terça-feira, 31 de outubro de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

FÉRIAS DE CARNAVAL

Que mundo tão estranho, o nosso, feito do magnífico e do atroz, onde, nas Filipinas, ainda vivem oito milhões de crianças que trabalham para sobreviver, ao mesmo tempo que o robot “Spirit”, sob ordens electrónicas emanadas da Terra, perfurou dez centímetros da superfície marciana. 
Que mundo tão estranho, o nosso que ao mesmo tempo que se prepara para abandonar o planeta natal e um dia colonizar outros planetas, tão perto vive do limiar da extinção, como uma pequena chama que um vento traiçoeiro faz abanar. 



Portugal é que já não tem cura. 
Cada vez mais me convenço que o estado está sujeito aos diktats de máfias variadas, qual delas a mais predadora e perniciosa. 
E não vejo que no actual espectro partidário haja coragem e capacidade para cortar os tentáculos desta teia que acaba por formar uma espécie de super-polvo que tudo abafa e suga com a sua sede cleptómana.

Mas desde a queda do comunismo que as máfias de Leste têm provocado um choque de corrupção por todo o lado, especialmente no vizinho Ocidente europeu, onde os exemplos de escandaleiras na Alemanha e em França dão mote para algum pessimismo. 
E eu não tenho dúvidas que é aqui que reside o principal e o pior desafio que actualmente se coloca às democracias. 
É que os poderes mafiosos se não forem controlados e, preferencialmente, aniquilados, estiolam, por completo, o estado de direito e sem este não há democracia possível. 

Virá o nosso país a ser o paraíso do crime organizado? 



Só espero que a Margarida e a Matilde se preparem para fugir desta pátria madrasta. 



Bolas, a máquina fotográfica está avariada; não sei como nem porquê. Espero, isso sim que ela fique reparada até ao fim do próximo mês e nestes dias que vamos passar em Bragança, terei que me servir da máquina da Margarida. 
Faço votos para que as fotografias que tirei em Conímbriga tenham ficado boas. 


 Alhos Vedros 
  20/02/2004

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

REAL... IRREAL... SURREAL... (278)

A Ponte de Moret, Alfred Sisley, 1893
Óleo sobre Tela  73,5 x 92,5 cm


O pintor franco-britânico Alfred Sisley, nasceu em Paris a 30 de Outubro de 1839.
Compartilhou com Monet, Renoir e Pissarro os anos de rejeição e incompreensão do impressionismo que, no seu caso, se manteve até à sua morte em 1899, enquanto os seus companheiros conheceram, ainda em vida, um êxito crescente.
Só a partir de 1900 começou a sua reabilitação pela crítica especializada e os seus quadros alcançaram importantes quotizações.
Manteve-se sempre fiel aos princípios do impressionismo como se pode observar no exemplo que apresento.

Selecção de António Tapadinhas

domingo, 29 de outubro de 2017

GLIFOSATO: o Ambiente envenenado


Os interesses da humanidade devem tornar-se os nossos interesses. O interesse pessoal deve ser transformado em interesse colectivo. 

Tudo o que atinge o homem, não só na nossa época, mas no decorrer de toda a evolução terrestre, deve despertar em nós o mais profundo interesse… temos que sentir tudo o que tem a ver com a evolução da Terra como um assunto pessoal…


Apesar do apelo da ANIPLA (Associação Nacional da Indústria para a proteção das Plantas) ao Ministro da Agricultura para o voto positivo de Portugal (que acabava ontem), ver aqui:
http://www.ambientemagazine.com/glifosato-anipla-apela-ao-ministro-da-agricultura-o-voto-positivo-de-portugal/


os partidos PSD, PS e CDS-PP chumbam iniciativas de rotulagem e fiscalização de OGM, ver aqui:https://www.dn.pt/lusa/interior/psd-ps-e-cds-pp-chumbam-iniciativas-de-rotulagem-e-fiscalizacao-de-ogm-8859598.html


mais do que os ideais, as acções falam por si.....
temos todos a obrigação de estar cada vez mais atentos e conscientes do que se está a passar.

Abraço,

~Paz&Luz~
Paula Soveral

sábado, 28 de outubro de 2017

Acidez no estômago


Muitas pessoas se queixam de acidez no estômago.
Uma das principais causas é a alimentação.

Os principais alimentos que causam acidez são: Açúcar e produtos refinados (pão, bolachas, bolos, pizzas... feitos com farinhas brancas e de má qualidade, massa e arroz branco, etc), alimentos processados, refrigerantes, tabaco, café, álcool, frutas ácidas, excesso de lacticínios não fermentados (note-se que os alimentos fermentados, os chamados probióticos,  não causam acidez e são benéficos para a saúde a todos os níveis).


O stress também não é bom conselheiro :)
É necessário:
1) fazer uma alimentação equilibrada baseada em vegetais (cozidos ou escaldados) e inserir regularmente/diáriamente arroz integral e millet.
2) Mastigar bem e comer com calma.
3) ter uma rotina diária sem stress.


