domingo, 31 de maio de 2015


 
MIRADOURO 20/2015
 
(esta rubrica não respeita o acordo ortográfico)

Foto: João Ramos
 
 
Suspendeu-se até o canto dos pássaros congelado naquele cinzento de dia sem brilho.
Uma criança trazia uma chama mas um sopro gelado, surgido do nada, apagou-a.
Então, a criança, eliminou o nada preenchendo-o com a luz do seu riso gorgolejado.
Reacendeu-se a luz - e a chama - e os pássaros, de novo pássaros com asas e tudo, reinventaram-se em novos cantos e tudo se coloriu nas novas possibilidades de recomeços.
Elevaram-se no ar e no voltear do seu vôo desenharam estradas no ar para quem não tivesse asas mas, ainda assim, vontade para andar.
É verdade.
Vamos contar uma história mas, agora, nova.
E vai ser assim todos os dias.
Manuel João Croca

sábado, 30 de maio de 2015

Setúbal vale a pena...





Cartão Postal
Lucas Rosa


sexta-feira, 29 de maio de 2015

CARTA ABERTA A RENÉ DESCARTES

“ Penso, logo existo“. Será?
Caro amigo René,
Desculpa vir incomodar-te, mas gostaria de saber, se essa tua frase que se tornou famosa, ainda a afirmarias nos dias de hoje. Escrevo-te quando estamos no ano de 2015, em que estão a surgir grandes mudanças em todos os setores incluindo o da expressão, da investigação e da observação neste belo planeta onde tu deixaste obras muito importantes na área da Filosofia,da Física e da Matemática.
Permite-me dizer que hoje eu discordo dessa frase, o que provavelmente não seria a minha opinião no século XVII, data desse teu “ Discurso do Método “.
Quando afirmas “penso” logo queres dizer “eu”penso. Este eu é fruto da mente, que pensa. Logo dizes que existes porque tens mente. Então,quando eu durmo não penso, a mente não está presente, e será que eu não existo? Quem mantém este corpo vivo com todas as funções vitais energizadas?
Esse eu a que te referes é o temporal, é a tua personalidade, o corpo a quem deram um nome e com o qual tu te identificaste. É a imagem distorcida do teu verdadeiro Eu. Convido-te a fazeres uma experiência.
Faz o silêncio em ti, exterior e interior, quando a tua mente intrigada com esse teu estado te começar a en viar pensamentos e imagens não os negues e não te identifiques com eles, entrarás assim no estado de observador. Sem fazeres quaisquer esforço mantém-te
e verás que surgirá em ti alguém ou algo que observa o observador. Quem é? Vivências aí o estado de Consciência, o Eu, sem forma, pensamento ou sentimento, atemporal, sem nunca ter nascido, O que sempre foi, é e será. Nesse estado em que não pensas tu És, Existes.
Assim caro amigo René, não será que a frase atualizada será “ EU SOU,logo Existo “?
Esperando uma tua resposta,
O amigo e admirador,
António Alfacinha

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Os Celtas


Que me perdoem os cientistas e investigadores, mas é muito interessante “viajar” pela História! Melhor ainda pela Protohistória.
Muito se ouve falar dos celtas, mas com absoluta certeza não se sabe muito sobre eles.
Dizem que terão “nascido” na Europa Central, mais ou menos onde é hoje o sul da Alemanha, leste da França e Áustria, Boémia e Eslováquia, ao lado da região que já se chamou... Galicia, sobre o que já escrevi em Outubro de 2012 (verhttp://fgamorim.blogspot.com.br/search?q=iberia ).
Mais curioso é saber que onde viveram, conforme as regiões, línguas e os tempos, se chamaram gália ou gaulia dos gauleses, galácia dos gálatas, galícia, gaélicos do Norte da Escócia e da Irlanda, os galegos da Galiza, e muitos, muitos outros nomes que se perderam, e ainda tribos comos os Boiens, uma das maiores tribos celtas, cujo nome parece significar “os terríveis”, também conhecidos por boers (em holandês significando paisano ou agricultor). O nome atual de Bohemia vem de Boio, terra dos Boiens.
Até os gálatas, mais conhecidos talvez pelas epístolas de São Paulo, eram “gauleses” que se aventuraram para leste, e após batalhas com uns e outros fundaram a Galátia que seria a parte central da hoje Turquia. Foram eles que fizeram de Ancyra, agora Ankara, o centro, a capital, de todas as tribos celtas que ocuparam a região.


Os celtas foram um povo – ou diversos povos? – extremamente guerreiro. Expandiram-se para o leste, assolando o sul da Rússia, a Grécia, o norte da Itália, praticamente toda a região da França, e mais da metade da Península Ibérica.
Hoje boa parte dos cientistas que se dedicam ao estudo das origens célticas, afirmam, com base em dados antropológicos e até de DNA, que eles foram da Península Ibérica para a Britânia, quando outros creem que terão ido diretamente da região da Germânia ou da Gália.
Entram nas Ilhas Britânicas, por volta do século V a.C.
Na Península Ibérica já se encontravam, segundo alguns autores (Políbio, Estrabão, Homero e muitos outros comparsas) talvez desde antes de 1.000 anos a.C. numa região encostada àquela que os romanos vieram a chamar Tartéssia, dos tartessos ou turdetanos. Esta seria onde hoje a parte ocidental da Andaluzia, e aqueles na Extremadura, estendendo-se pelo Sul do Alentejo e Algarve, como se vê no mapa abaixo.
40.000 anos a.C. os Neandertal já estavam no sul da Península Ibérica. No norte as pinturas de Altamira terão entre sido feitas entre 12.000 e 32.000 a.C.
9.000 a.C. há vestígios de migrações da região da Fenícia para o sul da Península e da expansão dos chamados “indo-europeus” pelo centro da Europa.
Em 1.800 a.C. tribos celtas já ocupavam a maior parte da Península, mesmo que os nomes das tribos fossem muito aleatórios porque quem escreveu sobre eles pouco ou nada sabia!

