HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
24
Sabes o que me parece? Não é preciso sermos pessoas de Fé para tomarmos como bom o princípio que os seres humanos, sendo membros de uma única espécie, são, por isso mesmo, dotados à nascença de uma dignidade infinita que os igualiza e, como tal, nos deve levar a vê-los como irmãos em plena igualdade de direitos e deveres.
A verdade é que se partirmos desse pressuposto seremos capazes de orientarmos as nossas vidas segundo o propósito minimalista de, pelo menos, almejarmos agir sem que por consequência dos nossos actos venha qualquer mal para algo ou quem quer que seja. Isso que afinal é o princípio da idiossincrasia democrática, uma vez assumido pela maioria de uma população é o melhor antídoto para prevenirmos a guerra e a corrupção e muitas outras doenças das sociedades em que vivemos há mais de uma dezena de milhares de anos.
Não é pois necessário que sejamos pessoas de Fé para querermos um mundo de paz e respeito pela vida humana, reconhecendo para os nossos semelhantes as possibilidades que para nós queremos de levar um quotidiano feliz e digno, de acordo com aquilo que pensamos ser o melhor para cada um de nós.
Esse é o grande ensinamento que podemos extrair das ciências antropológicas, onde aprendemos a evolução da nossa espécie e o modo como o homo sapiens sapiens (1) veio sobreviver a todos os seus antecessores e antepassados e a espalhar-se por todos os continentes. Mas também onde nos habilitamos a perceber que a diversidade de culturas que temos criado ao longo dos tempos resultou sobretudo do facto de termos de lidar com respostas a variadíssimos meios ambientais e inúmeros ecossistemas. Multiplicidade essa que acabou por ser o segredo de termos chegado até aqui, apesar de todas as vicissitudes passadas, sem que uma centelha de esperança tenha deixado de brilhar no mais profundo dos nossos espíritos.
Eis o principal legado que a Antropologia nos deixa e aos nossos vindouros.
Com isto não estou, de forma alguma, a criar incompatibilidades entre a explicação racional e científica do mundo e o sentimento de nos acolhermos na Sua infinitude e vivermos com o ideal de irmos ao Seu encontro.
Com efeito, se por este último caminho encontramos um guia para o nosso comportamento e os nossos pensamentos enquanto indivíduos, pelo outro deparamo-nos com instrumentos que nos proporcionam o entendimento das leis e composição do Universo em que vivemos que, se formos homens de Fé, acreditamos ter sido espoletado por Ele.
É que na Terra encantada, os humanos vivem segundo as suas próprias leis.
NOTA
(1) Mais uma vez chamamos a atenção para os avanços que a Paleoantropologia tem conseguido nos últimos anos, nomeadamente ao nível da actualização dos conceitos, sabendo hoje que apenas usamos a expressão homem sapiens para designarmos a nossa espécie.
FIM
Sem comentários:
Enviar um comentário