Uma das outras possíveis causas é a presença da bactéria H. pylori  (uma das bactérias mais difíceis de controlar) que é, muitas vezes, responsável pela acidez e dores de estômago. A maioria das pessoas tem esta bactéria em desequilíbrio excessivo sem o saber.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O Mercado de Diamantina


Duetos luso-brasileiros
Fotografia de Kity Amaral
Poema de Luís Santos




Lembro-me das bandeiras que marcavam as fronteiras
e sim, do mercado de escravos no Arraial do Tijuco
da água de coco, dos guaranás e do guarani
do santificado António Vieira 
de uma inquisição que não era santa
do meu próprio irmão arrastado em leilão,
e da carta de alforria daquela dela pele baça, nua, 
diamantina presença, nas suas doces linhas juvenis, 
do seu colo na luz do luar;

e dos trabalhos na roça
dos quadris dobrados e dos trabalhos forçados 
das poças de água suja em que se lavavam as loiças
dos tropicais suores que lhes escorriam pelo rosto 
no coração de minas das pedras preciosas,
e daquela rocha dura, dura
de um brilho que cortava o vidrado solar do dia
em que seguiam os arrepios da febre e dos pés na barriga
a curar o reumático do seu senhor;

e eu, e tu, aqui outra vez, de vez e em português, 
sem amos, sem fim!

24/10/2017

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Ruínas-Mercado Romano de Troia


A Festa Popular do Património

(contributos para o estudo e realização de uma animação performativa em património edificado e cultural)
por José Gil e Sandra Cordeiro

RESUMO:
Com esta Comunicação procuramos abordar uma experiência no campo do Património (Tróia Romana) de Animação Teatral na Zona das Termas durante um Mercado Romano encenado em abril de 2017 com estudantes de APPC da ESE/IPS de Setúbal Curso de Animação.
Objetivos: (1) Conhecer a vida na zona termal das Ruínas Romanas de Tróia (2) Estudar os modos de vida das senhoras e das escravas, do Imperador e Imperatriz, do Poeta Ovídeo e da sua Musa.(3) Preparar seis cenas de ações teatrais performativas em território patrimonial com estudantes do 2º ano da UC APPC – Animação Património Promoção Cultural .
Metodologia: os instrumentos de criação e investigação são sobretudo digitais. Falamos também com uma das organizadoras do Mercado Romano que se deslocou à nossa aula e escola. Estudámos também os flyers, folhetos e sites de divulgação do evento. Realizamos seis cenas (dinâmicas) para a representação envolvendo estudantes e docentes.
Resultados: os resultados foram muito interessantes. Destaco o primeiro (1) A Animação Teatral cumpriu o seu objetivo interagindo com o público apesar da ausência de palavras na performance por problemas óbvios do teatro ao ar livre em espaço aberto e conservado cuidadosamente como património. O público raramente era fixo ou se sentava nas pedras, passava pelas zonas que desenhamos para nós como palcos. Adotamos dois territórios. Um em baixo junto ao público onde eram as termas e as massagens para as senhoras. Numa área mais alta ficou o Imperador e a Imperatriz e depois o poeta e a Musa. O segundo resultado (2) Foi uma passagem do Imperador e da Imperatriz pelas zonas do público Mercado Romano, “quinta” Romana com animais vivos (cotovias, falcões). Fomos ainda nesta peregrinação ao Museu São Miguel de Odrinhas .Onde estivemos no “céu” com o sol e a lua.
Conclusões: seria positivo em novas intervenções patrimoniais realizar ensaios com Guarda-Roupa e adereços no local próprio. Tudo correu da melhor maneira. Estamos gratos aos estudantes e à organização.
Palavras-Chave –Património-Animação-Teatro-Poesia-Ruínas Romanas Termas Tróia.

  1. Introdução
Garum é a palavra chave do nosso mistério. Magia da luz do nosso trabalho criativo. Molho de peixe muito especial, na Tróia Romana, utilizado na gastronomia e no vinho e como óleo nas massagens e tratamentos termais.
Celebramos nesta Festa do Garun a Deusa Flora no maior território de salgas de peixe.
No Mercado  Romano encontrámos vários produtos regionais e nacionais e até de outros povos e culturas distantes.
Nas suas típicas tabernas de sabores muito antigos encontramos o hidromel, o porco no espeto, provamos os crepes salgados , o vinho e a sopa de “entulho”.
Nas bancas dos vendedores peças artesanais de ferro e cerâmica, bijutarias e coroas de flores.
Descobrimos também frutos secos, doces e mel e apreciamos a música, as danças e a animação. Num espaço que hoje poderíamos denominar de Quinta Romana havia animais vivos com os quais brincamos e  tiramos fotografias .
Foi  da surpresa do significado do termo  Garun na “boca” das organizadoras do evento Mercado Romano presentes numa das nossas aulas em Março de 2017 que iniciamos esta narrativa comunicacional . Evento que foi oleado por esse garun mágico na preparação da Performance no Património.
Tróia perto da Páscoa tem a sua Festa Popular do Património na Zona Termal das Ruínas.
Justificamos assim o título. Centenas de pessoas passam num fim de semana intenso de Mercado e espetáculos em terra e no rio por esta Celebração à Deusa Flora.
O Património assume-se por um dia o foco de visitantes de Setúbal e Grândola mas também de todo o país e estrangeiro.
Poesia destas populações de uma peninsular junto ao azul é uma Jornada histórica teatral e de animação comunitária numa viagem na linha do tempo Como contar numa encenação das vidas quotidianas os hábitos, a gastronomia, os figurinos e os ambientes romanos. Trabalho de rigor e brilhantismo saudável.

