sábado, 30 de maio de 2020

Festa do Espírito Santo, adiada


30ª Festa do Espírito Santo, adiada na Arrábida pela Criança, pela Vida
Domingo de Pentecostes, 31 de Maio de 2020


     Brancas flores abrindo nos verdes ramos de mirto, crescem junto às silvas que também resguardam a fragilidade das pétalas no viçoso arbusto, porque a Natureza reúne os elementos em simbiose, tudo é útil, asas de borboletas bem conhecem o efémero entre as melodias dos pássaros e a sombra dos quercus e do folhado. Só a Natureza pode superar “o vírus”, enquanto os humanos, por imperativo de preservar a saúde, devem manter o distanciamento uns dos outros (normas da DGS/OMS); se afastados fisicamente, mais urgente é a aproximação espiritual. Assim, não convocamos para o encontro presencial na Arrábida, tal como temos realizado anualmente desde Maio de 1991, aguardaremos o momento mais propício em que o Divino conceda o poder à Inocência na Coroação das Crianças, nas Trovas para o Menino Imperador, de António Quadros, em todas as vozes, e a partilha do alimento no Bodo, a Confraternização que tanto almejamos...
    Lembramos o Evangelho segundo S. João, Jesus anuncia: “Quando vier o Espírito da Verdade, Ele guiar-vos-á para a verdade total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos-á o que há-de vir.” (Jo 16,14)      
   Convocamos, assim, para a 30ª Festa Arrábida em Espírito Pentecostal, não presencial, não virtual, mas real em Espírito evocando a Liberdade e unidade dos Seres na diversidade, tendo os valores que sempre enaltecemos: respeito mútuo, diálogo, partilha e entreajuda como acções diárias, agora resistindo para superar grandes obstáculos. Cientes de que nos situamos no “Sonho” e que este vencerá, no seu espaço, o terror dos tempos de pandemia.
    Agostinho da Silva bem afirmou que “o ideal da Humanidade, um ideal muito importante hoje na História, é passarmos do previsível ao imprevisível.” Cumpre-nos aquilo que está ao nosso alcance, visto que o previsível coloca a saúde humana face às piores adversidades com os subjacentes problemas sócio-económicos mundiais. Acautelemos os riscos, salvaguardando a Saúde em primeira prioridade e maior bem desejável para todos, na Esperança de que melhores circunstâncias advirão num futuro que depende da acção de cada indivíduo.
    Acreditamos, tal como referiu Agostinho da Silva, na “Revelação que os homens não têm querido ou não têm podido entender, de que a criança deve ser o modelo de vida e de que por ela se estabelecerá na Terra o Reino do Espírito Santo” (A.S. Considerando o Quinto Império, 1960), puro e eterno, força de transformação positiva, criativa e universal, em que cada um pode cooperar.
   
O Convento Sonho e a Associação Agostinho da Silva convidam todos os amigos e amigas, de todas as idades, a participar em harmonia na manhã do Domingo de Pentecostes, 31 de Maio de 2020, entre as 11h e 12h:
- Cada um no lugar possível, em meditação aberta à aceitação do outro, do diferente, em união de Pensamento pela preservação da Vida, pela Paz e Fraternidade.
- Nessa hora de comunhão, propomos, que cada um registe: uma palavra, uma frase, um desenho, um símbolo, um som, uma foto, ... algo criativo. Sugerimos que nos envie por e-mail, nesse dia; reuniremos as dádivas para posterior partilha e divulgação.


Asas à Criatividade! Pela continuidade da celebração do Divino Espírito Santo, grata, Irmã-servidora  
Maurícia da Conceição   
                                                                                                                                                                                                                

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Mer


Maria Eduarda da Rosa
texto e foto



Sinfonia do vento

O vento cavalga louco
Levando com ele a bailar
Os ramos das árvores.
As folhas da bananeira
Rasgam-se em dentes
De pentes gigantes.
Todo poderoso, ele vai tocando
Vigorosamente toda a natureza.
Quem  se atreverá a contrariá-lo
Mesmo por vezes a custo
Com o som mais estridente
Do ímpeto violento de cada rajada?!
Tudo se agita com a sua brutal força.
Tudo se sacode ao seu ritmo.
Os pássaros curvam-se no balouço dos galhos.
O meu coração, porém, está inquieto.
Mas que adianta resistir a este soberano
Sopro cósmico que penetra, parte e purifica?!
Dou-lhe então entrada no meu ser
E deixo-o encher e soprar no vazio de mim
Caixa de ressonância universal.

Mer, 2020.05.12

terça-feira, 26 de maio de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Que fizemos nós de um mundo em que deixámos que a esperança se resignasse à distância do dia seguinte? 
O futuro deveria merecer o melhor de cada um de nós.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (397)



Emanuel Leutze, Washington Crossing the Delaware, 1851
Óleo sobre tela, 378,5 cm x 647,7 cm

Nascimento: 24 de Maio de 1816, Württemberg Alemanha
Morte: 18 de Julho de 1868, Washington, D.C. Estados Unidos

A representação de Leutze do ataque de Washington aos hessianos [1] em Trenton na manhã de 26 de Dezembro de 1776 foi um grande sucesso na América e na Alemanha. Leutze iniciou sua primeira versão deste assunto em 1849. Foi danificado em seu estúdio por um incêndio em 1850 e, embora restaurado e adquirido pela Kunsthalle Bremen, foi novamente destruído em um bombardeio em 1942. Em 1850, Leutze iniciou esta versão de o assunto, que foi exposto em Nova York em Outubro de 1851. Nessa mostra, Marshall O. Roberts comprou a tela pela enorme quantia de US $ 10.000. Em 1853, M. Knoedler publicou uma gravura. Existem muitos estudos para a pintura, assim como cópias de outros artistas.

