terça-feira, 31 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O REQUIEM DE MOZART

Sítios de interesse na cidade. 


Pelas vistas, indubitavelmente o castelo, para o qual se pode subir por um funicular moderno e rápido. 

Dali temos aquelas paisagens em que o azul e o verde se abraçam na curvatura dos montes que envolvem a cidade, ao longo da qual se encurva a rápida torrente do rio. 

Mas o próprio edifício multi-secular da cidadela vale bem o passeio e ali podemos encontrar um museu de marionetas que faz jus à fama do teatro do género que ali se representa há vários séculos. 

Na descida de regresso ao centro, saímos por um museu da água em miniatura em que obtemos informação sobre as formas como a população tem explorado um tal recurso e ainda sobre as dez espécies, entre peixes e crustáceos que povoam os rios e os lagos da região. 


E não é que dali entrei num cemitério antigo que envolve a igreja de São Pedro que em boa verdade merece uma visita, quer pelo interesse do local, quer pela serenidade que brota do ajardinamento em que as campas estão dispostas? 


O Museu de Mozart, como não podia deixar de ser e uma das casas em que ele viveu com os seus pais. 


Mas também a expressão da arte contemporânea na cidade que foi gabada por Humbolt e pintada por inúmeros artistas. 


E os acontecimentos que são da melhor qualidade. 

“Benedictus qui venit in nomini Domini.” 

O Requiem, de Mozart, na Dom, pela orquestra e o grande coro locais, o diamante desta viagem. 

Não há palavras que descrevam um espírito quando voa e ainda agora que garatujo estas notas numa velha cervejaria, me parece estar a flutuar na sonoridade mágica da catedral. 

É difícil assistirmos a momentos tão belos e grandiosos como este. 



Curiosidades civilizacionais. 
Muitos dos músicos, com os instrumentos devidamente transportados nas respectivas caixas, saíram do local e seguiram para casa nas suas bicicletas. 



Creio que hoje só me resta dormir. 


 Salzburgo 
04/09/2004

segunda-feira, 30 de março de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (389)


Noite Estrelada, Vincent van Gogh,  1889

Tinta a Óleo, 74 cm x 92 cm

Nascimento a 30 de Março de 1853, Zundert, Brabante do Norte, Países Baixos
Morte a 29 de Julho de 1890, Auvers-sur-Oise, França

Noite Estrelada é uma pintura de Vincent van Gogh de 1889. A obra retrata a vista da janela de um quarto do hospício de Saint-Rémy-de-Provence, pouco antes do nascer do sol, com a adição de um vilarejo idealizado pelo artista. A tela faz parte da coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque desde 1941.

Vincent Willem van Gogh foi um pintor holandês considerado uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental. Ele criou mais de dois mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida. Suas obras abrangem paisagens, naturezas-mortas, retratos e autorretratos caracterizados por cores dramáticas e vibrantes, além de pinceladas impulsivas e expressivas que contribuíram para as fundações da arte moderna.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 28 de março de 2020

A Matriz Cultural de Portugal


Luís Santos

#9 O RENASCIMENTO #9

Curiosamente um dos autores que primeiro abriu as portas ao Renascimento foi São Tomás de Aquino, um frade católico, mais tarde beatificado pela Igreja, que viveu no século XIII e fundiu o espírito da filosofia aristotélica com o cristianismo, dando particular ênfase às ideias de Santo Agostinho, fazendo renascer, simultaneamente, todo um conjunto de princípios que fizeram escola no berço do pensamento científico, a Grécia Antiga. O salto de São Tomás de Aquino na “Suma Teológica”, a sua obra de referência, é a legitimação da separação entre o poder espiritual e o poder dos príncipes que acabaria, com o tempo, para remeter as influências da igreja na vida pública mais para a esfera do privado, deixando o exercício da política nas mãos dos monarcas e da nobreza.

Mas, um par de séculos desenrolados, a emergência de uma burguesia mercantil em franco crescimento, ligada ao surto de expansão ultramarina europeia e às riquezas ligadas ao comércio que daí advieram, muito ligada a uma ética protestante saída da Reforma da igreja católica, por mãos de Martinho Lutero, que absolutamente legitimava o lucro e a usura financeira, vai desencadear o florescimento de uma nova organização económica assente na acumulação de capital.

