Ainda nos lembra os picos da Atlântida, de que os Açores são
parte. As conversas telepáticas, o brilho dos cristais, das viagens espaciais.
Rememorações ancestrais. Das asas, dos voos. Das pedras piramidais, dos enormes
templos. Dos sacerdotes e dos deuses das jornadas iniciáticas. Das
festividades, das homenagens, dos rituais.
Ainda nos lembra das árvores. Nossas casas. Das árvores e
dos frutos. Dos guinchos e das poças de água em que bebiam e chapinhavam, e às
vezes até lutavam, com paus, com ramos, que se foram tornando pontiagudos.
Grupos enormes, famílias extensas. Nómadas à procura de tempos quentes, e das
marés. Das fogueiras e das cavernas.
Do ferro e dos arados. Das cabanas em círculo de entre-ser e
dos centros das aldeias em que dançámos e se contavam estórias sobre estórias. De
tudo se falava e de nada se escrevia. Riscos e desenhos, pinturas no chão e nos
corpos. E se percutiam as danças onde se saltava bem alto em frente delas para
mostrarmos da imensa leveza, da elevação.
Matriarcais saudades de jovens amazonas que viviam nos
campos de escravizantes agriculturas. Quando se deixaram as deambulações, de
bichos à solta, e se fixaram os animais e as terras, e se construíram as cercas
para as crianças e as mulheres, das escolas e dos lares e das mamas, do leite.
Da carne.
Do peixe e daqueles pescadores da Judeia, de Belém, entre os
latins romanos do império que rendiam os gregos, mas só nas armas que não na
filosofia. Da democracia, mas não para mulheres e escravos e estrangeiros,
metecos aristotélicos e platónicas curtes, por sua vez, herdeiros de socráticos
devaneios. Da maiêutica, da arte de dar à luz, do mundo das ideias.
Afinal, o Amor. A universal fraternidade. O céu infinito. O
Amor... e a cruz. Jesus! Para tanto sofrimento que nos redima. Então e da
meditação, do Buda, que nos livra do sofrimento? Do possível transcendental
salto védico que nos livre daqui. Do
Deus no lugar do homem que, doravante, será parte de Deus. Da oração, do
silêncio, do deserto. De Ti!
Cadê a deusa-mãe, cadê os celtas. Cadê celtas e iberos,
endovélicos lusitanos. Dos bárbaros
godos e visigodos que depois voltaram. Os pagãos, as forças da natureza, as
mágicas alianças. Avalon. Os druidas, as poções, dos milagres, da cura e a
doença. A lógica analógica, a consciência cósmica. A totémica identidade. Todos
indo-europeus, todos cristãos virados pelo avesso, anunciada evangelização.
O crescente lunar e a arabesca astronomia. Das bússolas, do
astrolábio. Do Maomé e do Alcorão. De Meca, de Medina e da mesquita. Das deusas
encantadas, enamoradas. Dos cânticos de amor. Desgostos do Amor. Da “xaria”. Da
expansão e da desejada reconstrução do "mare nostrum". De Poitiers e
de Carlos Magno, Urbano VIII de joelhos, imperador da cristandade.
Da reconquista católica. Dos cruzados e das cruzadas.
Raimundo e Henrique, Teresa e Urraca. Afonso de Castela. Do Condado
Portucalense. Guimarães. São Mamede, 24 de junho de 1128. Um rei sonhado e a
sonhar com cristo-rei. Vai e funda o meu reino, vai Henriques. E ele foi.
E lá foi fazer o que Ele quis. Vai Dinis. Vem Santa Isabel.
Vinde Língua Portuguesa. Vinde todos os peregrinos, toda a ordem do templo,
ordem de cristo. Venha o espírito santo. O pai, o filho e a Jerusalém
Celeste. Vinde vendavais que rumorejam
nos pinhais, venham todas as naus. Todas as ilhas dos amores.
(in, AMORIM, Francisco Gomes de & FONSECA, Henrique Salles da (2022) Encontro de Escritores, uma reunião inesquecível. Lisboa: Edições Vírgula, pp.40-43)
2 comentários:
Afinal lembrou-se !!!
Ou, melhor, relembrei.
Belo Encontro aquele.
Obrigado.
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