Estão a ver como a história do euro dois mil e quatro está mal contada?
A vaidade sempre foi inimiga do discernimento e assim se fazem confissões que deixam perceber os contos que não se querem contar.
E lá ficamos a saber, pela boca do próprio Pinto da Costa que a decisão de construir o novo estádio foi anterior à candidatura portuguesa ao euro dois mil e quatro. (1)
Com isto quererão dizer que mesmo sem aquele evento teriam feito a obra. Pessoalmente, não tenho dúvida disso. Para tanto foram as expropriações que o ex-presidente da câmara, Fernando Gomes, fez a favor do Futebol Clube do Porto – inclusivamente, houve processo judicial por causa disso e com o Plano de Pormenor das Antas que o executivo de Nuno Cardoso aprovou e no contexto do qual, não só o clube teve oportunidade de um multi-milionário negócio imobiliário, como ainda beneficiou a instituição desportiva chamando a si os custos da urbanização e dos acessos ao estádio, sob o pretexto de assim contribuir para se requalificar e recuperar uma zona da cidade.
Quer dizer, o estádio do dragão seria sempre pago, na maior fatia dos custos globais do empreendimento que contempla um complexo desportivo, deve acrescentar-se, seria sempre pago, dizia, pelo dinheiro dos contribuintes.
O problema é que sem o euro uma operação daquelas apareceria sempre como um descaramento excessivo.
Vai daí e o patrão do futebol tratou de mexer cordelinhos e de pôr as vozes a falar e o governo de António Guterres lá arranjou maneira de fazer da organização de um torneio de futebol um desígnio nacional.
Depois a gula tratou do resto.
E aí temos dez estádios novos, precisamente aquilo de que o país mais estava a precisar.
Hoje, os alunos aprenderam uma nova palavra, sapato, a respeito da qual versaram os exercícios do dia, ainda que o trabalho para casa tivesse uma das duas fichas ainda a respeito das palavras anteriores.
As Nações Unidas estão demasiado arredadas do processo de reconstrução do Iraque.
Os democratas não estão a compreender a importância do fim do regime de Saddam Hussein e muito menos a do estabelecimento de um país livre e pacífico.
E tenho a sensação que a maioria dos europeus gostaria de ver os americanos partirem o nariz naquele deserto.
Choraremos estes disparates com lágrimas de sangue.
Alhos Vedros
17/11/2003
NOTA
(1) Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO ENTRE O MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, p. 47
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO NO MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, Entrevista a Bruno Prata, In “Público”, nº. 4987, de 16/11/2003
Sem comentários:
Enviar um comentário