sexta-feira, 29 de julho de 2016

Pedro Du Bois, inédito


FORÇA E PODER
(Pedro Du Bois, inédito)

Na força
o desprezo
pelo arco em aliança

tenho no poder
a força que utilizo
em proveito

aproveito o esplendor
e me destaco perante
inimigos baratos e frágeis

no desprezo
a força do arco
sem aliança

a vista turva o alcance
do poder transferido em pedaços.

STRENGTH AND POWER
(Marina Du Bois, English version)

In strenght
the contempt
by the alliance arc

I have in power
the strength I use
in benefit

I enjoy the splendor
and highlight myself before
cheap and fragile enemies

in contempt
the strenght from the arc
without alliance

the blurred view to reaching
the power transferred in pieces.

 Outros poemas:

quarta-feira, 27 de julho de 2016

terça-feira, 26 de julho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PREÇOS DA APRENDIZAGEM

E no “Diário de Notícias” do passado Domingo lá continuou o diálogo epistolar entre o Cardeal Patriarca de Lisboa e o Professor Prado Coelho que apresentou a sua segunda carta. 

Desta vez melhorou um pouco, ainda que permaneça fora das questões mais pertinentes que se prenderiam com a concepção que hoje poderemos fazer de Deus. De qualquer forma, lá ficou no tinteiro o grosso daquela tralha sobre a hipocrisia da Igreja e como o discurso se debruçou mais sobre o transcendente, a contribuição ganhou um interesse que a primeira missiva não teve. 
Só é pena que o senhor seja pobrezinho de argumentos que praticamente se resumem às autoridades das citações. 
Delicioso é o termo, será o recurso a um Antigo para a primazia ao empirismo mais radical – “(…) todo o conhecimento, segundo Aristóteles, parte dos sentidos (…) (1)” – o que, de facto, a Física de Neils Bohr consente. Mas há uma certa infantilidade em pensar que é a Fé que nos escolhe. Somos nós que nos deixamos tocar por ela. Como e porque acontece? É um mistério que provavelmente nunca conseguiremos resolver e por isso admitimos que o mesmo sucede por Sua graça. Precisamente por isso faz sentido a objecção kierkegaardiana que o mestre cita sobre a irrelevância de um questionamento da Fé em termos individuais. 
Contudo há que fazer uma ressalva ou, se quisermos, um ponto prévio. 
São Tomás de Aquino tem razão ao sustentar que não podemos dizer o que é Deus. Só que não é disso que se trata quando queremos falar sobre Ele, pois não estamos com isso a procurar estabelecer uma verdade objectiva – grande arrogância, não? – apenas queremos apresentar de uma forma inteligível o nosso entendimento da Divindade, isto é, a nossa ideia de Deus que, como todas as ideias humanas, está sujeita à influência do nosso aparato cultural. 

E o tema que dá corpo ao título merece-me o seguinte reparo. 

Nós devemos abdicar de tudo o que sirva para humilhar a outrem, aquilo que possa ferir a dignidade do nosso semelhante. 
Nesse sentido, uma tal ideia de abdicação estará no centro de um pensar religioso sobre a Humanidade – mas também devemos acrescentar que não necessariamente apenas nesse; igualmente encontramos aquele como pedra angular de um qualquer humanismo que não se limite a mera retórica. Mas isso significa que abordamos o outro como irmão pela filiação divina, pelo que não podemos conceber a possibilidade de o maltratar, daí que ponhamos de parte, prescindamos, procuremos evitar qualquer que seja o instrumento, a palavra, a atitude que tenham por consequência o aviltamento dos outros seres humanos como nós. 
Ora aqui não se trata de um sacrifício, antes de um acto de alegria pois é com o coração cheio dela que assim agimos, com consciência de por o fazermos estarmos em comunhão com Deus. 
O sacrifício será outra coisa, de facto mais em conformidade com o que possa suceder no celibato dos padres católicos, aquele acontece quando em alternativa a nos realizarmos de um determinado modo, por amor a Ele arrepiamos o caminho em outra direcção que pondo em causa certos interesses, certos prazeres momentâneos, nos possa fazer sentir o gosto de caminhar ao Seu encontro. No entanto, aqui não se abdica para obter, abdica-se para partir, para dar. Se alguém abdicasse para obter algo em troca, dificilmente poderíamos estar a falar da alegria de dar, partilhar, mas antes numa visão utilitária da satisfação de um interesse. 

No próximo Domingo teremos a resposta do Senhor Cardeal Patriarca. 



Hoje a Margarida foi devidamente castigada pela Professora e eu tive que assinar uma comunicação alusiva ao seu mau comportamento. 
É claro que tanto eu como a mãe lhe fizemos ver que a punição foi merecida, pois a atitude foi grave; depois de ter perturbado uma visita de estudo a uma exposição na escola do segundo e terceiro ciclos da Vila, ainda teve a insensatez de, fugindo ao controle da Mestra, sob cuja responsabilidade naturalmente se encontrava, acompanhar outros colegas numa correria em direcção à sua escola. 
Tudo indica que a cachopa compreendeu o erro que cometeu uma vez que pediu desculpa à Professora e quando contou à mãe o sucedido, também ela tomou aquilo como uma palermice. 
No entanto, ao almoço, depois de ela me contar os acontecimentos e apresentar as suas razões, eu fiz-lhe ver que só não a castigo porque, por um lado a Professora já tratara do assunto que, uma vez reconhecido o erro, sentido o arrependimento, pedidas as devidas desculpas se poderia considerar encerrado, mas também, por outro lado e com grau idêntico de importância, por ela ter contado a verdade e falado com os pais, algo que sempre mereceria reconhecimento. 

A paternidade também é isto, saber avaliar com justiça. 



Por sua vez, na aula desta manhã, a Matilde continuou os exercícios em torno da palavra sapato. 



De visita de estado a Londres, sob medidas de máxima segurança, George W. Bush defendeu que as forças da coligação permanecerão no Iraque e apelou aos dirigentes europeus para que retirem todo e qualquer apoio às correntes e aos líderes palestinianos mais radicais. 

