quarta-feira, 4 de junho de 2025

José Pacheco. Fazendo a Ponte.


José Pacheco 

 José Francisco de Almeida Pacheco educador e pedagogo, grande defensor e dinamizador da gestão democrática da educação, nasceu no Porto em 10 de maio de 1951.

Foi professor primário e universitário. Crítico do sistema tradicional de ensino, defende uma escola sem turmas, sem testes ou exames, sem reprovações, sem campainhas Para ele, a aula tradicional é um sistema ultrapassado de reprodução de conteúdos que impede cada criança, cada pessoa, de se cumprir em corpo e alma.

Em meados de 2017, era impulsionador de dezenas de projetos para uma nova educação no Brasil e colaborador voluntário no Projeto Âncora, que segue o mesmo método de ensino da "Escola da Ponte". Uma escola focada na autonomia e protagonismo do aluno, no “aprender a aprender”, na “autoformação orientada”, centrada numa relação estreita entre professor e aluno. “A Escola com que Sempre Sonhei sem imaginar que Pudesse Existir”, como diz o título do livro do grande pedagogo brasileiro Rubem Alves.

A famosa Escola da Ponte em Portugal está a fazer 50 anos. José Pacheco um dos seus criadores vive há 25 anos no Brasil, mas o projeto ficou bem ancorado e, até hoje, continua bem vivo, assente num modelo pedagógico de vanguarda que o distingue dos princípios políticos educativos que orientam a gestão da escola pública no país.

Embora radicado no país irmão, José Pacheco vem habitualmente a Portugal participar em encontros vários, onde discorre sobre os seus ideários pedagógicos, e a praxis em que eles se erguem, sendo que é esse um dos méritos que se lhe reconhece, não se reduzir à elaboração de ideias num plano exclusivamente teórico, mas antes servir-se da teoria para desenvolver práticas bem consolidadas. A Escola da Ponte em Portugal, o Projeto Âncora no Brasil, são dois desses significativos projetos, também sustentados pela publicação de uma centena de livros pelo mundo inteiro.

Nos últimos anos tem vindo também a globalizar as suas ideias na criação de uma “rede de comunidades de aprendizagem”, com encontros regulares online, onde com vai partilhando e debatendo as suas propostas educativas.

Este ano, 2025, meses de abril e maio, preparou para Portugal uma série de Encontros sobre Educação, Guimarães, Lisboa, Setúbal… onde, onde em articulação com entidades e colegas, vem falar das suas mundivivências pedagógicas e lançar dois novos livros: “Porque não há mais Escolas como a Escola da Ponte?” e “Inovação Mata Inovação”. Curiosamente, a sua obra, embora publicada em vários países do mundo, não está publicada e é pouco conhecida em Portugal. Porque será?

É evidente que as ideias em que José Pacheco alicerça o seu pensamento não surgem unicamente das experiências acumuladas enquanto professor, num percurso já com mais de cinco décadas. Herdeiro que se diz do movimento social do “Maio de 68”, iniciou a profissão ainda no tempo da “velha senhora”, leia-se, ainda durante o regime fascista em Portugal, antes da Revolução Democrática do 25 de abril de 1974, período em que chegou a ser preso político, por oposição ao regime.

As suas ideias são sustentadas pelos desenvolvimentos pedagógicos da modernidade, muito particularmente, depois do aparecimento do movimento da “Escola Nova”, que António Sampaio da Nóvoa adjetiva como “a melhor geração pedagógica de sempre”, uma síntese herdada de ilustres educadores e professores que alguém apelidou como os “filhos de Rousseau”, tais como, Dewey, Montessori, Steiner, Freinet, Freire, Adolfo Lima, António Sérgio e, como diz Pacheco, muito particularmente Agostinho da Silva. Como disse neste abril no Encontro de Guimarães, foi quando conheceu a obra de Agostinho da Silva, avidamente lida de uma ponta a outra, que consolidou o ideário pedagógico  com que se lançou no projeto da Escola da Ponte.

Agostinho da Silva que, aproveite-se a deixa, também passou 25 anos da sua vida no Brasil, onde lecionou em várias universidades, do norte ao sul do país, tal como criou vários Centros de Estudos, como por exemplo, o Centro de Estudos Afro-Orientais, na Universidade de São Salvador da Bahia, e o Centro de Estudos Portugueses, na Universidade de Brasília, onde acaba por fechar a sua atividade docente, depois do golpe militar que instaurou a ditadura no país.

Agostinho da Silva regressa a Portugal em 1969 e, além do mais, é nele que José Pacheco, como o próprio diz, vai encontrar o impulso decisivo que o levaria aquele ímpar projeto de inovação pedagógica. Mas, acrescente-se que no arranque inicial do Projeto não estava só, com ele estavam mais duas professoras, cujos nomes pouco aparecem a público, que erguendo os valores da liberdade, responsabilidade e solidariedade, o ajudaram a “Fazer a Ponte”.

Luís Carlos R. dos Santos
maio/2025

Referências principais: José Pacheco, Educação Nova, Escola Moderna, Célestin Freinet, Agostinho da Silva, Rubem Alves.


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