quinta-feira, 31 de outubro de 2013

D'ARTE - CONVERSAS NA GALERIA (2ª. SÉRIE)

ACERCO-ME DE MIM
 
 
 
 
CELESTE BEIRÃO
 
Acrílico sobre Tela 200 x 220

quarta-feira, 30 de outubro de 2013


A VERBALIZAÇÃO E O ACTO DE CONDUÇÃO INTERNA

A permissão de oferta a um nível superior em que a linguagem verbal não é utilizada, leva o recetor a um diálogo interno em que se apresenta um vazio sonoro. Não é mais a articulação fonética que transmite a ideia, mas esta é gerada em consonância com uma entoação interna, de compreensão imediata da ideia.

As palavras ecoam em ritmos sonoros de frequências incompatíveis com formas de comunicação, isentas de ferramentas ou órgãos físicos. Nesta dá-se então a absorção total do emitido sem qualquer desvio ou interpretação diferente. Não é uma forma de diálogo imaginativa ou do amanhã, mas uma comunicação presente entre seres intra, extra ou terrestres, que já vivenciaram e ultrapassaram uma comunicação verbal, dita primária em escala cósmica.

antónio

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



Dentro de dias cairá mais um calendário e com ele passarão trinta e quatro anos desde que aqui chegámos, jovens sonhadores, imbuídos da vontade de criarmos um mundo, não direi só para nós, mas no qual nos sentíssemos livres e a salvo da loucura que então grassava um pouco por todo o planeta e onde pudéssemos criar os nossos filhos em condições de bem estar e alegria, de segurança e prosperidade que não tivesse que se alicerçar na luta desenfreada pela sobrevivência que nem mesmo hesita diante da possibilidade do esmagamento do semelhante. Quem diria que afinal viríamos a ser capazes de o fazer? Bem lá no fundo, provavelmente ninguém, mas a verdade é que assim aconteceu. Para felicidade de todos os que têm vivido esta aventura, direi eu que, pessoalmente, não tenho dúvidas em afirmar que o tenho sido e de que maneira. Gostaria muito, à semelhança do que sucede com outros companheiros, de ter aqui os meus queridos filhos na partilha, tanto da companhia como deste esforço colectivo que mantém viva e viçosa esta comunidade maravilhosa. Não deixo no entanto de perceber que até isso é boa prova de como os educámos convenientemente, preparando-os para enfrentarem os desafios do quotidiano por meios e capacidades próprias, sabendo que tanto um como o outro são homens de carácter e que vivem segundo os princípios éticos de não prejudicarem o próximo ainda que em causa esteja a prossecução de interesses próprios. E só posso sentir orgulho por estar certa de serem esses os valores que procuram transmitir aos seus filhos e meus netos, como pessoas responsáveis que são e que compreendem ser essa a primeira função da família e a base da sua importância, a transmissão dos laços, dos afectos, das idiossincrasias em que se vão moldar as personalidades e as maneiras de ser dos mais novos. Para depois lhes possibilitarem as condições e oportunidades propícias a que possam escolher os caminhos em que melhor se sintam e revejam e essa é a relevância seguinte do núcleo familiar, embora seja aí que mais precisamente começa a reprodução das injustiças sociais, pois muitíssimas são as famílias que, pelas vicissitudes das suas posições perante o trabalho e, por via disso, na sociedade, vivem muito longe de serem capazes de o conseguir se apenas contarem com os seus recursos particulares. Diga-se com inteira justiça, algo que aqui temos ultrapassado, pois são vários os filhos de operários que para nós trabalham que chegaram às universidades e, tendo concluído os respectivos cursos, acederam a profissões e carreiras que, relativamente aos progenitores, não só os situam em patamares que aqueles sequer poderiam almejar, como, no concreto, se traduzem numa melhoria significativa das condições de vida que a ascensão social acarreta. E se alguns até preferiram permanecer e trabalhar por aqui, a maioria desses vive e labora fora, num caso como médico bastante respeitado da Misericórdia da Vila, noutros casos como engenheiros de indústrias e professores de diferentes níveis e disciplinas diversas e ainda com o recente exemplo de uma rapariga que se prepara para receber o cargo de Juíza, no que será uma das primeiras do país e o de um rapaz que começou a trabalhar como advogado e já tem consultório estabelecido em Lisboa. O facto de terem usufruído de uma boa escolaridade que em muitíssimo pouco terá onerado os bolsos paternos, para além das paralelas ocasiões de contacto e aprendizagem cultural que a actividade para-escolar e a da associação proporcionam aos habitantes desta comunidade e de os seus pais poderem alimentá-los adequadamente e de ainda lhes sobrar rendimento para os miminhos que sempre temperam o bom tempo de uma infância radiosa, com um acompanhamento ao nível da prevenção da doença e de um corpo saudável, estou em crer que tudo isso confluiu para que essas crianças viessem a usufruir das possibilidades de escolherem os trilhos por si desejados. E isso é uma outra vertente que nem mesmo estava presente nos sonhos mais coloridos dessa quimera inicial que nos juntou e aqui nos trouxe. Mas agora que o Artur se reformou, aquilo que me parece é que se iniciou o fim deste primeiro ciclo, pois tudo indica que esta comunidade irá perdurar para além de nós. É, digamos, o nosso melhor prémio, a mais bela recompensa por todos estes anos desta doce e magnífica ventura que temos experimentado neste pequeno pedaço de paraíso. Seja como for, a aposentação daquele companheiro marca o começo dessa passagem de testemunho, uma vez que, no próximo triénio, todos os fundadores da cooperativa se reformarão. Contudo, importa que registe não ser nada que transcenda aquilo que já é uma realidade pois, se por enquanto ainda vão estando presentes no dia a dia laboral, são os filhos, a segunda geração, quem, para todos os efeitos, conduz os destinos da administração dos negócios e da gestão das actividades o que vem sucedendo há um bom par de anos a esta parte. Sendo justo de acrescentar, sem que hajam ou tenham havido descarrilamentos ou tremideiras, pois os resultados continuam francamente positivos e pelo que consta, preparam-se expansões para novas áreas. O Artur é que está radiante por finalmente dispor de todo o tempo para se dedicar às suas pesquisas e recolhas musicais. Diz que daqui a dois anos, quando a Graziela chegar igualmente ao fim da idade activa, irá procurar o Félix para lhe dar conta de tudo o que fez. Será essa a altura em que também eu me retirarei.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (52)