Como é de supor não havia fronteiras fixas entre os diversos povos primitivos naquele tempo, mas não é difícil calcular que entre os que viviam nos limítrofes se entrecruzassem, e assim os romanos, que melhor os descreveram, acabaram por englobar na Tartéssia o Algarve, o Sul do Alentejo e a parte sul da Extremadura, o que significa que os celtas teriam sido “incluídos” numa única região, a Baética.
O primeiro autor antigo a escrever sobre os celtas na Península terá sido Hecateo de Mileto (-548 a -475), que além de os colocar em Marssilia se refere também aoskeltoikeltoi – celtas - o povo da Península.
Os Turdetanos eram considerados, pelos romanos, como os mais sábios dos ibéricos; faziam uso de um alfabeto e possuíam registros de sua história antiga, poemas, e leis escritas em verso com seis mil anos de idade, mas desconhece-se quando o tartessiano deixou de ser falado; Estrabão (c. 7 a.C.) registra que os Turdetanos e particularmente aqueles que vivem sobre o Baetis (Guadalquivir) mudaram completamente ao longo da ocupação romana, nem mesmo lembrando mais de sua própria língua.
Há documentos, sobretudo estelas que remontam a um passado muito remoto, com escrita até hoje indecifrável, com características fenícias e até misturadas com tipos de hieróglifos egípcios.
Ainda pelos antigos historiadores “sabemos” que terão sido os tartessos que, hábeis navegadores, práticos no tráfego sobretudo com a Fenícia, também foram os primeiros a navegar pelo Atlântico até as “Ilhas Cassiterites” (do grego kassiteros, estanho), onde se abasteciam deste metal.
Estas ilhas que mais tarde cartógrafos chegaram a colocá-las no lugar dos Açores, não é difícil concluir, digo mesmo concluir, que serão as Ilhas Britânicas, porque estas ficaram conhecidas por serem o principal fornecedor de estanho de “antanho” na Idade do Bronze.
Pensando neste conhecimento podemos começar a tirar algumas conclusões:
- Primeiro, é bem possível que os celtas tenham começado a ser conhecidos como tal, quando se juntaram (?!) no centro da Europa, Grécia e norte da Itália, apesar de serem inúmeras as tribos, mesmo sem unidade antropológica, a que hoje se lhes dá o nome genérico de celtas;
- Também é sabido que os povos celtas chegaram à Península Ibérica muito antes de às Ilhas Britânicas;
- Começaram por ocupar a Meseta Central da Península Ibérica, estenderam-se depois por quase todo Portugal, com os lusitanos e formando os Celtíberos, e sobretudo no Norte, Minho e Galiza, onde encontraram ricas jazidas de estanho, e dando à região o nome de Galecia ou Galiza;
- Daqui à Britânia... onde encontraram o mesmo estanho, não lhes deve ter sido impossível, até porque exportavam depois esse estanho dali também via Gadis;
- Assim também não custa supor que foi este um dos motivos que os levaram a ocupar a Britânia, tendo saído da Península Ibérica.
Além de todas estas hipóteses, há ainda a considerar a semelhança cultural, definida por espadas de bronze, pontas de lança, caldeirões, “garfos e espetos” estirados dos Tartessos à Galícia, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. No oitavo século a.C. uma nova elite levantou-se rapidamente entre os nativos parceiros comerciais dos fenícios.
  


Neste mapa vê-se bem o desenvolvimento da exploração de alguns metais: no sul da Península já se explorava o cobre 3.000 anos a.C.; o estanho, no Norte (entre Minho e margens do Douro) com mais de 2.500 a.C. e nas Ilhas Britânicas e Irlanda, um pouco mais tarde.
No entanto parece terem sido os ingleses que mais nos têm dado menções e elementos da história deste povo, ou grupo de povos que acabaram por falar a mesma língua, ainda hoje viva em muito lugar.
Sempre ferozes guerreiros, lutavam até entre si selvaticamente, mas vaidosos da sua aparência; usavam sabão especial e perfumes, túnicas de tecidos estampados e bordados, e adoravam carregar consigo cornetas e outras joias em ouro, em que eram exímios artistas.
Nas lutas aterrorizavam os inimigos, berrando que nem loucos e fazendo soar longas cornetas. Muitas vezes lutavam completamente nus com as suas longas cabeleiras, as tranças clareadas com limão!
Eram muito fechados nas suas hierarquias. O povo dividia-se em três principais classes:
- o rei ou a rainha;
- a classe superior, os guerreiros, com os seus grandes bigodes;
- e a classe baixa, escravos e trabalhadores, a maioria agricultores.
E os druidas sempre escolhidos entre gente da classe superior; muitos lutavam entre si para se fazerem notar e ganhar um lugar entre estes “sacerdotes”, que por vezes tinham mais poder do que os reis (tal como se passou e ainda passa em muitas outras religiões). O treino para se chegar a poder praticar o culto durava vinte anos!
Não iam à guerra, mas previamente aconselhavam o rei e os guerreiros sobre a melhor data para as batalhas, e sempre participavam do espólio colhido pelos vencedores.
Eram eles que estabeleciam a “ligação” entre o supernatural e os homens, e adoravam sobretudo dois deuses: Sucellos, o deus do céu e Nodens, o deus das nuvens e da chuva.
Vem de um banqueteem 355 a.C. entre Alexandre, o Grande, e alguns celtas no golfo da Jónia, (a caminho da sua invasão na Ásia Menor) a célebre frase que sempre se encontra nos maravilhosos livros do Asterix: Alexandre perguntou-lhes o que mais temiam neste mundo: “Que o céu nos caia sobre a cabeça! ”

Francisco Gomes Amorim
16/05/2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Feira da Ladra


partilho com todos os meus amigos e leitores espalhados pelo mundo este meu poema , hoje aqui feito fado , interpretado pelo fadista e amigo Jorge Miguel e emoldurado com este interessante VIDEO de sua autoria , a quem eu endereço os parabéns pelo excelente trabalho. Veja o vídeo clicando aqui:         
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Feira_da_Ladra/index.htm


terça-feira, 26 de maio de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM BELO FERIADO


Foi a enterrar o corpo de Victor Damas que sucumbiu em face de uma doença incurável. 

Dele guardo boas memórias futebolísticas de o ver entre os postes, com o leão ao peito, o melhor de todos os guarda-redes portugueses que até hoje vi jogar nos relvados. 
Vi-o, muitas vezes, quer contra o meu querido Barreirense, quer contra a CUF, de boa memória, ou o Benfica, o grande Benfica de Eusébio, no Estádio da Luz. Ainda me lembro bem da sua elasticidade que lhe permitia os golpes de rins impossíveis e as tiradas ao canto da baliza, ou as defesas por reflexo com que negava o orgasmo às multidões que em pé, tantas e tantas vezes, já ululavam pelo golo. 

