terça-feira, 18 de setembro de 2018

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ao que o Benfica já chegou; vibramos com o segundo lugar. 
E foi há dez anos, por ocasião do primeiro diário da Margarida que eu tive a última grande alegria num derby com o Sporting, quando, mais ou menos por esta altura do ano, as águias foram a Alvalade vencer por seis a três e com isso ganhar o balanço para a conquista desse campeonato o que, desde então, não mais se repetiu. 

Seja como for, depois de uma longa série de anos em estado de coma, o clube tem recuperado e repete este ano a possibilidade de vir a disputar a liga dos campeões e tudo indica que está no bom caminho, mantendo a equipa e respectivo treinador pela segunda época consecutiva. 
Se não houverem golpes fora das quatro linhas, para o ano voltará a ser campeão e regressará aos grandes palcos europeus para aí retomar o lugar entre as grandes equipas. 


E não é que a Matilde gosta de futebol? 



Mas ontem passaram trinta anos sobre o dia em que eu vi as ruas de Alhos Vedros cheias de gente como não mais voltou a suceder. 
Era o primeiro de Maio que o povo festejava em liberdade pela primeira vez o que ninguém queria deixar de fazer, até como forma de provar que também os portugueses poderiam viver fora da tutela das forças da ordem de um regime policial. 

Tenho ideia que o dia estava meio encoberto mas as pessoas traziam sorrisos na cara e cravos ao peito. 

E não mais esquecerei o Avelino que Deus tenha em Sua Glória, com o gravador à tiracolo, na rua, entrevistando os conterrâneos em nome de uma rádio que não existia, mas à qual todos quiseram deixar o testemunho da sua alegria. 

Três décadas depois, o dia passou tão despercebido que o comércio esteve aberto e em minha casa houve trabalho como em qualquer outra jornada. 


Que fizemos nós da cidadania? 



E não é que a Margarida já dá luta em jogos de cultura geral em que é preciso saber nomes de países, cidades, rios e outros dados do género? 

É uma alegria para o pai quando joga com os pardalitos. 


Que não esqueceram o dia da mãe. 

A Matilde fez mesmo questão de me lembrar que eu deveria oferecer uma prenda à minha mãe. 

Mas elas escreveram mensagens e fizeram desenhos que enviaram por correio. Na sexta-feira chegou a da mais velha e amanhã deverá chegar a da mais nova, pois o pai preferiu repartir a remessa dos envelopes que os amorzinhos lhe confiaram para fazer chegar à caixa postal. 

E depois de uma semana de cumplicidades para que a mãe de nada soubesse, esta manhã, a mais novinha entregou um diploma de mãe competente que fez na escola, na última quinta-feira. 


O pai incha de contentamento. 



Mas ontem foi o dia do alargamento da União Europeia a dez novos países. Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Eslovénia, Malta e Chipre passam assim a fazer parte da unidade europeia que constitui o maior mercado organizado do mundo. 

Por aqui há receios e muitos. Mas também me parece haver vantagens. 
Acontece é que entre nós ainda continua a não entender-se que os negócios é que são as molas deste último prato da balança e a concorrência ainda é vista como um factor de perigo e a perda de ajudas financeiras como uma espécie de prenúncio do fim do maná. 

Afinal, encarámos a União como a Índia e os Brasis de outros séculos. 



Terça-feira haverá um eclipse total da Lua. 
Esperemos que seja em horas decentes. 


Alhos Vedros 
  02/05/2004

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