É uma vergonha o que se está a passar em Portugal, tão baixo que o país caiu, como seria difícil de imaginar que tal pudesse acontecer.
Estamos a verificar a evidência que, entre nós, o crime compensa e o estado de direito está irremediavelmente estilhaçado, não sendo possível esconder que os polvos mafiosos abafaram, por completo, os meandros do poder político e da justiça, com isso conseguindo impor os seus desígnios aos protagonistas dos diferentes níveis de decisão, no país.
Os pobres não têm voz ou a sua voz não encontra eco e os fracos estão à mercê do acaso de não se colocarem na rota de colisão de algum interesse de poderosos que, em tais circunstâncias, muito simplesmente os podem pulverizar.
Hoje começa a organização megalómana do europeu de futebol num país em crise financeira e fiscal, o que só foi até ao fim por imposição dos patrões da bola, em especial e a partir do Futebol Clube do Porto que tinha que embrulhar em qualquer propósito colectivo a construção de um novo parque desportivo a expensas dos dinheiros públicos e com base em favores dos poderes que os gerem.
Com isto se criou um novo conceito no domínio do que ficou conhecido por república das bananas, por causa do poderio que as companhias proprietárias das plantações de tais frutas tinham nesses estados, aos quais ditavam as regras que lhes defendiam os interesses e protegiam as vontades.
Ora foi isto que precisamente sucedeu connosco no referente ao Euro 2004 e, dessa forma, se deu início àquilo que podemos chamar a república da bola o que ganha maior sustentação com, por um lado, o nacionalismo futeboleiro que os portugueses manifestaram nestes últimos dois dias com bandeiras das quinas desfraldadas nas varandas e janelas e abanando ao sabor do rolar de muitos automóveis e, por outro lado, a triste evolução do caso apito dourado em que se começa a desenhar no horizonte o arquivamento de todo o processo, mostrando o poder que o chamado desporto-rei tem para galvanizar as populações e, servindo-se do mesmo, a capacidade que os respectivos dirigentes têm para superar contrariedades e conseguirem atingir os objectivos a que se propõem, incluindo aqueles que não se coadunam com aquilo que mais interessa aos portugueses.
Passámos pois a viver numa república da bola e a partir de agora ficamos a saber que inventámos a nova noção de pontapé nacionalista uma vez que reduzimos o nosso orgulho patriótico ao mete o pé na bola e força.
Mas o mais triste aconteceu ontem à noite, quando o senhor Carlos Cruz apareceu a dar duas entrevistas distintas a outros tantos canais de televisão.
Então não será isto uma forma de pressão inadmissível sobre a justiça?
O homem está com residência e mobilidade restritas ao concelho de Cascais e isto por causa de estar acusado de crimes de exploração e abuso sexual de crianças, aguardando por isso o julgamento.
Não será isto uma forma de pressionar e até mesmo intimidar as vítimas?
Claro que há a presunção de inocência e até à sentença final a ninguém pode ser negado o direito a ela.
Mas o que está aqui em causa é precisamente o contrário, é a tentativa de apresentar a pessoa como incapaz de ser culpada e, por essa via, influenciar a opinião pública preparando-a para aceitar a inocência proferida por uma sentença por mais controversa que se venha a revelar.
Ninguém diz que o homem é culpado.
Mas recomendaria o pudor que se desse voz a uma pessoa em tais circunstâncias, antes de tudo por dessa forma coloca-lo em situação de desigualdade a seu favor perante a mesma capacidade de as vítimas aproveitarem a eventualidade de uma oportunidade semelhante para defenderem as acusações que fazem? É da mais elementar justiça reconhecer que é uma grande injustiça, num caso como este, favorecer qualquer das partes, mesmo que se tenha em conta todo o trabalho que a pessoa em causa teve para o sucesso da candidatura portuguesa ao torneio que hoje teve início.
Afinal de contas há vítimas, não há?
Qual a mensagem que receberão com tais entrevistas?
E se os dez minutos no canal público apenas afloraram a sua condição de quem aguarda julgamento no final da conversa, quando o jornalista candidamente lhe perguntou porque razão não aceitara o convite para o jantar de gala que esta noite terá lugar no Porto, para o lançamento do europeu, já o diálogo na SIC teve o descaramento de intercalar recados sobre os assuntos de tribunal com a conversa fiada em redor da campanha promocional que, obviamente, só foi boa para o país.
Tirem-me deste filme!!!
A imagem com que se fica é que é a de um país sem rei nem roque, em que o poderoso esmaga o fraco com o mesmo à vontade que um qualquer menino o faz a uma mosca distraída.
E ontem à noite lá foi o sarau de encerramento das actividades de ginástica deste ano.
Para a Margarida trata-se de um encerrar de ciclo pois terminará a sua presença nas aulas da “Vélhinha” em função da entrada para o quinto ano de escolaridade em que passará a ter ginástica no seu currículo de estudante.
Mas tanto uma como a outra estiveram bem, concentradas nos exercícios que realizaram sem falhas.
E digo-o com toda a franqueza, se não tivesse visto não acreditaria.
Não é que a Margarida já dá mortais no trampolim?
Ora aí está uma coisa que o pai nunca foi capaz de fazer.
Ontem os alunos trabalharam os novos números e, como é habitual, tiveram a aula de música e de religião e moral.
Bem, agora vou ver o jogo de Portugal com a Grécia.
A Matilde está numa festa de aniversário e a mãe e a Margarida foram descansar para a praia.
Pois o pai vai estender-se no sofá para ver futebol.
Mas não estou esperançado num bom resultado.
Com tanto excesso de confiança, temo que o pior venha a acontecer.
Há resíduos de sal em Marte o que prova a existência de água no passado.
Alhos Vedros
12/06/2004
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