Infelizmente, a paz no Médio Oriente tem muitos inimigos. 



Sexta-feira há greve geral na função pública e os meus anjinhos não terão escola. 


 Alhos Vedros 
  19/11/2003 


NOTA 

(1) Prado Coelho, Eduardo do, ACEITO MAL A CENTRALIDADE DO SACRIFÍCIO, p. 8 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Prado Coelho, Eduardo do, ACEITO MAL A CENTRALIDADE DO SACRFÍCIO, In “Diário de Notícias”, nº. 49177, de 16/11/2003

segunda-feira, 25 de julho de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (213)

Attempting the Impossible,  Magritte, 1928
Óleo sobre Tela, 81x105,6 cm

ONDE ESTÁ A MINHA ALMA
visto-me
de nada
nada tenho
triunfo no meu berço
imerso
ergo os braços
ao infinito
pergunto ao universo 
que me viu nascer
onde está a minha alma 
que se esconde nos teus céus
Carlos Fernando Bondoso

Selecção de António Tapadinhas


sexta-feira, 22 de julho de 2016

ETNOGRAFAR a ARTE de RUA (XXIII)


Graffitar a Literatura





Graffiters fotografados por Luís Souta, 2016
Bairro da Torre, Cascais


«É preciso fazer todo o esforço pela acção artística.»
(Amadeo de Souza-Cardoso)

O Muraliza, na sua 3ª edição - 2016, centrou-se, exclusivamente, no bairro social da Torre (Cascais). Tal como vem sucedendo noutros locais de Portugal e do estrangeiro, as autoridades municipais começam a investir na street art como forma de abertura desses espaços urbanos que o tempo (ou uma génese atamancada) guetizou socialmente. Seis murais de grandes dimensões, nas fachadas laterais dos prédios, foram pintados, entre 27 de Junho e 5 de Julho, por uma espanhola (Paula Bonet), um italiano (Moneyless), e quatro portugueses (Daniel Eme, Kruella D’Enfer, Mar e Add Fuel).

As fotos que encimam este texto foram obtidas numa das minhas visitas ao bairro, em fase ainda inicial dos trabalhos, numa tarde de sol intenso (29/06), com os artistas (alcandorados) em plena actividade criativa.

Mário Cláudio ganhou em 1984 o Grande Prémio do Romance e Novela com Amadeo (viria a bisar o prémio em 2014 com Retrato de Rapaz), uma biografia sobre o pintor minhoto Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918). Este ano (de 20 de Abril a 18 de Julho) organizou-se uma importante retrospectiva no Grand Palais, em Paris que reuniu mais de 200 obras suas (pintura, desenho, colagem e fotografia).

Helena de Freitas, comissária dessa exposição, afirma sobre o artista de Manhufe: «A diversidade, que chega a ser comovedora, é uma das suas maiores marcas […] artista que sabe estar no centro das rupturas do seu tempo, recusando escolas e etiquetas. […] Cubismo, futurismo, modernismo, expressionismo – nada disto e um pouco de tudo isto» (Ípsilon, 15/04/16, pp. 28-9).
«O obstáculo maior, nessas academias congestionadas de jovens que se buscavam, comprimindo os lábios na determinação do risco mais rigoroso ou distendendo-os na confecção do mais vibrante dos tons, estava em adaptar o próprio rumo aos que já vinham ministrados ou sugeridos. Assim no estúdio da catalão Anglada Camarasa, a que Amadeo vai desaguar, com um corpo discente que se garante um estatuto pelo uso de uma boina quatrocentesca de veludo antracite, tombada sobre a orelha. […] Camarasa vinha passear de cavalete em cavalete, aqui apontando um empaste abusado, sinalizando além uma torpeza de desenho. E a tarde de Montparnasse ingressava pelos grandes vidros quadrangulares, asfixiando as telas numa cinza dispersa e fininha, como se a pintura equivalesse ao absoluto da impossibilidade.» (p. 46-7)

Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido no Porto, em 1941, é um romancista-biógrafo – Amadeo (1984), Guilhermina (1986), Rosa (1988), O Fotógrafo e a Rapariga (2015),… – e, numa entrevista ao Ípsilon (16/10/15, pp. 4-8), justifica essa simbiose: «Alguém disse que um ficcionista a partir de dado momento só devia ler biografias, e eu concordo. As histórias estão todas inventadas, e uma biografia é tão inventada como um livro de memórias ou uma autobiografia.»
A 3ª edição de Amadeo (a que possuo, da IN-CM, 1986) inclui documentos vários (fotos, reproduções de pinturas e desenhos, cartas); numa dessas missivas, datada de 1908, escreve a sua mãe:
«Hoje também recebi uma carta do tio Chico; espero-o ansiosamente, como se espera um companheiro raro com quem se reparte a nossa vida d’arte. Sim, porque a arte é a única forma de vida superior, só para certos espíritos, inacessível à burguesia.» e esclarece sobre essa burguesia «É a geral sociedade, essa que vive animalmente, isto é, aquela em que os sentimentos animais é tudo e os espirituais nada. É uma sociedade de alma animal.» (p. 58)

A exposição de 2016, no Grand Palais, foi um acontecimento muito in com a elite política nacional [leia-se a tal burguesia] a ‘colar-se’ ao evento (o 10 de Junho, desta vez, também ‘emigrara’, pleno de afectos, para França, prolongando-se na festa do nosso contentamento – o Campeonato Europeu da ‘arte’ do chuto na bola); por lá passaram o Primeiro Ministro e o Presidente da República com as suas respectivas ‘cortes’, e até o ex-Presidente, avesso à cultura. A imprensa não nos informou se o ultra premiado Mário Cláudio, actual presidente da Mesa da Assembleia Geral da APE, esteve entre os muitos convivas oficiais…


Luís Souta

quinta-feira, 21 de julho de 2016

"l'amour", por Kity Amaral




l'amour

Da série: do baú...
Nanquim & Lápis de Cor Sobre Papel Canson

Kity Amaral



Rêver un impossible rêve;
Porter le chagrin des départs;
Brûler d'une possible fièvre;
Aimer jusqu?à à la déchirure;
Aimer, même trop, même mal;
Tenter, sans force et sans armure;
D' atteindre l'inacessible étoile:
Telle est ma quête...