Entretanto, Luís de Camões glorificando o espírito luso, lia os Lusíadas a Dom Sebastião, e falava da chegada dos nautas que vinham com o Gama à Ilha dos Amores, canto IX, numa síntese de tudo o que os portugueses mais tinham sonhado, e desejado, até então. Todo esse reino paradisíaco de múltiplas cores e flores, e nascentes de água límpida, onde se banhavam as mais belas ninfas haveria de se Encobrir em Alcácer Quibir. Fechava-se o sonho de Afonso Henriques, perdia-se o culto do rei poeta e da rainha santa, quedava-se o impulso do Navegador, interrompia-se o país. E volvidos sessenta anos, quando em 1640 se voltou, a história já era outra.

A Ilha dos Amores no meio do nevoeiro, Rio Minho

terça-feira, 24 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Uf! Dias de folga no antigo principado dos arcebispos de Salzburgo, na Áustria. 


Só os pais, como mandam as regras do namoro e as ruas e vielas de uma cidade fantástica para nos encantar. 


Com a agradável surpresa de termos sorte com o tempo atmosférico, solarengo e ameno, ainda assim com as nuvens que adornam os verdes horizontes quando vistos do alto e as noites propícias à conversa de esplanada, como a do Museu de Arte Contemporânea cuja vista nos convida a um mergulho no calmo rebuliço da cidade, lá em baixo. 


Salzburgo resultou de um povoado da Idade do Bronze que, por sua vez, se terá fixado a partir de colonizações anteriores que ali disfrutavam as bonanças de um vale abrigado e o recurso natural em que a zona é pródiga e de que deriva, inclusivamente, o nome do burgo. 

Terá sido o comércio do sal que desde os primórdios proporcionou a riqueza da região e que motivou as atenções do Império Romano, quando deu pelo nome de Juvavum, o sítio dos deuses e, já na Idade Média europeia, do Bispo de Worens, São Rupert, que ali fundou uma fortaleza por volta de setecentos da era actual. 

Desde então e até ao início do século dezanove quando, por um dos tratados que se sucederam às guerras napoleónicas, foi integrada no Império Austro-Húngaro, a cidade e a região envolvente constituíram um estado independente governado por sucessivas dinastias de arcebispos-príncipes. (1) 

Hoje em dia é uma cidade universitária que preserva a memória cultural de grande centro musical – ali nasceram Mozart e Herbert Van Karajan, por exemplo – e vive essencialmente do turismo que ali se fascina com uma cidade arquitectonicamente preservada na sua originalidade e goza as ruas a palpitar de musicalidades espontâneas e cosmopolitas e os museus e as igrejas de um barroco mais sóbrio que a nossa talha dourada mas nem por isso menos trabalhado e elegante. 



A Matilde ficou com os meus pais e está bem mas, é claro, está cheia de saudades. 



Infelizmente há péssimas notícias sempre que ligamos a televisão no quarto do hotel. 


Desde a passada quarta-feira que um comando tchetcheno sequestrou uma centenas de pessoas numa escola em Beslan, uma cidade da República da Ossétia do Norte. 
Exigem a libertação de correligionários presos e ameaçam fazer explodir o local se forem atacados pelas forças de segurança. Têm em seu poder centenas de crianças e encarregados de educação, bem como os professores e os funcionários do estabelecimento de ensino; contam-se pelos dedos aqueles que se conseguiram pôr a salvo. 


É uma tragédia indizível. Se o sangue escorrer, ultrapassar-se-á um limiar na violência que o terrorismo faz incidir sobre os seus alvos que, ao chegarem às crianças, só terão limites nas capacidades tecnológicas que aqueles grupos de criminosos sejam capazes de reunir para provocarem danos maciços naqueles que definem como seus inimigos. 


O próximo degrau será o uso de armamento nuclear. 


Deus nos salve de uma loucura como essa. 


No entanto, neste caso temo que seja de esperar o pior. 
Avaliando pelo que aconteceu há dois anos num teatro, em Moscovo, não me admiraria que as tropas entrassem em acção e tudo aquilo terminasse numa carnificina. 


E não me admiraria que o Presidente Putin depois de se desculpar de uma qualquer maneira, aproveitasse o combate ao terror para reforçar os seus poderes. 


O problema é que a antiga União Soviética está minada por máfias e, em algumas das antigas repúblicas, por senhores da guerra. 


Sem que nos estejamos a dar conta, o mundo pode estar a caminhar para uma nova idade das trevas. 


Será que o Mal se apoderará dos destinos da História da Humanidade? 


 Salzburgo 
03/09/2004



NOTA 

(1) Sem referência de Autor, SLAZBURG, pp. 2 e ss 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Sem referência de Autor, SALZBURG, Rich-Lau & Geber Metz, Gesmbb, Salzburg

segunda-feira, 23 de março de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (388)


Retrato de Picasso, Juan Gris, 1912
Tinta a óleo, 93 cm x 74 cm

Nasceu em Madrid, 23 de Março de 1887, faleceu em Boulogne-Sur-Seine, 11 de Maio de 1927.

