sábado, 9 de abril de 2022

PALAVRAS "IN MEMORIAM" de LUÍS GUERREIRO

 


Boa noite a todos!

Agradecer, antes de mais, o convite da Junta de Freguesia de Alhos Vedros para dizermos algumas palavras nesta sessão de homenagem ao amigo, e ao artista, Luís Guerreiro.

Falar do Luís Guerreiro, é falar de uma relação de amizade com cerca de 50 anos. Foram inúmeros os momentos em que juntos celebrámos a vida, foram muitas as tertúlias em que participámos, em variados contextos, onde sempre estiveram também muitos outros amigos. Por aqui, pela nossa terra, juntos fomos desfiando os anos: por aqui brincámos, estudámos, confraternizámos, conspirámos, trocámos energias através das quais nos fizemos homens e, daí, as múltiplas cumplicidades que nos foram constituindo.

E, como dar testemunho da nossa vivência, é também honrar amigos e amizade, na impossibilidade de nomear todos, relembramos os que em determinada altura lhe foram particularmente queridos, como foram os casos do Paulo Gil e do Lídio, que ainda mais cedo partiram, o que nos trás à memória alguns dos velhos lugares de então que para ele foram significativamente importantes, como foram o interessante projeto do Grupo de Teatro da Velhinha, ou a Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros, certamente entre vários outros lugares igualmente importantes.

Mais recentemente, entre outros momentos, pessoas e instâncias onde o Luís se terá realizado, gostaria aqui de relembrar o “TAL”, Temas Artísticos Livres, uma experiência fugaz que mais uma vez nos juntou, com outros amigos, mas que nos permite recordar da sua enorme costela brasileira, país que muito amou e onde levou a sua obra; e, a este propósito, recordar também do seu grande amigo “Delei”, artista plástico brasileiro muito próximo da casa, e também de um outro, o Zé José, realizador de cinema com quem tivemos o prazer de confraternizar na Oficina dos “Arquivos Guerreiro”, e também, claro, umas palavras para a sua parceira de sempre, a querida amiga de há muitos anos, e colega, Ernestina Sesinando (Tina para os amigos), e aqui, acentuando também da relação exemplar, ternurenta, amiga e cúmplice que sempre caracterizou a sua profunda e duradoura relação conjugal.

Como sabemos, o Luís Guerreiro, um espírito livre, anarquista, amante da boémia, era um homem de causas e, entre elas, revelou-se como um incansável lutador pela emancipação e desenvolvimento de Alhos Vedros, onde sempre demonstrou uma inabalável coragem, em tempos onde ser crítico era sinónimo de acrescidas dificuldades, de inserção social, falta de trabalho, dificuldades financeiras.

Falar do Guerreiro que é o Luís, do tamanho do coração do Luís, é falar de uma causa que muito se estende para lá de Alhos Vedros, que transborda de terra e universo, pois que com equivalente amor com que se refere a Alhos Vedros, assim faz com Portugal, com a Língua Portuguesa, com o mundo, e isso está bem espelhado em toda a sua extraordinária obra que, em boa altura, aqui homenageamos. Estávamos a pensar, por exemplo, nos seus incríveis painéis sobre as “cidades flutuantes” que um dia, esperamos, possa ser exposto no futuro Museu para admiração de todos... Mas, eis aqui, nesta renovada Capela, uma das suas últimas obras, ao que sabemos, de difícil execução que muito lhe custou o suor do rosto, como foram a recuperação e o restauro de alguns destes magníficos azulejos que nos permitem melhor disfrutar deste maravilhosos espaço que hoje nos reúne, a Capela da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros que tanto almejámos.

Falar na extraordinária obra que o Luís Guerreiro nos deixa, será, sobretudo, tarefa futura que teremos de cuidar e que é impossível deixar aqui em palavras que se querem breves. Chamemos apenas a atenção dos autarcas locais, além do já referido painel sobre as “Cidades Flutuantes”, de outras duas obras de particular valor que requerem especiais cuidados: referimo-nos aos lindíssimos painéis que estão expostos nas paredes da Biblioteca de Alhos Vedros e que merecem ser protegidos, sinalizados e, porventura, legendados, porque nos parecem valiosos demais para ficarem simplesmente entregues a si próprios; e, por outro lado, relembrar do significativo painel de azulejos, de 3 por 12 metros, sobre temas da história local recente, que está a ser concluído por artista de referência no ramo da azulejaria. Certamente, mais um valioso painel da representativa herança artística que o Luís nos lega e que deverá cuidado com critério, por quem de direito.

Por fim, fazer referência a um desejo familiar que subscrevo: que entre a Oficina dos Arquivos Guerreiro e o espaço do FAVO, onde agora se expõem algumas das suas obras, seja possível criar um espaço de formação que permita dar continuidade à obra e ao ramo artístico que o nosso amigo em boa hora iniciou por aqui. 

Obrigado Luís Guerreiro. Até sempre. (Luís Santos, no auspicioso dia de 3.4.2022)

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