sábado, 4 de abril de 2020

Ontem,


3 de abril, fez anos que o Professor Agostinho da Silva nos deixou. Corria o domingo de Páscoa de 1994. Confesso que não tenho pressa, nem para mim, nem para todos, mas haverá lá melhor dia para partir... como ontem não nos foi possível, cá fica a lembrança hoje a partir do seu livro "Quadras inéditas", em jeito de conselho para os dias que correm:

Aperfeiçoa-te ao máximo
em tempo que nada valha
pondo toda a tua pressa
no que tempo é migalha

Deixa desfilar o mundo
quieto fica distante
não estar interessado
é que é o interessante

Nesta confusão navego
neste tumulto me entendo
não me importa o que sou eu
mas o que os outros vão sendo

Um dos pólos de viver
é para mim aventura
mas outro tão bem querido
o de claustro e de clausura

Tem paciência de frade
quando nada suceder
e paciência nenhuma
quando surja o que fazer

E não me chamem de mestre
sou apenas aprendiz
daquilo que me é o mundo
e do que sendo me diz

Naquela Ilha dos Amores
que Camões sonhou outrora
só entra e fica liberto
quem lá viva desde agora

Dará Portugal ao mundo
em céu de amor e de espanto
seu Império do Divino
Divino Espírito Santo

Posso dizer-lhes de Deus
quanto queiram mas calado
aprovarão se há silêncio
mas se me escutam cuidado

Se Ele é tudo o que tu dizes
Ele o Nada pode ser
e se é nada livre está
para ser o que quiser

Fotografia de Eduardo Martins. Ao que cremos, Agostinho da Silva discursando na Assembleia da República, em dia de homenagem.

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