2. Enquadramento
Esta participação enquadra-se na Unidade Curricular APPC – Animação Promoção do Património Cultural que ambos lecionamos no ano de 2016-2017. No 2º Semestre, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal que sendo uma Opção apresentou de início dificuldade de número de participantes.
Pretendeu-se que o estudante possa nesta UC adquirir competências ao nível da:
a)
Organização e gestão de informação (baseada no levantamento e identificação de indicadores culturais, das estruturas sociais e comunitárias existentes);
b)
Apropriação e utilização de conceitos diferenciados (que permitam identificar as especificidades e “pontes” entre, nomeadamente, cultura, educação, arte, desenvolvimento);
c)
Compreensão dos fatores que orientam a fruição cultural (consumo cultural);
d)
Apropriação de conhecimentos práticos, utilizadas na animação do património cultural; História ao Vivo, Museu Aberto, Animação da Escrita Criativa, Poesia, património imaterial…

A unidade curricular de Animação e Património Cultural procurou articular o domínio da animação sociocultural com as inúmeras vertentes de que se reveste o património cultural (nas suas dimensões materiais e imateriais), de modo a conduzir a uma consolidação de conhecimentos e práticas específicas, passíveis de serem aplicadas na promoção, divulgação e preservação do mesmo.
Neste sentido, os conteúdos programáticos abordados visaram dotar os estudantes de conhecimentos ao nível conceptual e a possibilidade de os operacionalizar na análise de situações concretas, estruturando-se em três níveis complementares:
1.No primeiro bloco programático foram abordados um conjunto diferenciado de conceitos-chave que intervêm na definição, compreensão, legitimação e fruição/ consumo de património cultural – entendido nas suas inúmeras configurações;
2.O segundo bloco incidimos sobre as metodologias de animação do património cultural atendendo à articulação e operacionalização dos conceitos anteriormente discutidos a contextos de atuação concretos, considerados nas suas diversas modalidades
3.O terceiro bloco dedicamos à exploração prática de técnicas e processos de seleção de recursos humanos e materiais, que possam apoiar a animação em contexto, de atuação concretos, considerados nas suas diversas modalidades
Através da articulação entre conceitos, o contacto com situações reais e a produção de elementos de apoio à animação foi possível a apropriação, reflexão/debate, gestão, operacionalização de conhecimentos e metodologias de atuação na realização de trabalhos dirigidos à intervenção em contextos de ação.
2.1. Conceitos
Como sabem o conceito base de património tem origem na palavra Pather  (pai) com  o significado de conjunto de bens de família partindo da herança pais filhos.
Segundo a Lei de Bases do Património, nº 107 /2001 de 8 de setembro, “(...)integram o património cultural todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto de especial proteção e valorização.” bem como“ Todos os bens materiais e imateriais que constituem testemunhos culturais ou civilizacionais de interesse relevante (histórico, paleontológico, arqueológico, arquitectónicos linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico).E que reflitam valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade.”
CONCEITO DE PATRIMÓNIO Cultural e IMATERIAL
Segundo Ana Carvalho (2011) “A expressão património cultural e imaterial foi evoluindo ao longo de décadas de discussão no seio da Unesco(…) e mediante um processo evolutivo foram-se incorporando novas dimensões ao Património (arquitetura vernacular, industrial , património natural, entre outras), conferindo-lhe maior complexidade. Por outro lado, uma conceção antropológica do património cultural tanto as expressões imateriais tais como o saber fazer, a tradição oral entre outras como os monumentos, sítios bem como o contexto social e cultural nos quais se inscrevem, contribuiu de certo modo, para se alcançar uma noção de património mais alargada, diversificada e reveladora, muitas vezes de relações de interdependência.”

CONCEITO DE TEATRO
“Segundo Jorge Luís Rodrigues
Teatro é por exemplo: num palco, preparado para tanto, se recitam perante o público (plateia) textos dialogados; o gênero literário desses textos; em sentido mais amplo, a instituição inteira, integrada pelo autor, diretor de cena, atores, cenógrafos e outros colaboradores. A arte dos atores e do diretor de cena não sobrevive à representação; os textos ficam.”(4)
CONCEITO DE ANIMAÇÃO
A base da formação destes estudantes inscreve-se no campo da Animação Sociocultural, tendo Ander - Egg definido como“(...) um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa e a participação das comunidades no processo de seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integradas.”
As metodologias trabalhadas maioritariamente “(...) expressam um projeto pedagógico de consciencialização, de participação e de criatividade social em que cada participante conforme as suas próprias perspetivas ideológicas, políticas e científicas assim como a sua própria prática poderá escolher ou rejeitar.”
(UNESCO, in Ander-Egg Ezequiel, 2000:107)

OBJECTIVOS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Nesta Unidade Curricular semestral os fins convergem para os Objetivos de Educação Patrimonial, os quais segundo Ana Duarte (1994) “os objetivos pretendem:
-Desenvolver atitudes de preservação e animação do Património;
-Conhecer o património local para compreender o património nacional e universal “da Humanidade”;
-Incentivar o gosto pela descoberta.”