Com vários campeonatos nacionais e taças de Portugal no currículo, creio que o pico internacional foi atingido com o Sporting do seu coração, numas meias-finais da Taça das Taças com o Dínamo de Leipzig da então República Democrática Alemã que fez o papel do desmancha prazeres que impediu a presença na final daquele ano de setenta e quatro. 
Posteriormente emigrado em Espanha, onde se distinguiu ao serviço do Santander, acabou um tanto ou quanto esquecido para os nossos estrategas e viu-se preterido por outros na camisola das quinas. 

Mas para mim ele foi, sem dúvida alguma, o melhor de todos os guarda-redes portugueses que eu alguma vez vi jogar. 


Deus o guarde no Colo da Eternidade. 



Relativamente à situação que encontrei quando a Margarida iniciou a sua vida de estudante, a Escola Básica que os meus anjinhos frequentam revela algumas melhorias que são de destacar, tanto no que diz respeito às instalações como na própria oferta do conteúdo do ensino ali ministrado. 
Das janelas que antes deixavam passar água às pinturas exteriores e interiores, bem como dos arranjos no recreio que muito melhoraram, em termos securitários, pavimentos e canteiros, aos acréscimos e renovação de materiais, de que a substituição de todo o parque de mesas e cadeiras é o ponto mais importante, vários são os melhorismos que obviamente contribuem para a qualidade de vida que a garotada ali encontra para aprender. E foi com grande satisfação que eu vi o meu pardalinho sentado em novas cadeiras que parecem confortáveis, tendo à disposição novos e bons tampos de material durável e facilmente manuseável. 
Relativamente ao segundo aspecto enumerado, é de sublinhar que, desde há três anos, os alunos têm, inserida no horário escolar, uma hora semanal de iniciação musical. 


Não há dúvidas que a associação de pais também terá a sua quota-parte nos louros destas reformas simples mas significativas. 
Mas devo dizer que a elas não serão estranhas as pessoas da senhora Presidente da Junta de Freguesia de Alhos Vedros, a Drª. Fernanda Gaspar que muito tem feito para que as propostas da associação sejam bem acolhidas e que teve a abertura de espírito para perceber a pertinência da aprendizagem da música de que tem sido a principal promotora entre os intérpretes do poder político da autarquia; e também o actual Vereador da Cultura, o Sr. António Canudo que para o cargo levou a maior preocupação com os problemas deste nível de ensino de que cabe ao poder local cuidar. 



O certo é que é neste edifício melhorado que a Matilde iniciará o seu caminho de estudante. 

Com horário matinal, entrará todos os dias às oito e sairá às treze horas. 


Melhor seria o turno da irmã. Mas não se pode ter tudo e tanto eu como a Luísa somos da opinião que, apesar disso, é preferível ela ficar com a Professora que vai ser a sua. 


Além de que a família não sofrerá quaisquer transtornos na hora das refeições que continuará a mesma e nos mesmos moldes. 


Sem embargo, é claro que à partida aquilo que à minha filha adorada espera será uma sobrecarga de trabalho. 

Para o saber dosear e minorar estamos nós, os pais, para o que deveremos ser imaginativos. 

Deus nos ilumine com a Sua Graça! 



Kumba Ialá foi apeado do poder na Guiné-Bissau. 
À semelhança daquilo que aconteceu em São Tomé e Príncipe, há uns meses atrás, novamente os militares pegaram nas armas e, tendo como argumento o objectivo de pôr cobro a índices de corrupção insuportáveis, deram voz de prisão ao Presidente, demitiram o Governo, o chefe das tropas rebeldes auto-proclamou-se na presidência e as oposições rejubilaram de imediato, tanto perante a queda do tirano – é assim que o ex-Presidente eleito é visto pelos populares, mesmo os da diáspora, como me disse ontem o senhor Iaia Baldé com quem estive à conversa sobre o golpe e com quem muito tenho conversado sobre a situação daquela ex-colónia portuguesa nestes últimos três anos e meio – como em face da promessa da rápida marcação de novas eleições e a consequente devolução do poder aos civis. 

É a África cansada da guerra e da fome, desesperada de cleptomanias que aceita calmamente estes jogos de soldadinhos. 
Faltam homens capazes de terem coragem para trilharem os caminhos que encham as barriguinhas e as despensas e que depois permitem alimentar os espíritos de coisas úteis e outras apenas etéreas. 
O povo é que continua com o mesmo chinelo e a vigarice, essa, seguirá dentro de momentos. 


Quem dera que eu estivesse redondamente enganado. 



Por cá continuamos na época dos fogos – é assim que a nossa comunicação social de m… (aterial indizível) se refere ao Verão das nossas matas. Só isto seria suficiente para qualquer alienígena compreender o desleixo, a desorganização e a incúria com que as florestas são vistas e tratadas entre nós. Seja como for, este ano, o saldo atinge proporções inimagináveis; já lá vão quatrocentos mil hectares de terra queimada. 

É uma vergonha o que se tem passado. Sem grande exagero, pode escrever-se que o país foi posto a ferro e fogo. Ao longo de uma quinzena de altas temperaturas, em Agosto, assistimos a uma guerra civil que teve de um lado labaredas verdadeiramente inteligentes e do outro as populações indefesas e bombeiros que deram o seu melhor para enfrentarem uma catástrofe que de natural pouco ou nada aparenta ter. 


Curioso é o afã de certo jornalismo em tudo fazer para passar a ideia de que tudo isto se deve a uma complexidade de factores de que o crime está excluído. Pode ser que assim seja, mas eu tenho as mais sérias dúvidas a esse respeito. 

Cá para mim trata-se de crime organizado. 
Há o padrão de todos os incêndios começarem sempre em vários pontos, regra geral, os de mais difícil acesso – para nem falar do caso, em Agosto, dos acessos bloqueados com toros de eucalipto, como se verificou, no início da calamidade, na Serra de Monchique – e de terem saltitado por todas as grandes manchas florestais do país, chegando a atingir uma dimensão e intensidade que forçaram aos pedidos de auxílio estrangeiro que acabou por se verificar. 

É claro que daí à culpabilização do Governo foi o salto de um pardal. 
E depois com as mortes provocadas pelo calor e uma ponte pedestre que caiu no IC19 depois de remodelada, muitas foram as cabeças de ministros que se pediram. 