Juan Gris, pseudónimo de Juan José Victoriano González, foi um dos mais famosos e versáteis pintores e escultores cubistas espanhóis. Apesar de ter falecido jovem, Juan Gris representa o expoente máximo do cubismo sintético.

Iniciou a sua formação ingressando na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando. Após este período tornou-se aluno do pintor José Moreno Carbonero, começando também a ilustrar algumas revistas modernistas de poesia da época.

No ano de 1906, mudou-se para Paris, a "cidade-luz", centro mundial das artes. Ali conhece artistas como Guillaume Apollinaire, André Salmon, Max Jacob e, o que mais o marcou e influenciou, Pablo Picasso. Através deste último, conhece também Georges Braque.

Em 1912, passou, finalmente, a integrar o movimento cubista, tornando-se assim, conhecido em todo o mundo. Celebrou também, a sua primeira exposição individual, realizada na Galeria Sagot.

Continuou a expor o darloscentrismo de arte, até 1927, ano em que faleceu, com 40 anos de idade.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 21 de março de 2020

Quadragésima (4º domingo)




IV. Os sons do Oriente – música das esferas

1º andamento – da Meditação

Erguido que foi o cruzeiro ao alto
depois que se relembrou o caminho
que vai até à Páscoa e do temporal
da ventania, do escurecer do céu
afinal do retorno indo-europeu
de cruz às costas no Teu sacrifício
e do sofrimento pela ressurreição
almas penadas adiadas na angústia
dos dias que se encolhem e demoram
a revelar mais do que a própria luz
do sol que nos aquece e nos anima
e nos vira para cima, que é todo o lado
nos tempos em que recordamos o Veda
do entorno do sangue pelo dom da graça
dos deuses que nos visitam e ignoram
bebem dos nossos cansaços e só dão
os braços imensos ás preces, aos rogos
aos caídos entre vivos e mortos fomos
e pusemos Cristo e Buda no cataclismo
da Índia, do Tibete ao Japão, em união.


 2º andamento – dos Mantras

Silêncio.
Aquele jesuíta António de Andrade
passou para lá da verdade, das neves
perpétuas são as horas das pedras frias
das prisões de meditações sem fim
a ideia do vazio de que a mente mente
no fim do dia da tecnologia das velas
à bolina triangular a sina do paraíso
onde afinal, não há bem nem mal
a separação foi uma invenção da queda
de anjos trôpegos de golfadas universais
a expansão contínua infinita das almas
sofrimento que é alegria, na natureza
do dia claro que se segue ao nevoeiro
o quinto império e o espírito santo
en-canto nosso, almejado momento
nirvana e iluminação fraterna do tempo
na misericórdia da guerra e nos desejos
da paz, em que tudo é Um, tudo é assim
sem dualidades no grito dos corpos.


3º andamento – do Êxtase

O dia nasceu em paz na tona das águas
o mar que nem bulia feito um espelho
um calmo chão por onde se pode andar
uma oração feita meditação e o ioga
das pernas esticadas, das costas direitas
o fluxo dos fluidos orgânicos nos círculos
dos olhos parados etérea contemplação
quase nada quase tudo vida parada
calmas vão as mentes e pacíficas são
as ações de não agir que evitam malefícios
proclamação da eliminação do sofrimento.
E então, em que ficamos trindade nossa,
penamos para não penar? Deixamos o mar?
O balanceado enjoo, a fome, o escorbuto
deixamos a canela, as belas sedas, os véus
as curvas das pernas e os seios, a cama
sutra do diamante de meditações tântricas
de divinas mulheres do amor e do amar,
qual a suprema razão de um ser de dor
pelo que deste a vida para nos salvar!?


quarta-feira, 18 de março de 2020

A favor da amizade sincera e honesta mundial



“Revisando Paradigmas E Tabus E Substituindo-os Por Sinergias Vibratórias”

A olhos vistos aumenta a minha fé
Acredito na victória da consciência
Sinto o juízo a crescer-me na cabeça
Fervilha-se-me o cérebro com bom senso
Há boas ideias a borbulharem numa roda-viva
Inovo e renovo o pensamento e a ainda mais a imaginação

Concorro para observador-mor do Universo e arredores
Fico quieto num dos cantos superiores da bancada
Admiro a paisagem em frenesim de braços no ar
O mar agita-se numa vibração incontrolável
Sinergias movimentam tudo em volta
Desligo da tomada o fio preso a mim

