Foi professor primário e universitário. Crítico do sistema tradicional de ensino, defende uma escola sem turmas, sem testes ou exames, sem reprovações, sem campainhas Para ele, a aula tradicional é um sistema ultrapassado de
reprodução de conteúdos que impede cada criança, cada pessoa, de se cumprir em
corpo e alma.
Em meados de
2017, era impulsionador de dezenas de projetos para uma nova educação no Brasil
e colaborador voluntário no Projeto Âncora,
que segue o mesmo método de ensino da "Escola da Ponte". Uma escola focada na autonomia e
protagonismo do aluno, no “aprender a aprender”, na “autoformação orientada”, centrada
numa relação estreita entre professor e aluno. “A Escola com que Sempre Sonhei
sem imaginar que Pudesse Existir”, como diz o título do livro do grande
pedagogo brasileiro Rubem Alves.
A famosa Escola da Ponte em Portugal está a fazer 50 anos.
José Pacheco um dos seus criadores vive há 25 anos no Brasil, mas o projeto
ficou bem ancorado e, até hoje, continua bem vivo, assente num modelo
pedagógico de vanguarda que o distingue dos princípios políticos educativos que
orientam a gestão da escola pública no país.
Embora radicado no país irmão, José Pacheco vem
habitualmente a Portugal participar em encontros vários, onde discorre sobre os
seus ideários pedagógicos, e a praxis em que eles se erguem, sendo que é esse
um dos méritos que se lhe reconhece, não se reduzir à elaboração de ideias num
plano exclusivamente teórico, mas antes servir-se da teoria para desenvolver
práticas bem consolidadas. A Escola da Ponte em Portugal, o Projeto Âncora no
Brasil, são dois desses significativos projetos, também sustentados pela
publicação de uma centena de livros pelo mundo inteiro.
Nos últimos anos tem vindo também a globalizar as suas
ideias na criação de uma “rede de comunidades de aprendizagem”, com encontros
regulares online, onde com vai partilhando e debatendo as suas propostas educativas.
Este ano, 2025, meses de abril e maio, preparou para
Portugal uma série de Encontros sobre Educação, Guimarães, Lisboa, Setúbal…
onde, onde em articulação com entidades e colegas, vem falar das suas
mundivivências pedagógicas e lançar dois novos livros: “Porque não há mais
Escolas como a Escola da Ponte?” e “Inovação Mata Inovação”. Curiosamente, a
sua obra, embora publicada em vários países do mundo, não está publicada e é
pouco conhecida em Portugal. Porque será?
É evidente que as ideias em que José Pacheco alicerça o seu
pensamento não surgem unicamente das experiências acumuladas enquanto
professor, num percurso já com mais de cinco décadas. Herdeiro que se diz do
movimento social do “Maio de 68”, iniciou a profissão ainda no tempo da “velha
senhora”, leia-se, ainda durante o regime fascista em Portugal, antes da
Revolução Democrática do 25 de abril de 1974, período em que chegou a ser preso
político, por oposição ao regime.
As suas ideias são sustentadas pelos desenvolvimentos pedagógicos
da modernidade, muito particularmente, depois do aparecimento do movimento da
“Escola Nova”, que António Sampaio da Nóvoa adjetiva como “a melhor geração
pedagógica de sempre”, uma síntese herdada de ilustres educadores e professores
que alguém apelidou como os “filhos de Rousseau”, tais como, Dewey, Montessori,
Steiner, Freinet, Freire, Adolfo Lima, António Sérgio e, como diz Pacheco,
muito particularmente Agostinho da Silva. Como disse neste abril no Encontro de
Guimarães, foi quando conheceu a obra de Agostinho da Silva, avidamente lida de
uma ponta a outra, que consolidou o ideário pedagógico com que se lançou no projeto da Escola da
Ponte.
Agostinho da Silva que, aproveite-se a deixa, também passou 25 anos da sua vida no
Brasil, onde lecionou em várias universidades, do norte ao sul do país, tal
como criou vários Centros de Estudos, como por exemplo, o Centro de Estudos
Afro-Orientais, na Universidade de São Salvador da Bahia, e o Centro de Estudos
Portugueses, na Universidade de Brasília, onde acaba por fechar a sua atividade
docente, depois do golpe militar que instaurou a ditadura no país.
Agostinho da Silva regressa a Portugal em 1969 e, além do mais, é nele que José Pacheco, como o próprio diz, vai encontrar o impulso decisivo que o levaria aquele ímpar projeto de inovação pedagógica. Mas, acrescente-se que no arranque inicial do Projeto não estava só, com ele estavam mais duas professoras, cujos nomes pouco aparecem a público, que erguendo os valores da liberdade, responsabilidade e solidariedade, o ajudaram a “Fazer a Ponte”.
Luís Carlos R. dos Santos
maio/2025
Referências principais: José Pacheco, Educação Nova, Escola Moderna, Célestin
Freinet, Agostinho da Silva, Rubem Alves.
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