Alguém quer o fim deste executivo e a instabilidade no país. Porque será? 


Tragicamente, este fenómeno coexiste no tempo com a prisão preventiva de grandes figuras públicas ou de gente como o Sr. Manuel Macedo, ex-operacional da rede bombista de setenta e cinco e posteriormente mentor da associação de amizade com a Indonésia que anexou Timor-Leste. 



Ai que felicidade a minha em ter uma filha assim, criança saudável e robusta, com apetite vulgar e todos os restantes indicadores físicos no domínio da melhor das normalidades. 
À data da última consulta com o Dr. Clington, em cinco de Setembro, registou trinta quilos e oitocentos gramas, para uma altura de cento e dezanove centímetros. 
Dorme entre as nove e as dez horas diárias, cresce regularmente e mostra ter os cinco sentidos bem despertos. 

Bem, todos os que tenham lido estes diários sabem que eu sou um pai que muito se orgulha das suas lindas filhas, não é? 

Mas dá gosto ver uma criança assim, normalmente sorridente e despreocupada, incrível e inesperadamente atenta ao que a rodeia, muito propensa ao humor tão apropriado e, de uma maneira geral, tão inteligente que só pode deixar antever uma argúcia e capacidades de raciocínio que farta alegria me incutem em vê-las em estas idades precoces. 

Ai como é doce o calor que nos afaga o peito quando nos rimos sob o efeito de uma das suas piadas ou dos reparos com que põe a nu a evidência de certas coisas. 
E gosta de brincar com carrinhos e bonecos e bonecas, sendo igualmente dispersável em jogos e, acima de tudo, dos puzzles que adora. 
Mas também se prende de amores pelo ar livre e as correrias e saltos, ou as simples passeatas que por aí se proporcionam e sendo forte de corpo e de ânimo, mesmo com nada ela é capaz de arranjar motes e materiais para brincar. 

“-Vá mãe. Vamos a uma corrida!” –Braçadeiras nos braços, atirando-se de imediato para o espelho que a praia-mar, na calmaria, faz na baía de Sesimbra. 

E já sabe andar de bicicleta com sprints e tudo. 

Pois mais etéreo é o meu rolar quando vou percebendo que ela é uma criança que se empenha em tudo o que faz e, ao longo dos seus espaços de aprendizagem, até ao momento, no jardim infantil, na ginástica ou na natação, revela a responsabilidade de cumprir o melhor possível aquilo que lhe é pedido. 
Ora aqui tenho a quase certeza de não errar se disser que fica orgulhosa com os bons resultados, mesmo apenas guardando a satisfação para si. 
Portadora de um vasto vocabulário que domina bem, constrói as frases na perfeição e explica-se com natural à vontade, ao ponto de com ela podermos estabelecer qualquer tipo de conversa. Tem a ligeireza de saber dizer quando não entende ou não lhe é possível entender um determinado assunto. 
Quando lhe dá para inventar palavras, então o encanto faz-nos os olhos brilharem de quê, digam lá vocês. 


“-Ó pai, vamos fazer telefones com os iogurtes do pequeno-almoço.” –Entrou ela pelo quarto, esta manhã, enquanto eu me vestia. E com aquele sorrisozinho desdentado, lá virou as costas para se ir entregar às suas engenharias. 


São conteúdos do meu Éden. 



Para um feriado bem passado, 
há que ser aproveitado. 


Ternuras de pai e filhas. 
Ao fim da tarde lá fomos para a festa da Moita, como todos os anos acontece. 
Hoje houve carrinhos de choque – infantis, claro está – e póneis. 

E no regresso gaivotas, muitas gaivotas lá no alto, demandando o mar. 



Dezasseis de Setembro, dia mundial para a protecção da camada de ozono que, entre nós, quase passou despercebido. No fórum da TSF desta manhã, discutiu-se a mudança de hora portuguesa para a correspondente aos fusos horários da Europa Central, coisa que já vigora entre nós sem qualquer um dos resultados que os seus defensores apresentam. Fosse assim tão fácil o desenvolvimento… Por sua vez, o jornal “Público”, onde uma pequena cacha dá conta de ozono em excesso na zona de Lisboa, (1) apenas uma palavra sobre um assunto que a todos nós afecta e para o qual todos nós somos obrigados a contribuir através dos comportamentos das nossas vidas ordinárias, justamente uma notícia para nos dizer que não respeitamos as leis internacionais sobre aquele gás atmosférico. (2) 



Em contra partida, naquele mesmo diário, podemos ficar a saber de uma carta pastoral sobre o bem comum, pelos Bispos portugueses, em que se identificam aquilo a que chamam pecados sociais. 

Pelo adiantado destas páginas e o caricato das ideias que mais parecem descrever um país sem rei nem roque, aqui transcreverei sete pecados que muito estiolam, entre nós, o bem comum. 
“-Os egoísmos individualistas, pessoais e grupais, sem perspectiva de bem comum mais, sem perspectivas do bem comum mais global; 
-o consumismo (…) fomentado pelos próprios mecanismos da economia, que gera clivagens entre ricos e pobres e gera insensibilidades a valores espirituais; 
-a corrupção, verdadeira estrutura de pecado social (…); 
-a desarmonia do sistema fiscal, que sobrecarrega um grupo e pode facilitar a irresponsabilidade no cumprimento das justas obrigações; 
-a irresponsabilidade na estrada, com as consequências dramáticas de mortes e feridos, que são atentados ao direito à vida (…); 
-a exagerada comercialização do fenómeno desportivo, que tem conduzido à perda progressiva do sentido do “jogo” como autêntica actividade lúdica e a falta de transparência nos negócios que envolvem muitos sectores e alguns profissionais dalgumas áreas do desporto; 
-a exclusão social gerada pela pobreza, pelo desemprego, pela falta de habitação, pela desigualdade no acesso à saúde e à educação, pelas doenças crónicas (…).” (3) 

Sobre o consumismo algo haveria a dizer e quanto aos eufemismos com que o fenómeno desportivo é tratado, importariam as clarificações que tão bem sabem separar o trigo do joio e isto sem termos que chegar a grandes particularismos. 

Mas é suficiente que nos recordemos, tal como num estado de Vilelas, o nosso grande objectivo é o Euro 2004 e a construção de dez – leram bem, são dez, uma dezena – estádios de futebol cuja maioria se destinará ao predominante uso das moscas. 


