terça-feira, 3 de outubro de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Bem, a sexta-feira passou definitivamente a ser um dia de descompressão para os alunos. 
“-Hoje só escrevemos a data e o nome.” –Respondeu-me o pardalito quando lhe perguntei se tinha tido muito trabalho. 
Mas trouxeram trabalho para casa. 
“-São só umas contas. É fácil.” 
E depois da hora de religião e moral católica, os miúdos rumaram para a sessão de patinagem, na Moita, para concluírem o dia, após o regresso, com a aula de música. 

A Matilde, depois do almoço, cantou uma nova canção e ao jantar, para que a mãe visse, simulou exercícios que já sabe fazer sobre os patins. 



Esta tarde, enquanto a mãe e as filhas foram à cabeleireira, o pai assistiu a uma sessão de debate sobre os problemas do ensino, especificamente as incidências da nova lei de bases do sistema educativo e dos novos agrupamentos verticais das escolas do ensino básico. O encontro foi organizado pela estrutura local do PCP e contou com a presença do deputado Bruno Dias e um elemento da Comissão Nacional de Educação dos comunistas, para além do moderador e de um Professor do ensino básico – por sinal meu ex-aluno – membro da entidade organizadora. Não se estranhe a minha presença pois fui convidado na minha qualidade de membro de uma associação de pais. 
Nada de novo e os apelos à luta e à resistência são sempre um dos esconsos motes que ali se explicitam embrulhados na discussão dos problemas. 

Mas longe vão os tempos em que o partido mobilizava os militantes e as massas. Contando com os elementos da mesa, estava uma dúzia de pessoas na sala. 

Não espanta. O PC continua agarrado a velhos arquétipos e a recusa irreflectida que fazem do ensino privado leva-os a, por um lado, não serem capazes de entenderem e explorarem as potencialidades da livre iniciativa no sector e, por outro lado, a não compreenderem quer as principais razões que entre nós espoletaram o boom que produziu as muitas universidades privadas que por aí pululam, quer o melhor modelo do que deveria ser a relação daquelas com os mercados e a sociedade civil. 

Seja como for, partilho a ideia de que o ensino público deve ser uma aposta decisiva do estado. 
Tal como disse o jovem deputado, a educação é imprescindível ao desenvolvimento. 



E aproveitei para entregar ao senhor Apolónia os primeiros de uma série de artigos sobre estas matérias que conto publicar no jornal “O Rio”. 
Será o meu regresso à imprensa local do concelho pois há artigos para uns dois anos de publicações. 
Para já trata-se de uma forma de mantermos em aberto o trabalho da associação de pais da escola básica número um de Alhos Vedros que, pelo novo enquadramento legal dos agrupamentos verticais, está naturalmente extinta. 
Mas nós sabemos como são estes experimentalismos, não é? Pelo que, lá diz o povo, mais vale prevenir que remediar. 



“Golpe de Estádio”, de Marinho Neves, é um livro aterrorizador. 
Está lá bem patente a evolução mafiosa e a sua ascendência sobre os poderes, mormente o político e o mediático, tal como eu tenho denunciado nestes diários. 
Só que a realidade é muito mais atroz e arrepiante do que eu poderia alguma vez imaginar. 
E não duvido que os factos narrados sejam uma representação muito realista daquilo que de facto aconteceu no mundo do futebol. 

Como depois de uma publicação destas que data de noventa e seis do século passado, não houveram procedimentos criminais e gente levada a julgamento, só serve para dar força de testemunho àquelas páginas. Basta ler a história oficial do Futebol Clube do Porto (1) para percebermos de quem se está a falar. 



E os meus amores, 
tão mais bonitas 
com os novos penteados. 



A nossa comunicação social é assim. Entrevista António Vitorino até à exaustão em canais de televisão, jornais diários e semanários e em revistas, tudo a propósito de uma hipotética candidatura a um cargo para o qual dificilmente será nomeado e quando têm à mão alguém da dimensão de um Manuel de Castells, um dos pensadores mais esclarecidos na sociologia contemporânea, homem de mundo e sabedoria que muito nos pode esclarecer sobre o novo mundo que se está desenhando perante os nossos olhos mediáticos e sob os nossos narizes, o que é que nós vemos? Desprezo pelo Leitor, só pode ser isso, de outra forma como explicar a entrevista de quatro perguntas que foi a única que fizeram ao homem? (2) Apesar do que foi mais do que fizeram ao Professor Hubert Reeves, há quatro anos atrás, quando apenas “(…) uma notícia de fim-de-semana num matutino da capital, na página afecta ao género, (…)” (3) deu conta da sua passagem entre nós. Seja como for, o sociólogo que esteve na Gulbenkian para nos falar da globalização e de modelos de resposta a tal desafio, (4) é Autor de uma obra vasta e variada que se iniciou há mais de três décadas com um olhar singular sobre a problemática do urbanismo moderno. (5) 

Assim se trata a inteligência entre nós. 



Pois amanhã há a festa de anos do Tomás. 


 Alhos Vedros 
  14/02/2004 


NOTAS 

(1) Mendes, Alfredo, FUTEBOL CLUBE DO PORTO A HISTÓRIA OS TRIUNFOS E AS IMAGENS DE TODOS OS TEMPOS 
(2) Castells, Manuel, OS GOVERNOS ODEIAM A INTERNET, p. 19 
(3) Gomes, Luís F. de A., ÁGUAS, In “Um Acto de Cidadania”, p. 104 
(4) Sousa, Teresa de, AS UNIVERSIDADES SÃO A PONTE DO PODER DOS ESTADOS UNIDOS, p. 19 
(5) Castells, Manuel de, LUTAS URBANAS E PODER POLÍTICO 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Castells, Manuel de, LUTAS URBANAS E PODER POLÍTICO, Tradução de Maria Helena Machado, Afrontamento, Porto, 1976; OS GOVERNOS ODEIAM A INTERNET, Entrevista a Teresa de Sousa, In “Público”, nº. 5075, de 14/02/2004 
Gomes, Luís F. de A., UM ACTO DE CIDADANIA, Nota de Abertura do Autor, Dactilografado, Alhos Vedros, 2000 
Mendes, Alfredo, FUTEBOL CLUBE DO PORTO A HISTÓRIA OS TRIUNFOS E AS IMAGENS DE TODOS OS TEMPOS, Prefácio por Jorge Nuno Pinto da Costa, Diário de Notícias, Lisboa, 2000 
Neves, Marinho, GOLPE DE ESTÁDIO, Terramar (1ª. Edição), Lisboa, 1996 
Sousa, Teresa de, AS UNIVERSIDADES SÃO A FONTE DO PODER DOS ESTADOS UNIDOS, In “Público”, nº. 5075, de 14/02/2004

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