Baghavad-Gita ou "A Canção de Deus"
(Imagem do Google)
(Imagem do Google)
Luís Santos
A Índia conheceu várias
civilizações e nela encontramos várias cosmogonias.
A Civilização do vale do Indo, a
primeira grande civilização que surge na Índia, há 6 mil anos atrás, situou-se
na zona do NW da Índia e Paquistão. Atingiu o seu apogeu 2.500 anos antes de
Cristo. Utilizavam uma escrita de muito difícil tradução que limita o seu
conhecimento. São contemporâneos do Antigo Egipto e dos Sumérios.
Em 1500 a.C., desenvolve-se a
civilização Ariana no Vale do Ganges. Esta civilização floresce enquanto a do
Vale do Indo desvanece. Não se sabe se constitui um prolongamento da primeira.
Os povos de raiz indo-europeia descendem desta civilização. Vários autores
desenvolvem o tema das culturas indo-europeias, como são os casos de Georges Dumézil,
Émile Benveniste e Max Müller.
A Filosofia Clássica Indiana, em
última instância, procura responder a duas questões: a natureza última da
realidade e respetivas consequências no nosso destino pessoal. Para a sua compreensão é importante perceber-se que a cisão entre fé e razão ocorrida no Ocidente, não se encontra na Filosofia no Oriente.
Os Hinos Védicos, são os textos
sagrados mais antigos da Índia. A palavra "veda" significa conhecimento, saber,
passível de audição (que pode ser escutado). Em síntese, textos sagrados a
serem escutados para serem apreendidos. As Upanishad, é o nome dos textos que, posteriormente, refletem sobre a cultura védica, mas que, simultaneamente, assinalam uma rutura
com o período anterior. Estes textos dão-nos uma explicação sobre a origem das
coisas, mas também sobre o que podemos realizar no interior de nós próprios.
Atingem o seu momento pleno no século VI a.C.. Upanishad etimologicamente significa
“estar sentado junto de” (do Mestre que explica os Vedas).
O Budismo, quando aparece pode considerar-se uma interpretação radical das doze Upanishad. Buda viveu no século VI ou V a.C. As primeiras cinco são prévias ao seu nascimento e as últimas sete são posteriores.
O Budismo, quando aparece pode considerar-se uma interpretação radical das doze Upanishad. Buda viveu no século VI ou V a.C. As primeiras cinco são prévias ao seu nascimento e as últimas sete são posteriores.
ALGUNS
CONCEITOS IMPORTANTES DO HINDUÍSMO
Sâncrito, Língua Sagrada
da Índia, uma sociedade divida em castas
distintas, Brãhmana, ksatriya, Vaisya.
Hinduísmo é o desenvolvimento
até aos nossos dias de um sistema magnífico de crenças e tradições que advém da
interpretação dos textos sagrados da Índia.
Brâman, é a suprema
divindade, o Absoluto, é incognoscível pelo homem. Princípio incondicional de
criação de toda a realidade. A própria realidade. Um princípio supremo que está
para lá dos próprios deuses.
Trimúrti, é a tripla parte
manifesta da divindade suprema. Como um ser limitado, o ser humano somente
percebe três aspectos de Brâman. A trimurti é composta pelos três principais
deuses do hinduismo: Brama, Vixnu e Xiva, que simbolizam respectivamente a
criação, a conservação e a destruição.
Atman, o sujeito interior
de tudo o que um indivíduo faz. Um unificador interior de todos os nossos
comportamentos. Agente interno que coincide com o próprio Absoluto e que se
tiver “despojado” lhe pode aceder.
Chama-se de Brahmanismo às
práticas rituais religiosas mais antigas feitas na Índia por sacerdotes
brahmanes. Há que cumprir os ritos para atingir a dimensãos dos deuses.
Dharma, aquilo de que
depende a ordem do mundo. A prática correta dos rituais é fundamental para
manter a ordem no mundo, tal como é a sua forma original.
Entre as 4 grandes idades do
mundo, atravessamos o período de maior decadência, o período em que, metaforicamente,
a “vaca sagrada” está assente apenas numa pata.
Samsara, roda da vida que
gira sem parar. Enquanto a existência estiver condicionada, o ciclo de
renascimento/morte perdurará. Os seguidores do hinduísmo acreditam em vários deuses e na reencarnação, pois que os seres humanos morrem e nascem várias vezes. Cinco fatores que fazem o ser entrar no ciclo do samsara: ignorância, orgulho do eu, aversão à dor, perturbação/aflição e medo da morte/apego à vida.
Karma, designa a cada
momento a ação condicionada pelas ações do passado e com consequências
posteriores. É condicionado e condicionante. A sabedoria permite cessar a
ignorância, ou seja, a produção kármica. Toda a experiência de dualidade, “eu
sou um, tu és outro” produz o ciclo kármico.
Mumuksha, o desejo que fornece a possibilidade de libertação.
O Yoga é o contínuo
exercício que permite pôr fim ao karma. A necessidade de cessação dos movimentos mentais. A procura de um êxtase, de uma consciência unificada. O Yoga deve levar-nos ao ponto zero da manifestação, a
um processo de involução. Ser senhor dos próprios pensamentos, de pensar só
quando é necessário.
Jivanmukta, aquele que se
liberta da vida, que transcende os próprios deuses.