É a tragédia de um país que se vê bem representado por um presidente de um clube de futebol. Assim é que é, ele até bate na mulher. 



E agora o remanso da leitura, enquanto a noite se aquieta. 

Alhos Vedros 
  16/09/2003 


NOTAS 

(1) Sob a responsabilidade da redacção, OZONO A MAIS NA GRANDE LISBOA, p.46 
(2) Lusa, PORTUGAL NÃO RESPEITA A LEI DO OZONO, p. 28 
(3) Conferência Episcopal Portuguesa, RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA PELO BEM COMUM, p. 26 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Conferência Episcopal Portuguesa, RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA PELO BEM COMUM, In “Bispos Enumeram “Pecados Sociais” E Pedem “Paixão Por Portugal Melhor””, António Marujo, In “Público”, nº. 4926, de 16/09/2003 
Lusa, PORTUGAL NÃO RESPEITA A LEI SOBRE O OZONO, In “Público”, nº. 4926, de 03/09/2003 
Sob a responsabilidade da redacção, OZONO A MAIS NA GRANDE LISBOA, In “Público”, nº. 4926, de 16/09/2003

segunda-feira, 25 de maio de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (133)


Luís Galrito esteve no 29.º Aniversário da CACAV 
e foi uma agradável surpresa para quem ainda não o conhecia.

António Tapadinhas

A Mulher Da Erva

Velha da terra morena
Pensa que e já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia
Saia rota
Subindo a estrada
Inda a noite
Rompendo vem
A mulher
Pega na braçada
De erva fresca
Supremo bem
Canta a rola
Numa ramada
Pela estrada
Vai a mulher
Meu senhor
Nesta caminhada
Nem m'alembra
Do amanhecer
Há quem viva
Sem dar por nada
Há quem morra
Sem tal saber
Velha ardida
Velha queimada
Vende a fruta
Se queres comer
A noitinha
A mulher alcança
Quem lhe compra
Do seu manjar
Para dar
A cabrinha mansa
Erva fresca
Da cor do mar
Na calçada
Uma mancha negra
Cobriu tudo
E ali ficou
Anda, velha
Da saia preta
Flor que ao vento
No chao tombou
No Inverno
Terás fartura
Da erva fora

domingo, 24 de maio de 2015



MIRADOURO 19 / 2015

(esta rubrica não respeita as regras do acordo ortográfico)


ACRESCENTEMO-NOS

Quando daqui por uns anos, quando os historiadores, sociólogos, antropólogos, politólogos e outros estudiosos se forem debruçar sobre este período que agora vivemos, ficarão decerto estupefactos com o nível de destruição conseguido em tão pouco tempo.
Destruição manifesta numa fractura social profunda que compromete qualquer contrato social indispensável para a estruturação de qualquer sociedade em bases dignas. As causas derivam da luta entre os dois grandes campos que constituem a sociedade em si: o trabalho e o capital. É evidente que dentro de cada um destes grandes campos haverá inúmeros grupos e grupinhos mas, apenas para simplificar, poderemos resumir assim o ângulo de observação para o que queremos dizer.
Tal separação esclarece quaisquer dúvidas relativamente à chamada luta de classes. É evidente que existe, continua e está bem viva como permanentemente podemos sentir e constatar.
Posto isto, não é para queixas que falamos do assunto. Os campos estão definidos e, como em qualquer luta, uns vão ganhando e os outros perdendo. Quem ganha exerce o “poder” da forma que melhor serve os seus interesses instrumentalizando os outros para os servirem. O que é paradoxal é que, tendo em conta a dimensão dos “exércitos”, sejam os que são menos, muito menos, que seguem vencendo sobre os que são mais, imensamente mais, e que continuam perdendo. Chegados aqui, evidencia-se imediatamente a realidade: tal só é possível porque os que são mais, imensamente mais, estão divididos.
Portanto, mais do que queixas importa alterar esta realidade que está na base do problema e trabalhar na construção da união. Não precisamos pensar tudo igual pois que tal não será possível nem sequer, porventura, desejável, mas precisamos secundarizar diferenças em prol do que é essencial.
Trabalho, Educação, Saúde, Justiça Social, Liberdade.
Agostinho da Silva falava dos três esses: Sustento, Saúde, Sabedoria. Creio que falamos da mesma situação e dos mesmos problemas.

Não é fácil? Concerteza que não e por isso mesmo é preciso arregaçar as mangas e começar a construir. Porque o tempo não pára mesmo que nós decidamos ficar parados no tempo.


(Lisboa. Num 1º de Maio. Foto de Edgar Cantante)

***

Para além dos equilíbrios no que é civilizacional e colectivo, há o individual que se soma e cria o outro. É por aí que se começa a construção e só cada um saberá do que mais necessita, que ingredientes lhe darão maior estabilidade. Por mim, frequentemente e creio que talvez desde sempre, encontro-o na Natureza. É ela que me ensina, permite a paz e garante energia para prosseguir. E prosseguir é inevitável já que desistir não podemos.

*

Temperatura amena e logo o campo a estender-se lânguido num torpor de preguiça. Não é preciso verbalizar para que a troca se dê. Sabendo ao que vamos a Natureza aceita e retribui.
A ribeira deslisa de mansinho, sem ruído, no cumprimento de missão ao encontro do seu destino. Artéria da Terra, corrente de vida.
Quanto mais nos afastamos das vozes que humanamente nos desconsideram afirmando desamor próprio de quem se perdeu de si próprio e tarda em encontrar o caminho de volta, melhor o silêncio reverbera no tambor da alma. E ela, de novo recupera o conforto langoroso do deleite.
Povoam-se, então, de afectos os espaços, preenchendo o vazio cerrado do olhar com lampejos de cor, ritmo e fantasia. Tudo se transforma em apaziguamento que compõe novos sons que entre si se harmonizam, integram e se completam em sinfonia sentimental.
Se as árvores nos acolhem em sombra e sossego e as aves nos desafiam nos trinados do seu canto emoldurando de imagens o momento, como recusar o convite das águas para com elas ir peregrinando o futuro? Não se recusa, vai-se pois já nos pesava a solidão.
Indo com as águas, sulcando-as, mergulhando e com elas nos fundindo, seguimos olhando. Margens que aconchegam sem abafar e uma outra música nasce e eleva-se.
Já se silenciaram as vozes iradas que solicitavam interlocução e percebe-se que este tempo é outro porque a dimensão é diferente. As coordenadas que a balizam alteraram-se. E sendo ainda nós na mesma e outra vez, ao alterarem-se as circunstâncias acedemos a outra esfera do sentir. Uma esfera mais desperta e receptiva. E é nessa nova ordem que sente e se pensa e disso faz registo.
A metamorfose da personalidade não é definitiva ou irreversível mas, declara-se possível e alternativa ao revelar-se. Percepciona-se assim a possibilidade de escolher. A possibilidade de mudar o registo e aceder a outras vozes e a outros lugares. 