3. Práticas e Reflexões
APRENDIZAGEM PELA DESCOBERTA
Tendo em consideração os objetivos da Unidade Curricular vulgo Disciplina reunimos com as estudantes as propostas de atividade. Pelo fazer e refletindo sobre o realizado avançar nas aprendizagens e tomado consciência de novos conhecimento individual e de grupo.
O teatro e a Animação têm essa vantagem são práticos. Ou se fazem ou não se fazem. Perguntou uma vez um ator jovem a um ator experiente o que é que pode acontecer 5 minutos antes de começar a peça – o espetáculo. E ele disse muito nervoso e com muita ansiedade de conhecer novos públicos. O velho ator costumava espreitar por um buraco pequeno na flanela da moldura do palco da sua cidade.
O outro ator respondeu. A única coisa que pode acontecer e por isso não fico ansioso nem nervoso é a minha capacidade de entrar ou não entrar no palco e na performance.
Esse foi também o desafio constante que colocamos ao nosso grupo de aprendizagem de APPC e é uma verdade de La Palice. Ou participamos ou não participamos.
O desafio colocado às estudantes partiu da perspectiva de uma aprendizagem pela descoberta. “Em que aprender é construir significado e a aprendizagem consiste na seleção e organização a partir das sensações que nos rodeiam (Silva e Filipe) – à partida na primeira aula conjunta e como estávamos no dia dos namorados – 14 de fevereiro lançamos poemas diversos de namoro ou amor e solicitamos às jovens que escrevessem para uma Primeira Atividade com público na Biblioteca Municipal do Pinhal do Novo no Dia Mundial da Poesia 21 de Março 2017. Nesta comunicação refletimos sobre práticas textuais e teatrais da criação, práticas de escrita criativa. Escolhemos o poema de Cecília, estudante de 21 anos, de Erasmus Brasil-Mobilidade Internacional.
Segundo Barriga e Silva, “(sem data) Nas últimas décadas temos vindo a caminhar da Sociedade da Informação para a Sociedade do Conhecimento e da Aprendizagem, o que implica uma importante passagem da campanha pelo acesso à informação, ao campo, mais exigente, da responsabilidade individual e coletiva na utilização dessa mesma informação e na criação de ambientes para a verdadeira promoção da aprendizagem e do conhecimento como ferramentas essenciais ao desenvolvimento.
Porque ter acesso à informação não é necessariamente sinónimo de aprendizagem, esta mudança de paradigma promove cada vez mais a consciência de que os indivíduos são ativos na sua construção de conhecimento e de que os equipamentos culturais e educativos têm um papel fundamental a cumprir neste campo. Enquanto instrumentos para a criação de espaços democráticos e inclusivos de acesso, construção e debate do saber, as instituições e projetos culturais cumprem ainda a dupla função de responder às exigências de lazer e fruição da sociedade de consumo contemporânea.”
Foi em jeito de percurso pelas leituras de vida que algumas estudantes selecionaram os autores e partilharam a importância dos educadores na criação do gosto; estes espaços de relação com o eu e o outro são muito importantes para a criação de processos performativos integrados e com significados únicos nas aprendizagens e competências.

