Luís Santos
Por exemplo, nos vedros onde se cristalizaram marinhas, ou nos vestígios de
antigas cetárias, relembram-se sinais da ocupação romana do lugar que nos
trazem à memória Equabona, ou Aquabona, nome romano de Coina antiga, posteriormente
moura, lugar de elogiadas medicinais, ou no lugar que costumamos designar por
“Alius Vetus” (nem que o topónimo tenha sido inventado em tempo posterior), entre
outros lugares do distrito, a produção de sal e a salga do “garum”, pasta de
peixe que se produzia e circulava por todos os cantos do vasto império que
circundava o “mare nostrum”, era coisa sagrada.
Sal que por aqui tinha elevada qualidade, branquíssimo,
puríssimo, que valia o seu peso em ouro, facilitador
de fortunas imensas que não para os marnotos. De resto, sal donde provém a
palavra salário... um tipo de moeda corrente a um tempo com que se
"pagavam os salários", mas também absolutamente precioso, para preservar
peixe e carne, com que se enchia a barriguinha e dava força extra aos infindáveis
exércitos e aos divinais bacanais dos democratas cidadãos de Atenas ... até que
chegaram os frigoríficos.
Além da importância do sal e das boas águas de prata que brotavam das fontes,
em nascentes que por debaixo da terra vão descendo desde a Arrábida e se
estendem pelo vale do Tejo, existe uma famosa planta de folhas verdes, alimento de utilizações várias que vão desde os embalsamamentos e mumificações,
até ao uso na cura de várias doenças. A salicórnia, de seu nome
científico, mas também conhecida popularmente por espargos do mar, ou cristo
marino, ou alhos verdes… Diz no portal “Horta dos Peixinhos”, uma das empresas
que promove a sua cultura, um alimento extremamente versátil que cresce ao
longo das salinas costeiras do mediterrâneo, podendo ser consumida crua ou
cozinhada, numa grande diversidade de pratos, planta diurética e medicinal,
rica em vitaminas e sais minerais que possui características
imuno-estimulantes, antioxidantes, anti-inflamatórias, anti-tumorais e
antidiabéticas, contribuindo para a prevenção de problemas de hipertensão
artéria. E, certamente, um dos ingredientes da poção mágica dos gauleses, Astérix e Obélix, acrescentamos nós.
Eis o resumo perfeito para um texto que se quer curto: os alhos verdes, mais os seus sais e o sal, e as águas de prata, pretensa salada do rejuvenescimento, elixir da longa vida e da imortalidade, qual pedra filosofal.
E, agora, que nos ajudem os fitoterapeutas.
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