Descarrego as frustrações ao largo
Deito pela borda fora as maluquices
Agarro em contentores que esvazio à toa
Fixo a atenção num crucifixo feito de arame
Sangra por si a baixo como eu sangro do cérebro
Choro com um misto de molho de tomate e soro nos olhos…

Arrebento com tabus e anteriores paradigmas enquanto quebro rotinas…

Escrito em Luanda, Angola, a 17 de Março de 2020, por Manuel (D’Angola) de Sousa, a favor da Amizade Sincera e Honesta Mundial e pela Reconstrução Conjunta e Solidaria da Economia Global, mais justa e equilibrada e harmonizada, entre Países mais pobres e mais ricos…

“Viva o Espirito Global da Harmonia do Equilíbrio e da Paz Fraternal entre todos os Povos da Terra…”

terça-feira, 17 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
23

Terá sido no contexto da sedentarização que os homens inventaram ou descobriram a agricultura. Como tal sucedeu não se sabe ao certo, pois o que as provas arqueológicas permitem conhecer pouco mais é que os locais onde isso terá ocorrido pelas vezes primeiras e o abrir as janelas para que, em face dos dados recolhidos, se estabeleçam hipóteses de como os humanos terão chegado a esse estado de domínio das técnicas e saberes que lhes permitiram a fulcral transformação em seres produtores de alimentos. De qualquer forma, verificamos que foi essa a primeira grande e verdadeira revolução (1) produtiva que alterou por completo o modo de vida que a Humanidade teve até então, provocando a estratificação social e fenómenos como o aparecimento das cidades e a guerra pela posse de territórios, bens e pessoas. Se relações como as de propriedade são presumíveis em sociedades caçadoras relativamente a objectos pessoais, com a agricultura elas passaram a aplicar-se à própria terra, bem como às matérias delas extraídas e até às pessoas envolvidas nessa sustentação do quotidiano. Se o aparecimento de chefaturas são observáveis nos grupos de caçadores, ainda que em situações de contactos mais ou menos próximos com outras formações sociais sedentarizadas, foi com as comunidades agrícolas que aquelas autoridades se consolidaram e desenvolveram no sentido das organizações políticas que formaram os primeiros estados. 
O mundo em que hoje vivemos mais não é que a continuação das consequências dessa conquista da nossa espécie que dificilmente seria concebível fora de populações sedentárias. 
Se queres que te diga, sempre tive para mim que o episódio de Adão e Eva e a sua expulsão do Paraíso – e já nessa história estava contido o mito de Prometeu que ousou tirar o fogo da sabedoria aos deuses – é um eco distante da memória dessa passagem de uma vida de caçadores para a de agricultores – ganharás o pão com o suor do teu rosto – e não deixa de ser curioso como a moderna genética vem corroborar a ideia de uma mãe única para a espécie humana que há volta de oitenta mil anos abandonou África, (2) pelo Mar Vermelho, para a península que lhe é fronteira. Mas isto, por si, é assunto que daria uma abordagem particular que aqui não vem ao caso. 
Ao que parece, a agricultura terá sido inventada em diferentes locais em épocas não muito distantes entre si. De acordo com os achados arqueológicos que por enquanto se conhecem, os homens fizeram-se agricultores nas planícies sedimentares do sudeste asiático, tal como no crescente fértil ou ao longo do Nilo, factos que aconteceram entre quinze a doze mil anos atrás e também pode ter sucedido nas zonas costeiras do actual Perú em torno de uma planta, a totora, aplicada na manufacção de pequenas jangadas pirogas individuais e utilizadas na pesca em águas de beira-mar. 
Dada a abundância, em determinados locais, de plantas cerealíferas que os nossos antepassados se habituaram a colher e a incorporar nas suas dietas alimentares, se por um lado isso possibilitou a fixação de populações, por outro lado, por via justamente da continuidade da recolha de grãos que transformavam em comida, provocou a selecção de espécies mais robustas e alimentícias. 
Pois foi com esses cereais já selecionados que, provavelmente, alguém terá tido a intuição de perceber que, se lançadas à terra, as sementes originariam novas plantas. E se comparada com o tempo anterior, de modo algum poderemos dizer que tenha sido lento o processo de domesticação de outras espécies vegetais e animais. 
A verdade é que as civilizações em que hoje vivemos jamais teriam sido realizadas sem que o Homem se tivesse tornado produtor. 