                  Composição X, Kandinsky,1939
                     Óleo sobre Tela, 130x195cm

SONHO, VIDA, MORTE
Que seria dos homens se não sonhassem? Sabemos hoje, que a loucura seria o seu destino.
O sonho é uma dimensão que só o Homem atinge; por isso, os grandes temas filosóficos têm como motivo central o homem, em todas as suas manifestações.
Quem não dá valor às pessoas talvez fique só no momento em que precisar de alguém...
Uma maneira de conquistar a felicidade é desprezando o que é acessório. Quem não dá valor à vida que tem, talvez venha a queixar-se do pouco que viveu...

Perdi mais uma referência. Será que estou a ficar velho? Morreu Lou Reed, o poeta do rock. Nascemos no mesmo ano.
 "Walk On the Peaceful Side".



Walk On The Wild Side
http://www.youtube.com/artist/lou-reed?feature=watch_video_title

AntónioTapadinhas


domingo, 27 de outubro de 2013

Desde há muito tempo que te trago sempre comigo e, doravante, assim continuará a ser.


 
 



Desde há muito tempo que te trago sempre comigo e, doravante, assim continuará a ser.
 
Estou triste porque preciso atravessar esta tristeza para poder seguir em frente.





sábado, 26 de outubro de 2013

Poema da Semana


VENTURA

é uma simplicíssima composição que preenche esta semana o espaço de
poema da semana que poderão ver em poema da semana ou aqui neste link:

http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Ventura/index.htm


Euclides Cavaco
cavaco@sympatico.ca

Venha tomar comigo um cálice de poesia.
Entre por aqui na minha sala de visitas e saboreie da que mais gostar...
www.euclidescavaco.com

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Poema do Dia


“conhecemos sempre o amor / os pássaros / a distância entre itabira e cascais / conhecemos tudo isso / conhecemos os poemas / as pedras em que se escreveram as primeiras letras / conhecemos o sexo / a lenta arte de viajar / conhecemos o conhecimento / o conhecer / o ofício breve de nos sabermos / sós e desamparados.”
“há mãos e olhos que vêm / olhos e mãos que sem ver anunciam / um olhar novo / um olhar de agora / um olhar sem promessas de futuro”(Jorge Vicente)

A pedra nua um nó de mar para navegarmos
Entre os corpos entrelaçados como aprendizes
Secretos do amor conhecemos os seus pássaros
A distância entre nós e  o cultivo
Das flores de arrepios azuis, conhecemos tudo
Isso as pedras que escreveram as primeiras
Letras, conhecemos a carne rosa clara do
Inferno, a lenta arte de viajar, conhecemos o
Conhecimento, o conhecer, o oficio breve
De nos sabermos sós e desamparados, há
Mãos e olhos que nos vigiam, olhos e mãos que
Sem ver anunciam, por um olhar novo já
Amanhã na rosa dos ventos da nova freguesia
das Águas livres junto ao aqueduto na Damaia
Um olhar de agora a noite, um olhar capaz de
Virar a vida por um novo futuro, no ciberespaço
Ainda há um beijo real da romã da ternura nos
Lábios doces que espero.

José Gil.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Escola? O que é? Para que serve? (Mais um texto para o MFI)


Escola? O que é? Para que serve?

A etimologia aponta para algo que se faz em grupo, com “significado” público, social, num espaço determinado e/ ou em torno de uma “filosofia” ou doutrina interativa. (# veja-se o significado).

 E o que se faz? Ensina-se e aprende-se.
Até hoje esse espaço físico e / ou intelectual tem sido espaço privilegiado de cultura. Para além dos Mosteiros medievais, das Academias gregas e das Universidades (mesmo Universidades), as escolas eram vistas como centros de saber e de “coligação”, como união e transmissão de valores. Já não é assim, existe a escola paralela e alguma desconfiança institucional em relação ao que lá se faz. (repito, institucional).

A escola de hoje poderá ser vista como algo de perigoso!? Pelo menos assim parece para alguns. A “Escola Pública” enquanto conceito e praxis, enquanto escola para todos, pode trazer problemas (problemas?). Sim, penso que sim, penso que pode trazer problemas para quem a vê como uma ameaça.