[1] Os Hessianos foram os auxiliares alemães do século XVIII contratados para o serviço militar pelo governo britânico. Eles adquiriram o nome do estado alemão de Hesse-Kassel. Os britânicos contrataram tropas Hessianas para o combate em vários conflitos do século XVIII, mas ficaram mais associados às operações de combate na Guerra da Independência dos Estados Unidos (1775-1783).

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas



quarta-feira, 20 de maio de 2020

Manuel (D'Angola) de Sousa


“Enfiado Numa Garganta Profunda De Alienígena Vindo De Algures Lá De Baixo” 

Enfio-me pela garganta profunda dos alienígenas a baixo
Entupo-lhes as traqueias com hélio vindo directo do Sol
Cubro-lhes os rostos azuis com bronzeadores castanhos

Penetro milhões de almas simultâneas ao mesmo tempo
Vou até ao mais fundo do âmago dos segredos ocultos
Desligo lá dentro o sistema de ar-condicionado com calor

Abandono a nave espacial ainda a navegar a meio caminho
Dou o salto com um paraquedas feitos com sêda de meias
Jogo à roleta russa ou a outra qualquer das tríades chinesas

Enfio o dedo maior no tinteiro sem tampa para o refrescar
Espreito tão-somente com um dos olhos para não cegar o outro
Vejo tudo muito foscamente ao ponto de não me ver ao espelho

Cubro-me com um saco de cem quilos de palha feita à mão
Descalço-me das chinelas de borracha e calço umas socas
Bato a porta atrás de mim assim que saio em direcção à Lua

Troco tudo o que me diz respeito e substituo por material férreo
Com meias de palha-de-aço nos pés enfrento o orgulho próprio
Monto e desmonto numa correria desenfreada um bico-de-obra…

Perco eu também uma parte substancial do juízo sem me recordar a onde!...

Escrito em Luanda, Angola, a 8 de Maio de 2020, por Manuel (D’Angola) de Sousa, em Homenagem aos nossos Irmãos Extraterrestres, estejam eles lá onde estiverem e venham eles de lá de onde vierem!...

“Cá estaremos para os receber, a qualquer hora do tempo, seja amanhã ou depois ou para daqui a alguns anos ou para quando isso vier a acontecer!...”

terça-feira, 19 de maio de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E tudo se encaminha para que a vida familiar reate a rotina própria do período escolar. 
Ontem desloquei-me ao Pinhal Novo para pagar a piscina no mês de Setembro e fiquei a saber que as aulas de natação, devido a problemas logísticos, só começarão no próximo fim-de-semana e em conversa telefónica com a Sofia, a Professora de Ginástica, a Luísa apurou que o regresso está marcado para a próxima quarta-feira, embora aqui deva vir a acontecer uma alteração pois a Matilde, de acordo com o aconselhamento da treinadora, deverá passar para a classe seguinte, a da pré-competição; não só de nada lhe adiantará repetir os mesmos exercícios, como o facto de não ter que enfrentar novos desafios pode muito bem contribuir para a desconcentrar e desmotivar. 

Vamos a ver como o pardalito se integrará no grupo dos miúdos mais velhos. 

Para além disso, amanhã ou na quarta-feira deveremos ficar a saber quando serão os dias das apresentações do novo ano lectivo, cujas aulas, propriamente ditas, tudo indica já não virem a começar nesta próxima semana. 



A Margarida lá regressou satisfeita com as férias no Porto e também por nos voltarmos a ver. 


Está mais crescido, o piolhito. 



A Patrícia passou no exame de Anatomia, transitando assim para o quarto ano de Medicina sem qualquer cadeira em atraso. 
Está toda contente e, na companhia do namorado, passarão os próximos dias aqui em casa para que possam passear por Lisboa. 

O rapaz que se chama Jorge e passou para o quinto ano do mesmo curso com todo currículo cumprido, pareceu-me ser educado e sensato o que é uma boa nota. 


Faço votos para que se entendam e sejam felizes. 



E eu li de uma assentada um excelente livro sobre as passagens de Vénus diante do Sol e a história do conhecimento e observação do fenómeno. (1) 



Mas não me livrei de fazer a volta habitual da festa pela Moita com os meus pequenos amores. 

A Margarida já não quis andar em nenhum dos divertimentos, virada que estava para experimentar algumas diversões para idades mais avançadas. 
Ganhou a Matilde que assim teve um maior número de voltas nos carrinhos de choque infantis. E não é que o pardalito já se esgueira com toda a facilidade dos maiores engarrafamentos, como se passasse todos os dias a treinar aquela condução? 



Mesmo que não o sentíssemos, o calor da noite seria anunciado pelos insectos. 


Alhos Vedros 
 12/09/2004 


NOTA 

(1) Crato, Nuno, Reis, Fernando e Tirapicos, Luís, TRÂNSIRTO DE VÉNUS 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Crato, Nuno, Reis, Fernando e Tirapicos, Luís, TRÂNSITO DE VÉNUS, Prefácio de Steven J. Dick, Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 2004

segunda-feira, 18 de maio de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (396)


The Family of the Artist, Jacob Jordaens 
Oil on canvas, 181 x 187 cm


Nascimento a 19 de Maio de 1593 em Antuérpia
Morte a 18 de Outubro de 1678 em Antuérpia

Jacob Jordaens nasceu em 19 de Maio de 1593, o primeiro dos onze filhos, para o rico comerciante de linhos Jacob Jordaens Sr. e Barbara van Wolschaten em Antuérpia. Pouco se sabe sobre a educação no início do Jordaens. Pode-se supor que ele recebeu as vantagens da educação normalmente fornecida para crianças de sua classe social. Esta hipótese é apoiada por sua caligrafia clara, a sua competência em francês e em seu conhecimento da mitologia. Jordaens teve uma familiaridade com temas bíblicos é evidente em suas muitas pinturas religiosas, e sua interação pessoal com a Bíblia foi fortalecida por sua posterior conversão do catolicismo para o protestantismo.

