terça-feira, 3 de julho de 2018

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O REPOUSO

Ui que belo fim-de-semana de repouso que para o pai resultou na recuperação do sobre-esforço que tive de fazer nestes últimos dias, agravado pela dificuldade que desta vez senti para regressar ao bio-ritmo do nosso meridiano. 


Tardes de passeio e convívio familiar, com manhãs de jornais e noites com o primeiro volume da obra de Helena Matos sobre Salazar. 
De resto, para os meus amorzinhos em ponto pequeno, a brincadeira que é bem merecida numas férias que estão a correr às mil maravilhas entre os jogos, na sala e o sótão da Beatriz. 

Vimos o “Belleville Rendez-Vouz”, uma longa-metragem de banda desenhada que nos fala da solidariedade dos periféricos face às prepotências do crime organizado que é um desafio para o mundo livre a nível global. 

E no Sábado estivemos na praia, na Lagoa de Albufeira, na companhia do colorido das velas de windsurf e uma espécie de ski puxado por um papagaio de que não sei dizer o nome. 
A Sílvia acompanhou-nos, a convite das minhas filhas e jantou na nossa casa. 


Hoje, o trabalho foi mais leve. 



Pois no Iraque, um líder xiita radical Mohamad Al-Baqr que as autoridades, afinal, deixaram rodear-se de uma milícia armada, amotinou a cidade santa de Najaf e a partir daí levantaram-se revoltas e distúrbios em outros locais. 
A situação chegou a estar muito complicada mas agora existe um mandado de captura emitido pela justiça iraquiana e o fora-da-lei refugiou-se numa mesquita, certo no seu finca-pé que os militares americanos pensarão duas vezes se valerá a pena arrombarem as portas para o prenderem. 
No entanto, o ayatolla Sistani já condenou a acção e o incitamento à violência e negou qualquer autoridade ao jovem dirigente que, apesar de, por herança, controlar uma rede de escolas corânicas, não tem qualquer título ou grau na hierarquia religiosa. 
Também os iranianos se ofereceram como intermediários neste episódio e, tudo o indica, aconselharam-no e aos seus seguidores a transformarem a milícia que controlam em partido político. 

Vamos ver o que sucede nos próximos dias. 


E o Ocidente continua a não falar a uma voz, com a veemência de um bloco que sabe estar ameaçado de morte por um inimigo comum, o terrorismo da Al-Qaeda e afins. Com isso abre os flancos aos terroristas que aproveitam para matar aqui e ali e com isso pressionarem a opinião pública mundial. 

É de esperar o pior. 

Pessoalmente lamento que os aliados não tenham muito simplesmente podido defender a guerra sobre o Iraque do regime de Saddam e do Partido Baas, como mais um dos elos na luta contra o terrorismo, especialmente pelo que um Iraque livre e pacífico poderia contribuir para o fim do conflito israelo-árabe. 

Defendi-o antes da guerra (1) e foi isso que levou a, pelo menos, não me opor a ela. 

Mas a tibieza destes governantes de tempos em que os interesses esconsos falam mais alto só servirá para radicalizar ainda mais os fanáticos e a sede de sangue que os move. 

Deus nos salve desta loucura. 



Morreu Francisco Lyon de Castro, antigo militante comunista e sempre resistente ao fascismo. 

Fundador da “Europa-América” fez, com isso, mais pela liberdade do que aquilo que terá obtido nos anos de chumbo que passou pelos calabouços da polícia política. 

E foi solidário com os que o Estado Novo ostracizou; foi no seu negócio livreiro que muitos camaradas encontraram um ganha-pão que o estigma que transportavam dificilmente lhes permitira conseguir em outros lugares. 



“-O que é característica?” –Perguntou a Matilde, logicamente para compreender uma frase em que usei aquela palavra. 
“-É aquilo que faz com que uma coisa se distinga das outras, aquilo que uma coisa tem que as outras não têm ou então têm de uma maneira diferente. Ora diz-me lá a característica de uma escova de dentes.” –Respondi-lhe, enquanto a auxiliava na secagem após o banho. 
“-É aquela coisa com pelinhos para lavarmos os dentes.” 

A felicidade de um homem. 



AH! E finalmente o primeiro volume a respeito do Salazar. 


Alhos Vedros 
 12/04/2004 


NOTA 

(1) Gomes, Luís F. de A., A ESPADA E O BURACO NEGRO 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Gomes, Luís F. de A., A ESPADA E O BURACO NEGRO, Prefácio do Autor, Dactilografado, Alhos Vedros, 2003 
Matos, Helena, SALAZAR, Vol. 1, Círculo de Leitores, Lisboa, 2003

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