do que escreveram sobre a escola,
interessa-nos o pensamento dos escritores. Estes são elementos cruciais na vida
cultural e cívica das nossas sociedades. As reflexões que nos trazem, quer nas
suas obras quer nas intervenções públicas, não se circunscrevem, de modo algum,
ao estrito domínio da literatura mas à generalidade das problemáticas sociais
com que nos confrontamos. A voz do escritor é uma voz escutada, tida em conta.
Uma das suas especificidades é a de anteciparem cenários, rasgarem horizontes,
desbravarem utopias. Como o nota Maria Velho da Costa «o escritor é aquele
useiro e vezeiro em contra-tempos» (</span><span><span style="font-size: 15px;">1</span><span style="font-size: medium;">).<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: center; text-indent: 1cm;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #3366ff; font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhArkkawpJqruGk75CwpmEVnIhA0i8U9DYkl-iCkVPYepU1Tmpn0IY1X6tE5I4jqVqm_TqMCyGFrE_CthsE7nVoDCRmjFs2F1-36w82vGig_OF688XRdHTOb5s66t7Z0M3WMybCb1YLeawAtQTb08fRKaqVLLYe1tTgDDATk7X_JCH_rQxOHBPsucWjhzmr/s249/MVC.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img border="0" data-original-height="249" data-original-width="240" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhArkkawpJqruGk75CwpmEVnIhA0i8U9DYkl-iCkVPYepU1Tmpn0IY1X6tE5I4jqVqm_TqMCyGFrE_CthsE7nVoDCRmjFs2F1-36w82vGig_OF688XRdHTOb5s66t7Z0M3WMybCb1YLeawAtQTb08fRKaqVLLYe1tTgDDATk7X_JCH_rQxOHBPsucWjhzmr/s1600/MVC.jpg" width="240" /></span></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Maria Velho da Costa</span></div><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">Os textos que incluí em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Carreirinha da Escola</i> (Edições Ex-Libris, no prelo) remetem-nos
para um tempo passado, onde as memórias foram recuperar testemunhos marcantes
desses períodos cruciais da infância e da adolescência associados à formação
académica (e também da idade adulta, mais ligada ao período universitário ou a
processos de alfabetização tardia). O registo esclarecido e crítico do
intelectual escritor, que dedicou uma parte importante do seu labor à descrição
e reflexão dos quotidianos escolares, importa aos educadores conhecer. A
experiência enquanto alunos, acumulada (em alguns) com uma posterior docência,
acrescida de uma escrita sobre a temática escolar e o acompanhamento, como
observadores atentos, do fenómeno educativo, fazem dos escritores elementos
significativos para as análises pluriperspectivadas do sistema escolar. A compreensão
aprofundada dessa complexa realidade não deve deixar de ter em conta o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">apport</i> destes agentes “exteriores” ao
campo. Eles alargam os domínios de análise às dimensões relacionais, emotivas e
da sensibilidade. Nos seus textos, não se ficam pelo cognitivo e pela
racionalidade. Revelam-nos as hesitações, os dilemas, as incongruências dos
actores. Desvendam-nos o íntimo das personagens (são mais que simples «seres de
papel»), os seus processos de introspecção e de auto-análise que nos permitem
compreender o sentido diversificado que cada um dá ao acto educativo, nas suas
múltiplas concretizações. Introduzem também as interacções dialogantes para
além da sala de aula, em espaços como o recreio, a camarata, os percursos
casa-escola, o seio familiar, que, em regra, são pouco analisados na
investigação educacional. Na narrativa literária, a escola não surge apenas nas
suas linhas definidoras, estruturantes, gerais e nucleares, mas ela aparece-nos
igualmente na riqueza do detalhe, do pormenor, na descrição da minúcia. Quase
se poderia dizer que os textos literários sobre a escola fornecem o “recheio”
vivencial e dinâmico que o ensaio deixou em aberto, por se centrar nas
“traves-mestras”. Assim se complementam estas duas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">démarches</i> que nos permitem, em simultâneo, ter um quadro mais
amplo, mais diversificado, mais aprofundado e também mais detalhado do universo
escolar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-weight: normal; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="font-size: medium;">Foi claro que, apesar de estarmos num registo
ficcional, as acções que se desenrolam nos espaços escolares estão muito
“coladas” ao real vivido, observado, ou simplesmente contado ao escritor. E
isso não acontece apenas nas produções mais clássicas do romance «representação
do real» como nos de «produção de um universo próprio» (para usarmos os
conceitos de Jean Ricardou). Esta é uma área onde as fronteiras entre a ficção
e a realidade se parecem esbater. A escola e os seus actores são nos
apresentados dentro de contextos lógicos, de real significado. Os locais, os
tempos, os artefactos, as acções, os discursos, de muitos desses textos,
transportam-nos para cenários de enorme verosimilhança, em que o leitor se revê
e identifica: «era assim, tal e qual, no meu tempo de escola». Em certos casos,
a preocupação de relembrar o passado colocou o escritor numa espécie de
exercício de “restauro” e rigor de um tempo que foi o seu. E daí a riqueza
etnográfica que deles emerge (incluindo formas, cores e odores), na descrição
dos edifícios, das salas de aula, dos recreios, dos materiais escolares, das
tarefas ligadas ao estudo das diferentes disciplinas, dos métodos de ensino,
das formas de avaliação, dos castigos, dos rituais académicos, etc., etc. Ainda
que estes sejam importantes elementos para a caracterização da cultura escolar,
que um qualquer antropólogo não descuraria, a dinâmica da narrativa
