quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O Mercado de Diamantina


Duetos luso-brasileiros
Fotografia de Kity Amaral
Poema de Luís Santos




Lembro-me das bandeiras que marcavam as fronteiras
e sim, do mercado de escravos no Arraial do Tijuco
da água de coco, dos guaranás e do guarani
do santificado António Vieira 
de uma inquisição que não era santa
do meu próprio irmão arrastado em leilão,
e da carta de alforria daquela dela pele baça, nua, 
diamantina presença, nas suas doces linhas juvenis, 
do seu colo na luz do luar;

e dos trabalhos na roça
dos quadris dobrados e dos trabalhos forçados 
das poças de água suja em que se lavavam as loiças
dos tropicais suores que lhes escorriam pelo rosto 
no coração de minas das pedras preciosas,
e daquela rocha dura, dura
de um brilho que cortava o vidrado solar do dia
em que seguiam os arrepios da febre e dos pés na barriga
a curar o reumático do seu senhor;

e eu, e tu, aqui outra vez, de vez e em português, 
sem amos, sem fim!

24/10/2017

2 comentários:

Unknown disse...

❤️❤️❤️❤️������

luís santos disse...


...ou, a forma como, nas palavras da Natália Manley, pontos de interrogação têm como resposta, a forma do coração. E nós acreditamos que sim!!!