domingo, 10 de maio de 2015

 
 
MIRADOURO 17 / 2015
 
(esta rúbrica não respeita as normas do acordo ortográfico)
 
 
TENIA TANTO QUE DARTE
(para a pequena Hudea, criança síria de 4 anos)



Teria tanto que dar-te porque, a vontade é muita e a ternura imensa.
Teria para dar-te, desde logo, abraços e sorrisos.
Sorrisos largos que te envolvessem e fizessem sorrir também.
Depois, apresentar-te-ia a minha mulher e os meus filhos que te acarinhariam muito.
Depois faria para ti guloseimas (nunca fiz mas inventava), de que gostasses para te sentires especial e amada.
Depois, tentaria ser outra vez criança para podermos brincar iguais.
Levar-te à praia, empurrar-te o baloiço, correr contigo pelo campo, subir às árvores.
Cantar-te cantigas, contar-te histórias, sei lá.
Faria tudo para esqueceres o tempo que passou e poderes entrar sem mácula no tempo por nascer.
Por ti, tentaria ser melhor para poder justificar a tua crença na vida e nas pessoas, reacender a esperança e acalmar os ventos que a pudessem ameaçar.
Para ti, deixaria tudo em aberto para poder ser tudo aquilo que quisesses ou precisasses.
Gostava tanto de te mimar, proteger, fazer rir.
Gostava tanto de te dizer aquele poema do Victor Pinho Moreira (é só um pouco mais velho que tu e também criança, só tem 8 anos) e que diz que
“O Amor é um pássaro verde num campo azul no alto da madrugada”
e gostava que tu acreditasses, mesmo, por ser a verdade.
Tantas coisas de que gostava e não consigo.
Não porque não queira mas porque não me são possíveis agora, agora mesmo, quando são necessárias.
Vou deitar-me embora saiba não conseguir dormir.
Mas não me vou esquecer de ti (pareces-te tanto com a minha filha Joana).
Vou trazer-te comigo sempre (não te importas pois não?!) e, se um dia nos encontrarmos, tentar cumprir todas estas promessas.
Combinado?!

MJC

https://www.youtube.com/watch?v=AU3QhwKFGmk

6 comentários:

A.Tapadinhas disse...

MJC: O poema que escreveste é uma dávida comovente para todos nós, que não sabemos ser poetas como tu.

Talvez sinramos o mesmo, talvez, mas não temos o dom de o saber dizer a beleza dos sentimentos que, acredito intimamente, existem em todos os seres humanos.

Por isso, é que alguns são poetas e outros escrevem versos.

Não sei porquê, lembrei-me dao verso da canção do Bonga (salvo erro), que diz:
Tenho uma Lágrima no Canto do Olho.

Abraço,
António

estudo geral disse...

Amigo António,às vezes ficamos assim.
Cada vez mais e com mais frequência.
Para alguns lamechice mas, para mim, já me cansa e gasta usar o tempo e o espaço que me cabe a criticar as origens e as formas do mal.
Acaba-se por ir secando e ficando amargo.
Prefiro mais atentar no que nasce, em mim, para a vida e falar disso como um desejo de fraternidade.
Com a esperança de que os homens possam reencontrar a criança que ainda mora em si e podermos então ser todos mais felizes.
E como o Bonga canta, convém de vez em quando ir deixando sair as lágrimas porque senão elas inundam-nos completamente e afogam-nos.
Cá dentro.

Abraço.

MJC

Unknown disse...

Permita-me dizer-lhe, que este texto revela que a humanidade necessita de Almas como a sua que não ficam indiferentes ao sofrimento de quem quer que seja,humanos ou animais.Bem Haja

MJC disse...

Caro António Alfacinha, boa noite.

Agradeço muito o seu comentário e mais importante do que confessar-lhe que me sinto lisonjeado, é dizer-lhe que as almas só se fazem eco daquilo que albergam e em que acreditam e terá sido essa condição que tornou possível o seu comentário.
Sim, é bom saber que acreditamos porque é isso que torna tudo ainda possível.

Permita-me pois, e agora a mim, que lhe envie um abraço e um grande bem haja.

Manuel João Croca

Unknown disse...


MJ, conseguiste comover-me!

Lendo e digerindo as tuas 'palavras', considero que já encontraste a pequenita a quem te diriges!

Encontraste-a no teu coração e podes vê-la e senti-la em todas as crianças que sofrem, espalhadas por este Mundo, nas várias "Sírias" que, desgraçadamente, o pululam!

Outro abraço.

FJNS

MJC disse...

Amigo Francisco,
são estimulantes as tuas palavras.
Abraço.

MJC