Ameaça? Ameaça para quem a vê como “elevador social” ou preparação para o magistério do pensamento e da racionalidade. Pensar complica. Pensar atrapalha quem não quer ser atrapalhado e precisa do caminho livre. Pensar sistematicamente (o que a escola ajuda a desenvolver) fomenta a participação cívica (digo, política), de modo “avisado” e crítico. E isso é muito perigoso!

Na verdade, o povo não devia estudar e ir à escola. A escola ajuda a desenvolver competências que podem ser perigosas. Quem pensa torna-se perigoso. O povo torna-se crítico, exigente e participativo. A escola para todos (a Escola Pública) fomenta a ascensão social e desenvolve espírito crítico. E isso é perigoso. Põe em causa o lugar ocupado pelas elites, que o desejam manter a todo o custo.


Por PEDRO VARGAS
Outubro 2013


(#) s.f. Estabelecimento onde se ensina: ir à escola.
Conjunto dos adeptos de um mestre ou de uma doutrina filosófica, literária etc.; essa própria doutrina: a escola racionalista.
Conjunto dos artistas de uma mesma nação, de uma mesma cidade, de uma mesma tendência: a escola francesa; a escola de Paris; a escola do Recife; a escola impressionista.
O que proporciona instrução, experiência: a obra de Corneille é uma escola de grandeza.
Estar em boa escola, conviver com pessoas idôneas.
Fazer escola, ter muitos seguidores.

In Dicionário Etimológico: http://www.dicio.com.br/escola/

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



Que confusão paira por aí, com todos a emitirem opiniões e ninguém a acertar naquilo que importa dizer e destacar, sem que alguém dê conta que aquilo que se propõe, o que se pede e reivindica pouco ou nada tem a ver com o que deveremos esperar da democracia. Pelo menos esse é o denominador de todos os discursos em que não há corrente que não se apresente como arauto da mesma, cada qual apontando aos outros os excessos ou as faltas do que defendem ser os verdadeiros fundamentos e propósitos de um regime democrático. Estamos numa espécie de torre de Babel do pensamento político, de tal maneira que quase se poderia dizer haverem tantas formas de democracia quantos os grupos e os partidos políticos que, nestes meses de descoberta da vida livre, têm aparecido na praça pública. Que eu tenha ouvido ou lido, quer entre a nossa massa crítica intelectual, quer entre as diversas personalidades que vão debutando e despontando no espaço político, contar-se-ão pelos dedos de uma mão aqueles que revelam consciência do que de facto é a democracia e como eventualmente a poderemos usar para melhorar a vida das pessoas que parece ser o objecto último de todos os que se arrogam de uma visão para o exercício do poder entre nós. O Professor Diogo Freitas do Amaral, discípulo de Marcelo Caetano na Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa e cujos críticos acusam de enfeudado ao antigo regime, mesmo assim, pode ser apontado como aquele que mais se tem aproximado de uma interpretação adequada do assunto e, em conformidade, mais razoavelmente tem definido os contornos do que poderemos querer construir como democracia. Quanto a mim, sublinho a curiosidade de vir de um indivíduo da direita as palavras, digamos, mais sensatas a este respeito. Afinal, por contraposição ao autoritarismo do salazarismo, seria natural que à esquerda ou às forças da esquerda coubessem as melhores teorizações e a mais eficaz condução do processo. Seja como for, infelizmente, quanto a mim, tão ilustre figura não consegue deixar de ser livresco e académico com o que não parece capaz de fazer chegar essa leitura a um grande número de pessoas, sobretudo às mais simples que, para mal dos nossos pecados, entre nós são, justamente, a larguíssima maioria. Contudo, pelos ecos que por aqui vou escutando do que pensam e propõem os movimentos desse quadrante, não há quem não confunda os propósitos do desenvolvimento e justiça social com o que pretendem dever ser os objectivos da democracia em si. Isto para além daqueles que àquela consideram tão só um período ou um meio de transição para uma revolução social que, na prática, se mistura com o lançamento das bases de um outro tipo de sociedade, mormente o socialismo que, para os comunistas tem por modelo a União Soviética e o bloco que gravita em seu redor na Europa de Leste, para os mais radicais toma maior pureza no exemplo da China Popular e na Albânia que há uma década romperam com aquela liderança internacional e para os socialistas se assemelha ao que se vive na Europa Ocidental e do Norte e assenta nos pressupostos ideológicos da social-democracia que, no princípio do século, cindiu com o bolchevismo e se materializa na redistribuição da riqueza e na melhoria das condições de vida daqueles que trabalham. E todos manifestam a convicção que, de uma maneira ou de outra, é à democracia ou, para ser mais precisa, ao entendimento do que para eles é aquela que competirá realizar essas conquistas. Pois quanto a mim isso serão as propostas de governação que as diversas forças em disputa pelo poder deverão apresentar aos portugueses para que eles possam escolher entre elas, as que num determinado momento lhes surjam como as mais convenientes para o país. A democracia, num certo sentido, começa por ser isso, por um lado essa possibilidade de optar entre projectos concorrentes e, ao mesmo tempo e, por outro lado, a outra possibilidade de pacificamente, pela expressão do voto, arredar aqueles que depois não se revelem tão empenhados e válidos como faziam crer as propostas e promessas apresentadas. A democracia é isso, começa por ser isso, um estado social em que as liberdades que daí decorrem, como a de expressão, de pensamento, a liberdade de associação e a de imprensa estão asseguradas pelas leis e as instituições e daí o facto de esta ser uma impossibilidade na ausência de um estado de direito que é algo de que ninguém fala e, avaliando pela amostra deste nosso pequeno mundo, tudo indica que passa ao lado das preocupações em torno da democracia, sequer chegando a ser objecto de debate, pelo menos que me dê conta, seja lá onde for. É por isso que há tanto desrespeito pela ideia de democracia entre os mais radicais que apodam pejorativamente de burguesa, geralmente por oposição à que chamam de verdadeira, a democracia popular que depois, pasme-se, muitos entre eles assimilam ao que apelidam de ditadura do proletariado, aparentemente na mais completa ignorância de que ambas as realidades se excluem e anulam entre si, quer dizer, sem perceberem que não pode haver democracia onde haja uma ditadura e que aquela é precisamente a barreira que se ergue para que esta última se não concretize. E isso até aqui, onde devo dizer que a associação cultural tem levado a efeito um extraordinário trabalho de divulgação e esclarecimento dos ideais e visões políticas que se têm afirmado no mundo. Mas a verdade é que um estado de direito é precisamente a primeira garantia de que aquelas liberdades e, portanto, a democracia, não serão estioladas. Sem este, isto é, sem tribunais que apliquem as leis de igual modo para todos e em tempo útil possam julgar e condenar os desmandos que sempre se verificarão num mundo em que a riqueza é desigualmente apropriada, jamais os mais pobres, os mais fracos, terão como se defender de eventuais ganâncias e prepotências dos mais fortes. Ora é simplesmente isto que é a democracia e pretender, como vulgarmente se ouve por aí que ela traga a melhoria das condições de vida que só o desenvolvimento poderá conseguir, é correr o risco de ela ser posta de parte na primeira esquina de um qualquer fracasso económico. Estamos a aprender a viver em liberdade e a tentar conseguir erguer os alicerces de uma sociedade democrática; pelo que se vê, será um longo e penoso caminho mas, provavelmente, nunca deixou de ser desse modo. Uma coisa se me apresenta clara, quem troca a segurança dos mais fracos pela de alguns ainda que sejam a maioria, em circunstância alguma terá a sua própria segurança garantida. A democracia resume-se neste pensamento.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (51)

