terça-feira, 30 de abril de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PROVAS DE AVALIAÇÃO

Nesta última semana tenho vindo a ler à Matilde, todas as noites, uma história de um livro de António Torrado (1) que ali compila uma série de pequeninos contos infantis que o meu amorzinho muito aprecia. 


Esta actividade é muito importante, pois é um dos factores que contribuem para uma boa aprendizagem da língua mãe, tanto no âmbito da oralidade como, posteriormente, da escrita. 

E, por experiência, sabemos que o resultado com a Margarida é profundamente reconfortante. 
É vulgar vê-la ler atentamente livros temáticos diferenciados e tudo indica que está a dar início à aquisição do hábito das leituras recreativas, o mesmo é dizer do interesse pela ficção. 
Ainda nesta último fim-de-semana leu um livro de Enid Blyton. (2) 

Mas este piolhinho é engraçado. 
Quando lhe disse que gostaria de lhes ler as aventuras dos cinco respondeu-me que estas tinham mais interesse por se tratarem apenas de raparigas. 


Seja como for, fico todo enternecido com os olhinhos atentos com que a Matoldas segue as enfâses e as nuances das palavras lidas. 


São encantos de pai. 



E se ontem houve prova de Língua Portuguesa, hoje houve a despedida das aulas de moral e de música e os alunos aprenderam ainda a palavra caracol. 

Mas a surpresa foi o cd que o Professor de música editou com cantigas interpretadas pelos alunos das escolas primárias da Vila. 
A Matilde e a Margarida passam assim a ter as suas vozes gravadas em disco. 

Não é encantador? 



E agora já temos um novo écran em casa. 
Vê-se o céu e as estrelas através da janela que ilumina a escada de acesso ao piso superior do apartamento. 



Só é pena que o Iraque continue a sangrar e com ele a paz dos nossos dias vindouros. 


Alhos Vedros 
  18/06/2004 


NOTAS 

(1) Torrado, António, DA RUA DO CONTADOR PARA A RUA DO OUVIDOR 
(2) Blyton, Enid, GRANDES DESAFIOS 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Blyton, Enid, GRANDES DESAFIOS, Tradução de Alexandra Salgueiral, ACJ, Lisboa, 2003 
Torrado, António, DA RUA DO CONTADOR À RUA DO OUVIDOR, Ilustrações de Aida Xavier, Edições Asa (1ª. Edição), Porto, 2004

segunda-feira, 29 de abril de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL... (346)



A Libertação dos Escravos, Pedro Américo, 1869
Óleo sobre Tela, 138,5 cm x 199 cm

Pedro Américo de Figueiredo e Melo (Areia, 29 de abril de 1843 — Florença, 7 de outubro de 1905) foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.

Desde cedo o paraibano demonstrou inclinação para as artes, sendo considerado um menino-prodígio. Ainda muito jovem participou como desenhista de uma expedição de naturalistas pelo nordeste, e recebeu apoio do governo para se formar na Academia Imperial de Belas Artes. Fez seu aperfeiçoamento artístico em Paris, estudando com mestres célebres, mas se dedicou também à ciência e à filosofia. Logo após seu retorno ao Brasil passou a dar aulas na Academia e iniciou uma carreira de sucesso, ganhando projeção com grandes pinturas de caráter cívico e heróico, inserindo-se no programa civilizador e modernizador do país fomentado pelo imperador Dom Pedro II, do qual a Academia Imperial era o braço regulador e executivo na esfera artística.

Seu estilo na pintura, em consonância com as grandes tendências de seu tempo, fundia elementos neoclássicos, românticos e realistas, e sua produção é uma das primeiras grandes expressões do Academismo no Brasil em sua fase de apogeu, deixando obras que permanecem vivas até hoje no imaginário coletivo da nação, como Batalha de Avaí, Fala do Trono, Independência ou Morte! e Tiradentes esquartejado, reproduzidas aos milhões em livros escolares de todo o país. Na segunda metade de sua carreira se concentrou em temas orientalizantes, alegóricos e bíblicos, que preferia pessoalmente e cujo mercado estava em expansão, mas esta parte de sua obra, em sua época muito popular, rápido saiu de moda, não recebeu atenção dos especialistas em tempos recentes e permanece muito pouco conhecida.

in Wikipédia

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 27 de abril de 2019

O Mar da Palha


Luís Santos

Estuário do rio Tejo, lugar de encontro entre águas doces e salgadas, movimento de maré, o Mar da Palha estende-se desde o mouchão de Alhandra, próximo de Alverca do Ribatejo, até Lisboa/Cacilhas e banha todos os concelhos da margem norte e sul, por onde o rio corre. Na foto, a praia do Moinho no Samouco, margem sul, mesmo ali ao pé donde sai a Ponte Vasco da Gama, capitão que mereceu a honraria, como é sabido, pela descoberta do caminho marítimo até à Índia, Índico que depois deu para o Tibete, para o Japão, e por aí a fora, Ilha de Moçambique, Madagáscar, Zanzibar, Seicheles...

