Esta é a planta que irá servir de base à lição de fitoterapia na Universidade Sénior dos Coruchéus e a seguir na habitual "Oficina de Chás" que terá lugar na Biblioteca Municipal dos Coruchéus, em Lisboa, no dia 11 de Maio (segunda-feira), às 16h. No fim será servido um cházinho de flor de carqueja a todos os presentes.
Miguel Boieiro
Carqueja (Genista
tridentata), in Wikipédia
A carqueja é uma planta sobejamente conhecida em Portugal.
Ela faz parte da medicina popular desde tempos ancestrais. Não obstante, são
escassos os registos dedicados a esta curiosa herbácea. Nas consultas efetuadas
na minha já vasta biblioteca de botânica e no tocante a compêndios estrangeiros,
ela está omissa. Mesmo em obras editadas no nosso País, muito poucas referem a
carqueja, e algumas contêm erros e confusões que é mister deslindar. No Brasil,
a que se designa por carqueja é uma espécie muito diferente da nossa. Trata-se
da Baccharis trimera ou Baccharis genistelloides, referida, por
exemplo, em “Plantas Terapêuticas” do notável botânico Sérgio Franceschini
Filho. É uma boa planta da família das Asteráceas
mas parece que não a temos em Portugal.
Os nossos irmãos galegos falam da “carqueixa boieira”, nome
assaz simpático para este escriba. Contudo, nada mais é do que a popular designação
local de uma conhecida Cistácea, cujo
nome científico é Halimium alyssoides.
A nossa carqueja abunda em solos ácidos escarpados e xistosos,
sobretudo no centro e no norte do País. Acha-se também nalgumas regiões de
Espanha e no norte de Marrocos. Não há referências a que se encontre noutras
regiões. Para ficarmos menos confusos, vamos ver qual é o seu nome científico.
Acontece que, para complicar, também nesta área os botânicos divergem. Uns
chamam-lhe Genista tridentata,
outros, Pterospartum tridentatum. O
meu amigo José Salgueiro, famoso ervanário de Montemor-o-Novo, identifica-a
como Chamaespartium tridentatum. Gonçalo
Sampaio, na edição de 1947 da “Flora Portuguesa”, aponta Genistella tridentata. Pelo que apurei, são sinónimos da mesmíssima
planta da família das leguminosas ou Fabaceae.
Apelo aos botânicos para se entenderem de vez, evitando-se que o vulgo amador
esbarre com acrescidas dificuldades nas identificações dos seres viventes deste
universo, já bastante complexo, que compõe o Reino Vegetal.
A carqueja, que ora abordo, é um pequeno arbusto perene,
muito ramificado a partir da base, podendo atingir um metro de altura. É
destituída de folhagem, pelo que a função fotossintética é assegurada pelos
caules. Estes são ondulados e coriáceos, formando asas tridentadas que saem de
cada nó. As flores são amarelas e à medida que perdem o viço vão ficando com
tons alaranjados. Consocia-se a estevas, urzes e tojos.
A carqueja é pirófila. Isso significa que, aquando dos
cíclicos incêndios que assolam os pinhais, emite novos rebentos a partir do
solo, os quais se desenvolvem rapidamente, visto não terem a concorrência de
outras espécies de muito mais lenta regeneração.
Algumas publicações referem que a carqueja começa a florir a
partir de maio. Posso comprovar que tal não corresponde à realidade. Recentemente,
ainda em março, procedi a uma boa recolha de flores de carqueja nas imediações
da aldeia da Pombeira, concelho de Ferreira do Zêzere. Destinei-as à confeção do
“chá” para o habitual Almoço de Primavera da Sociedade Portuguesa de
Naturalogia. Aproveito para comentar que a paisagem era soberba: a barragem em
baixo e nas vertentes dos montes, entremeando-se harmoniosamente, o amarelo-torrado
das carquejas e o rosado das urzes – lindo!
A carqueja possui abundantes sais minerais, especialmente o
crómio. Tem também saponinas e flavonóides. É diurética, emoliente e depurativa.
A infusão das flores é boa para a tosse, a rouquidão, os
resfriados e as irritações do sistema digestivo. Serve ainda para diminuir o
inchaço dos pés e das pernas, a artrose e a gota. Ajuda a emagrecer e protege o
fígado da ação nociva do alcoolismo.
José Salgueiro recomenda ferver 35 g das flores para um litro
de água. Deixar 10 minutos em repouso, coar e beber. Diz que não conhece melhor
remédio para um fígado doente, prescrevendo também o cozimento das flores para
aplicar diretamente, em cataplasma, sobre as chagas venéreas.
Em terras nortenhas a carqueja servia para aquecer os fornos
e para chamuscar os coiratos dos porcos após a matança.
Finalmente há ainda que aludir a sua utilização em culinária
em que se sobrepõe o famoso arroz de carqueja.
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