Jaques Brel


Nota importante: Este desenho faz-se acompanhar por poema e música. Para ouvir música clique AQUI. 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

terça-feira, 19 de julho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje esteve um dia tão bonito. 
Os verdes que dão para o rio, com as nuvens bem lá no fundo, sobre a outra margem, mereceram marcha lenta na rua que vai do cais ao Largo da Graça quando fui esperar a Margarida à saída da escola. 



“-Eu já consegui escrever a palavra sino.” –Disse-me a mais nova, quando a recebi depois de mais uma manhã de trabalho. 
Depois do ma, me, mi, mo, mu, relativamente às palavras menina e menino, seguiu-se o sa, se, si, so, su e do juntar as letras do vocábulo sino. 
Eis o tema da aula de que não resultou trabalho para casa. 



A renovação do parque informático da empresa e da sua rede de comunicações interna remeteu-me para o pós-laboral e deixou-me sem possibilidade de fazer uma série de coisas que ficaram para amanhã. 



A Margarida pôs a revelar as fotografias que tirou, no Domingo, para o trabalho sobre o passado de Alhos Vedros. 
E eu dou graças a Deus pelas filhas que tenho. 


 Alhos Vedros 
  18/11/2003

segunda-feira, 18 de julho de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (212)

O Músico, Mário Dionísio, 1948
Tinta de Esmalte sobre Tela, 130x97 cm
Pior que não Cantar
Pior que não cantar
é cantar sem saber o que se canta

Pior que não gritar
é gritar só porque um grito algures se levanta

Pior que não andar
é ir andando atrás de alguém que manda

Sem amor e sem raiva as bandeiras são pano
que só vento electriza
em ruidosa confusão
de engano

A Revolução
não se burocratiza

Mário Dionísio, in 'Terceira Idade' 



sábado, 16 de julho de 2016

PROGRAMA CPLP AUDIOVISUAL / Programa "Nossa Língua"


O Programa CPLP Audiovisual é um programa da CPLP que visa a produção de conteúdos nos países membros e a sua divulgação nesses países e fora da Comunidade.

O Programa Nossa Língua, parte integrante do Programa CPLP Audiovisual, constitui uma iniciativa estratégica de colaboração entre as emissoras públicas de televisão dos Estados-Membros da CPLP para a composição de uma faixa comum de programação, a ser difundida simultaneamente nos diversos territórios nacionais, composta por documentários capazes de oferecer ao público telespectador uma visão contemporânea da diversidade cultural, social e política do mundo de língua portuguesa.

Para o efeito, os Polos da Rede CPLP Audiovisual selecionaram uma carteira de títulos para a ilustração das respetivas realidades nacionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, somando cerca de 4 horas de programação por país, para serem exibidos nas emissoras públicas dos Estados-Membros da CPLP.

Será exibido um documentário por semana:

ORDEM DE EXIBIÇÃO DOS DOCUMENTÁRIOS PROGRAMA NOSSA LÍNGUA:
(SEMANA)
10 – 16/07/2016 - A Rota dos Escravos
17 – 23/07/2016 - Kamatembas Da Humpata
24 – 30/07/2016 - Xinguilamento: A Força dos Ancestrais
31/7 – 06/08.2016 - Raízes do Carnaval de Luanda
07 – 13/08/2016 - A Trama do Olhar
14 – 20/08/2016 - Álbum de Família
21 - 27/08/2016 - Avenida Brasília Formosa
28/08 – 03/09/2016 - Depois Rola o Mocotó
04 – 10/09/2016 - São Tomé e Príncipe, Minha Terra, Minha Mãe, Minha Madrasta (CV)
11 – 17/09/2016 - Rua Banana, Cidade Velha (CV)
18 – 24/09/2016 - Batuque - A Alma de Um Povo (CV)
25/09 – 01/10/2016 - Espelho de Prata (CV)
02 – 08/10/2016 - José Carlos Schwartz
09 - 15/10/2016 - O Rio da Verdcade
16 – 22/10/2016 - A Campanha do Cajú
23 – 29/10/2016 - Bissau D´Isabel
30/10–5/11/2016 - Tchuma Tchato
06–12/11/2016 - Timbila Marimba Chope
SEMANA


Mais informações no site da CPLP: https://pav.cplp.org/noticias/mostrar/34

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Pela Sibéria espanhola


75º Congresso Espanhol de Esperanto

Herrera del Duque
Mais uma vez o Esperanto constituiu o motivo próximo que nos permitiu viajar, conhecer, conviver e aprender … aprender sempre.
Provavelmente, a maior parte dos leitores jamais ouviu falar de Herrera del Duque, escasso povoado perdido na Sibéria. Atenção que nos estamos referindo a uma comarca sita na Extremadura Espanhola, no extremo nordeste da Província de Badajoz. É a região menos povoada do país e daí talvez, a origem do nome por similitude, mais psicológica do que física, com a extensíssima Sibéria Russa. A pequena cidade que terá no máximo uns 4 mil habitantes é, no entanto, dotada de tudo o que é necessário para se poder considerar uma povoação com boa qualidade de vida: estabelecimentos comerciais, escolas, centro de saúde, hotéis (ou hostales), palácio da cultura, tranquilidade q.b. e gente simpática e acolhedora. Em nossa modesta opinião, andou bem a Federação Espanhola de Esperanto ao escolher este local para a realização do seu 75º congresso. Foi uma forma inteligente de divulgar uma região turisticamente pouco conhecida mas cheia de surpreendentes encantos.

