quinta-feira, 28 de março de 2024

Crónicas de Viagem

 Vila Velha de Ródão

23-25 de março/2024



Meio da manhã rumo ao Arts Rupestre Hotel, Vila Velha de Ródão. A rota traçada foi a linha do Tejo. Pelo meio, um cantinho bem verdinho a envolvê-lo em Benavente, um almoço para esquecer em Salvaterra de Magos, onde as enguias fritas anunciavam a típica gastronomia regional e a lembrança de Constância, terra de Luís de Camões, onde o Zêzere, bonito de ver, se despeja no rio maior.

O Hotel, simpático, em sítio arejado, tem como paisagem justamente o nosso rio, até às portas de Ródão, ex-libris natural, monumental, duas enormes massas rochosas por onde o rio se estreita e logo em seguida se avoluma para seguir o seu curso. Acima das portas, acentuada altitude, em hora muito ventosa, o castelo do rei Vamba com miradouro de vista privilegiada para todo aquele impressionante conjunto.

Vila Velha de Ródão, sede de concelho, encosta-se à margem norte do Tejo, província da Beira Baixa, com ponte para a margem sul, Alto Alentejo, a caminho de Niza, distrito de Portalegre. Niza terra de ancestrais na linha paterna, com alguns curiosos pormenores que assinalam a sua antiguidade, portal medieval onde se penetra no centro histórico, D. Dinis, freguesia do Espírito Santo que, agora, depois de recente reforma administrativa do território, se junta com as freguesias da Nossa Senhora da Graça e São Simão. Rua de Santa Maria, onde as típicas flores de bordados e cerâmicas, estão incrustadas no chão, calçada de extraordinária beleza.

Almoçámos bem na “Tasca das Cachopas” e até considerámos que aquele ar medieval que se respira em Niza merecia um restaurante assim, significativo património local, onde a gastronomia tradicional, bem confecionada, ganha relevo.

De volta a VV de Ródão, à beira do rio, deu para se comprovar das pinturas rupestres que dão nome ao sítio de alojamento, em presença humana com testemunhos do Paleolítico Médio, 30 mil anos atrás. Ainda deu para sentir o espírito dos elefantes que outrora viveram por aqui, entre abundante fauna, enquanto um barquinho sai do seu cais fluvial em passeio turístico e a encosta da serra mostra uma linha de comboio de localização absolutamente fantástica, em que se adivinha idílica viagem, mas que não fizemos porque a escapadinha não deu para mais. Aqui, onde começa o Parque Natural do Tejo Internacioinal, como muitos outros recantos por descobrir.

VV de Ródao, uma vila interior do país, que sobe desde o vale do rio serra acima, em terreno acidentado, poucos habitantes, com estrada principal em péssimo estado e obras demoradas a decorrer, onde uma mudança dos ventos trouxe o cheiro agressivo de fábrica de pasta de papel. Enfim, entre belas paisagens, alguns aspetos de menor atratividade que, todavia, não lhe retiram bons motivos para uma visita de um fim de semana prolongado.

 

Luís Carlos dos Santos

Alhos Vedros, 28 de março/2024

sexta-feira, 22 de março de 2024

“Literatura: o pão nosso de cada dia” (XXIV, e último)

 Luís Souta

A ANTROPOLOGIA NO ENSINO

«Habituado como estou a considerar a literatura como procura do conhecimento, para me mover no terreno existencial tenho necessidade de considerá-lo extensível à antropologia, à etnologia, à mitologia.»
(Italo Calvino Seis Propostas para o Próximo Milénio, 1990:42)

   O desenvolvimento da Antropologia, em Portugal, tem sido lento e algo errático. No campo do ensino, é tardia a sua institucionalização e praticamente circunscrita ao ensino superior.

   A Antropologia tem ganho espaço crescente no campo universitário, desde que em 1968 foi criado o primeiro curso em Portugal, no então ISCSPU - Universidade Técnica de Lisboa, o «Curso Complementar de Ciências Antropológicas» que concedia o grau de licenciatura (no 1º ano de funcionamento estavam matriculados 24 estudantes). Logo no ano seguinte o curso passou a designar-se «Curso de Ciências Antropológicas e Etnológicas» (com uma matrícula de 41 alunos em 1973-74 e de 116 em 1975-76)[1].