Manuel João Croca


(A Ribeira da Seda em Cabeção. Foto de Joaquim Raminhos)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Fotografias com Música





"Interiores"
Fotografias de Lucas Rosa

Para ouvir as músicas clique nas fotos.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

Bolsa-de-pastor


Capsella bursa-pastoris

Miguel Boieiro

Nunca será demais repetir que é altamente inconveniente colher plantas selvagens junto das vias rodoviárias. Está provado que as plantas assimilam e incorporam substâncias tóxicas provenientes da combustão dos motores dos veículos. De resto, a constituição química de qualquer vegetal depende muito das condições onde se desenvolve. Tem a ver com a constituição química e o pH do solo, com o clima, sobretudo com a insolação, a humidade, os ventos e a temperatura e ainda com a poluição envolvente.
Outro dos perigos, infelizmente hoje em dia muito comum, é apanhar plantas em áreas que foram tratados com herbicidas. Isso acontece amiúde nos meios urbanos e suas periferias. Instalou-se a ideia errada de que a existência de ervas é sinal de sujidade e de desleixo e então, pulveriza-se, indiscriminadamente o solo com produtos venenosos, numa prática rotineira de “aprendiz de feiticeiro”. É claro que não só se arruína a vida vegetal, mas também se dissemina na atmosfera e nos terrenos, quantidades incontroladas de tóxicos com nefastos efeitos duradouros em todos os seres vivos.

Vem esta conversa a propósito da bolsa-de-pastor, erva comum que aparece junto de estradas, caminhos de pé posto, baldios e mesmo nas calçadas e arruamentos das grandes cidades. Ela é extraordinariamente prolífera – uma só planta pode produzir 75 mil sementes, apesar de, pela sua fragilidade, não a considerarmos propriamente uma infestante. O facto é que o ingrato bicho-homem procura destruir este ser vivo, seu companheiro de jornada, como se de um inimigo se tratasse, através do uso e abuso de pesticidas.

Ora a Capsella bursa-pastoris L. é uma pequena erva anual de que só se dá conta quando brota o seu espigão floral. A raiz é cilíndrica e ligeiramente lenhosa e as folhas radicais formam uma roseta basal, sendo normalmente penatifendidas e pecioladas. O caule chega a medir 50 cm, tendo folhas mais curtas (folhas caulinares) e no cimo cachos densos de pequenas flores brancas. Cada flor é composta por quatro sépalas e quatro pétalas ovais. A sua forma, em cruz, determinou a família botânica a que pertence a nossa planta. É uma crucífera, ou brassicácea, tal como a couve, o nabo ou a mostarda negra.
Mas é a forma dos frutos que ajuda a identificar a erva e a torna inconfundível. Eles são cordiformes, isto é, têm a forma de um pequeno coração, assemelhando-se às bolsas que os pastores medievais traziam a tiracolo – daí o seu idêntico nome popular em, praticamente, todas as línguas europeias.

Para que serve a bolsa-de-pastor? Bom, as propriedades curativas desta planta são conhecidas desde remotas eras. É fundamentalmente hemostática, estancando rapidamente as hemorragias, mas é também adstringente, diurética e tónica. Contém tanino, potássio, ácido málico, ácido acético, ácido fumárico e ácido cítrico, entre outros componentes.
Serve para as hemorragias (nomeadamente as uterinas), as perturbações renais ou urinárias, as desinterias, as inflamações da garganta e as feridas da pele.

A melhor forma de a consumir é através da maceração a frio, na proporção de três colheres de chá da erva seca para uma chávena de água. Deixa-se macerar durante oito horas, filtra-se e toma-se duas chávenas, dia sim, dia não.
O Dr. Oliveira Feijão, na sua “Medicina pelas Plantas”, aponta também o infuso, o suco da planta fresca, o cozimento e o “vinho”. Este é produzido por 180 g da planta fresca migada, macerada durante oito dias num litro de vinho branco. Filtra-se e toma-se uma colher de sopa, de hora a hora.
Para terminar, refira-se que a bolsa-de-pastor, tal como as suas irmãs crucíferas, é também comestível (tem um sabor levemente salgado), mas apenas quando as folhas estão tenras e antes da ramificação.

Adverte-se, contudo, para o facto das doses elevadas serem susceptíveis de produzir efeitos tóxicos, devido à existência, embora em pequena proporção, de um alcalóide específico denominado bursina.


quarta-feira, 20 de maio de 2015

ÍNDICE DE FELICIDADE MUNDIAL EM 2015 E A DOR DO VIVER


Felicidade da mulher como índice do desenvolvimento de um país?

António Justo

Segundo o estudo da ONU sobre o Índice de Felicidade Mundial realizado pela universidade Colúmbia de Nova Iorque, a felicidade mundial aumentou ligeiramente em relação a anos passados. O norte é mais feliz que o sul, tem mais confiança. Nos países desenvolvidos, as mulheres são mais felizes do que os homens, enquanto nos países em desenvolvimento se passa o oposto.
A ordem de felicidade por países: 1° Suiça,2° Islândia,3° Dinamarca, 4° Noruega, 5° Canadá, 6° Finlândia, 7° Holanda, 8° Suécia, 9° Nova Zelândia, 10° Austrália, 15° Estados Unidos, 16° Brasil, 26° Alemanha, 88° Portugal.
Dos países qualificados, os dez países menos felizes seriam o Afeganistão e países africanos.

Os indicadores de felicidade do questionário efectuado abrangiam sistemas sociais, mercados do trabalho bem como perguntas sobre a autopercepção das pessoas (bem-estar mental, liberdade na tomada de decisões, ter alguém em quem se confia, falta de corrupção, esperança de vida saudável, etc.).
A investigação sobre a Felicidade de um povo é uma boa iniciativa dado orientar a atenção do cidadão e dos políticos para um objectivo que deveria ser o mais importante da política. A satisfação da vida e o bem-estar social deveria estar na agenda de todo o deputado e do governo.