Na enseada que o rio Tejo faz por aqui, círculo interior da margem sul, onde se situa também a base aérea nº6 do Montijo que, eventualmente, será substituída pelo novo aeroporto complementar ao de Lisboa... existem ainda amplas zonas naturais que são, entre outras coisas boas, lugar de moratória, nidificação e migração de dezenas de espécies de aves. Desde logo, os flamingos e as gaivotas, mas também as garças, brancas e cinzentas, os gaios, as gaivinas, os patos bravos, os maçaricos, os borrelhos, e um sem número de outras que nem lhes conhecemos os nomes. Uma questão real, pertinente e delicada, esta da possível coexistência num mesmo espaço de tantas aves e aviões.


quarta-feira, 24 de abril de 2019

Ação contra as dragagens no Sado


Ação contra as dragagens no Sado, por um desenvolvimento sustentável




Para mais informações clicar aqui:

terça-feira, 23 de abril de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Tenho imensa pena de não ter a disponibilidade que julgo seria a necessária para escrever este diário. 

Não é só o volume laboral que é muito e intransmissível que me tem retirado todo o espaço mental para, durante o dia, atentar em assuntos que aqui poderia tratar. São também as obras que nos têm feito viver no pó e desalinho que pesam na redução do tempo apropriado a que aqui me sente e registe o que me vai na mente. 

Acontece que não tenho alternativa e pesem embora todas as dificuldades e sacrifícios, tenho que aproveitar o curto silêncio que me separa das horas de sono a que vou buscar a curta possibilidade de dar corpo a este trabalho. 

E este não pediu para ser feito, é antes uma obrigação que assumi para com as minhas queridas filhas e, só por isso, jamais poderia deixar de o cumprir. E depois seria a minha própria obra literária que o exigiria uma vez que este se trata da última das unidades que constituem a minha experiência no domínio da diarística. 

Lamento pois que, por tudo isto, este exemplar possa não vir a ter o interesse dos anteriores, mas não poderia deixar de escrevê-lo. 



E os tempos que correm são tão deprimentes, tão monotonamente deprimentes. 


Em Portugal vive-se o futebol que está a ser usado pelos poderes como uma espécie de prozac social que sempre atenua as insuficiências do nosso bem estar colectivo. 

São horas a fio nas televisões e capas e interiores de jornais, como se o destino de um país estivesse dependente do resultado de um campeonato. 


E enquanto isso vamos perdendo tempo e dinheiro e desperdiçando ânimo para realizarmos as reformas de que necessitamos. 


Mas é a febre deste mês de Junho, é o Euro 2004 que, para mim, independentemente de ser ou não um sucesso organizativo e desportivo, será sempre o monumento à magnanimidade bacoca e provinciana. 

Construir dez estádios e respectivas acessibilidades e reconversões urbanísticas inerentes num país que não tem desporto escolar e muito menos recintos desportivos com campos relvados, havendo ainda com um bom número de estabelecimentos de ensino sem pavilhões gimno-desportivos, só por delírio poderíamos acreditar que tal fosse possível. Mas foi. E a nossa tragédia está na resposta ao porquê que nos diz tratar-se de um diktat que os barões da bola impuseram aos representantes do poder político. 

A verdade é que nem com muita imaginação conseguiremos construir um único argumento inteligente para justificarmos a organização de um evento como este, ainda mais nos moldes em que foi posto em prática. 
Se queríamos promover turisticamente o nosso território por via do desporto teria sido preferível organizar uns jogos olímpicos, cujas imagens de encerramento e abertura são vistas em todo o mundo que integra o espectro televisivo e que seria susceptível de atrair mais turismo de famílias que o futebol. 
Além disso até nem é verdade que seja nesta última modalidade que os portugueses conseguiram as proezas mais importantes. 
O hóquei em patins, por exemplo, é tanto a nível de clubes como de selecções muito mais galardoado que o futebol, sendo inclusivamente português aquele que é considerado o melhor jogador mundial de todos os tempos, o António Livramento de boa memória. 
O mesmo sucede com o atletismo onde temos campeões mundiais e olímpicos e igualmente uma atleta, Rosa Mota, que ainda hoje detém o maior currículo de títulos a nível mundial, tendo ganho todas as grandes provas que se efectuaram no estilo em que se especializou. 


Mas nós somos assim, jactantes e pelintras, não é verdade? 
E não dizem que os povos têm que apostar em algo que os possa distinguir? 
Pois bem, os nossos ilustres dirigentes escolheram o futebol. 

Bem, que outra coisa seria de esperar neste reino do homo maniatábilis? 



Ai este Vitorino, sempre em bicos de pés, o eterno candidato aos mais altos cargos internacionais. 

Consagrem-no rei das Berlengas e façam-lhe uma corte para ver se o homem se cala ou por outra, se a partir daí pode dar o seu parecer sobre tudo o que ao poder diz respeito a ver se, pelo menos, somos poupados aos tristes espectáculos de promoção de imagem de um carreirista. Assim como assim, temos que lhe pagar a vaidade e vê-lo posicionar-se e movimentar-se nos meandros das decisões. 