permite-nos, fundamentalmente, “entrar” no pensamento e na acção dos actores
educativos que actuam em contextos geográficos, familiares, sociais, culturais
e históricos bem concretos. Esta variedade de situações, coloca-nos em termos
metodológicos, próximo dos «estudos múltiplos de caso» (Yin, 1984). Da
singularidade narrativa dos diversos casos particulares, acederíamos a uma
conexão geral de regularidades próprias das problemáticas educativas.</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>Nota</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">1. Maria Velho da Costa, Seara Nova, nº 1567,
Maio de 1976, p. 39.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><b>Referências</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 12pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.25pt; margin-right: -1.6pt; margin-top: 6.0pt; margin: 6pt -1.6pt 0cm 14.25pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">LETRIA, José Jorge (2001) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Livro Branco da Melancolia</i>. Lisboa: Quetzal Editores/ poesia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;">YIN,
Robert K. (1984) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Case Study Research:
Design and Methods</i>. Newbury Park: Sage/ Applied Social Researc</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">h Methods Series, vol. 5, 1989.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Cambria;"><o:p></o:p></span></p><br /><p></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-76443685249509104182023-09-21T16:43:00.001+01:002023-09-21T16:50:17.817+01:00AS CINCO ESTAÇÕES<p> <b>Risoleta C. Pinto Pedro</b></p><p>Edições Sem Nome</p><p>2023</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLG4R8SqGN7mpLIcmfkDKMXb8mjlF66aJ2x8YG_eR_sL_CRxwAPk7ePUiRvb3yMlXZ8-SCItDb2KsnGkiYmxL31bbL3yPKVlsuSuue3rWWeEJ_vs5LhEbUJ2S5UqzZJafc1bOnAD6cLAAmeiJxJLUoaljyJaHchdZKtjcVOHEmJQft485lKRrsAgr89AGi/s1000/As%20Cinco%20Esta%C3%A7%C3%B5es.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="726" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLG4R8SqGN7mpLIcmfkDKMXb8mjlF66aJ2x8YG_eR_sL_CRxwAPk7ePUiRvb3yMlXZ8-SCItDb2KsnGkiYmxL31bbL3yPKVlsuSuue3rWWeEJ_vs5LhEbUJ2S5UqzZJafc1bOnAD6cLAAmeiJxJLUoaljyJaHchdZKtjcVOHEmJQft485lKRrsAgr89AGi/s320/As%20Cinco%20Esta%C3%A7%C3%B5es.png" width="232" /></a><span style="text-align: center;">OUTONO</span></div><p style="text-align: center;">...</p><p style="text-align: center;"><i>No teu contar</i></p><p style="text-align: center;">transforma</p><p style="text-align: center;">a mesa da escrita</p><p style="text-align: center;">em bandeja de vestal.</p><p style="text-align: center;">E a caneta,</p><p style="text-align: center;">poeta,</p><p style="text-align: center;">será cana</p><p style="text-align: center;">de profeta.</p><p style="text-align: center;"><br /></p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-78050952551174204452023-09-10T20:02:00.007+01:002023-09-25T09:56:43.829+01:00Textos Soltos<p><b><i>Luís Santos</i></b></p><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><b>1.</b></span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;">No genograma que se vê em baixo, representam-se número de ascendentes diretos quando recuamos sete gerações... Ora fazendo um exercício simples, se o meu avô paterno José António dos Santos nasceu em 1887, quando chegamos ao meu quinto avô há-de ter nascido lá para 1700, seguramente, muito perto do século XVII, ainda antes da "Era das Revoluções", quer dizer, da Revokução Industrial, Revolução Americana e Revolução Francesa, o que dá a ideia da relatividade do tempo histórico e da enormidade de parentes e de territórios que temos por detrás de cada um de nós.</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;">No meu caso, como o dito avô nasceu em Alhos Vedros e casou com uma moçoila que veio de Niza, Portalegre, cujo pai, por sua vez, veio de Peral, Castelo Branco, reparem só que em quatro gerações os meus antepassados estendendem-se por uma mancha geográfica que abrange as províncias da Beira Baixa, Alto Alentejo e Estremadura.</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;">Agora, experimentem para vocês e vejam o engraçado da questão.</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><br /></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5SIIW1gg8fem_P2kFjWjyrMXLIQ7EIf_Qv4z4bf8Pj2s1D4wFqg2JtErpeFJhwM13vqM9n79P8RaAYdRkUgdSuRVBfBRkBHv85rymdKZYk_Il9QprnMSMAQV9_Xh4HzFdfCmB3yf52DlCQ-8sFyHLNnhNDysvEI5IHmh2W9De04oJJ6IkPWH48LSbcH_x/s800/Genograma%20Universal.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="669" data-original-width="800" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5SIIW1gg8fem_P2kFjWjyrMXLIQ7EIf_Qv4z4bf8Pj2s1D4wFqg2JtErpeFJhwM13vqM9n79P8RaAYdRkUgdSuRVBfBRkBHv85rymdKZYk_Il9QprnMSMAQV9_Xh4HzFdfCmB3yf52DlCQ-8sFyHLNnhNDysvEI5IHmh2W9De04oJJ6IkPWH48LSbcH_x/s320/Genograma%20Universal.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b><span style="font-family: arial;">2.</span></b></div></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="margin: 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto">Tempo de relembrar que Alhos Vedros registou este ano a 50ª edição da sua histórica Feira do Livro, organização da Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro, desde 1972, o que é obra! </div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto">Aproveitando o número redondo que faz dela uma das Feiras do Livro mais antigas do país, a Junta de Freguesia teve, em boa hora, a feliz ideia de iniciar a realização do 1º Prémio Literário Leonel Coelho.