Naturalmente haverá povos de caracter mais alegre que outros, o que torna difícil a interpretação da qualificação da felicidade de uns países em relação a outros. A maneira de compreender a vida é muito diferente de cultura para cultura. Há povos por natureza mais satisfeitos que outros.
Talvez por falte de uma ciência da felicidade ainda não se saiba como fazer os cidadãos felizes.

O Butão foi o primeiro país que colocou como objectivo do governo a felicidade pública. Aí os indicadores de felicidade apresentados eram: bem-estar psicológico, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, vitalidade comunitária, educação, preservação cultural, proteção ambiental, boa gestão governamental e segurança financeira.

O grau de esperança é um elemento e um indicativo da felicidade de uma pessoa. Ela empresta à realidade vestidos mais agradáveis e coloridos! Quem já tem tudo poderá ter o gozo do desejo saciado no tempo mas, apesar de tudo, não ser feliz! Pode-se ter gozo sem se ser feliz, porque o gozo é a felicidade da parte enquanto a felicidade é o gozo do todo. A felicidade é rara porque gozo é um estado, um momento e felicidade é ser, o ser que não é soma dos momentos. A felicidade está ligada à saudade que goza a dor do não viver! Também é verdade que, por vezes, se vive com felicidade mas sem gozo porque o gozo depende também do parceiro, tem a ver com o próximo!


António da Cunha Duarte Justo
Jornalista


terça-feira, 19 de maio de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O DIÁRIO DA MATILDE – O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA


1º. VOLUME

O PRIMEIRO PERÍODO

Luís F. de A. Gomes

Para a 
Matilde e a Margarida, 
as minhas filhas adoradas. 


 BOM DIA SRª. PROFESSORA! 

Aleluia! Aleluia! 
A Matilde entrou para a escola. 
Esta manhã, pelas onze horas, lá foi a família rumo à chamada para o dia de apresentação. 
Dia especial, é claro, até a irmã mais velha que, por sua vez, começará depois de amanhã, qual veterana, lá acompanhou a Matoldas à sessão inaugural, na qual ficamos a conhecer a Mestra e as normas do estabelecimento cujo edifício, afinal, a mais novinha já conhecia, quer por via das bisbilhotices da Margarida, quer no domínio das actividades do jardim-escola que frequentou até ao início deste Verão. 


Como é bom de ver, houve as fotografias da praxe quando o pai retornou a casa para o almoço. 


O evento é que esteve um tanto ou quanto desorganizado pelo que não deu para recolher grandes impressões, tanto pela parte da novel aluna, como do ponto de vista dos progenitores. 
A recepção conjunta a três turmas do primeiro ano não me pareceu a melhor forma para explicar o que quer que fosse. Demasiada densidade de população é o que dá: barulho que se sobrepõe às mensagens. 

E que impressão me causam os pais indisciplinados dando tão negativos exemplos aos filhos. Mas como se não fosse isso suficiente, a Professora que fez as honras do convento, não só não soube conduzir os acontecimentos, atrapalhando-se e baralhando-se em algumas situações, chegando mesmo a mostrar não saber o que dizer ou fazer, como ainda se revelou incapaz de calar as inconveniências, com isso permitindo uma espécie de caos que, pela predominância, pode muito bem dizer-se que teve fóruns de cidade. 
Foi ao ponto de interromper a Professora da Matilde quando esta fazia as suas recomendações quanto ao comportamento. 


Talvez por isso o meu pardalito nada tenha adiantado sobre o sucedido e a pessoa que lhe irá ensinar as primeiras letras e a acompanhará neste primeiro ciclo do ensino básico. 


Deus acompanhe este meu anjo para que tudo corra bem e ela venha a desempenhar a contento tudo aquilo que lhe seja confiado. 


Seja como for, parece que estamos em boas mãos. 
Trata-se de uma Professora efectiva nesta escola há vinte e três anos e de acordo com o testemunho de ex-alunos que passaram, no passado Junho, para o ciclo preparatório, é uma docente cumpridora e disciplinada, capaz de transmitir os conhecimentos de modo a que as crianças aprendam. 

Com o tempo, tiraremos as conclusões. 

Por ora sabemos ainda que se chama Manuela Palma. 



E assim cá estou eu, novamente, para mais um diário que tinha data marcada e que será o último deste ciclo de volumes centrados nas vidas das minhas queridas filhas. 



Que, diga-se para primeiro dia, toda a família vai bem, com a graça de Deus. Saúde e harmonia quanto baste que o resto é o dia a dia de um lar tranquilo e acolhedor. 

São tão doces, os fins das jornadas. 


E porque o calor permanece, ainda este último Sábado estivemos a banhos, em Sesimbra que, para o pai, foi dos momentos de descontracção de um fim-de-semana repousante que bem veio a calhar depois de algumas semanas de trabalho intenso. 



Pela primeira vez li uma obra de Agostinho da Silva. 
“Reflexão”, um ensaio que, a propósito da literatura portuguesa, acaba por ser uma divagação a respeito da nossa cultura e a respectiva singularidade original, a partir da qual, sempre segundo o Autor, podem muito bem encontrar-se os parâmetros de uma filosofia de vida, tendo por base o humanismo cristão, com as consequentes implicações na organização social a partir do comunitarismo rural. (1) 
Quanto a isto direi que é uma proposta, como tantas outras. Ao nível filosófico nada tem de novo e no que à prática do quotidiano respeito diz, estamos perante um idealismo que facilmente se aceita e em que se podem encontrar pistas interessantes para um futuro que se pretenda ordenar. Ainda assim não andaremos longe daquilo que podemos apreender em certas perspectivas ecologistas, se bem que muito antes destas, justiça seja feita ao nosso compatriota. (2) 
Já sobre a vertente que destaca a natureza missionária da cultura lusíada, aí coloco as minhas mais sérias reservas. Esse é um caminho que facilmente resvala para discursos e visões xenófobas e racistas da História; tirando todas as consequências daquela ideia, chegaremos sempre a patamares em que nos vemos forçados a sustentar o determinismo biológico de que há povos naturalmente melhores que outros. 

