Duetos luso-brasileiros
Fotomontagem de Kity Amaral
Texto de Luís Santos
Funciona assim: Primeiro, uma imagem, uma fotomontagem. Depois,
um, dois, três dias, semiesquecida, sem fundo de resolução à vista, fica no
forno a amadurar. Certo dia ao acordar lá estão as palavras todas, enfileiradas,
direitinhas. A própria consciência, as sinapses neuronais, sem a habitual
acordada atividade mental, produzem o encadeamento textual. O origâmico sonho.
Aí, vem uma xícara de café, e a memória da imagem, tudo de
sabor mineiro, brasileiro. Neste caso, as duas rosas, gémeas, numa bela mandala
rendilhada, são bem símbolo de amizade, de fraternidade, de irmandade. Rosas,
cor de rosa, lado feminino, lado lunar, a própria poesia, o amor. Uma
cristianice presença. Ou uma rosa no centro da cruz que desabrocha em redenção,
sofrimento, e se transmuta em cultivada alegria.
No meio da cruz floresce uma rosa de braços abertos, o
peito(o coração) ao deus dará, um fraterno amor ao próximo, sem tempo e sem
espaço, e-terno. A origem são os toucados de pássaros egípcios, a adoração do
sol, os enormes túmulos piramidais, os caminhos verticais e a libertação dos
escravos. O monte Sinai e as tábuas da lei. Do povo eleito à força do amor. O
sol transformado em Deus.
Hoje aqui estamos e o que se vê foi coisa que nasceu lá
muito atrás que é simultaneamente mais adiante, muitos
anos depois depois de 1822. O século vinte e dois, belo horizonte, sabor
mineiro da xícara de café. Os livros ficcionais das nossas estórias infantis
fazem-se acompanhar de lindos desejos, mais os seus violinos que lhe dão um
sinfónico fundo musical, quase meditativo, com as flautas, as arpas, as
trombetas.
O mundo acordou ao som da música das esferas, de cânticos
celestiais. Lá se vê a rosa que floresceu na cruz e menino jesus, criança outra
vez. As rosas que do manto caem e se transformam em pão, milagre são. A marinha
já não é o que era, mas a língua ainda é uma mistura do africano galaico
português. E nós postados nos cotovelos, nos toldam românticos cabelos e
levamos em “olhar esfíngico e fatal, o Ocidente, futuro do passado”.
Alhos Vedros, Mestre de Avis, 22 de Julho
E a música é: https://www.youtube.com/watch?v=yoKJzAodKuI
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