Persistência da Memória, Salvador Dali, 1931
Óleo Sobre Tela, 24x33cm

...E eu também vou falar do Tempo.
A rapidez com que o observador se desloca faz encolher o espaço e aumentar o tempo. Temos  a  sensação que é síncrono o passar dos segundos, que é imutável, mas está provado que não. Por absurdo, se o observador for aumentando a sua velocidade, ultrapassando a da luz, conforme está demonstrado ser possível (desculpa Einstein!), o tempo vai ficando mais lento, cada vez mais lento...
Deus deu-nos uma alma Imortal; quem acreditar neste conceito tem a Eternidade ao seu alcance, porque a sua morada é lado a lado com a Imortalidade. Para os outros, resta acreditar que a velocidade pode aumentar até fazer parar o tempo.
A velocidade maior que podemos conceber é a do nosso pensamento... Assim, pensar no meu (teu, nosso) amor é ter a Eternidade ao meu (teu, nosso) alcance!
Os segundos podem ser iguais para um relógio: não são com certeza para os apaixonados!

António Tapadinhas

domingo, 20 de outubro de 2013






Ainda há pouco, o poema

 



Não foi de chuva
o Outono
este ano.
Foi
amarelos,
castanhos e
dourados
nas árvores
que eu amo
e me amam.
Abraçaram-me
e eu, comovi-me.
Até chorei.
Ninguém viu,
mas eu sei.


MJ Croca



Foto: Edgar Cantante

sábado, 19 de outubro de 2013

Agostinho da Silva e a “Educação de Portugal”


Agostinho da Silva deixa o Brasil em 1969, onde viveu perto de 25 anos. No ano seguinte ao do seu regresso a Portugal, em 1970, escreve “Educação em Portugal”, livro onde se propõe pensar num projeto educacional para o país.  

Dois grandes princípios estruturais enunciam o ponto de partida desta sua proposta:

1) Nascemos e crescemos “estrelas de ímpar brilho, sem que o mundo em nada nos melhore”, o que significa afirmar o valor primordial da natureza face à cultura e um profundo sentimento humanista com a filiação do homem diretamente numa natureza que é simultaneamente bela e divina.

2) Cada homem vale, sobretudo, por si próprio e cada um terá de desbravar o seu próprio desenvolvimento interior. Neste sentido a educação deve ser pensada como um processo mais de orientação do que ensino, mais de acompanhamento e ajuda, do que propriamente de despejamento de programas sobre o educando.

Citando Agostinho, “Acreditando, pois, que o homem nasce bom, o que significa para mim que nasce irmão do mundo, não seu dono e destruidor, penso que a educação, em todos os seus níveis, formas e processos não tem sido mais que o sistema pelo qual esta fraternidade se transforma em domínio.” (Educação em Portugal: 92)

O princípio fundamental de que se parte é que a natureza da criança é preferível à natureza do adulto e, portanto, deve ser essa a natureza a ser potenciada. Por conseguinte, a educação deve consistir num processo de livre florescimento da criança e não da substituição da maneira natural de ser da criança por “uma natureza adulta”.

