O DIA DA INFÂMIA
Faz hoje três anos que, sensivelmente por esta hora, através da TSF ouvi a notícia do choque de um avião comercial com uma das Twin Towers, no que aparentava ser um terrível acidente sem qualquer explicação imediata.
Era o dia do feriado concelhio e eu estava em casa com os meus anjinhos, preparando-me para iniciar a última página do diário da Margarida relativo ao primeiro ano de escolaridade.
Foi até a Margarida que me chamou a atenção para o que se estava a passar e depois de escutar o que vinha da rádio, sintonizei a CNN para mais esclarecimentos a respeito de acontecimento tão dramático.
Lembro-me como demorei algum tempo a perceber o que estava a suceder e cheguei a ver em directo um dos aviões, na sua viagem fatídica e criminosa, pensando estar a assistir à repetição do presumível acidente aéreo.
Até que pelas reportagens compreendi que a nação mais poderosa do planeta estava a sofrer no seu próprio território um ataque de grandes proporções a todos os pontos simbólicos e institucionais do seu poderio económico e político, ou seja, os locais onde se sediam os organismos representativos da sua existência enquanto estado independente.
Como veio a verificar-se pouco depois, outras aeronaves caíram sobre o Pentágono e outra que, tudo assim o indica, se encaminhava para a Casa Branca ou o Capitólio, ter-se-á despenhado no trajecto por acção da resistência dos passageiros.
Aquilo que tinha começado por ser um lamentável acidente, tinha todos os contornos de uma declaração de guerra.
Mas a pergunta era, da parte de quem?
E logo tive a intuição de suspeitar da Al-Qaeda de Bin Laden, embora não me tenha dado imediatamente conta de ter sido aquele acto criminoso e hediondo o começo da guerra mundial que hoje decorre, entre aquela constelação terrorista e o mundo ocidental, particularizado na aliança anglo-americana a que se uniu a Austrália e um conjunto de outros países.
Dias depois foi o discurso de George W. Bush declarando guerra implacável ao terrorismo, chamando logo aí a atenção para o facto de vir a tratar-se de um conflito longo e difuso, para o que seria necessária muita paciência e perseverança e identificando o primeiro alvo no regime talibã do Afeganistão.
Infelizmente o mundo Ocidental não se apresentou unido e firmemente decidido a encetar todos os esforços possíveis para reduzir aquele terrorismo apocalíptico a níveis de capacidade insignificante e sabemos hoje que a invasão do Iraque assentou em pressupostos que tudo indica foram falsos.
E provavelmente é isso que explica o reduzido sucesso que tem tido o processo de consolidação de um novo regime político neste último país, ao que somam as divisões demográficas que a queda de Saddam deixou a nu.
Como se a paz mundial não dependesse da boa vizinhança no Médio Oriente para o que uma sociedade aberta e livre para aceitar a coexistência com Israel poderia muito bem contribuir.
E enquanto esta tragédia se desenrola, agora gozo eu a bem aventurança de ter a companhia da Matilde que está a pintar, com isso criando uma harmonia tão doce nesta sala.
Ao longe, no rio, há velas coloridas ornamentando as águas que sob o efeito da luz de Setembro escurecem de azul.
Mais lá para o fim da tarde chegará a Margarida.
Alhos Vedros
11/09/2004
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