por Luís Santos
1. O PENSADOR
Quando o irmão Bapu* nos convidou para o visitarmos em
Luanda(!), entre vários outros artefactos, trouxemos de lá um
"Pensador", companheiro de todos os dias, extraordinária estatueta
que é um dos símbolos nacionais de Angola.
Essa estatueta, anos passados, acabou por dar um trambolhão
e ficou amputada nalgumas partes do corpo... e nós amputados também... mas,
curiosamente, logo nos ofereceram outra com o dobro do tamanho.
Temo-la exposta em casa, ao lado da secretária de trabalho,
escritório e quarto, e hoje ao olharmos para ela, mais uma vez, admirámos a
perfeita estética, a robusta e encantadora madeira, pau-preto.
Depois o pensamento levou-nos ao Mpingo, o nome da árvore, à
semente que a deu, na terra vermelha em que cresceu, da água que bebeu, luz do
sol, via láctea, galáxia das galáxias. Quem diria, este Pensador feito uma
semente, tem em si o universo inteiro.
Mais ainda, além de uma admirável cultura, representa a
experiência dos longos anos, a sabedoria e o conhecimento dos segredos da vida.
Valete, fratres.
(*) Bapu, quer dizer “pai”, nome com que os indianos se referem carinhosamente a Mahatma Ghandi. Mahatma, por sua vez, significa grande alma, venerável. Aqui, extensível a um querido irmão, e ele sabe quem É.
2. OS PAPÉIS DO INGLÊS
Ontem à noite fomos revisitar Angola. Fomos sozinhos, mas não desacompanhados. Esta coisa de deixar o medo e pensamentos negativos de lado, foi princípio que a vida nos ensinou. E até porque, em boa verdade, somos todos muitos mais do que só um.
Na lembrança, lá mais atrás, uma inesquecível visita a um irmão de armas, mas não militares, embora em período de guerra civil. Daquela vez à volta de Luanda, até ao Mussulo. Sempre fomos puxando pelo fim das guerras, e conseguimos. 40 anos.
Ontem, foi o deserto do Namibe. Corre-nos no sangue. Toda aquela faixa de areia avermelhada, onde não há mais nada, a beijar a longa costa atlântica, de onde nos chegam flores do lácio, Mariana.
Fomos lá visitar pastores.
P.S.: Os Papéis do Inglês é um filme produzido por Paulo Branco e realizado por Sérgio Graciano a partir do livro do antropólogo Ruy Duarte de Carvalho "Vou Lá Visitar Pastores".
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