terça-feira, 24 de março de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Uf! Dias de folga no antigo principado dos arcebispos de Salzburgo, na Áustria. 


Só os pais, como mandam as regras do namoro e as ruas e vielas de uma cidade fantástica para nos encantar. 


Com a agradável surpresa de termos sorte com o tempo atmosférico, solarengo e ameno, ainda assim com as nuvens que adornam os verdes horizontes quando vistos do alto e as noites propícias à conversa de esplanada, como a do Museu de Arte Contemporânea cuja vista nos convida a um mergulho no calmo rebuliço da cidade, lá em baixo. 


Salzburgo resultou de um povoado da Idade do Bronze que, por sua vez, se terá fixado a partir de colonizações anteriores que ali disfrutavam as bonanças de um vale abrigado e o recurso natural em que a zona é pródiga e de que deriva, inclusivamente, o nome do burgo. 

Terá sido o comércio do sal que desde os primórdios proporcionou a riqueza da região e que motivou as atenções do Império Romano, quando deu pelo nome de Juvavum, o sítio dos deuses e, já na Idade Média europeia, do Bispo de Worens, São Rupert, que ali fundou uma fortaleza por volta de setecentos da era actual. 

Desde então e até ao início do século dezanove quando, por um dos tratados que se sucederam às guerras napoleónicas, foi integrada no Império Austro-Húngaro, a cidade e a região envolvente constituíram um estado independente governado por sucessivas dinastias de arcebispos-príncipes. (1) 

Hoje em dia é uma cidade universitária que preserva a memória cultural de grande centro musical – ali nasceram Mozart e Herbert Van Karajan, por exemplo – e vive essencialmente do turismo que ali se fascina com uma cidade arquitectonicamente preservada na sua originalidade e goza as ruas a palpitar de musicalidades espontâneas e cosmopolitas e os museus e as igrejas de um barroco mais sóbrio que a nossa talha dourada mas nem por isso menos trabalhado e elegante. 



A Matilde ficou com os meus pais e está bem mas, é claro, está cheia de saudades. 



Infelizmente há péssimas notícias sempre que ligamos a televisão no quarto do hotel. 


Desde a passada quarta-feira que um comando tchetcheno sequestrou uma centenas de pessoas numa escola em Beslan, uma cidade da República da Ossétia do Norte. 
Exigem a libertação de correligionários presos e ameaçam fazer explodir o local se forem atacados pelas forças de segurança. Têm em seu poder centenas de crianças e encarregados de educação, bem como os professores e os funcionários do estabelecimento de ensino; contam-se pelos dedos aqueles que se conseguiram pôr a salvo. 


É uma tragédia indizível. Se o sangue escorrer, ultrapassar-se-á um limiar na violência que o terrorismo faz incidir sobre os seus alvos que, ao chegarem às crianças, só terão limites nas capacidades tecnológicas que aqueles grupos de criminosos sejam capazes de reunir para provocarem danos maciços naqueles que definem como seus inimigos. 


O próximo degrau será o uso de armamento nuclear. 


Deus nos salve de uma loucura como essa. 


No entanto, neste caso temo que seja de esperar o pior. 
Avaliando pelo que aconteceu há dois anos num teatro, em Moscovo, não me admiraria que as tropas entrassem em acção e tudo aquilo terminasse numa carnificina. 


E não me admiraria que o Presidente Putin depois de se desculpar de uma qualquer maneira, aproveitasse o combate ao terror para reforçar os seus poderes. 


O problema é que a antiga União Soviética está minada por máfias e, em algumas das antigas repúblicas, por senhores da guerra. 


Sem que nos estejamos a dar conta, o mundo pode estar a caminhar para uma nova idade das trevas. 


Será que o Mal se apoderará dos destinos da História da Humanidade? 


 Salzburgo 
03/09/2004



NOTA 

(1) Sem referência de Autor, SLAZBURG, pp. 2 e ss 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Sem referência de Autor, SALZBURG, Rich-Lau & Geber Metz, Gesmbb, Salzburg

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