   Só uma década depois é criado um novo «Curso de Antropologia», na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa (1978), com a duração de quatro anos (acessível aos alunos que concluíssem o 12º). Poucos anos depois, o de «Antropologia Social» no ISCTE (1982)[2] e, posteriormente, um outro na FCT da Universidade de Coimbra (1992). Em 1997, aparece na UTAD, pólo de Miranda do Douro, um novo curso de licenciatura: «Antropologia Aplicada ao Desenvolvimento». Também ao nível do ensino privado abriram cursos de Antropologia (designação que se foi, mais ou menos, uniformizando em todas as escolas): em 1990 na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e o mais recente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. A Universidade do Minho criou uma secção de Antropologia, em 1999, mas ainda não desenvolveu qualquer curso autónomo nesta área.

   Outros estabelecimentos do ensino superior introduziram a Antropologia nos seus currículos, tal como nos cursos de História, Psicologia e Geografia (UL, “Antropologia Cultural”), Sociologia (ISCTE), Serviço Social (ISSS), ISPA, Artes Plásticas (ESBAL, “Antropologia da Arte”), Educação Física (ISEF, “Antropologia do Jogo”), licenciaturas em ensino de História e Ciências Sociais e em Relações Internacionais (UM) e ainda na Universidade de Aveiro.

   Entretanto, nos últimos tempos, iniciaram-se cursos de mestrado em Antropologia, em diversas instituições universitárias, entre as quais o ISCSP, o ISCTE-IUL (Património e Identidades; Colonialismo e Pós-Colonialismo), a U. Nova de Lisboa (Antropologia do Espaço; especializações em Culturas Visuais, Temas Contemporâneos, Primatologia e Ambiente) a FCT - U. de Coimbra (Antropologia, Globalização e Alterações Climáticas, Antropologia Médica e Saúde Global) e UTAD-ISCTE-IUL (com dupla titulação, a funcionar em Vila Real e Lisboa).

   Mas só em Janeiro de 2002, surgiu a apresentação de uma proposta curricular de mestrado em «Antropologia da Educação»; o curso viria a funcionar no ISCTE, entre 2003- 05[3]. A especialidade de Doutoramento em Antropologia da Educação foi entretanto aprovada no CC do ISCTE, em 13/05/2003.

   Já no campo da formação de professores a Antropologia tem um outro tipo de intervenção – apenas ao nível de disciplina incluída nos planos de estudo. A sua génese remonta a 1978, quando nas Escolas do Magistério Primário (EMP) surge a disciplina de «Antropologia Cultural» (1º ano, 2h/semanais). No ano imediato, introduz-se nas Escolas Normais de Educadores de Infância (ENEI) a disciplina de «Antropologia Cultural e Sociologia» (1º e 2º anos, 65h/ano). Tratava-se de currículos nacionais, portanto aplicados a todas essas escolas incluídas, na altura, no chamado «ensino médio». O mesmo se passava com os respectivos programas, também eles elaborados a nível central do ME, e iguais para todos os estabelecimentos. Com a criação do ensino superior politécnico, e a entrada em funcionamento das Escolas Superiores de Educação e dos seus diversos cursos de formação inicial, em 1986, veio alterar-se o modus operandi de inclusão da Antropologia nos currículos. Uma vez que estas escolas passaram a gozar de autonomia científica e pedagógica (o que não acontecia com as EMP e as ENEI), a definição curricular era feita no seu interior, e o aparecimento ou não de disciplinas de Antropologia estava muito condicionada à presença de antropólogos na equipa docente das escolas e à sua capacidade de “negociação curricular”. Assim, surgem, nessa fase inicial, nas ESE de Castelo Branco, Guarda, Leiria e Setúbal, por exemplo, disciplinas como Antropologia das Actividades Corporais, Antropologia do Jogo, SocioAntropologia, Etnografia Musical e Antropologia da Educação, em cursos como educadores de infância, professores do 1º ciclo, e variantes de educação física e educação musical. Ao longo destes anos, foram-se registando múltiplas mudanças na estrutura organizacional dos cursos (pré e pós-Bolonha), com alterações curriculares diversas; no entanto, a ESE de Setúbal e a ESECS de Leiria foram, talvez, as únicas onde se manteve, de« forma explícita, a disciplina de «Antropologia da Educação»[4]. Depois, foi o descalabro, com o Processo de Bolonha a reduzir as licenciaturas para 3 anos (com o fim dos cursos de “banda larga”) e o afunilar dos currículos, expurgando-os de tudo o que ia além das componentes de formação nas “área da docência”, “educacional geral” e “didácticas específicas”. Como os cursos se querem, agora, profissionalizantes stricto sensu, há, portanto, que ‘cortar’ na formação cultural e social[5].