A crítica aqui implícita é a de que no tradicional sistema educativo, a pouco e pouco, se vai destruindo a criança, a sua espontaneidade, o livre viver, que nasce em cada um de nós e que, ao contrário, deverá ser na preservação dessa “natureza da criança” que se deverá partir para a construção do futuro. Nas palavras do Professor: “Resumindo, diria pensar que a natureza humana, mais do que boa é excelente; que a sociedade e nela a educação, ajudando o homem a sobreviver, o tem limitado, e muito, no melhor, que é o seu ser livre; mas que o pior passou e que todo o sofrimento e toda a treva serão apenas pesadelos finalmente em paz e luz desfeitos.” (idem: 94)

É enorme, pois, o otimismo com que Agostinho da Silva parte para a sua ideia de educação do país. Recorrendo à sua insubstituível prosa, eis o que anuncia o Projeto:

“O reino que virá é o reino daqueles que foram crucificados em todas as épocas, por todas as políticas e por todas as ideologias, apenas porque acima de tudo amavam a liberdade (…); o reino daquele Deus que viam definindo-se fundamentalmente por não obedecer a nada e a ninguém senão à sua divina natureza; e o reino que desejam para homens que não sintam obrigação alguma que não seja a de se aproximarem quanto possível da divindade de ser livre, livre no viver, livre no saber, livre no criar.” (idem: 93)


Luís Santos


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Política de Emigração – Um Projecto por conceber


CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS- UM PERMANENTE DEFUNTO EM ESTADO DE COMA

António Justo

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, apresentou à discussão pública, um anteprojecto de alteração à Lei que regula o funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Surge atrasadamente e tem a pretensão de ser apresentado na Assembleia da República em Novembro e de possibilitar novas eleições para o CCP em 2015.

O CCP é um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à Emigração e às Comunidades Portuguesas, que se reúne, bienalmente, em plenário.

Com a iniciativa o Secretário de Estado tem como objectivo elevar o número de conselheiros de 73 para 80, desejando que todos sejam eleitos por sufrágio directo e universal por mandatos de quatro anos; quer que o CCP deixe de ter presidente; quer também fazer depender o seu financiamento das receitas consulares (até ao presente o CCP era constituído por 63 representantes eleitos directamente e 10 nomeados). O Dr. José Cesário aponta para uma verba a atribuir ao CCP correspondente a 0,5% das receitas do Fundo para as Relações Internacionais, o que corresponderia a 140 mil euros.

O propósito de “fazer corresponder o universo eleitoral do Conselho das Comunidades Portuguesas ao da Assembleia da República”, é mais um empecilho para o CCP e baseia-se na esperança dos partidos portugueses de, com uma cajadada, matarem dois coelhos: a motivação pelo trabalho partidário nas comunidades portuguesas, que reverterá em favor de eleições para os deputados da emigração e do parlamento europeu; isto revela-se como uma estratégia partidária inteligente mas não virá servir a vida de associações e iniciativas integradas ou a integrar na sociedade de acolhimento. Até ao presente para poder votar bastava ter-se 18 anos e estar-se inscrito num consulado. A nova medida é mais uma medida de exploração do trabalho do emigrante: de facto o candidato ao CCP terá de motivar as pessoas a recensearem-se para as eleições da Assembleia da República sem receber um chavo de apoio por esse trabalho. Se isto não for um xeque-mate ao CCP, revelar-se-á como seu domesticador. Por outro lado, a política portuguesa não está interessada em aproximar o português do consulado; pelo contrário!

Diz querer “aumentar a responsabilização do Governo e das representações diplomáticas portuguesas nos trabalhos” do CCP. Atendendo à situação do CCP, não seria mais eficiente obrigar as representações diplomáticas a uma estratégia de aproximação das associações em vez de criar mais intermediários, pontes que se tornam em alibi para o verdadeiro encontro de administração e administrados?
A nova proposta também prevê um CCP sem presidente próprio; deste modo o CCP deixa de ser uma referência e perde toda a sua autoridade, até porque o seu porta-voz passaria a ser o Secretário de Estado (Uma estratégia muito esperta e muito característica da nossa república!). E depois, uma democracia, cada vez mais verbo-de-encher, admira-se de gerar cidadãos demasiadamente preocupados com o próprio pão!
Nos anos 80, antes da existência do CCP, os governos e algumas das suas repartições organizavam “congressos” em Portugal e também na emigração a que convidavam representantes de portugueses na diáspora, para assim auscultarem a voz da emigração. Era uma altura em que a administração portuguesa, sem experiência em questões de migração, se mostrava interessada em dialogar e ouvir personalidades e representantes associativos. Nos meados dos anos 90 desapareceu o interesse da administração portuguesa por auscultar os problemas da emigração; mostra-se , a partir daí, só interessada em formalizar um “diálogo” que queria ver só dentro das próprias fileiras administrativas. O CCP teve a pouca sorte de ser criado neste contexto pela Lei n°48/96 de 4 de Setembro. Entretanto os interesses do governo na emigração revelam-se apenas de caracter económico.

