Na sexta-feira foi dia de Feira de Projectos e mais uma vez as minhas filhas lá foram ao pavilhão de exposições do município para verem a exposição dos respectivos trabalhos. Segundo a mais nova, sem qualquer exemplar da sua autoria mas, de qualquer forma, com a particularidade de ser a primeira vez que participa na qualidade de aluna do básico, ao contrário da irmã que para o próximo ano ali voltará em representação de outro estabelecimento de ensino.
Quanto a mim, sempre pensei que o espírito com que estas realizações são postas em prática deixa muito a desejar.
Chegámos já ao ponto de vermos conteúdos elaborados com o único propósito de ali virem a ser apresentados o que é, de todo, um erro.
Estes eventos deveriam muito simplesmente limitar-se a expor os melhores e os mais representativos trabalhos que ao longo do ano lectivo curricular tivessem sido realizados pelos alunos.
Para além disso, seriam também uma boa ocasião para as escolas se mostrarem ao público e conseguirem realizar dinheiro pela venda de serviços ou outros produtos ou pela captação de doações privadas.
Da forma como as coisas são feitas é que continuamos a brincar às casinhas.
Mas é esta a filosofia de fundo com que, entre nós, se encara o ensino.
Agora vem o Presidente da República com a ideia de um plano para o sucesso escolar até dois mil e dez.
Words, nothing but words, empty words.
Mal sabe o senhor que se for preciso arranja-se a forma dos alunos passarem com competências nem que seja por decreto e se este não existir, até por uma questão de pudor, infelizmente, certos profes tratarão de transformar as avaliações em simples inscrições dos nomes dos candidatos.
É claro que isto do plano não passa de conversa para uso da presidência aberta.
Mas revela a ligeireza com que entre nós se aborda o fenómeno do ensino/aprendizagem.
Mas deixemo-nos de tristezas que na noite desse mesmo dia fomos ao coliseu, em Lisboa, para assistirmos a um concerto de José Mário Branco.
Esmagador, digo eu, se quiser usar uma palavra para descrever aquele que não hesito em reputar como o melhor espectáculo do género feito por portugueses.
No fim, a sala foi o lugar onde o público, todo de pé, esteve a bater palmas sem descanso ao longo de uns bons dez minutos.
O Autor/Intérprete apresentou-nos o último álbum e depois, com o auxílio de um coro infantil, fez uma espécie de rapsódia pelos temas mais antigos com os quais deu o show por encerrado.
Mas foi uma noite amarga, posso mesmo dizer que foi um exemplo do belo que um músico genial pode elaborar com a amargura.
E cá por casa as obras continuam e ontem lá a Luísa teve que ir com as miúdas à aula de natação.
Seja como for, a parte da alvenaria está completa com o trabalho de estucagem que hoje foi concluído.
Ontem à noite, ainda assistimos a um sarau de música coral, na Vélhinha.
De resto, o fim-de-semana teve jornais.
Especialmente interessante, uma entrevista ao filósofo Fernando Gil que tem sido uma das vozes mais esclarecidas na denúncia do perigo mortal que o terrorismo da Al-Qaeda representa. (1)
Agora que os aliados levaram outro rombo moral com a publicação de fotografias que dão testemunho de sevícias praticadas sobre os prisioneiros iraquianos, é importante que haja quem consiga manter a distância para não confundir as coisas e não deixar que os erros de gente mal formada encubram o que realmente está em jogo na guerra travada com os homens de Bin Laden.
Depois de um Inverno seco, estamos a ter as chuvas de Abril em Maio.
Alhos Vedros
09/05/2004
NOTA
(1) Gil, Fernando, ENTREVISTA, pp. 34 e ss
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Gil, Fernando, ENTREVISTA, Entrevista a Maria João Seixas, “Pública”, nº. 45, de 09/05/2004, In “Público”, nº. 5160, de 09/05/2004