</div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto">Aqui, no palco da Feira, com cenário bem a propósito, feito com materiais antigos que <a style="color: #385898; cursor: pointer;" tabindex="-1"></a>vieram de outras edições, Dores Nascimento relembrando num emotivo e único momento o patrono do Prémio e um dos grandes obreiros da Feira, seu pai.</div><div dir="auto"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5szJZjWpKnIPyR-_6wpAInAULagTsV4WmVuGiehJfpc0owxE3Qo95hjMGlY-ZEnBzc6IjuK_d4sKPMJQ3YbhCBWWJUag3-6xpYS141tWz4tFqMmUMMZDKsC9VFePOTdooEI6KAPgTkWS7KDj5V2ij4J6qKPU3KutmMcDMjOVvKXEeeVGg8VQ7WdgATr0U/s4000/FL50.8.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="4000" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5szJZjWpKnIPyR-_6wpAInAULagTsV4WmVuGiehJfpc0owxE3Qo95hjMGlY-ZEnBzc6IjuK_d4sKPMJQ3YbhCBWWJUag3-6xpYS141tWz4tFqMmUMMZDKsC9VFePOTdooEI6KAPgTkWS7KDj5V2ij4J6qKPU3KutmMcDMjOVvKXEeeVGg8VQ7WdgATr0U/s320/FL50.8.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="margin: 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto"><b>3.</b></div><div dir="auto">CHAKRAS, ou chacras, segundo a cultura hindu, iogue, estudos da teosofia, entre outros, são centros de absorção e exteriorização de energias no corpo subtil (duplo etérico).</div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto">O conceito de corpo subtil encontra-se tanto em tradições ocidentais quanto orientais, geralmente significando um aspeto corpóreo "quase material" entre corpo e mente, ou um revestimento da alma cujos elementos são mais subtis, finos ou espirituais do que os do corpo físico humano. </div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word;"><div dir="auto">(Cf. Wikipédia)</div><div dir="auto"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNr83NL9yJfg51Vp0BuBY1fw5X-jaIY9K-_kaJFC_FaZj9nC5SVtcsu2q1J77pzYmS1yGWv3wLhzKeRc7b9Ys6P6efS74LpHZ-633axqZp9qOVpYJTQ7IsQ6swsZNcPdXXMa8L7EUE6hvebh3Yr1xuse2TbFEr7sqcLc-8L5jQ9CdHKkFN1jtVIob2XDw2/s1000/chakras.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="748" data-original-width="1000" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNr83NL9yJfg51Vp0BuBY1fw5X-jaIY9K-_kaJFC_FaZj9nC5SVtcsu2q1J77pzYmS1yGWv3wLhzKeRc7b9Ys6P6efS74LpHZ-633axqZp9qOVpYJTQ7IsQ6swsZNcPdXXMa8L7EUE6hvebh3Yr1xuse2TbFEr7sqcLc-8L5jQ9CdHKkFN1jtVIob2XDw2/w253-h189/chakras.png" width="253" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-GZHyMLxWKFV6htXMCGGujK8H9xMgEG4FuvbCTk4j71OdAzYjYHPsWe9gsoWQwSEYhkVG9eUhWquuOFDb_WDvUmJn6YlEccX2C70NeglYvIZ6exHJUxml0xK6WwCjD8wCJniEQpmgPPk7sSWj0lgsR1XooSV0OBd2z9fp46LFm_vCDg4o0pfM2BQvbgJ6/s1014/Chakras%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1014" data-original-width="760" height="269" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-GZHyMLxWKFV6htXMCGGujK8H9xMgEG4FuvbCTk4j71OdAzYjYHPsWe9gsoWQwSEYhkVG9eUhWquuOFDb_WDvUmJn6YlEccX2C70NeglYvIZ6exHJUxml0xK6WwCjD8wCJniEQpmgPPk7sSWj0lgsR1XooSV0OBd2z9fp46LFm_vCDg4o0pfM2BQvbgJ6/w202-h269/Chakras%202.jpg" width="202" /></a></div></div><br /><div dir="auto"><br /></div></div></div></div></span></div><div dir="auto"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-57662165702458839232023-08-28T16:30:00.010+01:002024-01-21T13:12:53.260+00:00Literatura: o pão nosso de cada dia (XVII)<p> <b>Luís Souta </b>(texto e fotos)</p><p><br /></p><p style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">LITERATURA COMO FONTE DE MÚLTIPLOS CORPUS TEMÁTICOS</span></b></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: right;">«desconfiança com que é encarada toda a narrativa</div><div style="text-align: right;">que pretenda ser mais qualquer coisa que divertimento.»</div><div style="text-align: right;">(<i>The Art of Fiction</i>, Henry James, 1888)</div></div><p><span style="font-size: medium;">A partir da literatura, nos seus diversos géneros, vários corpus temáticos se têm constituído. Os textos literários tornaram-se fontes atractivas para neles encontrar os objectos de estudo que mobilizam o interesse de cada um. Ainda que normalmente esses projectos prossigam fins editoriais e antológicos não deixa de os haver também com propósitos de investigação académica. As temáticas são as mais díspares. No caso português, podemos ilustrar com alguns exemplos, tendo em conta principalmente a edição em livro (e sem pretensões de exaustividade). Assim, nos romances, novelas, contos, poesia e peças de teatro têm-se indagado referências várias:</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji0AymBZdQaT8AgIXsA0EK-xUzn2CPthZmKoEYT2-s43IzIJ5qDR9iZ5yz5Dh2tKxK1kWq4oz3A0dExT_miOUA8_9j6WqsF54rH_0fg3Ei8ADRO6SyCQ_6wU1TmA_SZMMcpUquR0k1MP8_W0MLKtiSy8muhd5mjammNpNyxSeuTPcnLo01v9YRAov2KV3M/s320/Ag%20J.Conrado.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img border="0" data-original-height="214" data-original-width="320" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji0AymBZdQaT8AgIXsA0EK-xUzn2CPthZmKoEYT2-s43IzIJ5qDR9iZ5yz5Dh2tKxK1kWq4oz3A0dExT_miOUA8_9j6WqsF54rH_0fg3Ei8ADRO6SyCQ_6wU1TmA_SZMMcpUquR0k1MP8_W0MLKtiSy8muhd5mjammNpNyxSeuTPcnLo01v9YRAov2KV3M/s1600/Ag%20J.Conrado.JPG" width="320" /></span></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Júlio Conrado 06/06/2001</span></div><p></p><p><span style="font-size: medium;">(i) a <b>localidades</b>: vila da Ericeira (de Sebastião de Sousa Diniz, 1997, com 30 excertos de 19 escritores), vila de Cascais (de Júlio Conrado, 1995, com 26 autores seleccionados, a que acrescentou mais 7 na 2ª edição); lugares alentejanos (com 17 escritores antologiados, 2009); (ii) ao <b>desporto</b>: Manuel Sérgio e Noronha Feio (1979) haviam publicado uma antologia de textos desportivos em torno do, por eles denominado, homo ludicus; José do Carmo Francisco (1989), a partir