O CCP tem sido um órgão embora legal, sem consistência própria nem resultados palpáveis. Pelo que se depreende continuará a ser uma estrutura sem suporte, condenando a viver de mobilização em mobilização e a perder-se no jogo de culpa e desculpa ao serviço duma política feita em cima do joelho. Tem sido usado como instrumento adiador de esperanças. Sem base, não passa de um órgão de troca de impressões; tem tido o trabalho de uma certa formação de consciência política e de possibilitar a ordenação de fileiras a nível partidário. De resto quer-se credibilidade mas sem crédito para uma política a que falta a fé. Anda-se no jogo das escondidas e o problema é que o governo também sabe que pode substituir o trabalho do CCP pelo de um assessor de imprensa que recolha e resuma os artigos publicados na diáspora, além da convocação de um congresso ou outro, seja a nível de firmas, de políticos comunais da diáspora ou de encontros de juventude. (Não se fale já do manancial da actividade de caixeiros viajantes, em que se têm esgotado os Secretários de Estado das Comunidades).
A Política mede-nos pelo que valemos e fazemos e não pela discussão; nas últimas eleições para o CCP em 2008 só houve 12.000 votantes num universo que se quer de 5 milhões de emigrantes e luso-descendentes. Recorde-se que no mundo das comunidades portuguesas há 2.700 associações. Atendendo a esta realidade, é ingénuo queixarmo-nos do facto de o CCP não ser tomado a sério e de se encontrar reduzido à característica de alibi ao serviço dos Secretários de Estado das Comunidades, de si já sobrecarregados e com uma casa (Secretaria de Estado) que não conseguem pôr em ordem? Naturalmente que cada conselheiro vale o que vale mas só por si e pelos que o apoiam!

Enquanto representantes de emigrantes se continuarem a encostar às organizações do Estado reduzirão as suas potencialidades e repetirão, cá fora, o que a república faz lá dentro. Encontro-me desde 1980 nestas quejandas e constato que o discurso apenas se repete e a pouca diferença que tem revela-se apenas nas cores… muito empenho individual, sempre o mesmo activismo fundado no amor à camisola que se traz e ao gosto de correr. (Aquando da luta pela manutenção do Vice-consulado de Frankfurt sugeri que se ocupassem pacificamente as instalações consulares para que as acções recebessem caracter de poder e não apenas de conversa justa mas fiada; resultado: prevaleceu a conversa e com ela o encerramento do consulado. Apesar de tudo realizou-se uma manifestação em que as cortes partidárias se juntaram todas.) Tudo isto acontece porque as crianças exigem e só os grupos organizados se impõem. Na falta de eficiência fica o calor da fé onde se aquecer. Entre a razão e o sentimento de a ter, há porém distâncias infinitas.
Um outro problema grande, é o facto da imprensa portuguesa (não da emigração) se estar marimbando para a realidade da emigração e limitar a pouca informação a jornalistas de ideias já feitas. Um outro equívoco está em falar-se da realidade migrante quando nos deparamos com muitas realidades e o universo da diáspora portuguesa ser demasiado complexo para poder ser tratado por uma secretaria de Estado das Comunidades nas dimensões da nossa (só a sua vertente económica e cultural já daria pano para mangas!).

Naturalmente que é preciso apresentar caminhos alternativos aos de Lisboa; estes têm de surgir da realidade da vida das comunidades da diáspora e não de uma mera vontade política (partidária) que muitas vezes desmotiva pessoas não interessadas na cor da camisola. Infelizmente o sentimento de pertença a uma cor política ainda é motivo de segregação no organigrama partidário inferior. Os emigrantes portugueses na Europa não souberam libertar-se duma politiquice partidária bebida levianamente no 25 de Abril. A cor política da camisola tem determinado a confiança entre as pessoas, impedido, muitas vezes, a sinergia de esforços e o estabelecimento de redes consistentes; em termos de diáspora, a cor política só deveria ser relevante, a nível de integração política, nas comunidades de recepção. Uma comunidade portuguesa integrada nos partidos alemães e nas suas associações de cultura prestaria serviços incalculáveis para todos, a nível de futuro. Este deveria ser o centro de gravidade duma política de portugueses emigrados.

O problema mais grave com que a emigração se depara é o facto de, em Portugal, haver um ressentimento recalcado contra os emigrantes. A ausência dos 5 milhões de Portugueses, nos meios de comunicação social em Portugal, é o maior problema e este está na base das atitudes duma política de emigração comum a todos os governos. Neste contexto não haverá deputados nem conselheiros que tenham autoridade nem audiência justa.

O problema cívico crucial dos portugueses da diáspora situa-se na manutenção e fomento de associações. Deste não se fala porque seria de interesse nacional mas este transcende os interesses políticos. O trabalho mais eficiente revelar-se-á no empenho da criação de associações e iniciativas nas comunidades de inserção. Da inserção dos portugueses nas comunidades receptoras, seja a nível económico, cultural ou político, se aproveitarão os emigrantes e se aproveitará Portugal porque em cada associação em que se encontre um emigrante luso lá se encontrará um embaixador de Portugal.

Boa noite CCP, bom dia associações; a noite é longa e o dia ainda por levantar!


António da Cunha Duarte Justo
(Antigo Conselheiro Consultivo do Vice-consulado de Frankfurt)



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

D'ARTE - CONVERSAS NA GALERIA (2ª. SÉRIE)

AUTO-RETRATO COM CADEIRA E VASO
 


LUÍS DELGADO

Esmalte acrílico sobre MDF 61 x 70
 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Vidas Lusófonas


O rigor histórico não está condenado à prosa de notário, 
é possível conviver com as figuras do passado. Saber o que foi, pode ajudar-nos a talhar o que será.  


recolhe os poemas que


vai escrevendo enquanto sobe até 


onde já moram 162.

