terça-feira, 11 de junho de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Dois dias antes da data oficialmente prevista, efectuou-se hoje a transição de poderes no Iraque que assim recuperou a sua soberania. 
O governador Paul Bremen regressou a casa, mas as tropas aliadas deverão ainda permanecer ali por um longo tempo mais, pois estamos longe de um território pacificado e os terroristas da Al-Qaeda, tudo continuarão a fazer para que o novo poder seja fraco e incapaz de ali instalar as bases de um estado de direito; estes criminosos sabem muito bem quem são os seus inimigos e não hesitam em dar-lhe um combate mortal. É ver o que se está a passar no Afeganistão, onde os talibãs estão a assassinar aqueles que se predispõem a votar nas legislativas que deverão ser marcadas para daqui a meses. 

Adivinham-se tempos de grandes atentados dentro e fora do Iraque. 

Curiosamente, muitos dos iluminados entre a inteligentzia ocidental continuam a falar da resistência iraquiana como se aquele povo, depois de três décadas de uma ditadura implacável, quisesse ser agrilhoado pela mundivisão de um islamismo que eleva a ortodoxia ao mais alto grau, ou seja, ao plano de um poder totalitário. 



Hoje foi o primeiro dia da Matilde na “Gente Miúda”. 

Veio cansada, mas encantada. 

“-Amanhã vamos à praia.” –Disse-me de imediato, quando cheguei para a trazer de regresso a casa. 

E o primeiro dia teve jogos e piscina de insuflável, com equitação ao fim da tarde. 

“-Um dia em cheio.” –Sintetizou, já o carro rolava em direcção à Moita. 


A “Gente Miúda” é uma quintinha que os proprietários adaptaram e rentabilizaram como centro de eventos infantis e, no Verão, local de férias. 

As crianças são divididas por grupos etários e ali passam o dia com os monitores, aproveitando a jornada com brincadeiras ao ar livre, num excelente relvado refrescado pelas sombras de árvores decorativas. 

Almoçam em conjunto e têm à disposição boas instalações sanitárias e uma sala de jogos suficientemente espaçosa e fresca, o que garante o conforto na hora da canícula. 


Este ano, a Margarida começou por perder esta semana. 
Mas foi ali que no ano passado, pela primeira vez, gozou quinze dos seus dias de férias. 

Lá para Agosto terá oportunidade de se divertir este ano; as irmãs terão mais uma semana na quinta. 
Elas merecem. Trabalharam bem na escola e obtiveram bons resultados. Há que recarregar baterias para o próximo ano lectivo. 


Eu é que tive de andar em bolandas, como é bom de ver e com hora marcada, pois a reunião de avaliação da Margarida teve início às dezoito e trinta. 


Agora estou cansado, é bem verdade, estamos todos cansados, mas felizes. 



“A Margarida atingiu com facilidade todos os objectivos.” 
Este foi o veredicto da avaliação final do primeiro ciclo. 
Teve ainda satisfaz bastante em todos os parâmetros da aprendizagem e revela claramente que compreende todos os requisitos respeitantes ao comportamento enquanto aluna. 

Melhor era impossível. 


E na verdade, o balanço que podemos fazer da sua prestação nesta primeira etapa da escolaridade é francamente positivo. 

O prémio que ela ganhou no concurso de poesia é um testemunho disso. Mas também o são o facto de ser uma boa leitora e especialmente de livros temáticos, ou a facilidade com que inventa e encena peças de teatro e a curiosidade que revela sobre uma multiplicidade de coisas e assuntos que seria fastidioso estar aqui a descrever. 

E quanto à atitude, nada a dizer. 
Empenha-se no trabalho e, ainda que estejamos sempre atentos ao decurso das aulas e dos exercícios solicitados, não é preciso que lhe digamos para fazer os deveres ou para estudar quando tal se impõe.


Assim apanhe bons professores no futuro e estou convencido que a Margarida chegará na escola até onde entender. 


Nós somos pais abençoados. 



Na próxima sexta-feira, será a reunião de avaliação da Matilde. 



A dor, em Darfur, continua escondida das bocas de cena mediáticas, a nível mundial. 



E tudo leva a crer que o nosso primeiro lá vai a caminho de Bruxelas. 


Cá para mim o homem está a fugir, pois para quem ainda há dias se dizia disposto a conduzir os destinos do país, especialmente agora que a economia começa a dar os primeiros pestanejos de uma retoma, é no mínimo muito estranho que aceite agora um lugar que implicará a sua demissão do cargo de primeiro-ministro e de presidente do PSD, com o inerente fim deste executivo e toda a instabilidade que, nos próximos meses, isso acarretará. 
Então pedem-se sacrifícios aos portugueses e na melhor oportunidade viramos-lhes as costas? Será que iremos mandar às malvas os dois anos de governação em que se apertou o cinto para superar o regabofe que foi a governação dos socialistas? 

E não é líquido que Portugal venha a ganhar algo com isto, antes pelo contrário, a ocasião não podia ser pior. 


E não podemos esquecer que o homólogo luxemburguês recusou o lugar. 
Não poderia Durão Barroso ter feito o mesmo em nome do interesse nacional? 


Quanto à hipótese de Santana Lopes para o substituir, nem vale a pena pensar nisso. 



Só a frescura da noite nos consola. 


Sabemos que os tempos que se avizinham serão de chumbo, ainda que muito venha a ser o vinho que escorra pela garganta. 


 Alhos Vedros 
  28/06/2004

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