4. Literacias Práticas e Princípios de Aprendizagens 
Partindo dos anteriores conceitos de património, teatro e animação tentamos desenvolver o nosso percurso pedagógico na interdisciplinaridade entre a Animação e o Teatro nas perspectivas da Educação Formal, Não formal e Informal – há um desafio pedagógico na conjugação de competências e aprendizagens que as práticas teatrais, poéticas de participação e de relação interativa com públicos potenciam uma formação e uma literacia global dos estudantes. O que transmite o património à comunidade nomeadamente neste caso a zona termal das Ruínas Romanas de Tróia com diversas personagens em 6 ações de  movimento e gestualidade mímica ilustrada pelo guarda-roupa e pequenos adereços, que transportam para possíveis cenas de quotidiano do lugar, no período romano. 
Segundo S. Silva , “A opção de utilizar os museus como lugares propiciadores de aprendizagens significativas implica, assim, por parte dos educadores, a construção de estratégias para uma exploração estruturada capaz de conduzir ao desenvolvimento de competências exploratórias efetivas que confiram uma razão e um sentido ao que se vê e se experimenta. A utilização de elementos lúdicos é uma estratégia de desenvolvimento da curiosidade e sentido de descoberta potenciadora de aprendizagens efetivas. A aprendizagem lúdica tem efeitos duradouros e propicia memórias significativas na experiência dos participantes, estimulando a sua criatividade e capacidade de responder aos desafios. Associada ao universo do prazer ,a abordagem lúdica permite a construção de uma relação de familiaridade que potencia a inteligência emocional.”
São exemplos os projetos de animação do património, que visando ampliar o nível de literacias dos participantes pelas ações e processos de teatro e animação.
As noções de património têm vindo a evoluir de acordo com as práticas de animação dos respetivos serviços educativos dos museus.
Ana Duarte refere “(1994) Um Museu não pode ser túmulo da memória, mas sim a solicitação activa da memória, senão mesmo a memória viva. (...) Mais do que nunca, nos dias de hoje, o museu deverá problematizar, questionar, intervir...há um conjunto de relações que se vão estabelecendo e, com o decorrer dos anos, o ato de educar pode, ser fruto de uma equipa muito vasta da qual o museu faz parte.”
Com a publicação da Lei Quadro dos Museus Portugueses e a concomitante definição do conceito de museu, é estabelecida a função de “educação” como uma das basilares funções museológicas, plasmando o art.ºº. 42.º daquela lei a obrigatoriedade de o museu desenvolver “de forma sistemática programas de mediação cultural e atividades educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações culturais.” O ponto 2 do mesmo artigo refere que “o museu promove a função educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.” Os princípios presentes no anterior enunciado remete para um entendimento muito amplo da função de educação no museu, numa perspetiva de educação permanente e de interligação com a problemática da relação com os públicos, consubstanciando-se no artigo seguinte da lei a questão específica da articulação com o sistema de ensino
As nossa área museológica a intervir inscreveu-se nas Ruínas Romanas de Tróia,  complexo de excelência para recreação do mundo romano e o seu conjunto está classificado como monumento nacional desde 1910 e desde 2011 voltaram a funcionar com várias atividades de serviço educativo, dinâmicas em que se integram o Mercado Romano.
O núcleo visitável inclui uma zona residencial, termas, necrópoles, um mausoléu e uma basílica paleocristã, inseridos no maior complexos de produção de salgas de peixe do mundo Romano, convidados a recuar até ao século I d.C..
Atualizar com a poesia e o teatro o conceito de património é contribuir para a sua melhor preservação e defesa fazendo emergir uma partilha e interação constante com os seus visitantes e espectadores ativos durante todo o ano.
Viver o que os nossos antepassados viveram – as personagens das suas épocas e o nosso humilde contributo com a poesia e a animação teatral
Entendemos como Quadro Vivo a construção das personagens de um quadro/pintura ou de uma escultura com atores ao vivo com um guarda –roupa rigoroso e um cenário do ambiente de fundo da pintura.(aplica-se este conceito a espaços interiores como Museus de Pintura ou Pintores ou a espaços de Galerias de Arte com pintura ou escultura).
Entendemos também como Quadro ao Vivo uma situação de animação teatral num monumento e no seu exterior uma praça ou um mercado por exemplo em que os performers ou atores desenvolvem uma situação que é “espelho” “imagem parada” num espaço determinado em que todo o corpo, mãos, pernas rosto “congelam” como se fossem esculturas vivas antes ou depois de um pequeno movimento. Como uma sucessão de “fotogramas”
Antes de Tróia APPC esteve em Palmela no Pinhal Novo, no Dia Mundial da Poesia a convite da Biblioteca Municipal num Atelier de Escrita Criativa e Performance:
O trabalho foi ensaiado nas aulas e nasceram os primeiros escritos de que sublinhamos um poema de uma Jovem Erasmus – Mobilidade Internacional-Brasil Cecília de 21 anos. Partimos do Dia dos Namorados (14 de fevereiro de 2017) para poemas de enamoramento e amor.
À partida na primeira aula conjunta e como estávamos no dia dos namorados – 14 de fevereiro lançamos poemas diversos de namoro ou amor e solicitamos às jovens que escrevessem para uma Primeira Atividade com público na Biblioteca Municipal do Pinhal do Novo no Dia Mundial da Poesia 21 de Março. Escolhemos o poema de Cecília, estudante de 21 anos, de Erasmus Brasil-Mobilidade Internacional: 

Quadris
Balançando ao som da canção
Entre contração e convulsão
Os passos consoados vão desenhando a dança

O movimento dos quadris aos poucos revela
A sedução velada que o corpo não nega
Mas esconde do tabu instituído e velado

O corpo fala enquanto a mente consente
Com as regras infundadas, mas conscientes
E funciona como escape para o real desejo

E quando liberto o corpo explode
Extravasa, respira, suspira, transborda
E revela a verdadeira essência da carne”

Cecília, 21 anos

Há 5 ou 6 Pressupostos da facilidade ou dificuldade de iniciar a escrita pelos estudantes
1 – Professor, eu não escrevo sobre isso (vergonha);
2 – Professor, eu não sou capaz (medo);
3 – Professor, o poema, a representação ainda não está pronta, preciso de voltar a reescrever, só mais uma versão um novo ensaio amanhã e depois (perfeccionismo);
4 – Professor, se escrevo assim sobre esse assunto cai-me logo o mundo em cima (culpa);
5 – Professor, eu já escrevi muito, já escrevi muito eu sou muito melhor que os meus colegas (arrogância);
6 – (…)
“Património é poesia” (2) Poesia é Património
Podíamos dizer que de todo o Património emerge a poesia como de toda a escrita teatral faz-se um novo património
Por isso desenvolvemos a 4 cena das dinâmicas teatrais com uma performance em mímica muito simples entre o poeta romano Ovídeo e a sua Musa. Como não podíamos utilizar a voz na representação sentimos interiormente a poesia de. Ovídeo que aqui sublinhamos:

Musica
Dos ensinamentos que me resta dar
Já me sinto corar
Mas diz-me a benévola Dione
“ o que causa vergonha, eis a nossa tarefa”
Que cada uma de vós a fundo se conheça
E escola a atitude
Que mais harmonia com o corpo lhe pareça

Ovídeo”

5. Aprendizagem pela Descoberta, Escrita Criativa e Património
Temos que cuidar, preservar, recuperar o património. Mas também temos que deixar o nosso património presente às gerações futuras. Por isso a escrita criativa no Património, com o Património de forma Performativa.
Apostar na Promoção uma das palavras chave de APPC.
Tentar obter um visitante um espectador não passivo do património neste caso edificado.