Os seus quadros versam principalmente temas populares e de mitologia. Foi aprendiz de Adam van Noort, tal como Rubens, por quem se deixou influenciar.

O tratamento da luz em claro e escuro é uma das suas características sendo considerado um dos maiores pintores flamengos do seu tempo.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Sobre as origens de Alhos Vedros


postagem de Luís Santos


A propósito de uma troca de palavras no Facebbok sobre as origens de Alhos Vedros:

EU:
Qual o significado de Alhos Vedros?
A sua etimologia não é pacífica. Diretamente do latim dá um nome pouco compreensível: alius=alhos; vetus=velhos - alhos velhos(?). Indo aos latinistas, Agostinho da Silva definiu como Homens Velhos, o ex-Padre de Alhos Vedros, Padre Carlos, definiu em livro seu como Outro Velho (explicitando "outro" como um proprietário de terra"...).
E vós, como a definem?

JOÃO ALMADA SOUSA GASPAR:
alhos e bugalhos

1. "alhos" é a designação de alguns topónimos curiosos, pela confusão que podem criar com o alho das cozinhas. a questão é que essa pretensa etimologia não me convence, dada a ubiquidade da planta em causa.
alius, em latim significa "outro", "alguém que não é dos nossos", "estrangeiro", "de fora de aqui", "de fora parte", "de outro lado", "de outro lugar".
coisa que nem sequer seria de estranhar numa região que sempre conheceu repovoamentos por "gente de fora".
a palavra latina alius//aliunde entronca numa raiz indo-europeia que deu em grego allòs ("outro") e no celta allo (o numeral "dois" e o adjetivo "diferente", "outro", "segundo"). assim, não é de estranhar a presença de topónimos franceses de origem celta como "Col d'Allos, "La Foux d'Allos", "Val d'Allos".

2. mas outra explicação pode ser encontrada no latim alodis, que deu Alleu, Alleux (Fr.) na Toponímia Francesa, e tem sido associado tamém à etimologia de Allos (Fr.): trata-se de uma propriedade, ou "alodio", livre das obrigações da feudalidade, sem encargos nem direitos senhoriais, o que não deixa de ser, na qualidade de excepção a uma regra, uma excelente razão para ter ficado cristalizada sob a forma de topónimo, tal como "Foros". esta explicação contém, no entanto, algumas dificuldades de natureza fonética, pelo menos no nosso idioma.
sendo assim, qual a etimologia mais adequada para topónimos raros, como "Alhos Vedros" e "Sernache dos Alhos"?
os topónimos "Alli", "Allin", "Allo", Alloz" ocorrem em Navarra. e All na Catalunha.
o topónimo "Alhos Vedros", se se tratar de "estrangeiros velhos", de duas uma: ou indica que se trata de "gente que veio de fora antes de outras", ou indica que, na época em que se dizia "vedros" em lugar de "velhos", haveria outro povoado com o nome de "Alhos", menos antigo. e significa também que os "alhos" já eram "velhos" nessa época.
quanto a "Sernache dos Alhos", o cheiro do condimento popular acabou por reduzir o nome para apenas "Sernache".
porém, se a etimologia for alodium, os "estrangeiros" saem de cena, ficando apenas uma realidade rústica medieva do que terá sido uma ou mais que uma "propriedade livre".

EU:
Caro João Gaspar. Muito obrigado pela lição. Das mais completas sobre o tema que li/ouvi até hoje. Relembro que no texto que publiquei fiz alusões a comentários de Professores ilustres como Agostinho da Silva (ainda que breves), ou Padre Carlos Póvoa Alves, o que me parece que enriquece o elogio.

Soa-me bem, porque faz algum sentido, quando diz que "alius, em latim significa "outro", "alguém que não é dos nossos", "estrangeiro", "de fora de aqui", "de fora parte", "de outro lado", "de outro lugar"...

Devo dizer-lhe que não sei em que contexto aparece a designação "Alius Vetus", pois que tenho ideia que, sem certeza alguma, as origens de Alhos Vedros parecem remeter para tempos de início da nacionalidade, ou pelo menos, para um contexto de confronto entre mouros e cristãos. Digo isto porque, nos resultados das pesquisas arqueológicas não existem vestígios de ocupação árabe do território, embora haja quem sustente que a Igreja Matriz terá sido construída em cima de uma mesquita.

A outra definição que também me faz sentido, aproxima-se da que é dada pelo Padre Carlos quando diz que "alliu", em derivação francesa, tem o sentido de outro (proprietário) que não entra nos reguengos (terras do rei), ou de outros domínios senhoriais.

Enfim, não tenho conhecimentos suficientes para mais apurar das suas palavras, mas creio que a sua contribuição já é muito significativa para que outros mais especializados no assunto do que eu, possam dizer também de sua justiça.

ANA MARIA SANTOS:
Luís, também já ouvi essa hipótese de a igreja ter sido construída em cima de uma mesquita. Isso levou-me já a pensar, se Alhos não viria de alguma palavra árabe. Mas não tenho conhecimentos para desenvolver a ideia.

