Agostinho da
Silva deixa o Brasil em 1969, onde viveu perto de 25 anos. No ano seguinte
ao do seu regresso a Portugal, em 1970, escreve “Educação em Portugal”, livro onde se propõe pensar num projeto educacional
para o país.
Dois
grandes princípios estruturais enunciam o ponto de partida desta sua proposta:
1)
Nascemos e crescemos “estrelas de ímpar brilho, sem que o mundo em nada nos
melhore”, o que significa afirmar o valor primordial da natureza face à cultura
e um profundo sentimento humanista com a filiação do homem diretamente numa
natureza que é simultaneamente bela e divina.
2)
Cada homem vale, sobretudo, por si próprio e cada um terá de desbravar o seu
próprio desenvolvimento interior. Neste sentido a educação deve ser pensada
como um processo mais de orientação do que ensino, mais de acompanhamento e
ajuda, do que propriamente de despejamento de programas sobre o educando.
Citando
Agostinho, “Acreditando, pois, que o homem nasce bom, o que significa para mim
que nasce irmão do mundo, não seu dono e destruidor, penso que a educação, em
todos os seus níveis, formas e processos não tem sido mais que o sistema pelo
qual esta fraternidade se transforma em domínio.” (Educação em Portugal: 92)
O
princípio fundamental de que se parte é que a natureza da criança é preferível
à natureza do adulto e, portanto, deve ser essa a natureza a ser potenciada.
Por conseguinte, a educação deve consistir num processo de livre florescimento
da criança e não da substituição da maneira natural de ser da criança por “uma
natureza adulta”.
A
crítica aqui implícita é a de que no tradicional sistema educativo, a pouco e
pouco, se vai destruindo a criança, a sua espontaneidade, o livre viver, que
nasce em cada um de nós e que, ao contrário, deverá ser na preservação dessa
“natureza da criança” que se deverá partir para a construção do futuro. Nas palavras do Professor: “Resumindo,
diria pensar que a natureza humana, mais do que boa é excelente; que a
sociedade e nela a educação, ajudando o homem a sobreviver, o tem limitado, e
muito, no melhor, que é o seu ser livre; mas que o pior passou e que todo o
sofrimento e toda a treva serão apenas pesadelos finalmente em paz e luz
desfeitos.” (idem: 94)
É enorme, pois,
o otimismo com que Agostinho da Silva parte para a sua ideia de educação do país. Recorrendo à sua insubstituível prosa, eis o que anuncia o Projeto:
“O reino que virá é o reino daqueles que foram crucificados
em todas as épocas, por todas as políticas e por todas as ideologias, apenas
porque acima de tudo amavam a liberdade (…); o reino daquele Deus que viam
definindo-se fundamentalmente por não obedecer a nada e a ninguém senão à sua
divina natureza; e o reino que desejam para homens que não sintam obrigação
alguma que não seja a de se aproximarem quanto possível da divindade de ser
livre, livre no viver, livre no saber, livre no criar.” (idem: 93)
Luís Santos
2 comentários:
Esta proposta de Agostinho continua viva, diria mais: é a nossa condição de vida enquanto povo, enquanto habitantes deste planeta.
Pois, é exatamente o que também sinto.
Beijinho.
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