Breves notas sobre Filosofia Vedanta, Hinduísmo, Budismo e Taoísmo
Quando do curso de doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a parte curricular implicava a escolha de alguns seminários. Um dos escolhidos, Filosofia das Religiões, comparava espiritualidades ocidentais e orientais. Aqui ficam algumas sínteses dos estudos que se desenvolveram.
1. Vedas
Entre as escrituras sagradas hindus, contam-se os "hinos védicos", pensamentos sagrados da civilização védica que antecedem o hinduísmo. A recitação dos hinos sagrados dos vedas sempre foi mantida até hoje, desde há milhares de anos.
A civilização védica desenvolveu-se até ao século VI (a.C.), período em que a sua cosmogonia começou a transformar-se nas formas clássicas do hinduísmo.
Segundo o conhecimento védico, a alma individual, idêntica ao Absoluto, nunca nasce e nunca morre. Nunca nascida e eterna, fora do tempo, ela não morre quando morre o corpo.
2. Hinduísmo
O Mahãbãrata é um dos livros que faz parte das escrituras sagradas hindus. Um dos seus capítulos é o célebre Bhagavad-Gita, ou a “A Canção de Deus”.
O grande protagonista do capítulo que fala na primeira pessoa, Krishna, o avatar de Vishnu, ou seja, a própria divindade, dialoga com Arjuna, seu discípulo guerreiro, em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre o seu dever e recebe iluminação diretamente do seu divino mestre que o instrói na arte da autorrealização.
A essência de Krishna é o universo inteiro, a totalidade. Tudo é sagrado. Tudo é uno. O uno e o múltiplo são inseparáveis.
É o texto inspirador de Ghandi. Einstein dizia que quando o lia e pensava nas leis do universo, tudo o resto se tornava vulgar.
3. Budismo
Depois de atingir o despertar Siddartha Gautama, o Buda,
sentiu o apelo de transmitir aos outros a sua sabedoria. A palavra Buda, mais
do que uma pessoa, designa um estado de consciência que permite apreender a
verdadeira realidade das coisas.
A filosofia budista parte da definição das "4 nobres verdades": a constatação do sofrimento; o sofrimento provém de uma mente limitada; é possível cessar o sofrimento; há um caminho para cessar o sofrimento.
Ou seja, as causas do sofrimento são internas e é possível removê-las. O caminho que se propõe é um método que ajuda na libertação da mente, uma técnica meditativa para concentração do espírito e da mente, de forma a um atingir um determinado estado de repouso e, consequentemente, de consciência.
Algum tipo de meditação sempre surge associada às diferentes filosofias antigas da Índia e é uma prática intrínseca do Yoga.
31. Reencarnação
É um dos ensinamentos fundamentais do budismo. O espírito humano pode elevar-se até a um “espírito subtil” ou “consciência subtil”. Esta consciência existe independente do corpo e do cérebro. É o espírito subtil que reencarna.
Seguindo o Dalai Lama, a reencarnação está ligada a um certo nível da vida do espírito. Se este espírito for desenvolvido pode escolher o seu próprio destino. É então um passo para a libertação, para uma possível melhora. Sem esta escolha o renascimento é uma queda no samsara, sucessão de vidas que ocorre sem parar. Enquanto a existência estiver condicionada, o ciclo renascimento/morte perdurará.
3.2 Transferência da Consciência e Libertação pela Escuta
Quando os sinais ocorrem indicando que a morte se aproxima devemos prepararmo-nos para a transferência da consciência e refletirmos sobre os ensinamentos da Libertação pela Escuta nos Estados Intermediários.
Quanto à transferência da consciência há um exercício que deve ser treinado: Devemos tapar todos os orifícios começando pelo reto, da procriação, umbigo, boca, narinas, olhos e ouvidos. No cimo da cabeça devemos visualizar a fontanela, depois visualizar também o canal central, no meio do corpo, direito e ereto – na sua extremidade inferior, abaixo do umbigo devemos visualizar um ponto seminal branco e brilhante, o qual constitui a essência da consciência desperta, pulsando continuamente e à beira de ascender. A força vital vai movê-lo ascensionalmente, até ao umbigo, depois coração, depois garganta, depois o espaço entre as sobrancelhas e, por fim, vai até à fontanela, após o que devemos visualizar que ele gira de novo para baixo e vem repousar abaixo do umbigo como uma difusão branca. Há que permanecer neste estado durante algum tempo.
Diz-se que obteremos a libertação se a consciência sair pela fontanela da coroa. Os lugares mais importantes do corpo para uma transferência da consciência depois da fontanela são os olhos e a narina esquerda.
Quanto à Grande Libertação pela Escuta, quando uma pessoa se
aproxima da morte é habitual procurar-se um lama qualificado que deve iniciar
as recitações de introdução ao estado intermediário.
Após a respiração haver cessado, a energia vital é absorvida no canal da sabedoria primordial e a consciência emerge como uma radiância interior. O defunto pode ouvir tudo o que se passa à sua volta, mas os outros não o podem ver. Assim, ele pode ir-se embora. Neste momento surgem três fenómenos: sons, luzes e raios de luz, o que pode provocar medo ou pasmo. Assim, durante este período deve ser lida a Grande Introdução ao Estado Intermediário da Realidade.
Terminamos com um pequeno excerto da leitura a ser
realizada:
“Ó Filho da Natureza de Buda, quando a tua mente e corpo se separarem, surgirão as puras (e luminosas) aparições da própria realidade: subtis e claras, radiantes e deslumbrantes, naturalmente brilhantes e terríveis, tremeluzindo como uma miragem numa planície no Verão. Não as temas! Não fiques horrorizado! Não estejas aterrado! Elas são as luminosidades naturais da tua própria realidade verdadeira. Reconhece-as.” O corpo agora que tens chama-se um “corpo mental”. Tu, agora, estás para além da morte. Isto é o estado intermediário. Se não reconheceres os sons, as luzes e os raios de luz, continuarás a vaguear dentro dos ciclos da existência.
4. Taoísmo
Lao-Tsé (604-517 a.C.) é o grande precursor da tradição filosófica chinesa conhecida por Taoísmo. O principal livro que a suporta é o “Tao Te King”, o Livro da Via e da Virtude. Tao significa (Vida), Te (Energia), King (Virtude).
Trata-se de um texto com grande economia de palavras, onde com pouco se diz muito, onde se crê que o dito e o não dito são absolutamente inseparáveis, onde “o silêncio é um amigo que nunca trai”.
Porém, o Tao não pode ser explicado nem por palavras, nem
pelo silêncio. Nele tudo flui, tudo é governado sem desígnio. Tentarmos
encontrar o seu sentido é perder. Tudo já é. A rosa é sem porquê… nascida no
tempo certo, floresce porque floresce.
É-nos dado como a eficácia da naturalidade. Tudo acontece quando tem de acontecer. Só age bem quem não está interessado em agir.
À partida, não se precisa acrescentar nada aquilo que já somos. O sábio é como a água, corre sempre a via que tem de correr. Ele não se preocupa consigo e, todavia, é o que ocupa o lugar mais proeminente.
O céu trata tudo e todos de uma forma indiferente, mas benéfica. A ideia essencial do Tao é que o mundo se produz por um “não fazendo”, onde se deve agir de forma espontânea, deixando a mente à vontade.
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