sábado, 19 de outubro de 2013

Agostinho da Silva e a “Educação de Portugal”


Agostinho da Silva deixa o Brasil em 1969, onde viveu perto de 25 anos. No ano seguinte ao do seu regresso a Portugal, em 1970, escreve “Educação em Portugal”, livro onde se propõe pensar num projeto educacional para o país.  

Dois grandes princípios estruturais enunciam o ponto de partida desta sua proposta:

1) Nascemos e crescemos “estrelas de ímpar brilho, sem que o mundo em nada nos melhore”, o que significa afirmar o valor primordial da natureza face à cultura e um profundo sentimento humanista com a filiação do homem diretamente numa natureza que é simultaneamente bela e divina.

2) Cada homem vale, sobretudo, por si próprio e cada um terá de desbravar o seu próprio desenvolvimento interior. Neste sentido a educação deve ser pensada como um processo mais de orientação do que ensino, mais de acompanhamento e ajuda, do que propriamente de despejamento de programas sobre o educando.

Citando Agostinho, “Acreditando, pois, que o homem nasce bom, o que significa para mim que nasce irmão do mundo, não seu dono e destruidor, penso que a educação, em todos os seus níveis, formas e processos não tem sido mais que o sistema pelo qual esta fraternidade se transforma em domínio.” (Educação em Portugal: 92)

O princípio fundamental de que se parte é que a natureza da criança é preferível à natureza do adulto e, portanto, deve ser essa a natureza a ser potenciada. Por conseguinte, a educação deve consistir num processo de livre florescimento da criança e não da substituição da maneira natural de ser da criança por “uma natureza adulta”.

A crítica aqui implícita é a de que no tradicional sistema educativo, a pouco e pouco, se vai destruindo a criança, a sua espontaneidade, o livre viver, que nasce em cada um de nós e que, ao contrário, deverá ser na preservação dessa “natureza da criança” que se deverá partir para a construção do futuro. Nas palavras do Professor: “Resumindo, diria pensar que a natureza humana, mais do que boa é excelente; que a sociedade e nela a educação, ajudando o homem a sobreviver, o tem limitado, e muito, no melhor, que é o seu ser livre; mas que o pior passou e que todo o sofrimento e toda a treva serão apenas pesadelos finalmente em paz e luz desfeitos.” (idem: 94)

É enorme, pois, o otimismo com que Agostinho da Silva parte para a sua ideia de educação do país. Recorrendo à sua insubstituível prosa, eis o que anuncia o Projeto:

“O reino que virá é o reino daqueles que foram crucificados em todas as épocas, por todas as políticas e por todas as ideologias, apenas porque acima de tudo amavam a liberdade (…); o reino daquele Deus que viam definindo-se fundamentalmente por não obedecer a nada e a ninguém senão à sua divina natureza; e o reino que desejam para homens que não sintam obrigação alguma que não seja a de se aproximarem quanto possível da divindade de ser livre, livre no viver, livre no saber, livre no criar.” (idem: 93)


Luís Santos


2 comentários:

aluzdascasas disse...

Esta proposta de Agostinho continua viva, diria mais: é a nossa condição de vida enquanto povo, enquanto habitantes deste planeta.

luis santos disse...


Pois, é exatamente o que também sinto.

Beijinho.