Abdul Cadre
Aqueles que, institucionalmente, se reivindicam da representação de quem trabalha por salário sentem-se felizes e úteis a lutar – é esta a expressão – por horas de trabalho. É a semana das 40 horas, é a semana das 35 horas, mas não se ouve, ou é muito raro ouvir-se reivindicar horas de descanso, e muito menos o direito à preguiça, de que nos falava o genro de Marx.
Isto não é um exclusivo português, é assim em todo o mundo onde se reivindica sem medo do chanfalho.
É bem-sabido que os trabalhadores estão muito habituados a ocuparem-se de coisas que lhes mandam fazer. Dizia-se antigamente que quem não trabuca não manduca; hoje, alguns trabalhadores com mentalidade de escravo, vangloriam-se de serem incondicionais e exemplares amantes das lides braçais – de cuja sinceridade eu duvido –, dizendo alto e bom som coisas tão idiotas quanto esta: «o pessoal não quer trabalho, quer é emprego». Presumidamente, estes serão os mesmo que apostam no Euromilhões com o fito de mandarem à oura banda o patrão, caso se tornem milionários. Afinal, está visto, não querem trabalho e não querem emprego, querem o que todos querem, boa vida. Porque o facto é este: perante o trabalho há apenas dois géneros de pessoas: as que não gostam e as que mentem.
Mas voltemos aos que reivindicam. Como se sabe, o desemprego grassa no mundo, mas não seria assim se se diminuísse um dia na semana de trabalho e esta fosse, não de 40, não de 35, mas de 24 horas. Desta forma, o que inevitavelmente teríamos era falta de trabalhadores, coisa que contraria a lógica do sistema, que exige desemprego técnico elevado como desincentivo das reivindicações salariais.
Não pensem que estou a descobrir a pólvora nem a inventar a roda quadrada. Lembremo-nos da Península Ibérica, ao tempo da convivência entre cristãos, judeus e mouros. Nesse tempo, havia três dias em que era proibido trabalhar: a Sexta-feira, por causa dos muçulmanos, o Sábado, por causa dos judeus e o Domingo, por causa dos cristãos. E como todos os outros dias eram dia de feira, havia sempre quem dissesse: toma aí conta das galinhas, que eu tenho de dar um salto à feira para vender as cebolas.
É por tudo isto que eu detesto mentirosos, isto é, os que dizem que gostam de trabalhar.
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