6. Animação Teatral
As SEIS DINÂMICAS
  1. Cena de senhoras e escravas nas Termas – Massagens;
  2. Cena das senhoras e escravas nos Jogos;
  3. Passeios das senhoras e escravas na zona das Termas;
  4. Imperador e Imperatriz a observar o povo de um ponto mais alto;
  5. Poeta Ovídeo e Musa;
  6. Imperador e Imperatriz visitam o Mercado Romano, a “quinta” Romana com os seus animais vivos exóticos e de caça  e o Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas no meio do público.
Utilizamos guarda-roupa própria e alguns adereços como os óleos e as bolas de trapo.
O Mercado Romano de Tróia é anual na Freguesia do Carvalhal –Concelho de Grândola
Ações Teatrais sem palavras, mímica rústica como uma aguarela interagindo com o público apesar da ausência de palavras na performance por problemas óbvios do teatro ao ar livre em espaço aberto e conservado cuidadosamente como património.
Desenhar o teatro como um esquiço a carvão saindo da tela.
O património edificado ao ar livre é como uma pintura que se derrama para fora de qualquer moldura.
O público raramente era fixo ou se sentava nas pedras, passava pelas zonas que desenhamos para nós como palcos. Adotamos dois territórios. Um em baixo junto ao público onde eram as termas e as massagens para as senhoras. Numa área mais alta ficou o Imperador e a Imperatriz e depois o poeta e a Musa. O segundo resultado (2) Foi uma passagem do Imperador e da Imperatriz pelas zonas do público Mercado Romano., “quinta” Romana com animais vivos (cotovias, falcões).Fomos ainda nesta peregrinação ao Museu São Miguel de Odrinhas .Onde estivemos no “céu” com o sol e a lua.

7. Raízes Culturais e Património Familiar Pessoal
Focando na ESE, e concretamente no nosso trabalho nesta UC – APPC -  não podemos deixar de ser difusores de instituições projetos atividades como facilitadores de aprendizagens na história, na poesia e nas artes que foram comuns na raiz e nas famílias individuais de cada um dos estudantes.” Não se pode escamotear que eventos ou ações com componente cultural são percepcionados de forma negativa [junto dos estudantes] nem contornar o facto de estas percepções sendo relativamente distintas dentro de diferentes classes e estratos sociais.
“As importâncias dos fatores familiares condicionam atitudes perante a cultura e as artes também os contextos que envolvem a família, amigos e professores. Hábitos familiares de práticas culturais, lacunas de informação receio do que é desconhecido agravam a distanciação dos jovens. Não estamos só perante barreiras físicas mas também psicológicas e sociais, que advém da percepção que a cultura e a arte ou são irrelevantes ou podem mesmo constituir fator de exclusão junto do que é valorizado pelos segmentos jovens.
“A inclusão cultural implica atribuir um papel mais reforçado no desenvolvimento de competências criticamente construídas de ver, ouvir, ler, dramatizar, improvisar, representar e de construir sentido”
Segundo Susana Gomes da Silva, “(2006)as atividades educativas necessitam de envolver a mente (minds-on) tanto quanto as mãos (hands-on) e de permitir a produção de uma reflexão sobre a prática realizada, sobre o que se aprende e como se aprende. A organização das atividades em torno de conceitos-chave e a conceção de projetos educativos que constituam desafios (colocando problemas e levantando questões) e que impliquem uma participação directa dos participantes na resolução desses «problemas» são formas de enriquecer a experiência educativa. Participação que se faz também pelo envolvimento dos sujeitos nas tarefas potenciando a inteligência emocional e afetiva (hearts-on). Só assim a trilogia da aprendizagem se completa: aprender-fazendo (hands-on), fazer-pensando (mindson), pensar envolvendo-se (hearts-on).”
É este o desafio que pretendemos ganhar na formação dos animadores socioculturais pois só com vivências e convivências significativas nos vários âmbitos da Animação Sociocultural conseguiremos habilitar futuros profissionais numa missão  de desenvolvimento de projetos com as comunidades e as pessoas. Pois é neste caminho de  “(...)Lançar desafios e questões, fazer uso dos vários sentidos, desenvolver diferentes tarefas, criar diversos objetivos (diferentes pontos de partida para múltiplos pontos de chegada), comparar fontes diferenciadas é permitir e potenciar diferentes estilos e perfis de aprendizagem, promovendo a entreajuda, a tolerância, a inclusão, a complementaridade, a criatividade e a cidadania ativa.
Living History
O conceito de História ao Vivo (Living History) forma de encenação da vida quotidiana de qualquer sociedade que se pode teatralizar e fazer espetáculo teve a sua época e moda e ainda sobrevivem algumas (poucas) experiências de rigor histórico, de pesquisa do traje e dos cenários de determinado período ou época social.
Temos contudo alguma resiliência à utilização massiva e sem critério rigoroso e histórico de Feiras e Mercados Medievais em todo o país é preciso virar a página nesta paralisia criativa estudando outras épocas e fazendo uma reflexão fértil sobre a história dos locais. (diz-se quase como anedota atual  que hoje em Portugal existem mais Feiras Medievais do que na Idade Média).
Os anos 80  e 90 do século XX foram pioneiros da metodologia de trabalho de projetos Living History os quais preconizavam um trabalho profundo de relação curricular e aprendizagens pelas recriações históricas, tendo sido pioneiros os distritos de Faro e Setúbal, após colóquio da APOM em 1986. Ana Duarte(1986) refere ainda , toda a abordagem de um tema passa, também por uma intervenção no meio e a formação de uma opinião pública. A educação cívica é, neste caso essencial pois impõe regras de acesso e fruição do património e não há público mais entusiasmado que um grupo de jovens que tenham participado sistematicamente nestas áreas.”
O abrandamento desta metodologia de formação e animação pelas escolas, em contextos de educação formal, gerou um novo ciclo de recriações pelas artes de palco e de guerra, gerando um novo formato de criação de eventos culturais e turísticos, muitos replicados sem fundamentos históricos e relações com as comunidades locais, mas que se replicam de forma massiva como feiras de períodos marcantes na história nacional, em cenários de monumentalidade. É exemplo de referência a Viagem Medieval por Terras de Santa Maria da Feira, como a emergência de um mercado para as artes – que diretamente introduz o conceito de públicos massificados e com ele a democratização dos produtos histórico artísticos.
Em termos formativos e de conhecimento do património pelas artes e animação, é muito importante para futuros animadores socioculturais poderem contactar com as equipas de produção dos eventos, assim como fazerem parte dos diferentes quadros animados em contextos patrimoniais, mas as aprendizagens mais significativas são inscritas em processos curriculares formais.

