terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fim-de-semana de repouso, com jornais e Llosa, tal e qual estava a precisar para me recompor do esforço laboral que ainda tenho por necessário nos próximos dias. 
Não terei dormido tanto quanto desejava, uma vez que cedo nos erguemos da cama para gozarmos a praia de Sesimbra. Mas é o que eu chamo o mistério do mar, para o qual basta-me olhar e deixar que o espírito aí se perca, para sentir um renovar de energias no corpo e na alma que nesta ocasião me serão úteis para as refregas que aí vêm. 


E hoje à tarde deixei-me ficar na companhia da maratona feminina com os King Crimson como som de fundo. 

Impressionante foi a prova da maratonista japonesa que chegou em primeiro lugar que, por volta do vigésimo quinto quilómetro, impôs um andamento a que ninguém resistiu e que depois soube dosear sozinha a consagração da entrada no antigo estádio olímpico – em que já dei uma volta completa à pista, em passeio, é bom de ver – e vencer a corrida com todo o brilhantismo da alegria sobrepondo-se à máscara do esforço no momento de cortar a meta de braços abertos. 

Igualmente a queniana que ficou em segundo lugar protagonizou uma prova espectacular, com uma recuperação empolgante que deixou a concorrência para trás e lhe permitiu assegurar a medalha de prata. 

Lamento não ter fixado o nome destas atletas mas ambas as prestações me entusiasmaram. O recorde olímpico da maratona masculina pertence a Carlos Lopes, com duas horas, nove minutos e vinte e um segundos, desde as olimpíadas de Los Angeles em oitenta e quatro do século passado. 

Se resistir a estes jogos, ultrapassará assim as duas décadas. 

Até ao momento, este é ainda o maior feito do desporto nacional. 


E é o que põe a nu a ditadura que o mundo da bola exerce sobre a sociedade portuguesa. 


Quando os defensores do euro dois mil e quatro apresentaram todas as suas razões que nada tinham a ver com os aspectos desportivos, propriamente ditos e chegaram à demagogia extrema que, para mim, se confundiu com a vigarice, de alegarem que o evento teria potencialidades para polarizar a retoma económica – isto não é uma anedota – estavam precisamente a esconder o facto de o universo que orbita em torno do futebol sugar ao erário público muito mais do que devia e até do que é moralmente aceitável. 

Com efeito, se pretendíamos projectar a imagem do país no estrangeiro, como não tenho dúvida alguma em aceitar que se conseguiu com o europeu de futebol, mas se o desiderato era esse teríamos tido muito mais retorno se tivéssemos concentrado os recursos para uma organização olímpica que poderia ter sido planeada de maneira a dotar o país com infra-estruturas desportivas – e não só de um tipo de desporto, em particular – que posteriormente poderiam ser aproveitadas para funcionarem como polos de desenvolvimento neste âmbito específico das actividades humanas, nomeadamente e em primeiríssimo lugar no referente ao desporto escolar que não existe entre nós. Como facilmente é entendível, um tal evento tem uma audiência televisiva e uma cobertura mediática muito maior que o euro dois mil e quatro jamais poderia aspirar a conseguir. 
E depois um estádio olímpico seria muito mais fácil de manter e animar de modo lucrativo do que os dez que o estado pagou, o mesmo é dizer que os nossos dinheirinhos de cidadãos contribuintes pagaram para, a permanecerem as coisas como estão, ficarem às moscas e a reclamarem mais apoios públicos para que não se degradem com uma rapidez que, de todo, seria desaconselhável. 

Mas a verdade é que no meio de todo o generoso pacote que o país pagou, ninguém repara que ao Futebol Clube do Porto foi oferecido um centro de estágio pela Câmara de Gaia e todo um complexo desportivo nas Antas, onde fizeram o estádio do dragão e todas as acessibilidades, para além das negociatas dos terrenos e construção em que até o amigo Pôncios Monteiro aparece como empresário promotor. 


Enfim, é isto o mais triste exemplo do planeamento estratégico para o desenvolvimento desta triste sociedade. 



A Margarida começa a acusar o nervosismo pelo aproximar do começo do novo ano lectivo e a mudança de escola. 
Ultimamente tem feito perguntas sobre os horários e a turma e as indicações quanto ao primeiro dia de aulas que revelam uma agitação própria de quem se sente inquieta com o recomeço do ano escolar e o início de um novo ciclo. 


Vamos estar atentos nos próximos dias. 



E agora o sono, mas ainda antes lerei uma página de Llosa dos primeiros tempos cheios de exuberância. 


 Alhos Vedros 
 22/08/2004

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