O Congresso
O magnífico Palácio da Cultura, muito confortável e espaçoso, acolheu os 150 participantes oriundos de toda a Espanha mas também da Alemanha, Bélgica, Brasil, Congo, Croácia, EUA, França, Holanda, Lituânia, Luxemburgo, Polónia, Roménia, Rússia, Senegal, Sérvia … e seis de Portugal. De 30 de junho a 4 de julho foi um desfilar incessante de novidades e agradáveis surpresas, um banho de cultura, um convívio inesquecível onde a poesia, a música, o canto e a dança tiveram lugares privilegiados. Não foi possível, por falta de ubiquidade, estar em todos os eventos, visto que alguns aconteciam em simultâneo. Mencionemos alguns de forma breve e sucinta:
- Com grande pompa, a sessão solene de inauguração do Congresso e o seu encerramento tiveram a presença das autoridades locais e regionais que receberam (e ofereceram) prendas e elogios pelos apoios concedidos.
- Apresentação de uma edição em esperanto de “Don Quixote de la Mancha”, incluindo uma versão informática, no ano em que se comemora o IV Centenário da morte de Cervantes.
- Leitura de poemas de Jorge Camacho que foi, na altura, homenageado, e descrição de romances do profícuo esperantista russo, Mikael Bronsxtein.
- Palestra proferida pelo professor José Salguero sobre as influências recebidas pelo castelhano falado na Extremadura: leonesa a norte, andaluza a sul e portuguesa a oeste.
- Conferência sobre literatura esperantista pelo professor doutor Duncan Charters que apresentou uma brilhante argumentação, clara e concisa, sobre as vantagens do uso do idioma internacional. Pena foi que o tempo fosse insuficiente para ler e refletir sobre os vários quadros “power point” que projetou, todos de inegável interesse.
- Mesa redonda sobre a origem e o percurso da chamada “Ibera Skolo” com os escritores Jorge Camacho, Miguel Fernandez, António Valén, Javier Romero, António del Barrio e outros. Como curiosidade, destaque-se a referência elogiosa ao nosso compatriota Gonçalo Neves.
- Palestra do nosso jovem amigo do Brasil, Lucas Barbosa, sobre os idiomas tupi e guarani, a qual encantou os participantes sequiosos de curiosidades linguísticas.
- Espetáculos de grande nível apresentados no auditório do Palácio da Cultura. Destaque para as atuações de Jomo, Jxomart kaj Natasxa, Sepa kaj Asorti, orquestra ligeira de jovens locais e para a peça de teatro “la Kredito” pelos atores Georgo e Sasa.

Visita a Guadalupe
Remotamente, já tínhamos ouvido falar do santuário mariano de Guadalupe mas não suspeitávamos das ramificações portuguesas deste local medieval de culto e peregrinação. Parece que foi no século XIV que a virgem apareceu a um boieiro (guardador de bois e de vacas, entenda-se). Tal episódio encheu de vaidade este modesto escriba com o mesmo apelido que antes se convencera que a santa só aparecia a inocentes pastorinhos. Segundo apreendemos, a citada deusa tornou a surgir várias vezes pelo que o local foi consagrado com a construção do “Real Monasterio”. Para além da virgem, outras figuras ilustres vieram aqui para orar e pedir favores. O nosso rei D. Sebastião também aqui esteve antes da desgraçada batalha de Alcácer-Quibir, mas o pedido não foi aceite por eventual burocracia divina e foi o desastre que se soube. Isabel, a Católica, visitava o santuário, amiudadas vezes (consta-se que foram 26) e parece que resultou. No átrio da entrada principal lá está o seu busto e a designação “Monumento de la Hispanidad”.
Nos claustros, único local em que se pode tirar fotografias, encontram-se diversas pinturas das quais se destaca a da batalha do Salado em que o rei D. Afonso V, o Africano, veio dar uma ajuda preciosa ao rei castelhano e, juntos, derrotaram o exército sarraceno. A presença portuguesa está bem patente numa das capelas que ostenta vários brasões lusos, no túmulo da Duquesa de Aveiro, Dona Maria de Guadalupe de Lencastre, nascida em Azeitão no ano de 1630, na pintura dedicada a Fernando de Pinha, cavaleiro e cronista da corte do rei de Portugal ao qual a virgem apareceu por três vezes (que sorte!).
Depois de percorrermos os espaços museológicos dedicados aos paramentos religiosos bordados a ouro e prata, casulas e quejandas, os enormes livros “miniados”, a parte das pinturas dos famosos Zubarán e el Grieco, a sacristia, os relicários, a capela de São Jerónimo, fomos almoçar a um dos restaurantes da Hospedaria del Monasterio, antiga hospedaria real, construída nos finais do século XV.
E sobre o mosteiro não se acrescenta nada mais, visto que nos folhetos e livros turísticos há informação bastante para quem queira aprofundar a temática.

Concerto do Grupo Acetre
Após o lauto almoço na Hospedaria do Mosteiro, recebemos detalhadas informações históricas de Guadalupe, que em árabe significa “rio escondido”, fornecidas pelo incansável professor de Don Benito, José Salguero. Seguiu-se uma atuação musical de Mikaelo Bronsxtejn. Voltando aos autocarros, excursionámos pelas imediações de Talarrubias e Valdecaballeros e parámos numa das muitas barragens do Guadiana. Foi no Embalse de Garcia de Sola, em cuja praia adjacente deu (a quem a isso se dispôs) tomar uma banhoca com água agradavelmente tépida. Sempre divisando planos de água, seguimos para Peloche, localidade de apenas 600 habitantes que dista 8 km de Herrera. Foi aí que tivemos uma noite memorável proporcionada pelo grupo Acetre (6 homens e três mulheres) proveniente de Olivença, a que se juntou episodicamente a famosa cantora de Herrera, Célia Romero.
Com uma excelente orquestração baseada em instrumentos tradicionais a que nem faltou o adufe e melodiosas vozes, o grupo surpreendeu-nos não só pela qualidade artística mas também porque a maior parte das canções tinham origem portuguesa. A sua atuação, que, a pedido do público, terminou com dois “encore”, durou mais de duas horas e foi fabulosa. Iniciaram com a “Senhora do Almurtão” a quem se recomendava, como diz a respetiva letra, “para virar costas a Castela e não querer ser castelhana”. Emocionaram-se os quatro portugueses presentes e vibraram os espetadores locais e visitantes que encheram o anfiteatro natural da praça principal da povoação.