apenas da poesia, de 71 autores, organiza-a de acordo com as modalidades desportivas; o desporto e as letras de autores vários (1975); (iii) ao <b>povo</b>: antologia do pedagogo João de Barros (s/d) com textos de 36 autores dos séculos XV a XIX; (iv) às <b>mulheres</b>: Luís Souta (1989) colectânea de extractos de contos e romances portugueses de 25 autores dos séculos XIX e XX (para além dos 648 provérbios e ditados populares); (v) à <b>guerra</b>: Rui de Azevedo Teixeira tem-se afirmado com uma obra importante em torno deste tema, ainda que privilegiando a Guerra Colonial, de que foi o organizador do I e II Congressos Internacionais. Na sua tese de doutoramento (1998), aborda a guerra tendo por base oito romances. Posteriormente, no ensaio de 2001, assinala duas tendências – a «pró-imperial» e a «torcida leitura ficcional» – na «transfiguração literária deste real histórico». Também Jacinto Prado Coelho (1983) tem uma entrada, no seu Dicionário de Literatura, sobre a guerra como tema literário; (vi) ao <b>toureio</b>: Urbano Tavares Rodrigues (1966) organizou uma antologia com 43 textos de 32 autores, seguindo uma mera apresentação por ordem cronológica; (vii) à <b>morte</b>: Urbano Tavares Rodrigues publicou, em 1957, um ensaio sobre a morte na poesia portuguesa; Rui Feijó, Hermínio Martins e João Pina Cabral (1985) procuraram uma abordagem multidisciplinar ao tema a partir de perspectivas sociológicas, históricas e literárias, embora apareça um só texto sobre literatura (“Morte e imaginação no Eurico de Alexandre Herculano” de T. F. Earle, pp. 47-63); (viii) aos <b>ciganos</b>: Luís Souta &amp; Elisa Costa (2000) levaram a cabo um projecto de investigação, financiado pela FCT, e intitulado «Caminhos dos Ciganos na Literatura Portuguesa»(1), em que pesquisaram, seleccionaram e organizaram textos literários de escritores nacionais, desde o século XVI até aos nossos dias, com referências a essa ancestral minoria étnica existente no nosso país (o corpus reuniu cerca de 170 obras de 115 escritores); (ix) <b>outros</b> temas, como a saudade na poesia portuguesa de Urbano Tavares Rodrigues (1967), jazz e literatura (internacional e nacional) de Miguel Martins (1998)…</span></p><p style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">Literatura como fonte de corpus sobre Educação</span></b></p><p><span style="font-size: medium;">No campo da Educação, é de realçar o sentido precursor de Matilde Rosa Araújo em organizações antológicas centradas na criança e onde os textos sobre o mundo escolar ocupam lugar de relevo. No seu livro As Crianças Todas as Crianças (1979), uma antologia de autores portugueses, inclui um capítulo intitulado «Escola que a vida não sabe» (pp. 85-116) com treze textos. Mais tarde, em 1986, publica nova antologia – A Infância Lembrada – que inclui 9 textos sobre a escola, da autoria de Antero de Quental, Antunes da Silva, Aquilino Ribeiro, João dos Santos, José Rodrigues Miguéis, Natália Nunes, Romeu Correia e Trindade Coelho.</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNLqkFcbsSzQ8ksXiiXByFg-Yf0AK9rJ3SurunbO0pJ5XdYoS92KGI3Yr6yiMhdA7P0wN7CY1oyx0vXw_6kAL3QlftEIY_3N-NnGwlt6DABOYqZ3hUoQbkgx_ZOoF9qCxzUarmf_3STSCsURVA4liByNbVsFvuj5FlTtaNJyQ9qB8Fchb1aSMxhfqWdBvf/s320/Ag.%20MatildeR.A..JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img border="0" data-original-height="217" data-original-width="320" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNLqkFcbsSzQ8ksXiiXByFg-Yf0AK9rJ3SurunbO0pJ5XdYoS92KGI3Yr6yiMhdA7P0wN7CY1oyx0vXw_6kAL3QlftEIY_3N-NnGwlt6DABOYqZ3hUoQbkgx_ZOoF9qCxzUarmf_3STSCsURVA4liByNbVsFvuj5FlTtaNJyQ9qB8Fchb1aSMxhfqWdBvf/s1600/Ag.%20MatildeR.A..JPG" width="320" /></span></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Matilde Rosa Araújo 16/05/2002</span></div><p></p><p><span style="font-size: medium;">Os Serviços de Educação da FCG editam <i>A Escola na Literatura</i>, uma antologia de 40 textos de autores portugueses, datada de 1997 mas lançada publicamente por altura da “Semana daEducação”(2), em meados de Janeiro de 1998, promovida pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, que redigiu o prefácio do livro.</span></p><p><span style="font-size: medium;">Outras iniciativas se fizeram, de forma mais esporádica e pontual, com carácter menos ambicioso e menos sistematizado. Refiro-me, concretamente, a duas promovidas por periódicos educativos, um sediado em Lisboa e outro Porto – a revista <i>O Professor</i> e o jornal <i>Correio Pedagógico</i>. A primeira, manteve uma secção intitulada «Nos bancos da escola», aproximadamente entre Setembro de 1984 e Maio de 1985, onde se divulgavam textos de conhecidos autores portugueses. E solicitava-se a colaboração activa dos leitores com o envio de originais. Mas o acolhimento não foi o esperado: «não obtivemos (…) grande número de participações», acabariam por reconhecer os responsáveis pela revista. Por sua vez, o <i>Correio Pedagógico</i>, foi publicando, mas com alguma irregularidade, desde o nº 54, Julho de 1991, até à data da sua extinção, na secção «Memórias da escola», extractos de livros de escritores nacionais(3).</span></p><p><span style="font-size: medium;">Num outro tipo de registo, se enquadra o trabalho de duas investigadoras bem conhecidas. Filomena Mónica (1978), ao longo do texto que resulta da sua tese de doutoramento – <i>Educação e Sociedade no Portugal de Salazar: a Escola Primária Salazarista 1926-1939</i> –, cita 23 obras portuguesas de ficção literária, apresentando pequenos extractos de algumas delas. Numa outra dissertação (mestrado), <i>As Fadas não foram à Escola</i>, Maria Augusta Seabra Diniz (1994) segue processo muito semelhante. Ambas, não ousaram ir além da citação ilustrativa, não fazendo desse mesmo conteúdo textual objecto de análise.