quarta-feira, 6 de julho de 2016

Estudos Orientais




Da civilização védica ao budismo (conclusão)

A civilização védica que se desenvolveu em termos geográficos na região que corresponde hoje, aproximadamente, ao território indiano, desenvolveu toda uma cosmogonia que hoje se encontra reunida em 4 grandes volumes que se designam pelos textos do Rig Veda, ou Hinos Védicos.

      Toda esta expressão cultural, mais as formas rituais praticadas, não tiveram registo escrito enquanto esta civilização perdurou e foram passando oralmente às gerações vindouras. Só mais tarde, os hinos védicos foram redigidos em sânscrito, a língua sagrada indiana.

      São estes textos sagrados conjuntamente com outros, como as “Upanishad” e o “Mahãbãrata”, que haveriam de constituir os textos base de desenvolvimento do hinduísmo, do budismo e, de uma maneira geral, das filosofias clássicas indianas.

O Budismo, que conhece um grande florescimento na Índia, sobretudo, durante o reinado do imperador Ashoka (273-232, antes da era cristã), em determinada altura quase que se dilui no hinduísmo. O Bhagavad-Gita, escritura sagrada que integra o livro épico Mahãbãrata, e as invasões islâmicas no século XII, constituem as duas principais razões da causa do grande decréscimo do Budismo na Índia.

      À medida que o Budismo se ia enfraquecendo na Índia, ia-se expandindo e crescendo um pouco por todo o continente asiático, como aconteceu na China, Tibete, Japão e Coreia. Esta fase de expansão do Budismo deu-se, sobretudo, durante o 2º grande ciclo de ensinamento do Budismo, conhecido por Mahayana, ou grande veículo, cujo principal autor foi Nagarjuna, no século II da era comum.

      Tendo uma herança comum e reconhecendo-se por isso mesmo inúmeros pontos de contacto entre o hinduísmo e o budismo, desde logo pela utilização de alguns conceitos e de ideia comuns, como são, por exemplo, a lei do karma e as ideias dos ciclos de renascimento e da reencarnação, verifica-se, no entanto, toda uma especificidade em cada uma das doutrinas que as particularizam e autonomizam de forma quase absoluta entre si.

      O Budismo tem um desenvolvimento que lhe é próprio, sobretudo, relacionado com os seus grandes ciclos de ensinamento e por se ter desenvolvido muito noutros países, afastados do território que o viu nascer. Antes de mais, o Budismo afirma-se como uma filosofia que argumenta no sentido da possibilidade de eliminação do sofrimento humano. Reconhecer a existência de sofrimento e desenvolver um método, um caminho, que possibilite ultrapassá-lo, constitui-se num dos princípios de excelência budista enunciada nas “4 nobres verdades”.

      Mas mais do que o sofrimento, sustenta-se que o respeito pelos princípios budistas poderá permitir o despertar, ou o nirvana, o que se liga à capacidade de pôr fim ao ciclo infinito de renascimentos e à consequente libertação do samsara, a roda da vida. Ou, pelo menos, desenvolver uma consciência subtil, um elevado grau de qualidade individual que permita escolher a futura reencarnação.

      Resumindo, diríamos que as 4 noções fundamentais do budismo são: a eliminação do sofrimento, a noção de vacuidade, a impermanência de tudo o que existe e a ausência de “eu”. A contemplação destes conceitos permitirão a compreensão de uma verdade relativa que poderá conduzir à verdadeira realidade. 


Luís Santos


2 comentários:

Felicidade na Educação disse...

Amigo Luis, Parabéns pela ideia de falar dos Vedas. E também pela articulação como paisagem integrada de um todo espiritual com sede na Índia - e que é fundamentalmente Universal.
Haveria e haverá muitíssimo a dizer. Talvez um dia me atreva a escrever sobre este conjunto de temas.
No ocidente e no mundo colonizado/influenciado pelo ocidente a ideia de ismos não permite entrever o que são a Civilização dos Veda e o seu desdobramento em Buda. É a 'minha' opinião talvez estranha mas que se quer humilde. Abraços. Eduardo Espirito Santo

luis santos disse...

Amigo Eduardo, ficas convidado para falares dos Vedas e seus desdobramentos no Estudo Geral. Um textinho por mês?... Se te der para escrever alguma coisa não deixes de enviar para o meu e-mail.
Humilde e com Abraços.