A vegetação da Sibéria Estremenha
Entre os raios da roda de uma carroça disposta na horizontal em cima de uma mesa baixa, a ornamentar um dos vestíbulos do hostal, podia-se ver as plantas, já secas, típicas da região: olivo (oliveira), quejigo (carvalho-cerquinho), acacia (acácia), lentisca (lentisco), encina (azinheira), jara (esteva), madroño (medronheiro), arrijanera (aroeira), pino (pinheiro), arbulaga (tojo), romero (alecrim), tomillo (tomilho), berezo (urze), alcornoque (sobreiro), álamo negro (choupo-negro), coscoja (carrasqueiro). Eis pois a síntese da flora de influência mediterrânica que aqui existe.
Na digressão efetuada a Guadalupe as únicas plantas abundantemente floridas neste mês de julho eram os loendros, se excetuarmos, obviamente a vegetação ripícola dos ribeiros e das lagoas originadas pelos vários “embalses” do Guadiana, cuja etimologia é simplesmente “rio” em versão dupla (ana – “rio” na linguagem primitiva e guad – “rio” em árabe). As azinheiras, em povoamentos pouco densos e irregulares, constituíam a principal espécie que resistia à canícula que rondava os 40 graus. Viam-se também extensos olivais, alguns sobreiros e pinheiros mansos e bravos. Na vegetação rasteira abundavam as estevas (curiosamente são também conhecidas como jaras na região de Portalegre), os silvados ainda a querer florir, as giestas já sem flor, as milfuradas já sem flor, os catacuzes secos … Irrigados por canais ladeados por tabuas (atenção não são tábuas mas tabuas, espécies lacustres) divisavam-se arrozais e milheirais. A subir a encosta xistosa para o Mosteiro podiam-se ver alguns castanheiros e frutíferas (ameixeiras, pessegueiros, vinhas).

A viagem e a companhia
Viajar com pessoas espirituosas e inteligentes ajuda a exercitar o cérebro e a, tendencialmente, sermos como elas, inteligentes.
Apesar das altíssimas temperaturas que se fizeram sentir numa região que se diz ter 6 meses de inverno e 6 meses de inferno (alguém convencionou que o inferno seria terrivelmente quente), foi muito agradável a viagem. No regresso aproveitámos para visitar dois teatros romanos: um em Medellín e outro, obviamente em Mérida. Foram lições vivas de História, suscetíveis de agilizar compreensões sobre o evoluir da Humanidade.
Uma breve referência ao almoço do derradeiro dia no restaurante “El Mosquito”, em Medellín, numa das margens do Guadiana. Num pequeno cartaz estava descrita uma pequena e espirituosa fábula do famoso escritor castelhano, Quevedo:
 “Le dijo el mosquito a la rana: mas vale morrir en el vino que vivir en el agua”.
Ao jovem Lucas Barbosa, notável linguista apesar dos seus escassos 19 anos, que connosco conviveu ao abrigo do “Pasaporta Servo”, ao Rui Vaz Pinto, à Alexandrina Timóteo e à Manuela (minha esposa), as homenagens e agradecimentos deste cronista de meia tigela.

Julho de 2016
Miguel Boieiro

quarta-feira, 13 de julho de 2016

“De Dedos E Cabeça Mergulhados Na Pia Do Nada E Da Água Benta”


Mergulho os dedos em água benta e a cabeça também Hoje tenho vaidade exagerada e o melhor carro do Mundo Amanhã não mais o corpo natural e a sombra e o resto terei Serei tão simplesmente um pedaço ínfimo de nada a andar à toa Tudo em mim será um vazio autêntico e não levarei seja o que fôr para o Céu… Trocarei tudo o que houver e quando a necessidade assim o exigir Irei ao mercado das jóias empenhadas colocar a alma no prego se requerido Cavalgarei nos costados de um cavalo sem eira e nem beira e sem cela apropriada Não seguirei nele por muito tempo para não cair na lama e nem em desgraça sem graça Usarei óculos de sol e escuros para evitar ver eventuais transfigurações desfiguradas no verbo Comerei um almoço exclusivamente vegetariano à base de pepino Deixarei que as películas de minha epiderme sejam levadas pelo vento Largarei os alforges a meio da caminhada e abraçarei tão-somente o destino Porque me hei-de então chatear ou incomodar se o equídeo decidir ir-se sem volta Oferecerei a todos os que esticarem a mão o interior de um cofre cheio de boa vontade Molhar-me-ei com todo o prazer à chuva que chova copiosamente Abrirei buracos no chão para plantar esperanças e inovações metafisicas Ficarei impávido agarrado ao chão à espera da vida enquanto não iniciar o passo Atirarei as sementes da criatividade que trago na mente ao chão para que germinem Olharei com atenção para elas e para tudo o que decidir crescer aleatório ou não em redor Todos me verão passar à janela do comboio com a cabeça de fora Cuspirei para o ar para sentir qual a direcção de tudo e de todo o resto Cobrir-me-ei com reais capas transparentes e feitas de ocasiões aleatórias Anteciparei a maldade e os maus instintos alheios juntando as mãos em oração Impedirei que qualquer instrumento parecido com a guilhotina me corte as ideias… Seguirei firme e sem vacilar perante nada e/ou hajam circunstancias adversas ou não!... Escrito em Luanda, Angola, a 12 de Julho de 2016, por Manuel de Sousa, em Alusão e em Honra a todos Aqueles Homens e Aquelas Mulheres que se movem pela coragem, usando a imaginação, a criatividade e a inovação, para tentarem convictamente obter o desejado sucesso, hajam adversidades ou não à sua frente e tentando retê-los ou impedi-los de continuarem a concretizar seus sonhos, por muito difíceis ou impossíveis que possam parecer! Também dedico este modesto poema livre ao pequeno-grande Povo Português e a todos os Povos Irmãos da Lusofonia Global e a todos os outros Povos que puxaram pela Selecção Lusíada/Lusófona (Portuguesa) de Futebol, pela brilhante vitória no Europeu de Futebol de Nações… Partilho/Estendo ainda esta Homenagem, com os/aos Atletas Portugueses que ganharam várias Medalhas de Ouro e outras, no recente Europeu de Atletismo…

terça-feira, 12 de julho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Estão a ver como a história do euro dois mil e quatro está mal contada? 