NOTAS 

(1) A caça foi a primeira grande aquisição humana e seguramente terá sido antecedida pela simples predação. Se bem que tenha sido uma modificação importante, pelas suas consequências, pois viabilizou a colonização humana do planeta, não constituiu um corte radical com o modo de vida anterior, uma vez que manteve os princípios da itinerância e da captura do existente num dado lugar. Em tal condição, os nossos ancestrais terão com certeza modificado aspectos da superfície terrestre, mas só com a agricultura começaram a construir paisagens. A caça terá sido um grande salto no sentido da complexidade cultural, mas foi a agricultura a primeira revolução pois implicou a completa modificação das antigas formas de vida. 
(2) Mais uma vez chamamos a atenção para o facto de estarmos a considerar dados de dois mil e quatro que, de então para cá, em muito foram acrescentados e que implicaram grandes alterações nas datações até então obtidas.

terça-feira, 10 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

MEDITAÇÃO

Maratona masculina feita com sangue suor e lágrimas. 

O atleta brasileiro depois de um esticão que o isolou por uma boa dúzia de quilómetros e chegou a colocá-lo a mais de trinta segundos de vantagem sobre os mais directos perseguidores, já quebrado, é verdade e em nítida perda do avanço conseguido, sofreu um abalroamento por um lunático irlandês em protesto creio que pela presença estrangeira no Iraque, causa que manifestamente o impediu de manter as distâncias e o deixou à mercê da ponta final de grande classe e pujança atlética do maratonista italiano que, após uma recuperação fantástica, veio a arrebatar a medalha de ouro. Ainda assim, o azarado cortou a meta em terceiro lugar fazendo asas que bem mostravam a alegria pelo feito. 


O português conseguiu um honroso sexto lugar. 


E eu tive umas boas duas horas e meia de repouso. 



A paternidade tem a particularidade fascinante de estar permanentemente em face da possibilidade de vir a confrontar-se com novas questões e problemas no que diz respeito à relação educativa que se estabelece com os filhos. Compreende-se, as pessoas crescem e à medida que a sua autonomia se vai formando surgem, naturalmente, situações novas para as quais os pais devem encontrar uma resposta. E é bom que assim seja, mas essa é uma das nossas angústias. 

Por vezes converso com amigos que referem os receios de tomarem decisões erradas ou de falharem nos aconselhamentos. 
Devo confessar que também eu sinto isso e muitas vezes o tenho conversado com a Luísa e chegámos à conclusão que apesar de todos os constrangimentos que possam existir, não há alternativa ao método da experiência e do erro, isto é, só nos resta optar por um caminho e estar sempre atento para o avaliar e simultaneamente preparado para o corrigir se for caso para tanto. 

Há princípios gerais que advêm dos valores que tomamos por bons e que podemos utilizar como grelha de referência para a nossa conduta. Ora se isto é verdadeiro para a nossa vida de adultos, em geral, também o é para a responsabilidade que assumimos de proporcionar a alguém a aventura de se fazer gente de bem. 
Pois é com base nesse critério que procuramos resolver a nossa angústia. 
É claro que por vezes erramos e emendamos rumos e processos; mas sabemos que as acções foram ponderadas e nunca fruto de leviandades e por isso encaramos as correcções de consciência tranquila e sem recriminações pelo que possa ter corrido mal ou menos bem. 

E tenho para mim que é a partir do acompanhamento constante e do muito carinho que nós conseguimos ir construindo uma relação de confiança que, da parte dos amorzinhos, nos deixam o espaço livre para podermos reconhecer as necessidades de emenda sem com isso perdermos o carisma que devem ter aqueles que educam. 

É do amor que nós somos capazes de dar que, em primeiro lugar, se faz a aprendizagem que pretendemos obter da parte daqueles que tão docemente nos preocupam. 


Ora neste sentido, devo admitir que, pelo menos até ao momento, os resultados são positivos. 


É uma alegria ver as minhas filhas crescerem com vontade própria e sentido crítico, atingindo com facilidade os objectivos que as suas vidinhas lhes colocam pela frente. 



A Matilde dormiu sozinha no novo quarto sem qualquer hesitação. 


Deus seja Louvado. 



Mesmo com o cansaço eu sou um homem feliz. 


 Alhos Vedros
  30/08/2004

segunda-feira, 9 de março de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (388)


As piteiras, João Vaz
Pintura Óleo sobre Madeira, 34,5 x 57,72

João Vaz nasceu em Setúbal, a 9 de Março de 1859 e faleceu em Lisboa a 17 de Fevereiro de 1931.