EU:
Um dos mais referenciados historiadores de Alhos Vedros, José Manuel Vargas, a esse propósito só nos dá uma referência que é a existência de uma quinta que se chama Alfeiram e que parece ser palavra proveniente do árabe.

Por outro lado, creio que houve confrontos entre mouros e cristãos em Palmela e existem vestígios árabes por perto. Por isso não seria de admirar que também andassem por aqui, num território onde se encontraram vestígios arqueológicos que datam ao Paleolítico...

A lenda da Nossa Senhora dos Anjos, padroeira de Alhos Vedros, refere um confronto em AV com mouros vindos de Palmela e que, por milagre, foram derrotados pelo povo que estava na igreja, num Domingo de Ramos, e que com os próprios ramos derrotaram os invasores...🙂

Mas falar-se da lenda da Senhora dos Anjos, e que bom hoje começar o dia a falar nela (hoje 13 de maio), é um pouco como falar-se da lenda da igreja ter sido construída em cima de uma mesquita. Vale o que vale.

Por outro lado, a história da Igreja Matriz é um pouco como a história de Alhos Vedros, sabe-se que já existia em 1298, há mais de 700 anos, a partir do registo escrito mais antigo que a refere, mas antes disso não se sabe mais.

Talvez que estudando mais em pormenor a ocupação árabe da península de Setúbal se consigam cruzar alguns acontecimentos com a história de Alhos Vedros e, com as suas desconhecidas origens que seria bom de acrescentar ao que já sabemos.

terça-feira, 12 de maio de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O DIA DA INFÂMIA

Faz hoje três anos que, sensivelmente por esta hora, através da TSF ouvi a notícia do choque de um avião comercial com uma das Twin Towers, no que aparentava ser um terrível acidente sem qualquer explicação imediata. 

Era o dia do feriado concelhio e eu estava em casa com os meus anjinhos, preparando-me para iniciar a última página do diário da Margarida relativo ao primeiro ano de escolaridade. 
Foi até a Margarida que me chamou a atenção para o que se estava a passar e depois de escutar o que vinha da rádio, sintonizei a CNN para mais esclarecimentos a respeito de acontecimento tão dramático. 

Lembro-me como demorei algum tempo a perceber o que estava a suceder e cheguei a ver em directo um dos aviões, na sua viagem fatídica e criminosa, pensando estar a assistir à repetição do presumível acidente aéreo. 

Até que pelas reportagens compreendi que a nação mais poderosa do planeta estava a sofrer no seu próprio território um ataque de grandes proporções a todos os pontos simbólicos e institucionais do seu poderio económico e político, ou seja, os locais onde se sediam os organismos representativos da sua existência enquanto estado independente. 
Como veio a verificar-se pouco depois, outras aeronaves caíram sobre o Pentágono e outra que, tudo assim o indica, se encaminhava para a Casa Branca ou o Capitólio, ter-se-á despenhado no trajecto por acção da resistência dos passageiros. 

Aquilo que tinha começado por ser um lamentável acidente, tinha todos os contornos de uma declaração de guerra. 


Mas a pergunta era, da parte de quem? 

E logo tive a intuição de suspeitar da Al-Qaeda de Bin Laden, embora não me tenha dado imediatamente conta de ter sido aquele acto criminoso e hediondo o começo da guerra mundial que hoje decorre, entre aquela constelação terrorista e o mundo ocidental, particularizado na aliança anglo-americana a que se uniu a Austrália e um conjunto de outros países. 


Dias depois foi o discurso de George W. Bush declarando guerra implacável ao terrorismo, chamando logo aí a atenção para o facto de vir a tratar-se de um conflito longo e difuso, para o que seria necessária muita paciência e perseverança e identificando o primeiro alvo no regime talibã do Afeganistão. 


Infelizmente o mundo Ocidental não se apresentou unido e firmemente decidido a encetar todos os esforços possíveis para reduzir aquele terrorismo apocalíptico a níveis de capacidade insignificante e sabemos hoje que a invasão do Iraque assentou em pressupostos que tudo indica foram falsos. 

E provavelmente é isso que explica o reduzido sucesso que tem tido o processo de consolidação de um novo regime político neste último país, ao que somam as divisões demográficas que a queda de Saddam deixou a nu. 

Como se a paz mundial não dependesse da boa vizinhança no Médio Oriente para o que uma sociedade aberta e livre para aceitar a coexistência com Israel poderia muito bem contribuir. 



E enquanto esta tragédia se desenrola, agora gozo eu a bem aventurança de ter a companhia da Matilde que está a pintar, com isso criando uma harmonia tão doce nesta sala. 



Ao longe, no rio, há velas coloridas ornamentando as águas que sob o efeito da luz de Setembro escurecem de azul. 



Mais lá para o fim da tarde chegará a Margarida. 


Alhos Vedros 
 11/09/2004

segunda-feira, 11 de maio de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (395)


A Tentação de Santo Antônio, Autor Salvador Dalí, 1946
Óleo sobre Tela, 90 x 119,5 cm.

Nascimento: 11 de maio de 1904, Figueres, Espanha
Falecimento: 23 de janeiro de 1989, Figueres, Espanha

Extravagante, excêntrico e dono de uma das mentes mais criativas da Arte Moderna, o pintor foi um dos maiores expoentes do Surrealismo. “Eu sou o Surrealismo!” costumava afirmar. Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí y Domènech nasceu no dia 11 de maio de 1904, na cidade espanhola de Figueres (Catalunha) e desde criança mostrava grande inclinação para as artes. Começou a pintar aos 10 anos e aos 13 anos já frequentava a Escola Municipal de Desenho. Aos 18 anos foi aceito na Escola de Pintura e Escultura da Academia de São Fernando, em Madri, da qual foi expulso por recusar-se a realizar o exame oral sobre o pintor Rafael, alegando saber mais do pintor que a própria banca examinadora. Nessa fase conviveu com vários artistas e intelectuais como Luís Bruñuel e Federico Garcia Lorca. Logo após a expulsão da escola, foi viajar pela Europa e em 1929 conheceu Gala, sua primeira e única mulher. Os dois viveram juntos por 53 anos.