   Fechou-se uma porta (a da formação de educadores de infância e de professores do 1º e 2º ciclos, agora com o mestrado como habilitação mínima), abriu-se outra com a oferta em outros cursos. E assim, surge a UC de «Antropologia Cultural», na ESE-IPS em 2008-09, nas licenciaturas em “Animação e Intervenção Sociocultural”, “Comunicação Social”, “Promoção Artística e Património”, “Tradução e Interpretação de LGP” e na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria com as UC de «Antropologia Social» e «Antropologia Social e Cultural» em diferentes licenciaturas (“Serviço Social, “Relações Humanas e Comunicação Organizacional”, “Educação Social”…), «Antropologia, Cultura e Arte» (no curso de “Programação e Produção Cultural”), «Antropologia da Comunicação» (“Comunicação Social e Educação Multimedia”), «Etnologia Portuguesa» (“Turismo”), «Etnologia e Etnografia» (CTeSP em “Ambiente, Património e Turismo Sustentável”).

   O lugar relativamente discreto da Antropologia nos currículos dos politécnicos e das universidades, tem muito a ver com a ausência de uma disciplina de Antropologia na estrutura curricular dos ensinos básico e secundário. Tal só se verificou no ano lectivo de 1979-80 com a introdução da disciplina de «Antropologia Cultural» (com 2 horas semanais) no l0º ano do curso Complementar do Ensino Secundário, mais concretamente na área D – Estudos Humanísticos, e que era obrigatória para os alunos que optavam, no âmbito da Formação Vocacional, pela área de Jornalismo e Turismo (os professores eram contratados na área de “Técnicos Especiais”). Experiência curta no tempo, que a reforma resultante da LBSE (1986) veio a eliminar. Todos os múltiplos esforços da Associação Portuguesa de Antropologia, das universidades que ministram cursos de licenciatura em Antropologia e dos docentes com formação nesta área se têm revelado infrutíferos. Os argumentos científicos e pedagógicos demonstrativos da utilidade social desta ciência social, na formação integral dos alunos, têm esbarrado na insensibilidade das várias equipas responsáveis do ME.

   Ligeira mudança se operou com o “Documento Orientador da Revisão Curricular do Ensino Secundário”, de Abril de 2003, com implementação no ano lectivo de 2004-05: a Antropologia voltou a ganhar (ténue) visibilidade ao aparecer no elenco das opções anuais da componente específica no Curso de Ciências Sociais e Humanas, ficando, todavia, a «oferta dependente do projecto educativo de escola» (o que implica um acordo celebrado entre o ME e cada escola; então, podem os alunos que a queiram frequentar ser provenientes de qualquer um dos outros 4 cursos científico-humanísticos existentes). Seria leccionada no 12º ano e teria uma carga horária de 3 blocos semanais de 90 minutos[6].

   Presentemente, com o Decreto-Lei nº 139/2012, de 5 de Julho[7], a oferta formativa do ensino Secundário, inclui a «Antropologia» mas apenas como disciplina de opção: no curso de Língua e Humanidades (uma de 7), no curso de Ciências Socioeconómicas (uma de 9), e nos cursos de Ciências e Tecnologias e de Artes Visuais (uma de 11).

   Muito pouco… No ensino secundário, a Antropologia ‘avança’ mas a passo de caracol.O sistema persiste no conservadorismo curricular!