«Nascido em Setúbal, João Vaz (1859-1931) foi um pintor da geração do naturalismo. Entrou para a Academia de Belas-Artes de Lisboa em 1872, completando o curso em 1878. Diz-se que foi na «escola» do Grupo do Leão e com o pintor Silva Porto, que realmente se formou. Não tendo alcançado bolsa para completar os estudos no estrangeiro, viajou por Madrid e Paris, na companhia de António Ramalho. João Vaz distinguiu-se como marinhista, pintando o Tejo e o Sado, rio que banhava a sua cidade natal. O rio Tejo inspirou-o num grande quadro, que apresentou como proposta para Académico de Mérito em 1897. A crítica portuguesa apreciava a sua pintura, notando uma evolução positiva ao longo dos anos. Fez decorações (colaborando várias vezes com António Ramalho), para o Museu de Artilharia, para a Escola de Medicina, para a Cervejaria Leão de Ouro, para o Palácio das Cortes, para o Hotel do Buçaco, etc. Desde 1884 foi professor de desenho das Escolas Industriais e director da Escola de Afonso Domingues em Xabregas (1889), tendo-se aposentado em 1925.»
( http://memoriasimagens.blogspot.pt)

Selecção de António Tapadinhas

quarta-feira, 4 de março de 2020

Apontamentos sobre a Índia Antiga


Baghavad-Gita ou "A Canção de Deus"
(Imagem do Google)

Luís Santos

A Índia conheceu várias civilizações e nela encontramos várias cosmogonias.

A Civilização do vale do Indo, a primeira grande civilização que surge na Índia, há 6 mil anos atrás, situou-se na zona do NW da Índia e Paquistão. Atingiu o seu apogeu 2.500 anos antes de Cristo. Utilizavam uma escrita de muito difícil tradução que limita o seu conhecimento. São contemporâneos do Antigo Egipto e dos Sumérios.

Em 1500 a.C., desenvolve-se a civilização Ariana no Vale do Ganges. Esta civilização floresce enquanto a do Vale do Indo desvanece. Não se sabe se constitui um prolongamento da primeira. Os povos de raiz indo-europeia descendem desta civilização. Vários autores desenvolvem o tema das culturas indo-europeias, como são os casos de Georges Dumézil, Émile Benveniste e Max Müller.

A Filosofia Clássica Indiana, em última instância, procura responder a duas questões: a natureza última da realidade e respetivas consequências no nosso destino pessoal. Para a sua compreensão é importante perceber-se que a cisão entre fé e razão ocorrida no Ocidente, não se encontra na Filosofia no Oriente.

Os Hinos Védicos, são os textos sagrados mais antigos da Índia. A palavra "veda" significa conhecimento, saber, passível de audição (que pode ser escutado). Em síntese, textos sagrados a serem escutados para serem apreendidos. As Upanishad, é o nome dos textos que, posteriormente, refletem sobre a cultura védica, mas que, simultaneamente, assinalam uma rutura com o período anterior. Estes textos dão-nos uma explicação sobre a origem das coisas, mas também sobre o que podemos realizar no interior de nós próprios. Atingem o seu momento pleno no século VI a.C.. Upanishad etimologicamente significa “estar sentado junto de” (do Mestre que explica os Vedas).

O Budismo, quando aparece pode considerar-se uma interpretação radical das doze Upanishad. Buda viveu no século VI ou V a.C. As primeiras cinco são prévias ao seu nascimento e as últimas sete são posteriores.

ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES DO HINDUÍSMO

Sâncrito, Língua Sagrada da Índia, uma sociedade divida em castas distintas, Brãhmana, ksatriya, Vaisya.

Hinduísmo é o desenvolvimento até aos nossos dias de um sistema magnífico de crenças e tradições que advém da interpretação dos textos sagrados da Índia.

Brâman, é a suprema divindade, o Absoluto, é incognoscível pelo homem. Princípio incondicional de criação de toda a realidade. A própria realidade. Um princípio supremo que está para lá dos próprios deuses.

Trimúrti, é a tripla parte manifesta da divindade suprema. Como um ser limitado, o ser humano somente percebe três aspectos de Brâman. A trimurti é composta pelos três principais deuses do hinduismo: Brama, Vixnu e Xiva, que simbolizam respectivamente a criação, a conservação e a destruição.

Atman, o sujeito interior de tudo o que um indivíduo faz. Um unificador interior de todos os nossos comportamentos. Agente interno que coincide com o próprio Absoluto e que se tiver “despojado” lhe pode aceder.

Chama-se de Brahmanismo às práticas rituais religiosas mais antigas feitas na Índia por sacerdotes brahmanes. Há que cumprir os ritos para atingir a dimensãos dos deuses.