</span></p><p><b>Notas</b></p><p>1. Luís Souta & Elisa Costa, <i>Caminhos Ciganos na Literatura Portuguesa</i>. Relatório final, FCT, Novembro de 2000 (policopiado).</p><p>2. Um dos organizadores da antologia era assessor da Presidência da República para a área da Educação.</p><p>3. Eu próprio colaborei nesta rubrica com excertos de José Gomes Ferreira, <i>Coleccionador de Absurdos</i> e Cristóvão de Aguiar, <i>Ciclone de Setembro</i>, e que viriam a ser publicados no nº 76, Junho/Julho 1993, p. 6.</p><p><b>Referências</b></p><p>AA.VV. (1975) <i>O Desporto e as Letras</i>. Lisboa: MEC-DGD/ Cultura e Desporto, nº 23.</p><p>AA.VV. (2009) <i>Lugares Alentejanos na Literatura Portuguesa</i>. Mora: Estação Imagem.</p><p>ARAÚJO, Matilde Rosa (1979) <i>As Crianças Todas as Crianças</i>. Lisboa: Livros Horizonte.</p><p>ARAÚJO, Matilde Rosa (1986) <i>A Infância Lembrada</i>. Lisboa: Livros Horizonte.</p><p>BARROS, João de (org.) (s/d) <i>O Povo na Literatura Portuguesa</i>. Lisboa: Guimarães &amp; Cª Editores.</p><p>CONRADO, Júlio (1995) <i>Lugares de Cascais na Literatura</i>. Hugin, 2ª edição, 2001.</p><p>DINIZ, Mª Augusta Seabra (1994) <i>As Fadas não foram à Escola: a literatura de expressão oral em manuais </i><i>escolares do ensino primário (1901-1975)</i>. Porto: Edições Asa/ Perspectivas Actuais – Educação.</p><p>FEIJÓ, Rui; MARTINS, Hermínio e CABRAL, João Pina (1985) <i>A morte no Portugal Contemporâneo: </i><i>aproximações sociológicas, literárias e históricas</i>. Lisboa: Querco/ Conhecer Portugal, nº 4.</p><p>FRANCISCO, José do Carmo (org.) (1989) <i>O Desporto na Poesia Portuguesa</i>. Lisboa: Sindicato dos Bancários</p><p>do Sul e Ilhas.</p><p>MARTINS, Miguel (1998) <i>Jazz e Literatura</i>. Porto: Campo das Letras/ Campo da Música, nº 4.</p><p>MÓNICA, Mª Filomena (1978) <i>Educação e Sociedade no Portugal de Salazar: a Escola Primária Salazarista </i><i>1926-1939</i>. Lisboa: Editorial Presença/ Análise Social, nº 5.</p><p>NÓVOA, António e RAMOS DO Ó, Jorge (orgs.) (1998) <i>A Escola na Literatura</i>. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Serviços de Educação/ Textos de Educação.</p><p>RODRIGUES, Urbano Tavares (org.) (1957) <i>O Tema da Morte na Moderna Poesia</i>. Lisboa: [s.n.] Sep. Graal, nº4.</p><p>RODRIGUES, Urbano Tavares (org.) (1966) <i>O Mundo do Toureio na Literatura de Língua Portuguesa</i>. Lisboa: Portugália Editora/ Antologias Universais – Vária II.</p><p>RODRIGUES, Urbano Tavares (org.) (1967) <i>A Saudade na Poesia Portuguesa</i>. Lisboa: Portugália Editora/Antologias Universais.</p><p>SÉRGIO, Manuel e FEIO, José Maria Noronha (org.) (1979) <i>Homo Ludicus: Antologia de Textos Desportivos </i><i>da Cultura Portuguesa</i>. Lisboa: Compendium/ Educação Física e Desporto, 2 vols.</p><p>SOUTA, Luís (org.) (1989) <i>A Mulher nas Bocas do Povo e na Pena dos Escritores</i>. Setúbal: ESE de Setúbal – CEE.</p><p>TEIXEIRA, Rui Azevedo (1998) <i>A Guerra Colonial e o Romance Português</i>. Lisboa: Editorial Notícias.</p>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-55937946077490503712023-08-09T15:35:00.008+01:002023-08-09T15:39:30.697+01:00Oliveira Bimilenar<p><i>Luís Santos</i></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWdvWKP08QKdkrsoZ_MYJ2qRT8QqImQVBoJVEWiWFk1BYSJ3YscvU7m_7SWPOVJjeJFS_j8U_atq75LFtt9iJ0QD6qS0kwI9r4JLQNKG77QAY7KGk__4718rbXxbcyhNJznWQSwmnYKeGHnnWmAl04mmxpu5aLX3DGRo6SUVu-6-RlmPhL0m_fwfvdWRXT/s3264/Oliveira%20Bimilen%C3%A1ria_20230730.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="2448" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWdvWKP08QKdkrsoZ_MYJ2qRT8QqImQVBoJVEWiWFk1BYSJ3YscvU7m_7SWPOVJjeJFS_j8U_atq75LFtt9iJ0QD6qS0kwI9r4JLQNKG77QAY7KGk__4718rbXxbcyhNJznWQSwmnYKeGHnnWmAl04mmxpu5aLX3DGRo6SUVu-6-RlmPhL0m_fwfvdWRXT/s320/Oliveira%20Bimilen%C3%A1ria_20230730.jpg" width="240" /></a></div><p></p><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Com mais de 2 mil anos de vida, segundo datação arqueológica assinada, e catalogada como o ser vivo mais antigo de Portugal,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">se conseguirem, já que a fotografia não é muito favorável, poderão ver um tronco de largo perímetro, onde dá para entrar dentro, sentar e, quiçá, meditar envolto em aura muito resistente a temporal desgaste, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">e, </span><span style="font-family: inherit;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span><span style="font-family: inherit;">sem esperar, numa visita habitual que se vai repetindo, lá estava ela anunciando-se em super amistosa e doce misteriosofia, sagrada natureza, onde por companheira tem uma oculta alfarrobeira que também faz por chamar a atenção.</span></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8252413325282732127.post-63137324116811807322023-07-11T19:51:00.007+01:002024-01-21T13:12:29.228+00:00“Literatura: o pão nosso de cada dia”(XVI)<p> <b><i><span style="font-size: medium;">Luís Souta</span></i></b></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">À memória de meu pai (04/1927-07/2023)</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">«Finito, o homem aspira ao Infinito; mortal, não se conforma com a morte»</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">(Teixeira de Pascoaes, <i>Livro de Memórias</i>, 1928:139)</span></div></div><p><br /></p><p style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">LITERATURA, UMA FONTE DA EDUCAÇÃO</span></b></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">«única verdade, que é a literatura.»