Pois o senhor Ferro Rodrigues, como grande desiderato político, desafia o primeiro-ministro a apoiar a candidatura do nosso comissário europeu à cadeira de Presidente da Comissão, como se para o nosso primeiro fosse plausível qualquer outra atitude que não a subscrição daquela propositura. Da maneira como as coisas se passaram, o ridículo cabe apenas ao bailarino. 



Darfur, África que chora com milhares de refugiados sudaneses que morrem de fome e doença, fugidos que são da fome e da doença e da guerra. 


E o mundo, a explodir no Médio Oriente, dando por nada. 


Estes tristes líderes ocidentais sem rasgo de asa que não souberam ganhar a Bósnia exemplo de mundo e se arriscam a perder-nos nos infernos das tiranias difusas e socialmente impostas por esconsos poderes. 


É tão monótono o cinzento dos dias que correm. 



Ontem e hoje houveram provas de avaliação, Matemática e Estudo do Meio. 



A noite segundo a melódica sabedoria dos King Crimson. 


Alhos Vedros 
  16/06/2004

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Dos Ramos até à Páscoa

Altar-mor da Ig. de S. Lourenço, Autor António Tapadinhas Acrílico sobre tela 100 x 100 cm
Ainda a pensar na viagem de Vasco da Gama, e nas imensas portas que ela abriu entre o ocidente e o oriente, por exemplo, onde Cristo e Buda se encontraram e fortemente se zangaram, mas que puderam, depois, ensinar a viver em paz... E, afinal, o que isso significa hoje para todas as gentes, todo o mundo?
Quinto domingo da quaresma, Domingo de Ramos, início da semana santa, com o altar da Igreja Matriz de Alhos Vedros iluminado, onde ainda se vislumbra pelo meio da penumbra, Mestre de Avis e seus filhos, Ínclita geração, rezando pelo bom sucesso da expedição a Ceuta, o primeiro marco da expansão ultramarina portuguesa. Texto de Luís Santos.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

TEATRO INCLUSIVO


Fotografia de Duarte Aragão


TEATRO INCLUSIVO
A figura do intérprete-sombra | uma experiência
Barbara Pollastri


Resumo
Em Portugal, ainda são raros os espetáculos teatrais plenamente acessíveis ao público surdo. O espetador surdo, para além de poder desfrutar do espetáculo com interpretação para Língua Gestual Portuguesa (LGP) apenas em horários e datas pré-definidos, é obrigado não só a preocupar-se com a escolha do lugar para ter uma boa visibilidade do intérprete de LGP, como também a deslocar a atenção para o canto do palco de forma a acompanhar a interpretação, perdendo assim o que se está a passar no palco; se isso não bastasse, pode até ter a perceção que a sua presença incomoda, visto que a maioria dos ouvintes dizem-se distraídos pela presença do intérprete no canto do palco, e os próprios encenadores e/ou produtores chegam a recear que a peça seja prejudicada.
            Neste artigo proponho-me estudar a figura do intérprete-sombra, relatando a experiência pessoal, iniciada ao longo do primeiro período de estágio profissional como intérprete de Língua Gestual Portuguesa, junto do Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira, em que tive a possibilidade de colaborar na realização da peça teatral com atores surdos e ouvintes “A linguagem do Coração”, baseada na autobiografia de Emmanuelle Laborit — “O Grito da Gaivota” — criada e encenada por Sofia de Portugal e estreada no Teatro da Trindade por ocasião do Festival Inclusivo Sounds Like Fest 2017.
            A peça de teatro “A Linguagem do Coração” é a prova que é possível criar grupos de teatro com atores surdos e ouvintes a trabalharem em conjunto; que a cultura Surda e Ouvinte se enriquecem reciprocamente; assim como prova que a figura do intérprete-sombra torna o Teatro mais acessível.

Palavras chaves: teatro inclusivo, LGP, acessibilidade, intérprete-sombra, surdez.


Introdução

            Embora haja já exemplos de boas práticas, são inúmeras as ocasiões em que a inacessibilidade da cultura é uma temática recorrente no diálogo com a Comunidade Surda. Pedro Costa — atual Presidente da Federação Portuguesa de Associações de Surdos ­—  diz claramente isso num artigo publicado no jornal Público:
“A cultura continua a ser uma área maioritariamente inacessível”, lamenta. Apesar de a LGP estar consagrada na Constituição da República Portuguesa desde 1997, “continua a existir um desconhecimento sobre os direitos das pessoas Surdas” (por Mariana Correia Pinto, 22/10/2016).