Naquela casa
tudo está  a acontecer,
cada vida / cada conto.
Por isso já recebeu
mais de 27,4 milhões de visitas.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

A COMUNIDADE DO VALE DA ESPERANÇA - UMA CRÓNICA



Era bom de mais para ser verdade, se bem que o que está a acontecer seja algo que seria de esperar. Pessoalmente sempre tive as maiores reservas a respeito do General Spínola, cujas motivações individuais desde a primeira hora me pareceram muito distantes do que se pode adivinhar no programa democratizador do Movimento das Forças Armadas que, não sendo uma unidade monolítica, comporta indivíduos com diferentes opções políticas e sociais que naturalmente têm confrontado pontos de vista e propostas precisamente a partir do que vai prevalecendo a linha orientadora da direcção do movimento que, por um lado, tem limitado os poderes e eventuais iniciativas da Junta de Salvação Nacional e, por outro lado, acaba por lhe impor a contemporização com as correntes que vão dando o tom ao discurso das autoridades militares e o Primeiro-Ministro que, do anterior, transitou para o novo governo provisório, falou inclusivamente de um caminho para o socialismo. Spínola está cheio de tiques e truques cesaristas e possivelmente viu-se como uma espécie de caudilho que seria o melhor garante da evolução social e política sem grandes convulsões. Mas não me parece que isso fosse conciliável com a pluralidade que a democracia pressupõe e acaba por implicar e, pelos vistos à primeira oportunidade, o homem mostra que não está disposto a acatar outro rumo que não seja aquele que ele acha melhor para o país. Seja como for, uma coisa é o que tem sucedido até aqui, as lutas políticas pelo poder, quer entre os partidos que procuram tirar vantagens uns em relação aos outros no seu relacionamento com as figuras castrenses para exercerem maiores influências nas políticas a seguir, quer entre aqueles que, por sua vez, procuram abrir espaço à promoção das matrizes ideológicas com que individualmente simpatizam. Ora isso é uma coisa e não seria nada de mais e tanto menos quanto tivermos em conta que estamos a viver a invulgaridade de um período revolucionário. Aquilo que desta vez se viu já é uma coisa diversa e é aqui que termina o estado de graça em que o novel regime tem vivido e oxalá que isso não se aplique igualmente à paz que tem prevalecido entre nós e que esteve em risco de se perder. A verdade é que a sociedade portuguesa radicalizou-se um pouco mais e pela primeira vez depois de Abril, vi populares na rua empunhando armas e manifestando a vontade de as usar. Ao certo, a larga maioria dos portugueses nem deve ter percebido muito bem o que se passou. Na Vila, as pessoas mais à direita falam de uma inventona; à esquerda, com os comunistas à cabeça, embora seguidos pelos socialistas e, em tal verificação, secundados pelos pequenos grupos mais extremistas, especialmente os que se reclamam do marxismo, falam em tentativa de golpe de estado. Com certeza, ninguém sabe, pelo menos por enquanto. Ele houve entre os espectadores de uma tourada, no Campo Pequeno, na passada quarta-feira, a expressão pública do repúdio por Vasco Gonçalves que foi vaiado à entrada, a par com uma forte demonstração de apoio ao então ainda Presidente, o General António de Spínola. Até aí nada de grave pois creio que isso mais não é que uma decorrência da liberdade de expressão e de escolha. Acontece que terá sido convocada uma manifestação de apoio ao segundo, em Lisboa, no passado dia vinte e oito que, alegadamente, seria o ponto de partida para uma marcha sobre o poder a fim de reforçar os poderes do general do monóculo e colocar um ponto final ao que ele, no seu discurso de demissão, apresentou como forças contrárias aos interesses nacionais. Certo e sabido é que na madrugada desse mesmo dia, militares e civis levantaram uma série de barricadas à volta da capital do império que, inclusivamente, chegaram até aqui, obrigando todos os condutores a pararem e, em acto contínuo, revistando toda e qualquer viatura à procura das armas que se dizia terem como destino as mãos e intenções dos manifestantes para as usarem no dito e alegado assalto ao poder. Sinceramente achei tudo muito estranho e que tenha sido noticiado, não foi encontrado qualquer armamento sequer que permitisse sustentar a tese de que falei e muito menos ainda o arsenal que necessariamente teria que aparecer se os propósitos fossem exactamente aqueles que foram descritos. No entanto, depois de tudo o que ocorreu, a abdicação do General Spínola seria inevitável e com a entrega do cargo ao General Costa Gomes, tudo indica que terá ganho a ala que mais aposta num futuro muito em torno do socialismo, para Portugal. Aqui foi um pandemónio, com um dos líderes da secção que os comunistas decidiram abrir na Vila a acordar toda a gente com morteiros, a fim de reunir os camaradas, nas suas próprias palavras que estivessem dispostos a pegarem em armas para travarem o golpe reaccionário que estaria em curso. E foi na praça do bairro dos trabalhadores que o povo se reuniu e de onde partiu para cortar a estrada nacional, via em que forçosamente terá que passar o trânsito que destes lados pretenda dirigir-se à capital. As mesmas gentes que hoje, apesar de ser Domingo, responderam positivamente ao apelo do Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves para oferecerem um dia de trabalho cívico ao país e por aí andam limpando caminhos e bermas, ou lavando os monumentos da falta de educação daqueles que não percebem que não os deveriam encher com pichagens, por mais acertadas e urgentes que estas sejam. Não posso é deixar de reconhecer que isto representa a fractura irremediável da sociedade portuguesa que opõe aqueles que estão do lado da revolução, àqueles que são apelidados de fascistas e que se afirmam contra e que, a partir daqui, passarão a dar-lhe luta aberta o que não augura nada de bom. Não estou a ver alguém como Spínola a contentar-se com o cantinho de insignificância de uma vida privada de silêncio político. O homem que escreveu um livro em que apresentou uma visão para Portugal e que a si próprio se vê na pele de quem tem uma missão a cumprir, precisamente a de aplicar essa óptica que a seu ver fomentará uma acção redentora, um sujeito destes, com toda a certeza, não quererá remeter-se a um papel de mero espectador. Quer isto dizer que até aqui temos passado pela agitação normal num processo de mudança de regime, especialmente tendo isso partido de um golpe de estado por via da força. A partir de agora, o novo poder saído da revolução de Abril, terá, ele próprio, a oposição feroz de todos aqueles que, de alguma maneira, querem regressar às águas calmas do antigamente. Vamos a ver o que isso vai dar e só faço votos para que não venha a desaguar numa guerra civil. Seria uma tragédia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (50)