</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">(<i>Livro do Desassossego</i>, Fernando Pessoa, [268], p. 179)</span></div></div><p><span>As vivências escolares estão generalizadas no seio de um grupo (altamente) letrado – os escritores – que conheceu a escola com certa profundidade, a partir do seu interior, como alunos e alguns também na qualidade de docentes. E é, essencialmente, a partir dessa realidade que têm elaborado histórias que aparecem em várias das suas obras literárias. Através de um exercício retroactivo de recomposição de cenários e interacções, facilitado por esse conhecimento de proximidade aos contextos educativos, o escritor fornece-nos uma literatura, no que à escola diz respeito, de tipo quase “memorialista” (José Gomes Ferreira, que tantos registos tem sobre o ensino na sua vasta obra de prosa e poesia, confessa a «aparência memorialística de grande parte dos meus livros, se não de todos» (1998:95).</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif8Ukm9iDnk95WChPJIZ0BOJ75OmgwljJOmOyiNbtv3Uri3XLKqB1K3Ugas4IJ3gt1srpICA_WCUH0dVNSaBe3dUYIHh_beyDO8cqSUqlNKNwrDJXA1DWkrKgfJEvHUyb-6MZ2t3kXs17T4gsVU4ib0pumPtYG_PT4-PcQMHxas0Owa6fKErDoHIIMS5Cl/s320/LS_JGF.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="223" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif8Ukm9iDnk95WChPJIZ0BOJ75OmgwljJOmOyiNbtv3Uri3XLKqB1K3Ugas4IJ3gt1srpICA_WCUH0dVNSaBe3dUYIHh_beyDO8cqSUqlNKNwrDJXA1DWkrKgfJEvHUyb-6MZ2t3kXs17T4gsVU4ib0pumPtYG_PT4-PcQMHxas0Owa6fKErDoHIIMS5Cl/s1600/LS_JGF.jpg" width="223" /></span></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">José Gomes Ferreira</span></div><p></p><p><span>Isto é, conhecer o passado, trazê-lo para um melhor entendimento do presente e, concomitantemente, perspectivar o futuro tendo em conta esse espólio. Foi a consciência dessa herança literária que me lançou numa investigação centrada na escola portuguesa (pública e privada, religiosa, laica e militar), para ambos os sexos, e nos processos (formais) de ensino e de aprendizagem, ao longo de um período de cerca de 150 anos, balizado por duas revoluções, a montante, a liberal de 1820 e, a jusante, a democrática de 1974. A opção pelos séculos XIX e XX prende-se com a época em que se dá o desenvolvimento institucional da escolarização e em que a criança e o adolescente surgem como personagens centrais da ficção literária. Essa demorada pesquisa confluiu num corpus organizado a partir de romances, novelas, contos, crónicas, poemas, diários, memórias e ensaios de cunho literário(1). Todo este labor se inscreve numa etapa de um projecto (deveras ambicioso) de estudo, a que poderíamoschamar «um antropólogo na tribo dos escritores»(2).</span></p><p><span>A escola é, por natureza, avessa à memória de si mesma; o avanço, o desenvolvimento, faz-se antes por cortes com o passado. Prevalece a necessidade de “olhar em frente”, procurar o novo, e de preferência distante desse passado, visto como negativo, a ultrapassar e a vencer. Ora neste trabalho, procurámos ir noutro sentido e nisso estamos sintonizadas com Italo Calvino «considerar o passado em função do futuro». </span></p><p><span>A comparação diacrónica de obras literárias com referências à escola, permite-nos essa visão de vários “passados” que, também eles, devem ser entendidos como património profissional que não deixa de condicionar e marcar, indubitavelmente, o nosso presente. Esta abordagem, não é, de modo algum, alternativa à “instalada” e consagrada História da Educação (infelizmente, ainda não contemplada em muitos planos curriculares de formação de professores), também ela em processo de mudança, agora mais virada para a «internalidade do trabalho escolar» e para a «elaboração de “histórias” que traduzem processos vários de construção social das coisas humanas, referindo-se cada uma delas a um momento particular do passado e a intenções específicas de determinados grupos» (Nóvoa, 2000:10).</span></p><p><span>O nosso propósito era alargar esse universo de análise a outras complementaridades e aprofundamentos. Ampliar as memórias e as experiências, de tempos e lugares diversos. O texto literário faz emergir categorias de análise, mais das esferas do afectivo, do emocional, dos sentimentos, das sensações, dos pensamentos, das interacções mais íntimas, de tudo aquilo que é bem mais difícil de analisar com os instrumentos “clássicos” das Ciências Sociais (inquérito, entrevista) e da Antropologia da Educação (observação participante, ainda que esta haja dado grande impulso na compreensão de certos fenómenos menos “evidentes”).</span></p><p><span>E mesmo sabendo que o tema escola não ocupa o lugar de destaque na literatura como outros temas – família, amor e vida sentimental, relações de amizade, trabalho e poder… – ele não deixa de, entre nós, ter uma dimensão forte, significativa e presente em diferentes épocas históricas. Ao contrário do que parece verificar-se em França, como nos dá conta Claude Thélot: «souvent, les écrivans français ont évoque l’école, non pas dans leurs romans, leurs oeuvres majeurs, mais dans des autobiographies soit explicites, soit déguisées» (2001:5). Mas, entre nós, a escrita memorialista autobiográfica, tem sido um género pouco cultivado, mesmo a de raiz puramente literária (cf. as 32 obras analisadas por Clara Rocha, 1992). A «maioria dos livros de memórias» são «por via de regra meras colecções de anedotas e episódios pitorescos», segundo o juízo de José Gomes Ferreira (1965:7), ou «duma pobreza subfranciscana» dirá Rodrigues Miguéis (1973:301).