            Numa entrevista à Rádio Movimento PT Online (23/05/2018), Artur Albuquerque ­­— intérprete de LGP— relata um desafio que o marcou para o resto da sua vida. Conta que em 1984 colaborou no projeto da International Rehabilitation para promover em Portugal a peça de teatro “Os Filhos de um Deus Menor”, no âmbito da Conferência Internacional. A produção foi então à procura de alguém que tivesse capacidade de adaptar o texto de uma realidade norte-americana para uma realidade portuguesa e trabalhar esse texto de forma que pudesse ser representado em palco com as duas línguas em simultâneo, LGP e português. “Não tinha a ver com as minhas competências de interpretação, mas sim com as minhas competências de domínio da Língua Gestual Portuguesa”, explica o intérprete Artur Albuquerque que teve que ensinar a LGP em meia dúzia de meses aos atores, ainda por cima “(...) tendo em conta o valor em causa de transmissão correta daquilo que estava em cima de um palco”. Pela primeira vez as pessoas surdas, para as quais eram reservados os lugares da frente, chegaram a levantar-se das cadeiras para interagirem com os atores no decurso do espetáculo porque estavam a acompanhar a peça de teatro de tal profundidade e sensibilidade que não se continham. “Foi muito gratificante” e acrescenta que foi “(...) pena que estivesse tão pouco em cena”, tendo em conta a carga de trabalho que representou ensinar e aprender a Língua Gestual Portuguesa.

            Este é um exemplo de projeto que evidencia as mais valias que as duas línguas dão ao espetáculo: por um lado o espetador surdo pode acompanhar a peça de forma mais intensa, por outro o ouvinte não é incomodado pelos que define como ser “ruído visual” (intérprete de LGP no canto do palco).


O intérprete-sombra | um elo entre culturas 

            Nos Estados Unidos, o TerpTheatre, com a sua modalidade de shadow-interpreting (interpretação-sombra), associa a cada ator o seu intérprete de língua gestual que se movimenta com ele, tornando o intérprete parte do universo cénico e dando vida à figura do intérprete-sombra.

            É neste âmbito que se enquadra a companhia de teatro Wild Swan Theatre, no Michigan (EUA), a qual trabalha com os intérpretes-sombra desde 1986. Os atores — Hilary Cohen, Sandy Ryder, Eric Niece, Jeremy Salvatori e Bart Bund — contam que desde então aprenderam o que significa tornar o teatro acessível, um teatro melhor devido à presença da língua gestual. Trabalhar com o intérprete-sombra é extremamente enriquecedor, dizem. O intérprete dá ao ator uma sensação de maior poder. O gesto amplifica a palavra, transforma-a no espaço e tudo é vivido de outra forma. Atuar com o intérprete a traduzir no canto do palco, traz uma certa distração, enquanto tê-los entre os atores confere ao espetáculo outro nível. É como ter alguém que partilha as emoções do ator, emprestando uma dimensão visual aos momentos vividos no palco.

          Mas quem é o intérprete-sombra? Um intérprete de língua gestual, um ator com conhecimentos de língua gestual ou um ator-intérprete de língua gestual?

          Não há dúvidas de que a aptidão para atuar do intérprete de língua gestual é imprescindível; terá ainda de possuir no mínimo as noções básicas de técnicas de palco para saber como se movimentar entre os atores; terá de acompanhar os ensaios como um qualquer outro ator para fixar as sequências das cenas, as deslocação de todos os atores, para definir em conjunto com o encenador e o resto da equipa, como conseguir fazer com que no palco a língua oral e gestual se possam expressar de forma a que uma amplifique a outra e que cada uma tenha a sua presença. Terá de treinar para conseguir gestuar enquanto se movimenta, tarefa que não é fácil tendo em conta que gestuar em movimento requer uma concentração suplementar. A língua gestual terá de ser trabalhada para ter mais impacto no palco e ser mais visível; cada gesto deverá ter uma amplitude diferente daquela que tem fora do palco.

          Este é um processo em que a colaboração com atores surdos é fundamental para que o intérprete encontre a forma ideal de se expressar. A experiência em “A Linguagem no Coração” ensinou-me que só colaborando com os atores surdos é possível trabalhar a língua gestual de forma a que possa encontrar o seu espaço no palco. O trabalho em conjunto entre atores surdos e ouvintes foi imprescindível para estudar o texto narrativo e descobrir qual o melhor lugar do intérprete-sombra de forma a estar em harmonia com os atores. Muito interessante foi reparar como esta sinergia entre culturas diferentes sensibilizou os atores ouvintes em relação à Língua Gestual Portuguesa e à Cultura Surda. De facto, enquanto nas primeiras duas semanas os ouvintes procuravam o apoio do intérprete para comunicarem com os surdos, a partir da terceira já tinham aprendido os gestos elementares, tinham criado códigos para se perceberem e, nos momentos de pausa, perguntavam tudo e mais alguma coisa sobre o que significa Ser Surdo — “Ser” e não “Estar”— e a primeira reação era: “Nunca pensei que fosse assim”.

            “É a primeira vez que há uma integração entre surdos e ouvintes. E isso é muito positivo. Poder comunicar entre nós, houve muita colaboração. Houve momentos de grande maravilha. O facto de eu poder ensinar. Eles aprendiam facilmente gestos e começaram a gestuar comigo. Foi espetacular” (Carlos Martins, ator surdo, entrevistado pela RTP para o programa “Consigo”).

