terça-feira, 12 de julho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Estão a ver como a história do euro dois mil e quatro está mal contada? 

A vaidade sempre foi inimiga do discernimento e assim se fazem confissões que deixam perceber os contos que não se querem contar. 
E lá ficamos a saber, pela boca do próprio Pinto da Costa que a decisão de construir o novo estádio foi anterior à candidatura portuguesa ao euro dois mil e quatro. (1) 
Com isto quererão dizer que mesmo sem aquele evento teriam feito a obra. Pessoalmente, não tenho dúvida disso. Para tanto foram as expropriações que o ex-presidente da câmara, Fernando Gomes, fez a favor do Futebol Clube do Porto – inclusivamente, houve processo judicial por causa disso e com o Plano de Pormenor das Antas que o executivo de Nuno Cardoso aprovou e no contexto do qual, não só o clube teve oportunidade de um multi-milionário negócio imobiliário, como ainda beneficiou a instituição desportiva chamando a si os custos da urbanização e dos acessos ao estádio, sob o pretexto de assim contribuir para se requalificar e recuperar uma zona da cidade. 
Quer dizer, o estádio do dragão seria sempre pago, na maior fatia dos custos globais do empreendimento que contempla um complexo desportivo, deve acrescentar-se, seria sempre pago, dizia, pelo dinheiro dos contribuintes. 
O problema é que sem o euro uma operação daquelas apareceria sempre como um descaramento excessivo. 
Vai daí e o patrão do futebol tratou de mexer cordelinhos e de pôr as vozes a falar e o governo de António Guterres lá arranjou maneira de fazer da organização de um torneio de futebol um desígnio nacional. 

Depois a gula tratou do resto. 
E aí temos dez estádios novos, precisamente aquilo de que o país mais estava a precisar. 



Hoje, os alunos aprenderam uma nova palavra, sapato, a respeito da qual versaram os exercícios do dia, ainda que o trabalho para casa tivesse uma das duas fichas ainda a respeito das palavras anteriores. 



As Nações Unidas estão demasiado arredadas do processo de reconstrução do Iraque. 
Os democratas não estão a compreender a importância do fim do regime de Saddam Hussein e muito menos a do estabelecimento de um país livre e pacífico. 

E tenho a sensação que a maioria dos europeus gostaria de ver os americanos partirem o nariz naquele deserto. 

Choraremos estes disparates com lágrimas de sangue. 


 Alhos Vedros 
  17/11/2003 


NOTA 

(1) Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO ENTRE O MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, p. 47 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 


Pinto da Costa, COLOCO O ESTÁDIO NO MELHOR QUE CONSEGUI EM 21 ANOS, Entrevista a Bruno Prata, In “Público”, nº. 4987, de 16/11/2003

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