A vaidade sempre foi inimiga do discernimento e assim se fazem confissões que deixam perceber os contos que não se querem contar. 
E lá ficamos a saber, pela boca do próprio Pinto da Costa que a decisão de construir o novo estádio foi anterior à candidatura portuguesa ao euro dois mil e quatro. (1) 
Com isto quererão dizer que mesmo sem aquele evento teriam feito a obra. Pessoalmente, não tenho dúvida disso. Para tanto foram as expropriações que o ex-presidente da câmara, Fernando Gomes, fez a favor do Futebol Clube do Porto – inclusivamente, houve processo judicial por causa disso e com o Plano de Pormenor das Antas que o executivo de Nuno Cardoso aprovou e no contexto do qual, não só o clube teve oportunidade de um multi-milionário negócio imobiliário, como ainda beneficiou a instituição desportiva chamando a si os custos da urbanização e dos acessos ao estádio, sob o pretexto de assim contribuir para se requalificar e recuperar uma zona da cidade. 
Quer dizer, o estádio do dragão seria sempre pago, na maior fatia dos custos globais do empreendimento que contempla um complexo desportivo, deve acrescentar-se, seria sempre pago, dizia, pelo dinheiro dos contribuintes. 
O problema é que sem o euro uma operação daquelas apareceria sempre como um descaramento excessivo. 
Vai daí e o patrão do futebol tratou de mexer cordelinhos e de pôr as vozes a falar e o governo de António Guterres lá arranjou maneira de fazer da organização de um torneio de futebol um desígnio nacional. 

Depois a gula tratou do resto. 
E aí temos dez estádios novos, precisamente aquilo de que o país mais estava a precisar. 



Hoje, os alunos aprenderam uma nova palavra, sapato, a respeito da qual versaram os exercícios do dia, ainda que o trabalho para casa tivesse uma das duas fichas ainda a respeito das palavras anteriores. 



As Nações Unidas estão demasiado arredadas do processo de reconstrução do Iraque. 
Os democratas não estão a compreender a importância do fim do regime de Saddam Hussein e muito menos a do estabelecimento de um país livre e pacífico. 

E tenho a sensação que a maioria dos europeus gostaria de ver os americanos partirem o nariz naquele deserto. 

Choraremos estes disparates com lágrimas de sangue. 


 Alhos Vedros 
  17/11/2003 


NOTA 

(1) Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO ENTRE O MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, p. 47 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 


Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO NO MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, Entrevista a Bruno Prata, In “Público”, nº. 4987, de 16/11/2003

segunda-feira, 11 de julho de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (211)

Rhapsody in Blue, Autor António Tapadinhas,
Óleo sobre Tela, 80x100 cm



"SE PERGUNTAREM DAS ARTES"

Se perguntarem das artes do mundo ?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos
recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as
noites
caem dentro dos dias - e eu estudo
astros desmonorados, mananciais, o segredo.

HERBERTO HELDER


SELECÇÃO DE ANTÓNIO TAPADINHAS

sábado, 9 de julho de 2016

Poema de José Gil


Calçada Moinho do Vento

a meu amor eterno, Solange,

sorrio de manhã amor com malícia ousada
próximo de onde acordo Travessa Recolhidas
vejo o teu corpo no espelho liso da manhã
escrevo a seiva que sobe da raiz a árvore no
Campo dos Mártires da Pátria

sabes a mar, esta madrugada senti-te  na
chuvinha que caía neste começo de Julho
na calçada do moinho do vento

corpos híbridos em novas performances de
alcatrão quente

vibráteis sequelas na instigação da carne
acção de isolamento de segmentos a dois
relações de género vegetal - a alma activa
massa moldável no centro da cidade-Lisboa,

José Gil
1-7-2016

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Poema de Celina De Assis


Vestido

 Sonho
Que tu me compres um vestido
Agora não mais um vestido de mocinha
O tempo passou
Agora só cabe a mim um vestido de senhora
Quem sabe um petit Poá
Senhoril que ressalte em mim
A beleza maternal
Um vestido primaveril
 Que possa ser usado com
Meu velho chinelo
Tão velho quanto confortável
Sonho
Que tu me compres um vestido
Quem sabe então, um vestido fino e transparente
Que te deixe ver
Minhas ancas e te desperte o desejo de me amar.


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Portugal escreve história no futebol


PORTUGAL 2 – PAÍS DE GALES 0 – GRANDE ESPECTÁCULO - PORTUGAL NA FINAL DO CAMPEONATO DA EUROPA

António Justo

A partida das meias-finais no estádio de Lyon foi uma verdadeira festa à portuguesa. No fim até a claque galesa cantava no campo, apesar de ter perdido. Aceitaram que Portugal era o melhor e mereceu bem ganhar por 2:0! Os golos de Ronaldo e de Nani foram a coroa de muito trabalho e disciplina contra uma equipa de classe mas, por vezes, dura. Ronaldo foi o jogador mais rasteirado em todo o torneio. Neste foi duas vezes. Apesar do árbitro ter roubado um (ou dois) penalty à nossa equipa, os jogadores não se desmotivaram.

A nossa equipa ganhou não só o jogo mas também o respeito; ganhou o respeito dos comentadores e os corações dos espectadores. A maneira de jogar convenceu até mesmo os que eram cépticos em relação à maneira de jogar da selecção portuguesa.

Ronaldo continua a brilhar como a estrela no topo do firmamento do futebol. Revelou-se, como sempre, como o homem responsável pelas coisas cruciais. Foi duas vezes rasteirado. Apesar das estafadelas dos jogos anteriores, com os prolongamentos, os jogadores estavam todos em forma.
Os portugueses se metem o primeiro golo, não há mais quem os empare!

Ronaldo espera que o sonho de ganhar a final se realize. Este seria o maior prémio que a equipa nacional lhe poderia oferecer também a ele.

Segundo comentadores alemães, a final Alemanha-Portugal seria a perfeita combinação. Amanhã (07.07 o jogo entre Alemanha e França decidirá se Portugal jogará contra a Alemanha, a campeã do mundo, ou contra a grande França que tem a vantagem de jogar em casa.