            “Eu acho que somos mesmo capazes de mudar o mundo através da arte, do teatro. A arte é uma representação da sociedade, é uma representação daquilo que nos vivemos. As pessoas identificam-se”. (Margarida Almeida dos Santos, atriz ouvinte, entrevistada pela RTP para o programa “Consigo”).

Conclusão

            O impacto que a peça "A Linguagem do Coração" teve junto da Comunidade Surda e Ouvinte foi muito positivo, dando lugar a novas datas no Teatro do Bairro.

         Esta aceitação aponta para as potencialidades que projetos como este podem ter no que diz respeito à inclusão social, à sensibilização e à valorização da Língua Gestual Portuguesa. A encenadora Sofia de Portugal, numa entrevista à RTP, ao relatar a experiência refere o seguinte: "(...) foi para nós ouvintes e comunidade escolar uma aprendizagem incrível. Chorámos diariamente de emoção, de alegria de estar a fazer isto. Descobrir um mundo que não conhecíamos".

         Considero que criar uma estrutura sólida em que se possa trabalhar com os Surdos, e não apenas para os Surdos, deveria ser uma prioridade para qualquer sociedade que defende o igualitarismo, sendo que a Arte do Teatro possui todas as ferramentas para tornar isso possível.


Referências bibliográficas

Cultura Surda, TerpTheatre | Wild Swan Theatre. Disponível em: https://culturasurda.net/2013/11/26/terp-theatre/ (última consulta a 14/04/2019).

Laborit, Emmanuelle (2013, 8ª edição). O Grito da Gaivota. Lisboa: Editorial Caminho. (1ª edição: França 1994).

Público | artigo por Mariana Correia Pinto • 22/10/2016 - 17:47. Disponível em http://p3.publico.pt/cultura/palcos/21950/como-se-ouve-e-sente-o-teatro-num-mundo-silencioso (última consulta a 14/04/2019).

Rádio Movimento PT Online - Mãos que falam | entrevista a Artur Albuquerque 23/05/2018 20:00. Disponível em https://www.facebook.com/radiomovimentopt/videos/613745362293768/?hc_ref=ARSO9j832Hlo4vHL1zcMv7ApeCunKcH8UTsUF0Wyt9jV88RfWHoxGI4hg0bM0DP8fP4 (ultima consulta a 14/04/2019)

Reportagem RTP Programa Consigo de 18 de novembro de 2017. Disponível em https://www.rtp.pt/play/p3904/e316613/consigo (última consulta a 14/04/2019).


Charneca da Caparica, 14/04/2019

terça-feira, 16 de abril de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O rescaldo das eleições foi tão morno quanto a campanha e tão anódino quanto as ideias que naquela vieram a lume. 

Ferro Rodrigues, pelo lado da oposição vitoriosa, exigiu a retirada da GNR do Iraque a partir de Setembro e o primeiro-ministro, pela parte da coligação derrotada, reafirmou a confiança no governo e a determinação de completar a legislatura e, até lá, tomar as medidas necessárias para que a retoma da nossa economia venha a ser uma realidade. 



Enquanto isto e na sequência das réplicas da peixeirada que aconteceu no mercado de Matosinhos durante a campanha, Francisco Assis, líder da distrital dos socialistas, apresentou a demissão do cargo para se recandidatar e tudo indica que salomonicamente, Narciso Miranda e o seu rival pessoal serão expulsos do concelho nacional do partido. 

É o triste espectáculo de uma estrutura partidária que paga tributo aos esconsos poderes da bola. 



Chegaram as noites de calor. 
Felizmente ainda sem mosquitos. 



Os alunos continuaram os exercícios com os números e a última palavra dada. 


 Alhos Vedros 
  14/06/2004

segunda-feira, 15 de abril de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL...(345)


Grande Fachada Festiva, Alfredo Volpi
Ano de 1950

Alfredo Volpi nasceu em Lucca, Italia, a 14 de abril de 1896 e morreu em  São Paulo, Brasil, a 28 de maio de 1988. Foi um pintor ítalo-brasileiro considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo. Uma das características de suas obras são as bandeirinhas e os casarios.
Começou a pintar em 1911, executando murais decorativos. Em seguida, trabalhou com óleo sobre madeira, consagrando-se como mestre utilizador de têmpera sobre tela.
Grande colorista, explorou através das formas, composições magníficas de grande impacto visual. Em conjunto com Arcangelo Ianelli e Aldir Mendes de Souza, formou uma tríade de exímios coloristas, foco de livro denominado 3 Coloristas, escrito por Alberto Beuttenmüller (Ed. IOB, julho de 1989).
Realizou a primeira exposição individual aos 47 anos de idade, expondo no Salão de Maio e na 1ª. Exposição da Família Artística Paulista, no ano de 1938 na cidade de São Paulo.

Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_Volpi
http://www.pinturabrasileira.com/artistas

Selecção de António Tapadinhas

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Quinto Domingo da Quaresma


Luís Carlos dos Santos
Dar Voz ao Silêncio
Música de Palavras


VI. Da crucifixação da Primavera

1º andamento – uma marcha silenciosa e triste
Toda a natureza se trás contrariada
contraída e dobrada sob si própria
cinzentas as horas dos quarenta dias
porta de entrada de semana santa
que insiste e persiste no mau tempo

o frio que se estende nas flores
do vento que não cessa nas dores
das costas que rangem a humidade
das chuvas inesperadas pelas horas
de secas infinitas do mau augúrio

ainda se ouvem o arrastar das cruzes
da crucifixação dos justos abandonados
à sua sorte deixadas as gentes, inocentes
os abraços da fé na universal proclamação
da divina igualdade sob o brilho do sol


2º andamento - uma valsa redonda 
Contam-se por poucos dedos da mão
os ténues momentos em que os pés
se aqueceram quando o céu se abriu
em tempo a valer que Deu para ver
paraíso de budas, quinta dos Lóridos

logo a seguir outra vez o breu que deu
das lembranças de um céu que pesa
sobre as cabeças do ignorado amor
da dor, do sofrimento que se paga
do regresso da dívida da má ação

da roda da vida infinita que não pára
do paraíso dos maus sinais habituais
na rede social da impura banalidade
e da perca da sacralidade dos tempos
de uma áurea idade que tão tarda


 3º andamento – canto à capela
Erguem-se as vozes no altíssimo tom
línguas de fogo entre o céu e a terra
preces que evitem a vil desmesura
do sacrifício nos pedidos de perdão
que trazem a natureza em agonia

adensam-se medonhas tempestades
encolhem-se ainda mais os corpos
rubros os olhos de sangue as lágrimas
os gritos e gemidos aflitos e infinitos
os coros de vestes pretas das velhas

mas o temporal vai ter de passar
levantem-se todas as ondas do mar
e o velho monstro hediondas trevas
do fundo dos abismos trespassado
no catavento de uma vela triangular

terça-feira, 9 de abril de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Domingo em casa com a leitura de um magnífico trabalho de Stephen Jay Gould a respeito dos erróneos contributos científicos para a hierarquização das raças e grupos humanos. (1) 
Excelente ilustração para algumas das ideias que apresentei e com que componho as minhas teses sobre o racismo que reuni em “Tira o Dedo do Nariz”. 



Pois não é como eu temia? 


A festa da Ana Margarida não teve ausentes enquanto os convidados do David nem se deram ao trabalho de justificar as suas faltas de comparência. 


E Portugal perdeu com a Grécia por dois a um. 
Claro, de tanto já terem ganho, esqueceram-se apenas de dois pormenores: o primeiro dizia respeito ao jogo propriamente dito que ainda tinham que fazer e o segundo prendendo-se com o facto de os gregos não estarem ali para serem os bombos da festa. 

Quanto a nós, mais uma vez fomos os primeiros, na medida em que nunca acontecera a uma selecção do país organizador perder no jogo de abertura do campeonato. 

No fim, foram eles que fizeram a festa. 



Discretamente lá decorreu o acto eleitoral que afinal, com um valor de sessenta e um por cento, acabou por ter o nível de abstenção que se temia. 
Digamos que a União Europeia é um assunto demasiado distante e abstracto para levar os portugueses a interessarem-se por ele e a acorrer mais expressivamente às mesas de voto. 

E diga-se ainda que a campanha não decorreu de modo a alterar a situação e os assuntos que mais estiveram em discussão diziam respeito aos problemas internos e não às matérias europeias que vão estar em brasa nos próximos anos, por exemplo, no que toca à constituição europeia e os poderes do parlamento para que votámos. 


E os resultados não surpreendem. 
Os quarenta e quatro por cento dos socialistas comparados com os trinta e três da coligação que está no poder, por um lado expressam o universo dos votantes em valores minoritários em relação ao total e, por outro lado, resultam do desgaste natural que um partido que está no governo regista a meio de um mandato. 

É verdade que se trata da maior vitória obtida pelos socialista e da menor votação obtida pelos sociais-democratas em conjunto com os populares, mas não podemos extrapolar os seus valores para balanços do fórum estrictamente nacional. 
Têm, quando muito, um valor simbólico mas, a partir deles, não podemos induzir que a população portuguesa pretenda legislativas antecipadas e, por elas, alterar a actual relação de forças na Assembleia da República. 


É claro que as oposições tentarão capitalizar a derrocada laranja mas isso é normal e não tem mal algum. 
Espera-se apenas que isso as galvanize para uma crítica política mais elaborada e fundamentada. 


O PCP lá conseguiu manter o seu segundo deputado e esteve mesmo próximo do terceiro. 
Mas a maior curiosidade está na eleição de Miguel Portas do Bloco de Esquerda que assim se estreia na respeitabilidade da União. 


E pronto, depois dos comentários de patati patatá, todos foram para casa e a Europa ficou lá que, por cá, a desgraça continua. 



Devíamos alterar o nome do país para Pintogal. 