8. Conclusão
Em educação somos tentados sempre a avaliações das Unidades Curriculares por fases. Nesta UC Animação Património e Teatro somos tentados a “adivinhar “projeções da avaliação na linha do tempo dos percursos profissionais dos estudantes.
Há necessariamente que avaliar que aprendizagens e competências  ao nível  da expressão artística, comunicação com público, noção de património e de “sociedades” da informação com espetáculo.
Esta experiência de APPC concretizou-se num semestre, numa primeira edição, como tal será fundamental dar-se continuidade à participação e implicação dos estudantes em futuros eventos nas comunidades.

9. Nota Final
Para terminar um especial agradecimento à equipa Organizadoras em Troia. Que continuem este excecional convívio dos espectadores com o Património. Todos os anos algumas centenas de novos públicos. Bem Hajam.  Uma palavra de especial  gratidão aos estudantes que participaram.2º Ano da Licenciatura de Animação e Intervenção Sociocultural - UC de Opção. E a todos os outros estudantes da mesma licenciatura que apoiaram e enquadraram os colegas. Palavra final com uma citação:
“Ser radical é aprender as coisas de raiz” [9]. Pode-se ainda contrapor a valia do desejo de aprender e conhecer coisas novas, o que permite dispor de informação mais completa, para que o “consumidor” cultural se transforme também em “produtor” da atividade promovida, e se sinta gratificado com essa experiência.
Queremos estudantes criadores “produtores” de atividades ou eventos como hoje se diz na linguagem comum. Sempre valorizados pelas novas experiências.

Notas
  1. (Professores da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal -José Gil tb. Diretor Teatro Porta a Porta –T.P.IPS)
  2. Fórum em Évora 2016-http://contemporanea.pt/agosto-setembro2016/16/ captado em 27-8-2017
      3. Karl Marx, citado em “Contributions à la guerre en cours”

Referências Bibliográficas
Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro- Lei de Bases do Património.
Lei n.º 47/2004, de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses.
ANDER-EGG, Ezequiel (1999), «O Léxico do Animador Sociocultural». Amarante, Edições ANASC.
CARVALHO, Ana (2011), «Os Museus e o Património Cultural Imaterial». Lisboa, Edições Colibri.
DUARTE, Ana (1994), «Educação Patrimonial – Guia para Professores, Educadores e Monitores de Museus e Tempos Livres». Lisboa, Texto Editora.
NEVES, José Soares, SANTOS, Jorge Alves dos, “Aspectos da Evolução dos Museus em Portugal no período 2000- 2005” in Boletim RPM, n.º 21, Lisboa, IPM, Setembro 2006.
RYAN; Joseph J., «Living History Manual”.

SILVA, Susana Gomes da (2001), «Museus, Cultura e Sociedade: novos desafios, novas relações», in Educar Hoje–Enciclopédia dos Pais, vol. IV, Lexicultural-Activ. Editoriais, Amadora, pp. 134-135.
SILVA,Vera e Filipe, Susana, “Olhar a animação, visando serviços educativos para as literacias e competências de informação”.Biblioteca Municipal do Seixal.
SILVA, Susana Gomes da (2004), «Aprender nos museus», in Activa Multimédia (col.), Métodos de Estudo, Vol. XVI, Lexicultural, Actividades Editoriais, Amadora.
SILVA, Susana Gomes da (2006), «Museus e Públicos: estabelecer relações, construir saberes», in Revista Turismo e Desenvolvimento, 5/2006, Universidade de Aveiro, Aveiro, pp 161-167 .
Vários PRAÇA, J. Henrique (2007), «Serviços Educativos na Cultura», Setepés, Porto.


terça-feira, 24 de outubro de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Devo confessar que ontem não fiz gazeta a estas páginas; aconteceu simplesmente que estive ao telefone mais de duas horas e como passava da meia-noite quando desliguei o aparelho, achei por bem que o melhor a fazer seria deitar-me. 
Tenho andado tão cansado. 
Mas escusado será dizer que a conversa foi interessante e agradável. 