Muito precoce, já no início da década de 1920 somava mais de 80 obras concluídas e seus primeiros trabalhos mostram uma tendência ao Impressionismo. Enquanto seus colegas começavam a percorrer por esse movimento, Dalí já começava a trilhar pelo Cubismo, até que o gosto pelo surreal e o bizarro o tornasse o principal nome do Surrealismo.

Dalí ingressou no Surrealismo em 1930 e esta década foi um período de grande produção artística. Seu posicionamento político entre outras coisas resultaram em sua expulsão do grupo dos surrealistas. As cores vivas, as imagens oníricas e bizarras dominam as representações pictóricas do artista. As teorias psicanalíticas de Sigmund Freud exerceram muita influência em seu trabalho, assim como em todo Surrealismo. De acordo com isso os surrealistas concebiam o subconsciente como fonte primaria de criação. Nessa fase realizou obras como A persistência da memória e O grande masturbador.

Versátil em sua carreira se destacou não somente na pintura como na escultura, além de ter grande colaboração no teatro, na moda, na fotografia, no cinema e até no campo do design. No cinema escreveu vários roteiros, mas foi pelas mãos de Afred Hitchcock que Dalí teve suas melhores oportunidades.

Em 1942, Dali e sua esposa foram morar nos Estados Unidos. Permaneceram lá até 1948 quando voltaram para Catalunha em 1949 e permaneceram até a morte.

Sua mulher, Gala, foi sua grande musa e exerceu notável influência em sua carreira. O casamento que durou 53 foi cercado por casos extraconjugais da mulher com o consentimento do artista, enquanto ele afirmava que ela havia sido sua única mulher. Após a morte da esposa em 1982, Dalí ficou desnorteado e desiludido a ponto de parar de trabalhar. “Sem gala eu não sou Dalí”, afirmou. O artista morreu sete anos depois na cidade de Figueres, em 23 de janeiro de 1989, de pneumonia e parada cardíaca.

Referências bibliográficas:
Pinacoteca Caras. São Paulo: Editora Abril, 1998, nº 06.
GOMBRICH, E.H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 9 de maio de 2020

Águas Livres


M A I O,
Pedagogia da Situação
às atrizes e atores de Medeia favoritos nestes ensaios online e gravações, Telma Guerra, Inês Trindade, Bruna Manguito, Sónia Ribeiro, Sandro Cordeiro, David Marcos, Cristina Gomes da Silva e Maria Simas, Andreia Bernardo, Inês Jóia, Zé Eduardo

1.
Os rostos desenham aranhas de sacrifício
A tela é de alegria escondida nas rugas
Que fazer?


Rola nos montes que circulam a escola
Junto a Casa do Professor tens os sobreiros
O teatro é um palco
Um trono de luz
Na relva ao ar livre
consigo imaginar com os lápis
o papel sombreado e a fotograia

Minhas mãos aperreio
Lembro memórias da pedagogia da situação
A terna tintura do trabalho esforçado
Horas e horas seguidas na fábrica e no
Campo no palco
Obscena é a pobreza
Pornográfica a fome, a miséria
Os sem casa, os sem teto

Em Maio
Em Africa na Ásia e aqui
Na nossa caminhada confinada
em casa
Encontramos a mão estendida
A barriga vazia
Pelo alcatrão negro da revolta
Trago-te amor a papoula
Abre por momentos os lábios
Os joelhos
A terra fértil
De braço dado dançamos
A poesia tentada
amo o desporto nas ruas vazias da próxima semana
Que os teus olhos dedicados esguios e citadinos
Se percam nos meus também urbanos e solitários
As janelas que deitam para a manhã de sol
São como as tuas sobrancelhas

2.
a língua para a minha decisão
as pernas longas,
um ar claro sobre o poema
como floresceu a neblina
nas praias do sado ou em Cascais ás 7h, um café e um
pão faltava-me um beijo no meio do oceano
proibido o beijo e o abraço no meio do sol
vou continuando a circular entre as tuas pernas quentes a
minha escrita em silêncio longa e quente e doce
na tua pele salgada
passo os dias a escrever mais do que oito horas
de poesia
escrever, ler e re-escrever

3.
Enrola o corpo na areia
Quente
O mar tocará os teus pés
Como a esperança da minha marcha
Sempre mais rápida
Correrei à volta da tua toalha
Que tiras à volta dos teus braços
não há ninguem na praia
Toalha leve, lenço com música tudo dentro de casa
Entrarei agora noutro sonho o mar, mergulho
Na praia inicia “maio maduro maio”
Num pequeno radiozinho negro, smartphone
Tão grande como as vozes que
Começam a cantar em murmúrio
Cada vez mais alto
Há bandeiras vermelhas noutras alamedas
E praças
Lá estarão também os poetas insubmissos
Como Eurípedes e Medeia
Que vão deitando fogo nas praias vazias
Que levantam o corpo ao vento e se imaginam a beijar
Em marchas de novas lutas
Todos sabem o poder do enamoramento
do coninamento amoroso
Na maré das palavras
A serenidade ativa
Muda mudança que não és muda
Linda como as árvores e transparentes
Quando imagino que as abraço como à
Eternidade
A solidão uniu-nos
Na revolução da liberdade