 Alhos Vedros 
  13/06/2004 


NOTA 

(1) Jay Gould, Stephen, A FALSA MEDIDA DO HOMEM 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Gomes, Luís F. de A., TIRA O DEDO DO NARIZ, Dactilografado, Alhos Vedros, 1996 
Jay Gould, Stephen, A FALSA MEDIDA DO HOMEM, Prefácio e revisão científica do Professor Jorge Rocha, Tradução de Ana Luísa Coelho, Círculo de Leitores, Lisboa, 2004

segunda-feira, 8 de abril de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL... (344)


Composição com Instrumento Musical, 1952
Gino Severini, Mosaico Colorido

Gino Severini nasceu em Cortona, Itália, a 7 de Abril de 1883 e faleceu a 26 de Fevereiro de 1966, em Paris, França.
Foi pintor, artista gráfico e escultor. Depois de conhecer Giacomo Balla e Umberto Boccioni, começou a trabalhar como artista em 1901. Em 1906, estudou em Paris, com os impressionistas, fascinou-se pelas pinturas de Seurat e conheceu Signac. Tornou-se um dos cofundadores desse estilo, quando assinou o Manifesto Futurista. Severini exibiu obras em 1912 nas exposições Futuristas em Paris, Londres e Berlim e desenvolveu relações entre Itália e França, tornando-se um dos principais canais entre seus colegas italianos e os novos desenvolvimentos na capital francesa. Recebeu o Grande Prêmio do Bienal em Veneza em 1950. Ao contrário dos seus colegas, estava mais interessado no retrato dos corpos humanos em movimento do que na dinâmica das máquinas com suas cenas de cabaré e os retratos de bailarinos.

in História das Artes

Selecção de António Tapadinhas

sexta-feira, 5 de abril de 2019

A poesia colorida de Manuel (D'Angola) de Sousa

1.

“Recuo De Marcha Atrás Quando Necessário Fôr Alterar O Paradigma À Consciência”

Vôo no balancear das danças dos corvos no alto da fortaleza
Aninho-me nas acrobacias deles na deslumbrante paisagem
Fundo-me no ouro reluzente do “El Dorado” do fim da tarde
Amalgamo-me alquimicamente e filosoficamente nos raios de Sol
Embrulho-me a mim e ao meu corpo no calor nascente da aurora

Envolvo-me nas fortes correntes descendentes e ascendentes
Aparafuso-me no ar que redemoinha em movimento helicoidal
Bato as asas o mais depressa e energicamente que posso
Luto contra as influentes correntezas aéreas aos solavancos
Sou levado pelo poder da natureza que teima em mandar

Comanda-me em parte o indelével instinto meio intuitivo
Guia-me a estrela do norte a um dos cantos do olho esquerdo
Com o direito sigo a rota para o campo magnético mais a sul
Leva-me a consciência quase que totalmente a linha do horizonte
Verticalizo a minha atitude e resisto a tudo e a todas as influências…

Faço marcha atrás e recuo quase que radicalmente na direcção oposta ao ocaso…

Escrito em Luanda, Angola, por Manuel (D’Angola) de Sousa, a 3 de Abril de 2019, em Memoria a todos os Homens e Mulheres que, ao longo da Historia e do Desenvolvimento Evolutivo Humanos, tiveram a coragem para proceder à mudança e à substituição de antigos paradigmas disfuncionais e ineficazes por outros mais modernos e mais profícuos, construtivos, inovadores, criativos, inspiradores, libertadores da mente, modernizadores e positivos para o respeito e o comportamento e atitudes Humanas…


2.

“Dobrado Em Silencio Na Confusão Dum Paraquedas Junto À Porta Do Templo À Morte”

Dobro o paraquedas à volta de um poste pára-raios ultravioletas
Pego no crânio sêco e molho-o com vinagre de maçã do Éden
Emagreço umas tantas miligramas a exercitar o abecedário

Tremo à porta do templo com mêdo de não acreditar em nada
Calo-me para melhor escutar o silêncio impune da extinção
Mata-se de maneira gratuita e quem paga são as vítimas disso

Grito sem que ninguém me ouça como um gorila em plena dôr
Fujo que nem uma gazela ameaçada pelos olhares assassinos
Arrepia-se-me a espinha de baixo a cima ao vêr o prazer da morte

Cada vez que oiço um clique fecho os olhos em estado de côma
Corro junto com uma manada de elefantes de coração sangrando
Olho ao espelho quase atónito e vejo um monstro sem pare

Meus olhos raiados de vermelho não permitem que veja a luz
Agiganto-me de uma vez por todas para dizer que basta e nada mais
Arrebento com as balas e com as armas cuspidoras de vil fogo

Deixo que o desejo me faça crescer asas rapidamente nas costas
Subo a uma árvore para visualizar uma série de miragens tremeluzentes
Chamo algumas com as mãos como se lhes fosse dar milho em pipoca

Chocalho a cabeça e a franja rapada à catanada para atrair moscas raras
Enxoto os hipotéticos pensamentos invasores das estepes para longe
Corto o mato pela raiz quadrada para calcular quantos pés há por ali…

Empurro a imaginação para fora da mente com os dentes afiados uma noite antes…

Escrito em Luanda, Angola, a 2 de Março de 2019, por Manuel (D’Angola) de Sousa, em Protesto contra toda a forma de caça e de extinção premeditada aos Animais Selvagens e ainda, a muitos dos Animais Domésticos uteis, como os Gatos que, cada vez são menos nos telhados e ruas das Cidades (permitindo que haja uma autentica peste de ratos e ratazanas a proliferarem livremente pelas ruas, quintais e casas, levando vírus e bactéria transmissora de doenças mortais à Humanidade) …


3.

