Luís Santos
O BUDISMO
Depois de atingir o despertar Siddartha Gautama, o Buda, foi exortado pelos deuses a transmitir aos outros a sua sabedoria. Os seus primeiros interlocutores foram 5 ascetas errantes, samanas da floresta, seus companheiros de vida nos primeiros tempos que se seguiram ao abandono do palácio real e da companhia dos seus familiares e súbditos. Esse célebre primeiro discurso ficou conhecido pelo “Sermão de Benares” e iniciou os ciclos de ensinamentos budistas.
Quando se fala em Buda, a palavra mais que uma pessoa designa um estado de consciência. Etimologicamente, a palavra Buda significa:
Bu (realizado) - purificação de todos os obscurecimentos, conceptuais e emocionais;
Da (liberto) - libertação ao nível cognitivo e afetivo, depois de ultrapassados os obscurecimentos.
O atingir de um estado de omnisciência absoluta e relativa, quer dizer, que vê a realidade como ela é, a verdadeira natureza das coisas, tal como as limitações das mentes não libertas.
As 4 nobres verdades do Budismo podem resumir-se nos seguintes passos:
1. Constatação do sofrimento
2. O sofrimento provém do desejo, da avidez
3. É possível cessar o sofrimento
4. Há um caminho para cessar o sofrimento
O sofrimento é o ponto de partida do budismo.
A causa de todo o tipo de sofrimento é a ignorância, por não se conseguir apreender a verdadeira realidade das coisas.
Há um desejo, uma avidez, que nos guinda constantemente a uma necessidade de saciamento (por natureza insaciável) e que está em relação com a nossa herança kármica. É esta inquietação fundamental que mesmo em silêncio nos pressiona. É o desejo de continuar a ser, de preservar uma identidade, que nos guinda a sucessivas existências…
A cura é não só possível, como desejável. As causas são internas e é possível removê-las. Há um caminho. Alguma coisa que está livre de tudo isto e que nos permite a libertação.
O MÉTODO DO “ZAZEN”
“Zazen”, etimologicamente decompõe-se em “za” que significa “sentar-se” e em “zen” que significa “pôr o espírito em repouso, concentrar o espírito e a mente”.
O MÉTODO DO “ZAZEN”
“Zazen”, etimologicamente decompõe-se em “za” que significa “sentar-se” e em “zen” que significa “pôr o espírito em repouso, concentrar o espírito e a mente”.
Ou seja, em síntese, o zazen, é uma técnica meditativa que se faz sentado. Mas, então, como se sentar? Podemos sentar-se na posição de lótus, ou mais fácil para iniciados, na postura do meio lótus, perna esquerda no chão, pé direito sobre a coxa esquerda. Os joelhos devem tocar o solo. A coluna vertebral estará bem direita a partir da curvatura da região lombar. Os ombros caem naturalmente e o ventre estará completamente descontraído. A mão esquerda palma para cima repousa na mão direita e os polegares têm um contacto entre si nas extremidades. As mãos devem tocar o ventre. Olhos abertos. Olhar pousado a um metro do local onde estamos sentados. Inspiração viva profunda, expiração lenta, profunda, poderosa. Esta uma das formas possíveis de praticar a meditação.
A prática do zazen é, simplesmente, o regresso a nós mesmos, a junção com o Eu absoluto. O zen é a própria realidade. Se o nosso espírito está vazio, então surge a verdadeira intuição que está para além da negação e da afirmação. Pelo zazen podemos voltar ao espírito puro. Mas atenção, zazen não é um estado passivo, uma paragem do cérebro, pelo contrário, é uma outra forma de atividade. Do mesmo modo se pode dizer da ideia budista de vacuidade que não é um sentido do nada, mas uma totalidade, uma liberdade universal.
REENCARNAÇÃO
É um dos ensinamentos fundamentais do budismo. O espírito humano pode elevar-se até a um “espírito subtil” ou “consciência subtil”. Esta consciência existe independente do corpo e do cérebro. É o espírito subtil que reencarna. Seguindo o Dalai Lama, a reencarnação (que é uma escolha) está ligada a um certo nível da vida do espírito. Se este espírito for desenvolvido pode escolher o seu próprio destino. É então um passo para a libertação, para uma possível melhora. Sem esta escolha o renascimento é uma queda no samsara. A reencarnação pode ocorrer num outro planeta, numa outra galáxia. Os estados nobres do espírito podem estender-se até ao infinito.
TRANSFERÊNCIA DA CONSCIÊNCIA E GRANDE LIBERTAÇÃO PELA ESCUTA
Quando os sinais ocorrem indicando que a morte se aproxima devemos prepararmo-nos para a transferência da consciência e refletirmos sobre os ensinamentos da Libertação pela Escuta nos Estados Intermediários.
Quanto à transferência da consciência há um exercício que deve ser treinado:
Devemos tapar todos os orifícios começando pelo reto, da procriação, umbigo, boca, narinas, olhos e ouvidos. No cimo da cabeça devemos visualizar a fontanela, depois visualizar também o canal central, no meio do corpo, direito e ereto – na sua extremidade inferior, abaixo do umbigo devemos visualizar um ponto seminal branco e brilhante, o qual constitui a essência da consciência desperta, pulsando continuamente e à beira de ascender. A força vital vai movê-lo ascensionalmente, até ao umbigo, depois coração, depois garganta, depois o espaço entre as sobrancelhas e, por fim, vai até à fontanela, após o que devemos visualizar que ele gira de novo para baixo e vem repousar abaixo do umbigo como uma difusão branca. Há que permanecer neste estado durante algum tempo.
Diz-se que obteremos a libertação se a consciência sair pela fontanela da coroa. Os lugares mais importantes do corpo para uma transferência da consciência depois da fontanela são os olhos e a narina esquerda.
Quanto à Grande Libertação pela Escuta, quando uma pessoa se aproxima da morte é habitual procurar-se um lama qualificado que deve iniciar as recitações de introdução ao estado intermediário.
Após a respiração haver cessado, a energia vital é absorvida no canal da sabedoria primordial e a consciência emerge como uma radiância interior. O defunto pode ouvir tudo o que se passa à sua volta, mas os outros não o podem ver. Assim, ele pode ir-se embora. Neste momento surgem três fenómenos: sons, luzes e raios de luz, o que pode provocar medo ou pasmo. Assim, durante este período deve ser lida a Grande Introdução ao Estado Intermediário da Realidade.
Terminaremos com um pequeno excerto da leitura a ser realizada:
“Ó Filho da Natureza de Buda, quando a tua mente e corpo se separarem, surgirão as puras (e luminosas) aparições da própria realidade: subtis e claras, radiantes e deslumbrantes, naturalmente brilhantes e terríveis, tremeluzindo como uma miragem numa planície no Verão. Não as temas! Não fiques horrorizado! Não estejas aterrado! Elas são as luminosidades naturais da tua própria realidade verdadeira. Reconhece-as portanto.” O corpo agora que tens chama-se um “corpo mental”. Tu, agora, estás para além da morte. Isto é o estado intermediário. Se não reconheceres os sons, as luzes e os raios de luz, continuarás a vaguear dentro dos ciclos da existência.
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