Dharma, aquilo de que depende a ordem do mundo. A prática correta dos rituais é fundamental para manter a ordem no mundo, tal como é a sua forma original.

Entre as 4 grandes idades do mundo, atravessamos o período de maior decadência, o período em que, metaforicamente, a “vaca sagrada” está assente apenas numa pata.

Samsara, roda da vida que gira sem parar. Enquanto a existência estiver condicionada, o ciclo de renascimento/morte perdurará. Os seguidores do hinduísmo acreditam em vários deuses e na reencarnação, pois que os seres humanos morrem e nascem várias vezes. Cinco fatores que fazem o ser entrar no ciclo do samsara: ignorância, orgulho do eu, aversão à dor, perturbação/aflição e medo da morte/apego à vida.

Karma, designa a cada momento a ação condicionada pelas ações do passado e com consequências posteriores. É condicionado e condicionante. A sabedoria permite cessar a ignorância, ou seja, a produção kármica. Toda a experiência de dualidade, “eu sou um, tu és outro” produz o ciclo kármico.

Mumuksha, o desejo que fornece a possibilidade de libertação.

O Yoga é o contínuo exercício que permite pôr fim ao karma. A necessidade de cessação dos movimentos mentais. A procura de um êxtase, de uma consciência unificada. O Yoga deve levar-nos ao ponto zero da manifestação, a um processo de involução. Ser senhor dos próprios pensamentos, de pensar só quando é necessário.

Jivanmukta, aquele que se liberta da vida, que transcende os próprios deuses.

SOBRE O HINDUÍSMO

As escrituras sagradas hindus dividem-se em dois grupos:
- Os Sruti, (textos de revelação), onde são considerados Hinos Védicos, as Brãhmana-Upanisad e Ãranyaka. Todos estes textos do período védico pertencem à forma oral e só no período clássico passaram para a forma escrita. A recitação dos hinos sagrados sempre foi mantida, até hoje, ininterruptamente desde há milhares de anos.

- Os Smrti (textos da tradição), constituídos pelos textos épicos Mahãbãrata e Rãmãyana, pelas crónicas Purãnas e códigos de lei e ética.

Entre os textos sagrados indianos, as Upanishad têm particular relevância na transição da cultura védica para o hinduísmo. As Upanishad são o principal ponto de referência de Adi Sankara (788-820), o autor que mais marcou o desenvolvimento da filosofia clássica indiana e do hinduísmo. Tal como de Vivekãnanda (1863-1902), um dos grandes pensadores sobre a escola de Sankara. Foi um estudioso das filosofias ocidentais na Universidade de Calcutá e, igualmente, dos textos sagrados da Índia.

O princípio filosófico primordial é a equivalência entre ãtman e brahman. Atman, é um corpo vivo que respira = self = sentimento de si. Brahman é a própria realidade, o que existe em si e por si. É esta a síntese suprema de Sankara: a mesma identidade entre Atman e Brahman. Ou seja, aquilo que existe no interior de cada um é a própria realidade. Ser, Consciência, Felicidade Suprema (beatitude, bem estar), os principais objetivos.

Num texto das Upanishad - Taittirtya Upanisad – diz-se que nós não temos só um corpo, mas sim 5 corpos:
1-annamaya kosa (1ª camada) – o corpo que resulta da comida (o corpo físico)
2-prãnamaya kosa (2ª camada, cobre o primeiro corpo) – corpo de que resulta a respiração (o corpo que sente, o corpo subtil), do qual não se pode descrever a essência
3-manomaya kosa (3ª camada) – corpo que resulta da fusão dos outros dois corpos
4-vijñamaya kosa (4ª camada) –  corpo que tem a capacidade de compreender
5-ãnandamaya kosa (5ª camada) – a consciência, a camada que nos dá a felicidade.

Como trazer o corpo de felicidade suprema (ãnandanaya kosa) para o primeiro estado em vez de ser o último? Para Sankara isso consegue-se através da meditação, do Yoga. Para si, o texto de referência é sempre as “Upanishad”. Em última instância, aquilo que Sankara pretende demonstrar é que a realidade última está em nós. A experiência do Si é a mesma experiência da realidade. Nós somos Tudo e Todos.

As principais escolas da filosofia clássica indiana são as seguintes: Sãmkhya, Yoga, Vedãnta, Mimamsã, Vaisesika, Nyãya, Buda Dharma e Jainismo. As duas últimas são tradições heterodoxas que não se revêm nos textos sagrados do hinduísmo, embora tal como nele, também as Upanishad constituem uma das suas principais fontes de conhecimentos.