Parabéns, Portugal. Parabéns a Ronaldo, a Nani e aos colegas de equipa que mostraram grande nível técnico acompanhado da grande arte de jogar. Parabéns à claque e até aqueles que movidos pelo entusiasmo saltaram das bancadas para abraçar o Ronaldo; apesar de terem transgredido as regras, Ronaldo tratou-os bem e deram uma nota humana também a Ronaldo antes de começar o jogo.

A equipa portuguesa com o seu espírito de equipa, com a grande competência dos seus jogadores deveria tornar-se num grande exemplo para os nossos políticos. Um por todos e todos por um!


António da Cunha Duarte Justo


quarta-feira, 6 de julho de 2016

Estudos Orientais




Da civilização védica ao budismo (conclusão)

A civilização védica que se desenvolveu em termos geográficos na região que corresponde hoje, aproximadamente, ao território indiano, desenvolveu toda uma cosmogonia que hoje se encontra reunida em 4 grandes volumes que se designam pelos textos do Rig Veda, ou Hinos Védicos.

      Toda esta expressão cultural, mais as formas rituais praticadas, não tiveram registo escrito enquanto esta civilização perdurou e foram passando oralmente às gerações vindouras. Só mais tarde, os hinos védicos foram redigidos em sânscrito, a língua sagrada indiana.

      São estes textos sagrados conjuntamente com outros, como as “Upanishad” e o “Mahãbãrata”, que haveriam de constituir os textos base de desenvolvimento do hinduísmo, do budismo e, de uma maneira geral, das filosofias clássicas indianas.

O Budismo, que conhece um grande florescimento na Índia, sobretudo, durante o reinado do imperador Ashoka (273-232, antes da era cristã), em determinada altura quase que se dilui no hinduísmo. O Bhagavad-Gita, escritura sagrada que integra o livro épico Mahãbãrata, e as invasões islâmicas no século XII, constituem as duas principais razões da causa do grande decréscimo do Budismo na Índia.

      À medida que o Budismo se ia enfraquecendo na Índia, ia-se expandindo e crescendo um pouco por todo o continente asiático, como aconteceu na China, Tibete, Japão e Coreia. Esta fase de expansão do Budismo deu-se, sobretudo, durante o 2º grande ciclo de ensinamento do Budismo, conhecido por Mahayana, ou grande veículo, cujo principal autor foi Nagarjuna, no século II da era comum.

      Tendo uma herança comum e reconhecendo-se por isso mesmo inúmeros pontos de contacto entre o hinduísmo e o budismo, desde logo pela utilização de alguns conceitos e de ideia comuns, como são, por exemplo, a lei do karma e as ideias dos ciclos de renascimento e da reencarnação, verifica-se, no entanto, toda uma especificidade em cada uma das doutrinas que as particularizam e autonomizam de forma quase absoluta entre si.

      O Budismo tem um desenvolvimento que lhe é próprio, sobretudo, relacionado com os seus grandes ciclos de ensinamento e por se ter desenvolvido muito noutros países, afastados do território que o viu nascer. Antes de mais, o Budismo afirma-se como uma filosofia que argumenta no sentido da possibilidade de eliminação do sofrimento humano. Reconhecer a existência de sofrimento e desenvolver um método, um caminho, que possibilite ultrapassá-lo, constitui-se num dos princípios de excelência budista enunciada nas “4 nobres verdades”.

      Mas mais do que o sofrimento, sustenta-se que o respeito pelos princípios budistas poderá permitir o despertar, ou o nirvana, o que se liga à capacidade de pôr fim ao ciclo infinito de renascimentos e à consequente libertação do samsara, a roda da vida. Ou, pelo menos, desenvolver uma consciência subtil, um elevado grau de qualidade individual que permita escolher a futura reencarnação.

      Resumindo, diríamos que as 4 noções fundamentais do budismo são: a eliminação do sofrimento, a noção de vacuidade, a impermanência de tudo o que existe e a ausência de “eu”. A contemplação destes conceitos permitirão a compreensão de uma verdade relativa que poderá conduzir à verdadeira realidade. 


Luís Santos


terça-feira, 5 de julho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Nada melhor que um final feliz para coroar um conjunto de circunstâncias infelizes. 
Foi libertado o repórter da TSF que tinha sido raptado por um bando de ladrões na estrada para Bassorá, no Iraque. 
Depois da imprudência que lhe proporcionou uma aventura mais que adivinhável, Carlos Raleiras foi resgatado por forças militares inglesas que nada gostaram da gracinha. 

Sobre o resgate de cinquenta mil dólares que era pedido pelo jornalista, a recusa em falar por parte do responsável máximo da PT, a proprietária daquela estação radiofónica, deixa-nos adivinhar que o rapto foi bem sucedido. 
Quanto à onda de solidariedade e louvor que ontem soprou, ao de leve, na lusa jornaleirada, tão só significa que, havendo uma oportunidade, há francas probabilidades para que o mesmo erro se repita. 
Não fosse o puxão de orelhas que, tudo o indica, os responsáveis políticos e militares portugueses levaram das autoridades britânicas e americanas que operam no terreno e que por isso têm mais com que se preocupar do que reparar actos insensatos de um amadorismo inaceitável naquele contexto, não fosse isso, dizia e o mais certo seria assistirmos a um coro de acusações à injustiça da guerra e à incapacidade dos aliados manterem um mínimo de segurança no país que destruíram e ocupam. Como a reprimenda deve ter sido veemente, temos hoje os brindes pela libertação e pouco mais que isso. 
Seguir-se-á o esquecimento do sucedido. 

Curiosamente, entre os intrépidos jornalistas que não puderam esperar um minuto para chegarem junto do batalhão português, em Bassorá, mostram-se agora uns quantos decididos a regressar a casa e os restantes a rumarem para Bagdad. Dizem não ter condições de trabalho para acompanharem os homens da Guarda Nacional Republicana que, nos próximos seis meses, cumprirão a missão de segurança para que foram mobilizados. 
Qualquer comentário seria supérfluo. 