“De Olho Na Transferência Da Matéria De Eras Passadas Para Aquelas Infinitas Da Alma”

Olho para a transparência do vosso corpo vazio
Encho a garganta sedenta cheia de galhos quebrados
Imagino-me a construir uma cubata de pau-a-pique

Durmo para o lado que me pesa menos quilos
Despejo a consciência cheia num esgoto público
Limpo os vazos sanguíneos capilares cerebrais

Planto neles sementes de cebola e tomate em polpa
Compro papel branco de embrulho para prendas
Presenteio-me a mim e à Humanidade com o presente

Ofereço o tempo que me sobra num altar esvaziado
Remeto idiotices impensadas a um dos sete Céus
Harmonizo a Alma espiritual num dos pratos da balança

Paraliso a cara primeiro e todas as rugas a seguir
Envio o aviso de urgência em envelope fechado lacrado
Mando assuntos compostos e questões ôcas via correio

Aceno no topo da columbófila aos pombos de expressão inglesa
Tombo do alto de uma torre com o relógio de pulso avariado
Agarro-me com afinco aos ponteiros desgovernados

Perco horas e muitos minutos a tentar perceber a Existência
Escangalho a agenda onde tenho tudo planificado ao milímetro
Desarranjo os intestinos grosso e delgado numa tempestade…

Evito o holocausto ao transferir-me da matéria passada para a desta Era…

Escrito em Luanda, Angola, por Manuel (D’Angola) de Sousa, a 1 de Abril de 2019, em Homenagem a todos os Antepassados Humanos e Àqueles que deram Origem à Humanidade e ainda, aos Antepassados Directos, os quais, alguns, tive o privilégio de conhecer vivos e a toda a Humanidade do Presente e Àquela do Advir (Futuro) que, espero, seja formada já por salganhada de Gentes de todas as Origens e ditas Etnias, vindas de todos os cantos de nosso mui Maravilhoso e Único Planeta Terra…

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Dar Voz ao Silêncio


por Luís Santos

Faz hoje, 3 de abril, precisamente 25 anos, então um Domingo de Páscoa, que se deu o desparecimento físico do Professor Agostinho da Silva, rumo ao lugar donde nasceu, o futuro. Aqui fica como lembrança um poema nosso onde se O refere e que, muito provavelmente, sem os seus ensinamentos dificilmente teria acontecido.




MÚSICA DE PALAVRAS

VII. Da Ressurreição - Cântico dos Cânticos

Descansam os ventos, suspendem as chuvas
e sossegam ás águas dos mares, deslizam
os anjos vão acima, vão abaixo
e ladeiam um canal de luz, mais que luz
iridescente,
harpas e tamborins, uma flauta de pan
aproveita-se toda a claridade do luar
e, por detrás, um cântico dos cânticos

Um mel etéreo que escorre do céu,
devagar,
uma vibração que nem voz, um ânimo
um aconchego, um calor no peito
e por esse canal que nem luz
lá vai Jesus, quarenta e sete dias
depois do Carnaval,
primerio domingo depois
da lua cheia equinocial, um dia
especial o primeiro de abril

Lembramos um Professor que também
partiu num domingo de Páscoa,
não se percebeu se foi ele que escolheu
ou se decidiram por si,
sabemos que segundo diz
nasceu onde quis
e fez do seu berço Portugal,
a Língua Portuguesa e a Ibéria,
tudo junto, e adiante
um pensamento ecuménico

Na cruz floresce uma rosa
de dentro do meio da dor,
o amor
uma flor na primavera,
ou muitas cores, muitas flores
porque se é feio também
há-de ser bonito, e se tem mal
bem também tem, o meu bem
ou nem isso, tudo é Um só
tudo junto, é a suprema beleza
da natureza, tão rija e forte
mas é doce e é bela, é Ela
uma mulher, Maria
Trindade, tudo no mundo

Pelo tal canal sobe uma luz
uma energia subtil, cor de rosa
e azul, um brilho azulado, uma taça
e uma chama. És tu!
É uma roda viva de vidas infinitas
raras e preciosas, o tal vitral
um cristal, uma ponte, uma passagem
uma miragem no deserto
uma fonte de água cristalina
um riacho, uma lagoa
uma flor de lótus

É o fim da dor
Deus dos ateus até
e tu vais, ou não vais, vais
ter de escolher, ou de reconhecer
o que é igual, a paz do lugar enfim,
e a música é o cântico dos cânticos
o bater das asas dos anjos
uma pomba branca refeita
e a pauta são os fios de luz
onde pousam as andorinhas

O céu é azul, os campos são verdes
e castanhos correm os rios
a caminho da foz.
Tudo é aqui e agora.
É esta a hora.