4.
Trazes o veludo da luta e do dia límpido
e claro
bate o sol em cascais desde manhã cedo,
quero
ir à água pouca gente ainda nas ondas,
vibram
mais com a marcha que à tarde será
na Liberdade
na Avenida do teu corpo, entre as
calçadas do dia
vou correr, serei capaz de trazer
a bandeira para
alargar a luta nestes dias novos de
solidariedade
cada vez mais internacional como
os teus lábios de
desejo, vou comer no alcatrão
as primeiras cerejas
vermelhas dos teus dedos de mel
o Fundão Donas chegou com cestos de cerejas
ontem

5.
o poema das 9h
Cor de prata o rio, o tejo
Perto de Paço de Arcos
O comboio fica quase vazio
Alguns estrangeiros peregrinos
Da luz
gostava de fazer uma aguarela
das cores deste dia
do desenho dos corpo
no verão mas
ela já desenha as pernas nos bancos
num olhar sempre sobre a janela
O espelho do desejo
Os dedos tocando os lábios
Ela não existe
O comboio está vazio
São folhas caídas de saudade
No mesmo comboio vestes
O teu casaco de jeans muito leve
azul clarinho
E lês, vais sair em Casa ou
Na Igreja
Afastas-te da estação
Da linha
De luz
Do teu olhar
ando por perto
A Damaia ainda dorme
na sua flor de lilás
do corpo, é 1º de Maio as horas
são umas 8h
As horas poucas para um dia
tão grande, o sol explode
Desenha as ruas de paz com
uma pluma azul
Da claridade e leveza do céu
desta segunda-feira
Os rostos acordam na Garcia da Horta,
no Largo
Cristóvão da Gama, no café Vanda,
na Praceta Bernardo Santareno
na Praceta das Águas Livres
já bebi o primeiro café é o vicio da persistência
faço agora a viagem sonhada na camioneta Vímeca
o poema ganha rodas de coração
até Damaia de Cima sem Passei Marítimo
quero o sol ainda mais quente
a transparência dos dias como uma qualidade das pessoas
e das aves que esboçam pequenos voos junto ao rio


Jose Gil
Águas Livres
1 de Maio 2020
13h

(1) “A Pedagogia da Situação, perspetiva proposta por Gisèle Barret para a área de Expressão Dramática e com possibilidade de ser aplicada em outras áreas artísticas ou em outras áreas do saber” [Leitão] como a Educação Básica, a poesia e o Teatro.
"Como uma pedagogia da vida, que explora cada momento do aqui e agora em sua diversidade aleatória, aleatória e imprevisível, que corre o risco de responder às urgências do momento, (...), especialmente se expressas pelos alunos, enfim envolvidos, motivados a manifestar-se sem medo da divergência, da diferença, espontaneamente e simplesmente não numa relação de força permanente, mas numa convivência dinâmica, onde o confronto permite questionamentos e aprofundamentos "(Barret, 1995: 9),[…] “o Espaço-Tempo; o Pedagogo; o Indivíduo e o Grupo; a Vivência ou o Conteúdo; o Mundo exterior”.referido por Leitão.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Graffitar a Literatura (XXIV)


Quando os bichos falavam”


«Eu julgava que nos distinguíamos dos animais por uma razão mais elevada, mas, afinal, o que nó temos mais do que eles é imaginação»
(Terra de Nod, Judith Navarro, 1961: 172)
  
1. As fábulas, que ouvi quando miúdo, eram o reino da fantasia e imaginação. Começavam, invariavelmente, assim: ‘No tempo em que os animais falavam…’ Então, eram esses animais pensantes que me davam belas lições de vida. E foi essa linha que retomei no meu livro Bichos à Solta (Edições Vírgula - Chancela do Sítio do Livro, 2016, 77 p.). Pus golfinhos, baleias, rãs, cavalos, hamsters, esquilos, cães, gatos, flamingos, cegonhas a ‘escreverem’… postais à minha filha mais nova. E deste modo, 
«regressamos a uma das mais poderosas e intemporais intuições da humanidade, a de que os animais falam e comunicam com os humanos. Os mitos, tradições e lendas das mais diversas culturas falam-nos de um tempo em que as diferentes espécies de seres comungavam e comunicavam entre si, não estando ainda separadas e fechadas pelas barreiras do medo, da agressão, da estranheza e da indiferença. Essas narrativas evocam uma harmonia original do mundo e da criação que não deixa de suscitar uma irresistível saudade, por mais que o que nos dizem pareça hoje estranho a muitos dos nossos contemporâneos, filhos de uma civilização que se afasta cada vez mais da natureza e do convívio com as vozes e os afectos dos seres não-humanos.» (Prefácio, p. 13)

Bichos à Solta é um livro juvenil (ou talvez não) que conta, num registo epistolar, 25 estórias, ilustradas pelas minhas filhas Lionor Dupic e Constança Souta. Nas palavras de Paulo Borges (FL-UL), que assina o prefácio, essas narrativas «constituem uma profunda lição de educação ambiental».
O tema central destes escritos gira à volta de um dos objectivos fulcrais de luta social da contemporaneidade: a conservação da biodiversidade, o equilíbrio ambiental e a relação dos homens com os animais. 
«Homens e mulheres de diferentes países, crenças e religiões unem-se num movimento global de acção em torno desse nobre desígnio que é a luta pela defesa do Ambiente. (…) Um eixo de acção social que passa muito pela defesa e preservação do planeta Terra. Esta, sim, é uma causa passível de unir a Humanidade. Caso contrário, todos pereceremos com a implosão do planeta azul. Saibamos então evitar essa catástrofe!» (p. 9)