Vá lá, haja alguém com quem partilhar uma leitura tão singular destes acontecimentos. 
Um jornalista português que trabalha para a cadeia de televisão norte-americana, CBS, ao serviço da qual tem feito reportagens em teatros de guerra nos últimos vinte anos, também ele viu a aventura dos colegas de nacionalidade como uma infantil violação das regras mais elementares do bom senso. 

Daqui a um ano alguém publicará um livro sobre este importante acto heróico do jornalismo de guerra que também os portugueses sabem fazer. 
Houve feridos e tudo. 



Ena, a Matoldas faz progressos a olhos vistos. 
Com uma letra muito bem feita e de memória, escreveu Alhos Vedros. 
“-Uau, Matilde! Já sabes isso?” 
“-Já.” –Retorquiu com toda a naturalidade. “-É como nós fazemos para escrever a data.” 
“-E sabes o que aí está escrito, pardalito?” 
“-Sim. Alhos Vedros.” 



Mas é engraçado como as personalidades diferem tanto umas das outras. 
Ao fim da tarde de ontem, fomos a uma loja de brinquedos para escolhermos as prendas natalícias da sobrinhada mais nova. 
Numa prateleira, logo à entrada, a Margarida encantou-se de imediato com uma bonequinha miniatura que é a Polly Pocket, no caso, com o enquadramento de uma sala de aula de tamanho correspondente. 
Por sua vez, a Matilde dirigiu-se para uma nave espacial tele-comandada que pediu como oferta pelo aniversário. 

São assim as minhas filhas 
E eu que amo tanto uma como a outra. 



Istambul, metrópole em que vi cristãos e judeus levarem as suas vidas com toda a normalidade e em convivência com os primos ismaelitas, foi o palco de explosões em duas sinagogas. Há mais de uma dezena de mortos e muitos feridos. 

O terrorismo trava uma guerra impiedosa e sem quartel com tudo o que, sendo estranho ao Islão, mais possa pôr em causa a interpretação que fazem daquela religião e de que se arrogam ser a única que respeita os princípios mais puros da mesma. 
Eles não deixam alternativa. A subjugação é o mínimo que pedem. 

É por isso que este é dos problemas mais sérios com que o mundo se defrontará neste século. 

Temo que os líderes políticos no Ocidente não saibam lidar com este género de ameaça que pode muito bem vir a materializar-se como apocalíptica. 



Vêm como é possível dizer tanto com tão poucas palavras? 
Pois é o que acontece com uma pequena crónica de Daniel Sampaio em que a propósito de dúvidas maternas, se chama a atenção para o facto de ser importante vermos a homossexualidade como algo natural da espécie, pois a identidade sexual que se forma ao longo da adolescência, depende de uma reunião de factores cuja combinação não tem apenas um resultado possível, seja de que forma for ou por quem quer que seja. (1) 

Mais do que o folclore dos desfiles gay, são estas verificações que hão de fazer sedimentar a tolerância para que um dia a aceitação feita da indiferença se padronize nas sociedades em que vivemos. 



O vento, se bem que azule o céu, bravo como está, faz chegar o frio aos corpos. 
Ainda assim, vai caindo a tarde em luminosidade rosada. 



O Porto provinciano fala no seu melhor. 
Compara-se o plano de pormenor das Antas à Expo 98. Diz-se que assim se recuperará a zona Leste do burgo. 

Triste cidade que vê num estádio de futebol o motor requalificador do seu urbanismo. 
Naturalmente é a mesma que deveria ter inaugurado uma casa de música há quatro anos e sem que esta tenha visto ainda as portas abertas, já tem o seu enquadramento estético ameaçado pela especulação imobiliária. 

Só poderia ser esta a segunda cidade de um país como o nosso. 


Mas como o dia é de inauguração do estádio do dragão, talvez por isso o repuxo seja farto. 

Fernando Gomes – the one, o ex-presidente do município da Invicta – disse em entrevista que Luís Fílipe Menezes, eleito presidente em Gaia pela lista do PSD, daria um bom presidente para o Porto. 
Dá-se-lhe de barato mas não duvido que se trata de barro atirado à parede; no entanto, tenho para mim que é do espírito do fim-de-semana, há que prendar o chefe. 
O aparelho socialista da margem sul da foz do Douro é que reagiu sem cerimónias e pede que o camarada se retrate. Assim, não sendo carne nem peixe, limitou-se a demarcar-se das declarações que só não são bizarras por estarmos no universo em que estamos. 


Pinto da Costa ri; já ganhou mais uma batalha e daqui a uns anos terá o seu nome num estádio de futebol feito à custa do dinheiro dos contribuintes. 

O beija-mão dos políticos é que é um espectáculo que mete dó. 


E do Benfica chegam perturbantes sinais de queda definitiva no abismo. 
António Figueiredo voltará a ser responsável pelas contratações no futebol profissional do clube. 
Voltaremos a ter ali um centro de negócios e não mais a equipa se manterá de uns anos para os outros.
Brevemente, veremos partir os melhores e mais novos jogadores e o actual treinador rescindirá o contrato antes do fim da presente época. 

Nos anos mais próximos não voltaremos a ter competições europeias no novo estádio que para nada servirá. 

Nos próximos dez anos, o Porto será campeão, pelo menos, oito vezes. 

Pinto da Costa terá uma estátua na nova zona a sair da revitalização que o Estádio do Dragão proporcionará. 



Não tinha ideia alguma sobre a importância do passado céltico nas culturas do Ocidente europeu. (2) 


Alhos Vedros 
  16/11/2003 


NOTAS 

(1) Sampaio, Daniel, VIVER COM A DIFERENÇA, p. 47 
(2) Plazy, Giles, ABECEDÁRIO DOS CELTAS 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Plazy, Giles, ABECEDÁRIO DOS CELTAS, Tradução de Ana Barradas, Público, Lisboa, 2003 
Sampaio, Daniel, VIVER COM A DIFERENÇA, “Xis Ideias Para Pensar”, nº. 232, In “Público”, nº. 4988, de 15/11/2003