sábado, 21 de março de 2020

Quadragésima (4º domingo)




IV. Os sons do Oriente – música das esferas

1º andamento – da Meditação

Erguido que foi o cruzeiro ao alto
depois que se relembrou o caminho
que vai até à Páscoa e do temporal
da ventania, do escurecer do céu
afinal do retorno indo-europeu
de cruz às costas no Teu sacrifício
e do sofrimento pela ressurreição
almas penadas adiadas na angústia
dos dias que se encolhem e demoram
a revelar mais do que a própria luz
do sol que nos aquece e nos anima
e nos vira para cima, que é todo o lado
nos tempos em que recordamos o Veda
do entorno do sangue pelo dom da graça
dos deuses que nos visitam e ignoram
bebem dos nossos cansaços e só dão
os braços imensos ás preces, aos rogos
aos caídos entre vivos e mortos fomos
e pusemos Cristo e Buda no cataclismo
da Índia, do Tibete ao Japão, em união.


 2º andamento – dos Mantras

Silêncio.
Aquele jesuíta António de Andrade
passou para lá da verdade, das neves
perpétuas são as horas das pedras frias
das prisões de meditações sem fim
a ideia do vazio de que a mente mente
no fim do dia da tecnologia das velas
à bolina triangular a sina do paraíso
onde afinal, não há bem nem mal
a separação foi uma invenção da queda
de anjos trôpegos de golfadas universais
a expansão contínua infinita das almas
sofrimento que é alegria, na natureza
do dia claro que se segue ao nevoeiro
o quinto império e o espírito santo
en-canto nosso, almejado momento
nirvana e iluminação fraterna do tempo
na misericórdia da guerra e nos desejos
da paz, em que tudo é Um, tudo é assim
sem dualidades no grito dos corpos.


3º andamento – do Êxtase

O dia nasceu em paz na tona das águas
o mar que nem bulia feito um espelho
um calmo chão por onde se pode andar
uma oração feita meditação e o ioga
das pernas esticadas, das costas direitas
o fluxo dos fluidos orgânicos nos círculos
dos olhos parados etérea contemplação
quase nada quase tudo vida parada
calmas vão as mentes e pacíficas são
as ações de não agir que evitam malefícios
proclamação da eliminação do sofrimento.
E então, em que ficamos trindade nossa,
penamos para não penar? Deixamos o mar?
O balanceado enjoo, a fome, o escorbuto
deixamos a canela, as belas sedas, os véus
as curvas das pernas e os seios, a cama
sutra do diamante de meditações tântricas
de divinas mulheres do amor e do amar,
qual a suprema razão de um ser de dor
pelo que deste a vida para nos salvar!?


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