2. Este mural painting, de Third (Nuno Palhas, nascido em Vila Nova de Gaia, em 1979), incluído no Muraliza 2015 (decorreu entre 29 de Junho e 6 de Julho), associa o corvo marinho de faces brancas à fundação do município de Cascais – 1364.
O cormorão (como também é conhecido), não foi inserido no meu Bichos à Solta. Na terceira parte da livro, andam por lá outras aves, como a mais alta da fauna portuguesa – o narcísico flamingo:
«E é por essas zonas mais sossegadas e protegidas que muitas aves migratórias, como nós, os flamingos, descansam na longa viagem entre o norte da Europa, frio, e a África, a sul, quente. Por ali nos “reservamos”, sempre em grupo, naqueles sapais das antigas salinas, nos esteiros da Moita, ou até na baía do Seixal, de águas baixas e ricas de vida piscícola. Nesse período, não nos esforçamos em grandes voos. Antes nos miramos nas águas tranquilas enquanto vamos tratando da nossa plumagem de tons rosa. Somos um pouco narcísicos, confesso. Mas não descuramos as “refeições”: o nosso longo pescoço em Z, desaparece por entre as penas, quando mergulha, em movimento rápido, à procura de alimento.» (p. 58)

E as cegonhas parteiras que a ciência escolar tratou de varrer do imaginário infantil, em nome de uma educação sexual positivista e precoce:
«Como reparaste, somos uma ave de grande porte, mas de movimentos lentos e tranquilos (nada que se compare com o nervosismo saltitante de pardais ou andorinhas). Estamos em sintonia com estas serenas planuras do Sul que nos acolhem. Adoramos viver na Comporta, a caminho das praias de Tróia, e nos férteis arrozais de Alcácer, nas margem do Sado, fontes do nosso bem estar. (…)
Já te questionaste por que apreciamos os pontos altos para nidificar? Não é a mania das alturas ou o simples prazer de olhar o mundo de cima para baixo. Talvez seja para nos resguardarmos do Homem, não se pode confiar nele» (p. 60)

Bichos à Soltadisponível em http://www.sitiodolivro.pt/Bichos-a-Solta, nas livrarias Ferin (Baixa de Lisboa) e RG Livreiros (Cascais), é um bom presente para filhos, netos e todos os adultos com empenhamento (crítico) na causa Ecológica preocupados com a defesa do Ambiente e dos Animais.

Post scriptum:
Este mural, pode ser visto na parede lateral de um prédio de 2 pisos, na Travessa da Ressurreição, nº 11, no centro da vila de Cascais, bem perto do Largo da Estação (CP). Aguentou-se incólume quase cinco anos. O vandalismo tardou mas acabou por chegar!
«Estou de passagem
amo o efémero»
(Eugénio de Andrade, 1990)
Os versos do poeta sintetizam o ‘drama’ da street art.
Desta feita, foi o spray can de um writer, em tirocínio, que resolveu testemunhar a sua (ainda) inábil capacidade técnico-artística. Ali escrevinhou qualquer coisa parecida com AiMOK (reconheço a minha enorme dificuldade em descodificar writings). Fez-me recordar o filme de Fyodor Otsep (1934) e a obra de Stefan Zweig (1922) Amok que esteve na sua génese (Relógio D’Água, 2013):
«–– Amok?… Creio recordar-me… é uma espécie de embriaguez… entre os malaios.
– É mais do que embriaguez… é a loucura, de uma espécie de raiva humana, literalmente falando… uma crise de monomania assassina e insensata, à qual uma intoxicação alcoólica não se pode comparar. (…) A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar… (p. 37).
writer em causa devia estar com o amok. Descarregou a sua ‘raiva’ no corvo marinho de faces brancas e, indirectamente, no autor deste mural, assumindo-se, assim, como ‘assassino’ de obra de arte.
O corvo marinho bem deve ter tentado dar umas valentes bicadas no selvático writer quando este perpetrava o atentado à arte de rua e ao ambiente.
Se pudesse, o cormorão fugia dali. «Já estou um pouco farto deste “confinamento”; e mais agora, este pequeno mural, tal como está, não é digno de se ver. Vou dar uns mergulhos no mar costeiro, à procura de peixe fresco para me alimentar.» E, num desabafo final: «Gente desta não se recomenda!»

Luís Souta (texto e fotos)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dia Mundial da Língua Portuguesa


LINGUA PORTUGUESA
(dia da língua portuguesa 5 de Maio)

Poema repentista

Quantos mundos dentro das palavras da língua portuguesa
A palavra mundo empurra para o infinito
O infinito leva-nos ao espaço
O espaço transporta-nos à liberdade
A liberdade abre-se num grito
O grito interrompe o pensamento
O pensamento atrai o desassossego
que nos transporta a Pessoa
Pessoa leva-nos à poesia
Poesia e aí está Camões e o território da identidade da palavra
E os linguajares da favela
E a Jeni de Buarque
E os capitães de Amado
E os recados do Zeca
E a caverna do Saramago
E a tristeza da Florbela
E a firmeza de Natália
E a terra abensonhada de Mia Couto
Com a imaginação de Pepetela
E a senhora de Bramante do poeta maldito
E os escárnios de Bocage
E o povo que lava no rio
E das mornas de Cesária
À simplicidade de Samora
E tantas, tantas palavras de que nem me lembro agora,
Desta língua que é a minha, com que se ri e com que se chora.