Do pensador, chamemos-lhe assim, talvez fosse melhor seguir o exemplo prático e debruçarmo-nos sobre aquilo que ele fez ou propôs que se fizesse. Creio que das ideias de Universidades Populares, à confiança nas expressões civilistas, há bons exemplos em que poderemos beber ensinamentos para o presente. 
Teoricamente, é provável que, no século vinte, tenha sido o melhor expoente da defesa dos ideais do Quinto Império que o Padre António Vieira anunciara trezentos anos antes, em muitas das suas prédicas. (3) Não me parece é que isto reflicta muito mais do que a pobreza do pensamento filosófico feito por portugueses na modernidade. 

Razão tive eu quando grafei uma palestra do Professor, “(…) fazendo-o de forma que as ideias surgissem coerentes e claras, preferencialmente, em concomitância, respeitando o estilo oratório.” (4) É que o estilo do homem tem um ritmo vincadamente deste último nível, provavelmente, direi eu agora, por influência e em homenagem ao Mestre Vieira. 
Avaliando por esta obra que acabei de ler, mais me convenço que, para realizar a grafação da palestra que a CACAV publicou em noventa e seis (5), tomei então a decisão certa. 



Portugal é que vai mal 
coitado 
de tanta operação venal, 
amordaçado. 


Tenho visto confirmados os meus maiores receios. 
O país está dominado por teias de interesses a que nada nem quem quer que seja consegue fazer frente. 
Infelizmente, vivemos numa partidocracia oligárquica que é a forma em que se consubstancia o mosaico socio-cultural subjugado por tiranias larvares e sociologicamente dispersas, em que aos mais poderosos assistem as possibilidades de imporem os seus interesses e vontades e aos mais fracos o direito de servirem de base a uma pirâmide de onde excepcionalmente se conseguem erguer, afastados entre si por uma massa disforme dos que pululam para se aguentarem à tona de água e daqueles que, por diversas razões, acabam estatelados no fundo. 

Mas estas são lamúrias de que acabarei por falar adiante. 
Do abuso sexual de crianças às manigâncias no mundo da bola e das autarquias locais, passando, naturalmente, pelas nebulentas inter-secções entre o poder político e universos suspeitos, muitas são as meadas desta tragédia portuguesa. 



No mundo vivemos sob os efeitos da guerra que se iniciou com o massacre da população norte-americana e o bombardeamento do Pentágono, em onze de Setembro de dois mil e um. 

Os aliados que se empenharam na resposta ao terrorismo da Al-Qaeda e afins, depois de derrubarem os talibãs no Afeganistão e o regime de Saddam Hussein, no Iraque, agora estão a braços com a necessidade imperiosa de pacificação do Médio Oriente, ao mesmo tempo que terão que cooperar para a reconstrução das terras da antiga Babilónia. 

Trabalhos de Hércules que por inimigos têm todos aqueles para quem o mundo livre não passa de um emaranhado de injustiças. 



E eu que me senti tão satisfeito com a atitude que a Matilde revelou enquanto decorria a algazarra da apresentação. 
Sossegada, atenta e compenetrada, deu-me tanta vontade de abraçar a pardaloca com os bracinhos cruzados sobre a mesa. 


Mas eis que os dias vindouros precisam de motes pelo que hoje me despeço. 
Até amanhã! 


Alhos Vedros 
 15/09/2003 

NOTAS 

(1) Silva, Agostinho da, REFLEXÃO, pp 105 e ss 
(2) Schumacher, E. F., SMALL IS BEAUTIFULL 
(3) Vieira, Padre António, SERMÕES ESCOLHIDOS 
(4) Gomes, Luís F. de A., NOTA DE ABERTURA, p. 11 
(5) Silva, Agostinho da, NAMORANDO O AMANHà


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Gomes, Luís F. de A., NOTA DE ABERTURA, in “Namorando O Amanhã, de Agostinho da Silva, CACAV (1ª. Edição), Alhos Vedros, 1996 
Schumacher, E. F., SMALL IS BEAUTIFULL, Advertência do Editor, Tradução de Cardigos dos Reis, Publicações Dom Quixote, 1980 
Silva, Agostinho da, REFLEXÃO, Prefácio de F. da Cunha Leão, Guimarães Editores (3ª. Edição), Lisboa, 1996; NAMORANDO O AMANHÃ, Nota de Abertura de Luís F. de A. Gomes, CACAV (1ª. Edição), Alhos Vedros, 1996 
Vieira, Padre António, SERMÕES ESCOLHIDOS, Selecção, Introdução e Notas de Maria da Graça Morais de Sá, Ulisseia (2ª. Edição), Lisboa, 1984

segunda-feira, 18 de maio de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (132)

Flor de Amendoeira, Autor António Tapadinhas, 1997
                 Óleo sobre Platex 15x15cm

VISITA AOS MESTRES



Ontem estive no céu! A visita à exposição, A Perspectiva das Coisas, foi a sensação que me deixou. Ver Cézanne, Monet, Manet, Matisse, Bonnard, Braque, Magritte, os nossos Vieira da Silva, Amadeo de Sousa Cardoso, Eduardo Viana e o génio louco Van Gogh, têm esse efeito sobre mim.
Com o trabalho tudo correu bem, o último quadro foram ramos floridos – tu verás, entre as minhas obras talvez a que fiz com mais paciência e melhor, pintada com calma e uma maior segurança das pinceladas. 
Estas palavras foram escritas por Van Gogh, numa carta ao seu irmão, depois de concluir um quadro, para oferecer ao seu sobrinho e afilhado, Vincent. 
A obra, com o título, “Amendoeira em Flor”, óleo sobre tela, 73x92cm, está em Amesterdão, no Rijksmuseum Vincent Van Gogh. Todos os críticos, nos seus comentários, consideram este céu, o mais intenso, o mais brilhante, que o artista alguma vez pintou. Tinha a intenção de colocar aqui o quadro, mas fiquei completamente baralhado: se se derem ao trabalho, verificarão, nas centenas de reproduções que há no Google, as diferenças gritantes que existem entre cada uma delas. E os livros que tenho não esclarecem as minhas dúvidas.
Agora, já vi e já senti o verdadeiro azul do Mestre. Este azul das flores de amendoeira está próximo. 
Neste Inverno, mais do que a queda de neve ou os gélidos ventos, imaginem as andorinhas pairando no ar, com o inconfundível aroma das amendoeiras em flor, anunciando a chegada da Primavera…