Da civilização védica ao budismo (conclusão)
A civilização védica que se desenvolveu em termos geográficos na região
que corresponde hoje, aproximadamente, ao território indiano, desenvolveu toda
uma cosmogonia que hoje se encontra reunida em 4 grandes volumes que se
designam pelos textos do Rig Veda, ou Hinos Védicos.
Toda
esta expressão cultural, mais as formas rituais praticadas, não tiveram registo
escrito enquanto esta civilização perdurou e foram passando oralmente às
gerações vindouras. Só mais tarde, os hinos védicos foram redigidos em sânscrito,
a língua sagrada indiana.
São estes textos sagrados conjuntamente
com outros, como as “Upanishad” e o “Mahãbãrata”, que haveriam de constituir os
textos base de desenvolvimento do hinduísmo, do budismo e, de uma maneira
geral, das filosofias clássicas indianas.
O Budismo, que conhece um grande florescimento na Índia, sobretudo,
durante o reinado do imperador Ashoka (273-232, antes da era cristã), em
determinada altura quase que se dilui no hinduísmo. O Bhagavad-Gita, escritura
sagrada que integra o livro épico Mahãbãrata, e as invasões islâmicas no século
XII, constituem as duas principais razões da causa do grande decréscimo do
Budismo na Índia.
À medida que o Budismo se ia enfraquecendo
na Índia, ia-se expandindo e crescendo um pouco por todo o continente asiático,
como aconteceu na China, Tibete, Japão e Coreia. Esta fase de expansão do
Budismo deu-se, sobretudo, durante o 2º grande ciclo de ensinamento do Budismo,
conhecido por Mahayana, ou grande veículo, cujo principal autor foi Nagarjuna, no
século II da era comum.
Tendo uma herança comum e reconhecendo-se
por isso mesmo inúmeros pontos de contacto entre o hinduísmo e o budismo, desde
logo pela utilização de alguns conceitos e de ideia comuns, como são, por
exemplo, a lei do karma e as ideias dos ciclos de renascimento e da
reencarnação, verifica-se, no entanto, toda uma especificidade em cada uma das
doutrinas que as particularizam e autonomizam de forma quase absoluta entre si.
O Budismo tem um desenvolvimento que lhe é
próprio, sobretudo, relacionado com os seus grandes ciclos de ensinamento e por
se ter desenvolvido muito noutros países, afastados do território que o viu
nascer. Antes de mais, o Budismo afirma-se como uma filosofia que argumenta no
sentido da possibilidade de eliminação do sofrimento humano. Reconhecer a
existência de sofrimento e desenvolver um método, um caminho, que possibilite
ultrapassá-lo, constitui-se num dos princípios de excelência budista enunciada
nas “4 nobres verdades”.
Mas mais do que o sofrimento, sustenta-se
que o respeito pelos princípios budistas poderá permitir o despertar, ou o
nirvana, o que se liga à capacidade de pôr fim ao ciclo infinito de
renascimentos e à consequente libertação do samsara,
a roda da vida. Ou, pelo menos, desenvolver uma consciência subtil, um elevado
grau de qualidade individual que permita escolher a futura reencarnação.
Resumindo, diríamos que as 4 noções
fundamentais do budismo são: a eliminação do sofrimento, a noção de vacuidade,
a impermanência de tudo o que existe e a ausência de “eu”. A contemplação
destes conceitos permitirão a compreensão de uma verdade relativa que poderá
conduzir à verdadeira realidade.
Luís Santos
2 comentários:
Amigo Luis, Parabéns pela ideia de falar dos Vedas. E também pela articulação como paisagem integrada de um todo espiritual com sede na Índia - e que é fundamentalmente Universal.
Haveria e haverá muitíssimo a dizer. Talvez um dia me atreva a escrever sobre este conjunto de temas.
No ocidente e no mundo colonizado/influenciado pelo ocidente a ideia de ismos não permite entrever o que são a Civilização dos Veda e o seu desdobramento em Buda. É a 'minha' opinião talvez estranha mas que se quer humilde. Abraços. Eduardo Espirito Santo
Amigo Eduardo, ficas convidado para falares dos Vedas e seus desdobramentos no Estudo Geral. Um textinho por mês?... Se te der para escrever alguma coisa não deixes de enviar para o meu e-mail.
Humilde e com Abraços.
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