Dores Nascimento (agora mesmo)


terça-feira, 5 de maio de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
24

Sabes o que me parece? Não é preciso sermos pessoas de Fé para tomarmos como bom o princípio que os seres humanos, sendo membros de uma única espécie, são, por isso mesmo, dotados à nascença de uma dignidade infinita que os igualiza e, como tal, nos deve levar a vê-los como irmãos em plena igualdade de direitos e deveres. A verdade é que se partirmos desse pressuposto seremos capazes de orientarmos as nossas vidas segundo o propósito minimalista de, pelo menos, almejarmos agir sem que por consequência dos nossos actos venha qualquer mal para algo ou quem quer que seja. Isso que afinal é o princípio da idiossincrasia democrática, uma vez assumido pela maioria de uma população é o melhor antídoto para prevenirmos a guerra e a corrupção e muitas outras doenças das sociedades em que vivemos há mais de uma dezena de milhares de anos. Não é pois necessário que sejamos pessoas de Fé para querermos um mundo de paz e respeito pela vida humana, reconhecendo para os nossos semelhantes as possibilidades que para nós queremos de levar um quotidiano feliz e digno, de acordo com aquilo que pensamos ser o melhor para cada um de nós. Esse é o grande ensinamento que podemos extrair das ciências antropológicas, onde aprendemos a evolução da nossa espécie e o modo como o homo sapiens sapiens (1) veio sobreviver a todos os seus antecessores e antepassados e a espalhar-se por todos os continentes. Mas também onde nos habilitamos a perceber que a diversidade de culturas que temos criado ao longo dos tempos resultou sobretudo do facto de termos de lidar com respostas a variadíssimos meios ambientais e inúmeros ecossistemas. Multiplicidade essa que acabou por ser o segredo de termos chegado até aqui, apesar de todas as vicissitudes passadas, sem que uma centelha de esperança tenha deixado de brilhar no mais profundo dos nossos espíritos. Eis o principal legado que a Antropologia nos deixa e aos nossos vindouros. Com isto não estou, de forma alguma, a criar incompatibilidades entre a explicação racional e científica do mundo e o sentimento de nos acolhermos na Sua infinitude e vivermos com o ideal de irmos ao Seu encontro. Com efeito, se por este último caminho encontramos um guia para o nosso comportamento e os nossos pensamentos enquanto indivíduos, pelo outro deparamo-nos com instrumentos que nos proporcionam o entendimento das leis e composição do Universo em que vivemos que, se formos homens de Fé, acreditamos ter sido espoletado por Ele. É que na Terra encantada, os humanos vivem segundo as suas próprias leis. 


NOTA

(1) Mais uma vez chamamos a atenção para os avanços que a Paleoantropologia tem conseguido nos últimos anos, nomeadamente ao nível da actualização dos conceitos, sabendo hoje que apenas usamos a expressão homem sapiens para designarmos a nossa espécie.

 FIM

segunda-feira, 4 de maio de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (394)


The Heart of the Andes, Frederic Edwin Church, 1859
Óleo sobre Tela, 168 x 302,9 cm

Frederic Edwin Church, nasceu a 4 de Maio de 1826, em Hartford, Connecticut e morreu em Nova Iorque a 17 de Abril de 1900.

Nascido em Hartford, Connecticut, seu pai, Joseph Church, ferreiro de prata e relojoeiro, e seu avô, Samuel Church, fundador da primeira fábrica de papel em Lee, Massachusetts, permitiram que Fredric seguisse sua paixão pela arte desde tenra idade. Com apenas 18 anos, Frederic Edwin Church se tornou aluno de Thomas Cole em Catskill, Nova York. Church estudou com Cole por muitos anos em sua casa e permaneceu amigo dele por toda a vida.

Church, um amante das maravilhas da natureza, viajou pelo mundo para encontrar sua inspiração. Durante sua vida, ele viajou para a América do Sul, Europa e Oriente Médio. Algumas de suas obras mais notáveis ​​incluem Equador (1855), Niagara (1857) e Cotopaxi (1862). Sua pintura, The Heart of the Andes (1859), agora residindo no Metropolitan Museum of Art em Nova York, foi vendida por US $ 10.000 em 1859, tornando-o o preço mais alto já pago por uma obra naquela época. seu uso da cor e representação de fenômenos naturais como arco-íris, névoas, vulcões e similares. Ele criou uma experiência estética realista, conectando-se emocionalmente ao seu público e dando vida a esses locais exóticos através de seu trabalho. Em 1849, ele se tornou membro da Academia Nacional de Design.

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 2 de maio de 2020

ANTÓNIO TELMO. VIDA E OBRA.

LEITURAS

Editorial - Uma página renovada  

António Carlos Carvalho -  Uma questão de linhagem (novo) 

Risoleta C. Pinto Pedro - «As coisas das coisas» ou os segredos da Gramática  (novo)   

António Telmo -  O destino mais difícil de cumprir (novo)

António Telmo - Leonardo Coimbra, filósofo exemplar (novo)    

Dalila Pereira da Costa - Carta para António Telmo, de 3 de Novembro de 1981 (novo)  

Dalila Pereira da Costa - Recensão a Gramática Secreta da Língua Portuguesa (novo)



sexta-feira, 1 de maio de 2020

EG #122


ESTUDO GERAL
abril/maio      2020      Nº122

 “Difícil fotografar o silêncio. Entretanto, tentei.”
(Manoel de Barros)

Sumário
Quadras
Real…Irreal…Surreal
Diarística
Dar voz ao silêncio
Etnografia
Poesia
Fotografia


---------------------------------Fim de Sumário----------------------------------