</span></p><p><span>Esta “escola representada”, a partir das obras literárias, constitui um importante acervo de informação sobre essa instituição educativa, resultado de uma construção histórica e conjuntural de políticas educativas e económicas várias e contraditórias. Este legado documental tem sido descurado nas análises dos especialistas, quer da Educação quer da Antropologia. Mesmo os estudos predominantemente literários, têm-se focado numa obra (v.g. a crítica à educação de Carlos em <i>Os Maias</i> feita por António Sérgio, 1980), num só autor (v.g. <i>Concepções Pedagógicas na Obra de Irene Lisboa de Luís Cardoso Teixeira</i>, 2006) ou, quando muito, num conjunto reduzido de obras/autores de temática comum, como foi o caso de Carina Infante do Carmo (1998) em torno do «romance de internato» de Aquilino Ribeiro, José Régio e Vergílio Ferreira, ou ainda de Encarnação Reis (2000) que se centrou nos textos preconizados no programa da disciplina de Português do ensino secundário na «demanda da representação literária de modelos de educação» (p. 7).</span></p><p><span>Alfredo Margarido, um dos raros antropólogos que se debruçou sobre a literatura portuguesa, adverte para as limitações decorrentes de visões parcelares quando nos cingimos a casos particulares de escritores (ainda que de obra vasta e consagrados no cânone) ou de grupos que comungam propósitos ideológicos semelhantes: «Sendo o romance o espelho de uma sociedade, através do qual conhecemos o homem, os escritores portugueses não nos deram a explicação do homem na sua globalidade e até do país na sua globalidade. Por exemplo, Eça retratou a burguesia, Júlio Dinis ficou-se pelo ruralismo portuense, os neo- realistas ficam-se pelos operários e camponeses e estes, os do Alentejo»(3).</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcCdJooAeVEZUq66Z9UZESPy0waO_Icecj-J_6A8wihfdhBDsjwczeuitjCifKeaBFxesG63TKdtMQFh6XhDgBxlRfIFtgXOjX6Ur2WC7s6R_jvt2lYZ6mqCviE5oWXoEbVb2mZSEInIM51mhTclAVjVj_A0O3wC_R71_d1-frDTe6tfV95YTx9jaAnXyV/s320/LS_AM.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcCdJooAeVEZUq66Z9UZESPy0waO_Icecj-J_6A8wihfdhBDsjwczeuitjCifKeaBFxesG63TKdtMQFh6XhDgBxlRfIFtgXOjX6Ur2WC7s6R_jvt2lYZ6mqCviE5oWXoEbVb2mZSEInIM51mhTclAVjVj_A0O3wC_R71_d1-frDTe6tfV95YTx9jaAnXyV/s1600/LS_AM.jpg" width="240" /></span></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Alfredo Margarido</span></div><p></p><p><span>Diferente é a abordagem que propomos para a “realidade escolar”: ou ela assenta num conjunto muito vasto de escritores, de diversidades várias e, numa diacronia alargada ou, caso contrário, não haverá muito a esperar de análises que não irão para além das fronteiras “da obra em si” ou das conhecidas “vida e obra” deste ou daquele escritor. Ou seja, não se sai do estrito campo dos “estudos literários” que, pouco revertem para o nosso grande objectivo que se consubstancia na compreensão global, profunda e diversificada do que é viver, crescer e aprender na instituição escolar. E, como esta, afinal tem mudado tão pouco no decorrer destes dois últimos séculos (presa numa lógica pendular), não passando os renovados propósitos de reformas permanentes, na maior parte dos casos, de «modernização da espuma» destinada a produzir efeitos conjunturais onde o que mais conta é o «brilho basbaque»(4).</span></p><p><span>Com este material podemos conhecer a escola portuguesa, através de um outro olhar, o dos escritores. Eles não só fixam a ideia de escola, como a reproduzem. Os escritores, como intelectuais, são pessoas particularmente importantes neste processo. Ver a escola através dos escritores não é apenas uma questão de fontes, mas principalmente um outro olhar, de síntese; a literatura, como a arte em geral, «basta-lhe ser síntese», como dizia Aquilino Ribeiro(5). Mas também um olhar de pertinência, onde o racional e o afectivo se conjugam na visão do jovem estudante que, hoje adulto, se mostra disponível para analisar, por uma escrita reflexiva 6 , os testemunhos recuperados pela memória factual e afectiva (sua, daqueles com quem interagiu ou alheia): a escola e o seu funcionamento, da organização geral aos acontecimentos mais banais, as práticas e as rotinas educativas, o currículo e os processos de transmissão de conhecimentos, a vida dos alunos e as suas aprendizagens, etc. Para além do mais, o facto de todos terem frequentado a instituição escolar e muitos deles terem sido professores, em diferentes níveis de ensino, em diversas disciplinas, e em distintas regiões (continente e ilhas), as suas obras incorporam múltiplos registos, informativos e reflexivos, de etnografia escolar e da vida quotidiana dos estabelecimentos. A escola surge-nos como um micro cosmos com sentido e significado. Muitos desses textos são efabulações construídas a partir de reminiscências da infância e da adolescência, de vivências reais, de experiências concretas do autor. Todavia há quem teime em negar correspondências biográficas: José Régio na <i>Confissão dum Homem Religioso</i> diz «e embora eu tenha sempre de repetir que o Lelito não é um auto-retrato nem A Velha Casa uma autobiografia» (1971:78); mas se é preciso tantas vezes repeti-lo é porque não é fácil desconvencer os leitores das similitudes evidentes entre a realidade e a ficção. De qualquer modo «é inegável a permeabilidade mútua da vida e da obra» em José Régio como o nota Carina do Carmo (1994:71), e o comprovam Eugénio Lisboa (1986) e Giampaolo Tonini (2000). De facto, alguns escritores demonstram certa relutância em reconhecer estas ligações, não em abstracto mas no concreto das suas obras ficcionais. Parece que a veia imaginativa e criadora (traço identitário nobre) sairia assim penalizada. Apesar de muitos textos funcionarem como se fossem histórias de vida dos autores, só nos diários e memórias são assumidos claramente com esse carácter. Através de uma escrita rememorativa, reconstitui-se, a partir de fragmentos dispersos, um passado com um sentido claramente biográfico (ou pelo menos «criptobiográfico»). Urbano Tavares Rodrigues confirma-o, numa entrevista ao <i>Ensino Magazine</i>(7): «Há ao mesmo tempo uma profunda e íntima relação entre romance e autobiografia». Há mesmo quem vá mais longe e afirme que os livros são sempre autobiográficos. Pela memória se pretende «recuperar o tempo vivido e experimentado»(8). Mesmo tendo em conta «as manchas ou buracos que o tempo costuma oferecer às recordações»(9).