BHAGAVAD-GITA, ou “A CANÇÃO DE DEUS”

Bhagavad-Gita é um capítulo do “Mahabharata”, o grande épico indiano que é um dos textos sagrados do hinduísmo.

O grande protagonista do livro que fala na primeira pessoa, Krishna, o avatar de Vishnu, ou seja, a própria divindade, dialoga com Arjuna, seu discípulo guerreiro, em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre o seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna que o instrói na arte da auto-realização.

 Há quem o considere o maior das “Upanishad”. É o texto inspirador de Ghandi. Influenciou muitos escritores ocidentais como foi o caso Aldous Huxley. “Irmânia”, livro de Ângelo Ribeiro, autor português do século passado, também revela a sua influência. Einstein dizia que “quando lia o Bhagavad-Gita e pensava nas leis do universo, tudo o resto se tornava vulgar”.

Esta obra releva, sobretudo, o amor devocional, o amor divino, acima de quaisquer conhecimentos ou ação, daqueles que agem com os sentidos equilibrados, ou dos que agem não agindo, relembrando a boa maneira do taoísmo.

A essência de Krishna é o universo inteiro. Tudo é sagrado. Tudo é uno. O uno e o múltiplo são inseparáveis. Deus é a totalidade, transcende o bem e o mal, ou seja, pode ser bom, mas também pode ser mau!

Krishna diz a Arjuna: “Tu e eu existimos desde sempre”; “os corpos perecem, mas a alma não”; “o Uno não tem início, nem fim – não nasceu, nem morrerá”; “o apego ao prazer, a aversão à dor, a valorização da dualidade são limitações humanas”; “Deus é tudo em todas as coisas” (igual ao que diz São Paulo,  nos “Coríntios”). Continua Krishna: “Só aquele a quem conceder uma particular graça é que me pode ver, mais ninguém” (…) Mas enquanto homem, Arjuna, não aguenta muito tempo a perceção e a visão de Deus, e só quer que a experiência acabe…

terça-feira, 3 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A magia olímpica está no fim. Amanhã será a cerimónia do encerramento e o mundo que anda tão cheio da falta de sonho, continuará chorando a impotência em Darfur, manietado pelo terrorismo apocalíptico e a hipocrisia que serve de máscara à ganância dos poderes que tudo fazem em benefício próprio e impedem uma moratória global sobre a guerra que deixaria de fora apenas os seus executantes que facilmente poderiam ser neutralizados se para tanto houvesse vontade. 



E as minhas filhas que me dão tantas alegrias, crescendo numa loucura destas que simultaneamente se desenvolve na maravilha que é a Terra e a própria vida que em ela criámos. 



Há guerrilha maoista às portas da capital do Nepal? 

Nada há de bom que possa vir de tais grupos. 



Amanhã será a vez da Margarida rumar ao Porto, para aí passar os quinze dias da praxe. 


Alhos Vedros 
 28/08/2004

segunda-feira, 2 de março de 2020

REAL... IRREAL... SURREAL... (387)


Os Amigos, Kokoschka, 1917
Óleo sobre Tela, 90 x 120 cm

Nascimento: 1 de março de 1886, Pöchlarn, Áustria
Falecimento: 22 de fevereiro de 1980, Montreux, Suíça
A obra de Kokoschka caracterizou-se pelo confronto entre tendências realistas e diversas correntes artísticas que o influenciaram. Iniciou sua carreira como expressionista com a peça O Assassino, Esperança das Mulheres (1910) e o quadro A Noiva do Vento (1914), fascinado por paixões humanas. Depois do sucesso escandaloso, as experiências da Primeira Guerra Mundial e o fracassado relacionamento com Alma Mahler, em 1919 começou a dar aulas na Academia de Arte de Dresden. Nesse período, pintou diversas vistas da cidade, afastando-se do estilo anterior. Com obras como Porto de Marselha (1925) e Chamonix e o Monte Branco (1927), evidenciou uma técnica cromática ainda mais impressionista.

in uol educação

Selecção de António Tapadinhas

domingo, 1 de março de 2020

EG #121


ESTUDO GERAL
fev/mar     2020           Nº121


Podes e deves ter ideias políticas, mas, por favor, as “tuas” ideias políticas, não as ideias do teu partido; o “teu” comportamento, não o comportamento dos teus líderes; os interesses de “toda” a Humanidade, não os interesses de uma “parte” dela. E lembra-te de que “parte” é a etimologia de “partido”. (Agostinho da Silva)


Sumário
Um poema
Quadras
Ensaio
Real…Irreal…Surreal
Diarística


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