SOBRE O
HINDUÍSMO
As escrituras sagradas hindus
dividem-se em dois grupos:
- Os Sruti, (textos de
revelação), onde são considerados Hinos Védicos, as Brãhmana-Upanisad e
Ãranyaka. Todos estes textos do período védico pertencem à forma oral e só no
período clássico passaram para a forma escrita. A recitação dos hinos sagrados
sempre foi mantida, até hoje, ininterruptamente desde há milhares de anos.
- Os Smrti (textos da tradição),
constituídos pelos textos épicos Mahãbãrata e Rãmãyana, pelas crónicas Purãnas
e códigos de lei e ética.
Entre os textos sagrados indianos, as Upanishad têm particular relevância na transição da cultura védica para o
hinduísmo. As Upanishad são o principal ponto de referência de Adi Sankara
(788-820), o autor que mais marcou o desenvolvimento da filosofia clássica
indiana e do hinduísmo. Tal como de Vivekãnanda (1863-1902), um dos grandes
pensadores sobre a escola de Sankara. Foi um estudioso das filosofias
ocidentais na Universidade de Calcutá e, igualmente, dos textos sagrados da
Índia.
O princípio filosófico primordial é a equivalência entre ãtman e brahman. Atman, é um corpo vivo que respira = self = sentimento de si. Brahman é a própria realidade, o que existe em si e por si. É esta a síntese suprema de Sankara: a mesma identidade entre Atman e Brahman. Ou seja, aquilo que existe no interior de cada um é a própria realidade. Ser, Consciência, Felicidade Suprema (beatitude, bem estar), os principais objetivos.
O princípio filosófico primordial é a equivalência entre ãtman e brahman. Atman, é um corpo vivo que respira = self = sentimento de si. Brahman é a própria realidade, o que existe em si e por si. É esta a síntese suprema de Sankara: a mesma identidade entre Atman e Brahman. Ou seja, aquilo que existe no interior de cada um é a própria realidade. Ser, Consciência, Felicidade Suprema (beatitude, bem estar), os principais objetivos.
Num texto das Upanishad - Taittirtya Upanisad – diz-se que nós não
temos só um corpo, mas sim 5 corpos:
1-annamaya kosa (1ª camada) – o corpo que resulta da comida (o corpo
físico)
2-prãnamaya kosa (2ª camada, cobre o primeiro corpo) – corpo de que
resulta a respiração (o corpo que sente, o corpo subtil), do qual não se pode
descrever a essência
3-manomaya kosa (3ª camada) – corpo que resulta da fusão dos outros
dois corpos
4-vijñamaya kosa (4ª camada) –
corpo que tem a capacidade de compreender
5-ãnandamaya kosa (5ª camada) – a consciência, a camada que nos dá a
felicidade.
Como trazer o corpo de felicidade
suprema (ãnandanaya kosa) para o primeiro estado em vez de ser o último? Para
Sankara isso consegue-se através da meditação, do Yoga. Para si, o texto de
referência é sempre as “Upanishad”. Em última instância, aquilo que Sankara
pretende demonstrar é que a realidade última está em nós. A experiência do Si é
a mesma experiência da realidade. Nós somos Tudo e Todos.
As principais escolas da
filosofia clássica indiana são as seguintes: Sãmkhya, Yoga, Vedãnta, Mimamsã,
Vaisesika, Nyãya, Buda Dharma e Jainismo. As duas últimas são tradições
heterodoxas que não se revêm nos textos sagrados do hinduísmo, embora tal como
nele, também as Upanishad constituem uma das suas principais fontes de conhecimentos.
BHAGAVAD-GITA,
ou “A CANÇÃO DE DEUS”
Bhagavad-Gita é um capítulo do
“Mahabharata”, o grande épico indiano que é um dos textos sagrados do
hinduísmo.
O grande protagonista do livro
que fala na primeira pessoa, Krishna, o avatar de Vishnu, ou seja, a própria
divindade, dialoga com Arjuna, seu discípulo guerreiro, em pleno campo de
batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre o seu dever, e
recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna que o instrói na arte da
auto-realização.
Há quem o considere o maior das “Upanishad”.
É o texto inspirador de Ghandi. Influenciou muitos escritores
ocidentais como foi o caso Aldous Huxley. “Irmânia”, livro de Ângelo Ribeiro, autor
português do século passado, também revela a sua influência. Einstein dizia que
“quando lia o Bhagavad-Gita e pensava nas leis do universo, tudo o resto se tornava
vulgar”.
Esta obra releva, sobretudo, o
amor devocional, o amor divino, acima de quaisquer conhecimentos ou ação, daqueles que agem com
os sentidos equilibrados, ou dos que agem não agindo, relembrando a boa maneira do taoísmo.
A essência de Krishna é o
universo inteiro. Tudo é sagrado. Tudo é uno. O uno e o múltiplo são
inseparáveis. Deus é a totalidade, transcende o bem e o mal, ou seja, pode ser
bom, mas também pode ser mau!
Krishna diz a Arjuna: “Tu e eu
existimos desde sempre”; “os corpos perecem, mas a alma não”; “o Uno não tem início,
nem fim – não nasceu, nem morrerá”; “o apego ao prazer, a aversão à dor, a
valorização da dualidade são limitações humanas”; “Deus é tudo em todas as
coisas” (igual ao que diz São Paulo, nos
“Coríntios”). Continua Krishna: “Só aquele a quem conceder uma particular graça
é que me pode ver, mais ninguém” (…) Mas enquanto homem, Arjuna, não aguenta
muito tempo a perceção e a visão de Deus, e só quer que a experiência acabe…
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