</span></p><p><span>Claro que esta capacidade dos escritores, como o afirma Serafim Ferreira, se enquadra na função mais geral de toda «a prosa de ficção (romance, conto ou narrativa(10)), [que] se deve entender como o acto pessoal de compreender ou decifrar o mundo e dele ter profunda consciência», ou seja, o escritor «exprimindo o geral pelo particular» (1998:91) acaba por ver a sua experiência, num certo tempo e espaço, e numa realidade concreta, ser generalizada e, portanto, partilhada pelos leitores, num processo de identificação.</span></p><p><span>Ainda que estejamos face a uma escrita de ficção, a sua “proximidade” com a realidade é por demais evidente, pelo que não podemos negar a sua utilidade como um capital cultural para apreensão do fenómeno educativo. C. Wright Mills evidencia as grandes potencialidades da literatura na compreensão dos fenómenos sociais, chegando mesmo a afirmar que «uma obra literária ensina, às vezes, mais, de Sociologia exercida, que certos compêndios de tantos profissionais desta ciência». Por aquilo a que Bourdieu designa como o «efeito de crença» e «que faz com que a obra literária possa por vezes dizer mais, inclusivamente sobre o mundo social, do que muitos escritos de pretensões científicas» (1992:54). Na mesma linha se colocava Freud quando, em relação ao conhecimento do homem e do seu inconsciente, valorizava mais os poetas e romancistas que os psicólogos.</span></p><p><b>Notas</b></p><div style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">1. <i>Carreirinha da Escola</i> de Luís Souta (a publicar, em breve, pela Ed. Sítio do Livro).<br />2. Título sugerido a partir do artigo de Lewis Thomas “Um antropólogo estuda a tribo dos médicos”. <i>Diálogo</i>, nº4, vol. 21, 1988, pp. 48-52.<br />3. Intervenção de Alfredo Margarido no “Colóquios de Outono da Raia”, 19-20/11/1998. <i>Gazeta do Interior</i>, 26/11/1998, p. 16.<br />4. Estes dois conceitos foram tomados de empréstimo a António Barreto, <i>Público</i>, 04/06/2000, p. 13.<br />5. “Prefácio-Dedicatória” ao seu livro <i>Portugueses das Sete Partidas</i>, 1969, p. 16.<br />6. Natália Nunes, na entrevista que nos concedeu (05/2002), diz: «sou alguém que passou pela escola e reflectiu<br />sobre isso».<br />7. Entrevista de Urbano Tavares Rodrigues ao <i>Ensino Magazine</i>, nº 10, Dezembro 1998, p. 2.<br />8. Serafim Ferreira, a <i>Página da Educação</i>, Julho 1999, p. 30.<br />9. Entrevista de Rui de Azevedo Teixeira, <i>DN</i>, 31/03/2002, p. 39.<br />10. Vasco Graça Moura, 1999, considera que «todo o poema é também uma ficção».</span></div><p><b>Referências</b></p><div style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">BOURDIEU, Pierre (1992) <i>As Regras da Arte: Génese e Estrutura do Campo Literário</i>. Lisboa: Editorial Presença, 1996.<br />CARMO, Carina Infante do (1994) “Algumas reflexões sobre <i>Uma Gota de Sangue (A Velha Casa I)</i>, de José Régio”. A Cidade – revista cultural de Portalegre, nº 9 (nova série), pp. 67-74.<br />CARMO, Carina Infante do (1998) <i>Adolescer em Clausura – Olhares de Aquilino, Régio e Vergílio Ferreira sobre o Romance de Internato</i>. Faro e Viseu: CEAR-Universidade do Algarve/ Línguas e Literaturas, nº 2.<br />FERREIRA, José Gomes (1965) <i>A Memória das Palavras ou o gosto de falar de mim</i>. Portugália/ Obras de J.G.F.<br />FERREIRA, José Gomes (1998) <i>Dias Comuns II. A Idade do Malogro</i>. Lisboa: Dom Quixote.<br />FERREIRA, Serafim (1998) O Acto e a Letra: biografias breves. Lisboa: Escritor/ 10 anos.<br />LISBOA, Eugénio (1986) <i>José Régio a obra e o homem.</i> Lisboa: Dom Quixote.<br />MIGUÉIS, José Rodrigues (1973) <i>O Espelho Poliédrico</i>. Lisboa: Estúdios Cor/ Obras de J.R.M., nº 5.<br />NÓVOA, António (2000) “História &amp; Educação”. <i>Educação Ensino</i>, nº 22, Maio-Junho, pp. 9-11.<br />RÉGIO, José (1971) <i>Confissão dum Homem Religioso. Páginas Íntimas.</i> Lisboa: IN-CM/ Biblioteca de Autores Portugueses – Obra Completa J.R., 2001.<br />REIS, João da Encarnação (2000) <i>A Educação na Literatura Portuguesa</i>. Lisboa: Edições Colibri.<br />ROCHA, Clara (1992) <i>Máscaras de Narciso: estudos sobre a literatura autobiográfica em Portugal</i>. Coimbra: Almedina.<br />SÉRGIO, António (1980) “Sobre a imaginação, a fantasia e o problema psicológico-moral na obra novelística de Queirós” in <i>Ensaios</i>, vol. 6º. Lisboa: Sá da Costa/ Clássicos Sá da Costa – Obras completas A.S., pp. 53-120.<br />TEIXEIRA, Luís Cardoso, (2006) <i>Concepções Pedagógicas na Obra de Irene Lisboa (1892-1958)</i>. Porto: Profedições.<br />THÉLOT, Claude (org.) (2001) <i>Les Écrivans Français Racontent l’École: 100 textes essentiels</i>. Paris: Delagrave, Maisonneuve &amp; Larose.<br />TONINI, Giampaolo (2000) “José Régio. Autobiografismo e modernidade literária”. <i>Boletim do Centro de Estudos Regianos</i>, nº 6-7, Junho-Dezembro, pp. 105-108.</span></div>estudo geralhttp://www.blogger.com/profile/02482393830354596023noreply@blogger.com0