terça-feira, 4 de setembro de 2018

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
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Foi pois o Homo Erectus que, fazendo uso da caça, se espalhou por todo o velho mundo, vindo a deixar vestígios que se estendem das margens ocidentais do continente europeu ao que hoje é a ilha de Java. 
Mas não é só uma tal dispersão geográfica que atesta quão bem sucedido foi esse ramo da grande família humana. Um tão longo período testemunhou a multiplicação e diferenciação das ferramentas líticas que àquele estão associadas, bem como deixou marcas de práticas que, indo desde o domínio do fogo às primeiras manifestações funerárias, nos revelam um animal inteligente que, apesar de ter um volume craniano mais pequeno que o nosso, estava já apto a elaborar pensamentos abstractos bem como, naturalmente, a desenvolver raciocínios em termos lógicos. 
É isto que nos diz a reconstituição do sinantropos, para citar apenas um caso, que há umas poucas centenas de milhares de anos viveu em Chou Ko Tien, na China actual, em grutas em que aquecia alimentos e, segundo parece, revela práticas de canibalismo de que nos chegaram os crânios cortados de forma a permitir o acesso às respectivas massas encefálicas. Estamos perante alguém que se alimentava tanto da recolha como da actividade caçadora, para a qual dispunha de lanças e o equivalente a facas e punhais e que, tal como em outros vestígios no Médio Oriente, enterrava os seus mortos ou, pelo menos, alguns deles. 
Não sabemos ao certo como se processou a evolução do homo habilis para o erectus e deste para o homo sapiens. É natural que os indivíduos com cérebros maiores fossem aqueles que se revelavam mais capazes para assegurar o melhor sustento para si e a sua prole e que, por isso, se tenham reproduzido mais, vindo a predominar as características que entretanto haviam legado aos seus descendentes. Assim de deve explicar a substituição do habilis pelo erectus que terá ocorrido ainda em África, mas igualmente o aparecimento do homo sapiens entre as populações do homo erectus fora daquele continente, ou até a estirpe moderna a que pertencemos, o sapiens sapiens que parece ter sucedido naquelas terras continentais. 
A verdade é que o Homem de Neanderthal que encontramos na Europa ou os seus semelhantes em termos de volume craniano em outras paragens da Ásia Menor, todos eles terão evoluído fora de África no contexto da demografia do homo erectus. Ora, pelo menos tanto quanto nos é permitido saber pelos dados actuais, terá sido com este homo sapiens que o uso da linguagem se generalizou e é com ele que vamos encontrar o que podemos considerar como os primeiros ritos funerários, da mesma forma que ao resolver os problemas que as glaciações colocaram, estenderam a hominização aos ambientes de climas mais frios. 
Contudo, pelo que nos dizem os restos de crânios e outros ossos encontrados, entre outros locais, na Etiópia ou na África do Sul, o homo sapiens sapiens, ou seja, a espécie humana a que pertencemos, terá surgido neste continente, há mais ou menos cem mil anos. (1) 
Apenas aí se manteve mais duas dezenas de milhares de anos (2), em números reduzidos que não iriam além de alguns milhares de indivíduos até que, tal como as mais recentes descobertas genéticas vêm agora dizer, um grupo terá passado para a península arábica de onde se terá espalhado pelo planeta. 


NOTAS 
(1) Hoje em dia sabemos que a nossa antiguidade remonta a mais ou menos o dobro do referido, duzentos mil anos. 
(2) De acordo com a nota anterior, também esta referência de tempo carece da devida actualização.

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