O dia escolar foi preenchido com exercícios em torno do número nove e contas. 
Hoje foi um dia leve, mais virado para a preparação do dia de amanhã em que decorrerá o desfile de carnaval. 
E trouxeram trabalhos para casa para esta pequena folga carnavalesca. 
Precisamente de hoje a uma semana regressarão as aulas. 
Até lá, vivam as brincadeiras! 



É uma vergonha que um homem como Pinto da Costa possa fazer comícios em plena entrevista em que, sem que alguém tenha coragem para lhe pôr os dedos no nariz, possa dizer mal de terceiros, levantar suspeições sobre outros e passar ao lado da má gestão de uma empresa desportiva que dá anos sucessivos de prejuízos. 
É neste universo em que melhor se vê o homo maniatábilis. 
Um dos jornalistas até usou os termos do entrevistado fazendo deles elementos do seu próprio discurso. 
A miséria humana no que de mais pungente existe. 



No mesmo dia em que Vale e Azevedo que permanece preso há três anos lá foi libertado por acórdão da relação que emendou o despacho de prisão preventiva emitido por um juiz que, por sua vez, o mandou deter de imediato para o ouvir amanhã de manhã, a propósito do processo que motivou aquela última medida cautelar. 
Este homem foi condenado a quatro anos de prisão por meter ao bolso dinheiro do Benfica. Não bastaria condená-lo a repor a verba? E o mais curioso é que a sentença não o obrigou a isso. 

É a justiça portuguesa com certeza 
é com certeza a justiça portuguesa. 

A sensação com que ficamos é que depois de ter denunciado a corrupção no mundo do futebol, a esta pessoa só restaria este fim pois, a alternativa, provavelmente, daria muito nas vistas. 



A noite está fria 
como o país, onde sopram ventos indizíveis. 


 Alhos Vedros 
  19/02/2004

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

REAL... IRREAL... SURREAL... (277)

Escada, Autora Lygia Clark, 1951

Lygia Clark, pseudónimo de Lygia Pimentel Lins foi uma pintora e escultora brasileira que se auto-intitulava "não artista".

Para Lygia Clark, uma mineira de Belo Horizonte, nascida em 23 de Outubro de1920, a obra de arte fundamentava-se na realidade.
A alegoria, disse ela, em vez de comunicar alguma coisa, retira da comunicação o que ela tem de mais vivo. Assim o real era mais importante. Se alguma coisa é, tentar colocar-lhe um sentido simbólico, é enfraquecê-la.

Selecção de António Tapadinhas

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

UM RECADO ÀS CENTRAIS DE REIVINDICAÇÃO


Abdul Cadre

Aqueles que, institucionalmente, se reivindicam da representação de quem trabalha por salário sentem-se felizes e úteis a lutar – é esta a expressão – por horas de trabalho. É a semana das 40 horas, é a semana das 35 horas, mas não se ouve, ou é muito raro ouvir-se reivindicar horas de descanso, e muito menos o direito à preguiça, de que nos falava o genro de Marx.

Isto não é um exclusivo português, é assim em todo o mundo onde se reivindica sem medo do chanfalho.

É bem-sabido que os trabalhadores estão muito habituados a ocuparem-se de coisas que lhes mandam fazer. Dizia-se antigamente que quem não trabuca não manduca; hoje, alguns trabalhadores com mentalidade de escravo, vangloriam-se de serem incondicionais e exemplares amantes das lides braçais – de cuja sinceridade eu duvido –, dizendo alto e bom som coisas tão idiotas quanto esta: «o pessoal não quer trabalho, quer é emprego». Presumidamente, estes serão os mesmo que apostam no Euromilhões com o fito de mandarem à oura banda o patrão, caso se tornem milionários. Afinal, está visto, não querem trabalho e não querem emprego, querem o que todos querem, boa vida. Porque o facto é este: perante o trabalho há apenas dois géneros de pessoas: as que não gostam e as que mentem.

Mas voltemos aos que reivindicam. Como se sabe, o desemprego grassa no mundo, mas não seria assim se se diminuísse um dia na semana de trabalho e esta fosse, não de 40, não de 35, mas de 24 horas. Desta forma, o que inevitavelmente teríamos era falta de trabalhadores, coisa que contraria a lógica do sistema, que exige desemprego técnico elevado como desincentivo das reivindicações salariais.

Não pensem que estou a descobrir a pólvora nem a inventar a roda quadrada. Lembremo-nos da Península Ibérica, ao tempo da convivência entre cristãos, judeus e mouros. Nesse tempo, havia três dias em que era proibido trabalhar: a Sexta-feira, por causa dos muçulmanos, o Sábado, por causa dos judeus e o Domingo, por causa dos cristãos. E como todos os outros dias eram dia de feira, havia sempre quem dissesse: toma aí conta das galinhas, que eu tenho de dar um salto à feira para vender as cebolas.
É por tudo isto que eu detesto mentirosos, isto é, os que dizem que gostam de trabalhar.