Afrodite, António Tapadinhas, 2008
Óleo sobre Tela, 120x120cm


Se a vida fosse um livro, eu só teria escrito o princípio e o fim; para nós ficava todo o enredo...


Se a vida fosse uma partitura a parte dos silêncios seria por nossa conta... Pensando bem, o silêncio é muito eloquente!

 

António Tapadinhas



domingo, 13 de outubro de 2013





(In) Evolução


Enquanto assistimos ao avanço dos desertos,

somos informados da inevitável subida das águas.



De todas as maneiras se esgotam os recursos.

Da Terra.

                                                                                                                                                             

                                                                                                                                           Manuel João Croca




Foto: Edgar Cantante

sábado, 12 de outubro de 2013

Cantiga de uma paisagem


Começar novamente
O chilrear animal
Tenho a cabeça doente
E sobre o peito um avental

Correr sob escolta
O bosque noturno
As almas em volta
Da cama onde durmo

Criar fantasia
Prever o futuro
Ao longo do dia
Pensei como um burro

Comigo cantando
O sol que se pôs
A árvore nasceu
E deu fruto: a minha voz

Trago de mim
Um lenço dobrado
Desdobro-o assim
Abraço o meu escarro

Fito a paisagem
Lá longe o farol
Nas asas do mundo
Bebendo sumol

Sou toda a vida
Que me quer presente
Sonhar acordado
É ser consciente

Tudo o que sinto
É mera doença
Tudo o que penso
Dita juiz a sentença


 Diogo Correia


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Livros d'África














RYSZARD KAPUSCINSKY  (1932, Pinsk – 2007, Varsóvia)

Nas últimas semanas que antecederam o 11 de Novembro de 1975, data da independência de Angola, este polaco era o único jornalista estrangeiro presente naquele futuro país. Acompanhou e registou a partida dos portugueses, o quotidiano de Luanda com a batalha de Kifangondo, ali tão perto, a progressão do exército sul-africano até Benguela, a resistência das mal armadas mas motivadas FAPLA, a chegada dos militares cubanos e, finalmente, a proclamação de independência pelo presidente Agostinho Neto.
A este registo, que é dos melhores que li até hoje sobre os últimos dias da descolonização, chamou “MAIS UM DIA DE VIDA – ANGOLA 1975” e foi publicado pela Editora Campo das Letras em 1997. Salman Rushdie disse sobre esta obra: “através da sua mistura extraordinária de reportagem e arte, chegamos tão perto quanto é possível, através da leitura, do que ele chama a imagem incomunicável da guerra.”

Quando pegamos neste livro só o largamos depois de lido. A sua escrita é quase cinematográfica e essa é uma das particularidades que nos prende. A descrição da “cidade de madeira”, como ele chama a Luanda por altura do frenesim do encaixotamento dos bens dos colonos, é notável.Alguns caixotes eram tão grandes como casas de férias, porque se tinha estabelecido, de um momento para o outro, uma escala social de caixotes. (…) As pessoas deixaram de pensar em termos de casas e apartamentos e falavam somente de caixotes. Em vez de dizerem: - Tenho que ir ver o que tenho em casa – diziam: - Tenho que ir passar revista ao meu caixote.”. Essa cidade, um dia, fez-se ao largo e só descansou na Europa…
Luanda ficou vazia. “Os cães estavam vivos. Viam-se cães de todas as raças, (…) abandonados, perdidos, percorriam a cidade em grandes matilhas, à procura de comida.”. Essas matilhas persistiram enquanto a tropa portuguesa as alimentou com rações da NATO. “Um dia desapareceram. Acho que seguiram o exemplo humano e deixaram Luanda, já que nunca deparei com um cão morto. (…) Depois do êxodo dos cães, a cidade caiu em rigor mortis. Por isso, decidi ir para a linha da frente.”.

Esta é uma obra (ainda) de urgente leitura.


Tomás Lima Coelho