Notas

1. Para o conhecimento dessa primeira década cf. Luís Souta “Tempos de Extremos”, Etnográfica, nº comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, 2004 (no prelo).
2. DL nº 121/82 de 29 de Outubro.
3. Deliberação do Senado nº 807/2003, DR nº 134 de 11/06.
4. Na ESE-IPS funcionou até 2007-08 e na ESECS-IPL a UC de Antropologia da Educação manteve-se no curso de Educação Básica (mais recentemente com a designação «Sociologia e Antropologia da Educação».
5. Decreto-Lei nº 112/2023 de 29 de Novembro (altera o regime jurídico da habilitação profissional para a docência na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário, ou seja, o anterior Decreto-Lei nº 79/2014 de 14 de Maio).
6. O programa de Antropologia do 12º ano (com 59 p.!) foi homologado em Abril de 2006, e elaborado por José Manuel Sobral (coord.), Carlos Nuno, Margarida Fernandes.
7. Decreto-Lei nº 139/2012, de 5 de Julho, alterado pelo Decreto-Lei nº 91/2013, de 10 de Julho e pelo Decreto-Lei nº 176/2014, de 12 de Dezembro.

Muito em breve será publicado o livro A TRÍADE DISJUNTIVA: Literatura, Antropologia e Educação que reúne, na sua I parte, os 24 textos desta rubrica que aqui fui editando desde 13/11/2021.

terça-feira, 19 de março de 2024

Do Diário de Vida de Raul Iturra

                                                           

Estar Dividido

Estou muito dividido, diário amigo. A Lídia Jorge com o seu livro Misericórdia, fez-me pensar na eterna luta entre funcionários e utentes de um lar, como te tinha dito antes. Parece que a lógica do utente não condiz com a realidade quer na sua vida pessoal, quer com o momento da história da vida social; a lógica dos funcionários é totalmente ligada a esta história, é uma lógica formal e estruturada pelo acontecer quotidiano. Eis porque estas duas lógicas esbarram e há gritos dos funcionários e falta de entendimento dos utentes que sofrem porque não são percebidos no que procuram e no que querem. 

No entanto, eu próprio fico impaciente quando quero interagir com um colega do lar e não sou entendido, quando tenho da sua parte como resposta um imaginário idealizado. Como essa colega residente do lar a quem solicitei sentar-se no sofá ao pé de mim para eu lhe explicar o que acontecia na televisão e ela, nem curta nem preguiçosa, disse-me que não podia porque o seu boneco, esse brinquedo que ela apaparica não quer sentar-se aí. Perante esta situação impacientei-me e gritei: “sente-se onde quiser, eu não lhe explico nada!”. Após minutos de discussão, ela feliz, eu farto e de mau humor, digo-lhe “é apenas um urso de pelúcia que a senhora tem!”. É evidente que a senhora não entendeu porque esse boneco para ela é uma criança que chora, que tem frio, que ela embala no seu colo: uma realidade da lógica ideal que ela usa para a sua compreensão dos factos.

 O que para mim não tem valor nenhum para ela é a base do seu quotidiano, do seu viver, da importância que o urso de pelúcia tem na sua vida. Observo que os funcionários nestas situações gritam e zangam-se. Eu também gritei e zanguei-me com a senhora sendo no entanto apenas uma ocorrência entre mim e ela. Os funcionários têm centenas de ocorrências deste tipo durante o dia, cansam-se, zangam-se, gritam, empurram, desistem. 

Quando eu me zango com um colega utente entendo os funcionários que não conseguem aceitar e entender as aldrabices da lógica mágica do utente por falta de preparação ou de condições de trabalho.

Tenho observado que os funcionários  conseguem adaptar-se à racionalidade do utente quando estão de bom humor. O funcionário trabalha com intuição e emotividade, base da sua perdição. Quantas vezes, no outro extremo,  quando um funcionário comporta-se com impaciência com um utente, eu corro para defender o utente. É esta conduta de funcionários e utentes  que me tem partido em dois. Ora admiro o trabalho do funcionário, ora critico esse trabalho. Eu próprio ora resgato o utente do magma em que o funcionário o colocou, ora também o coloco nesse magma. Normalmente acarinho com palavras e carícias o utente que sofre e não é entendido nessa lógica mágica. O que eu tento é conseguir um equilíbrio entre as duas lógicas do lar. Se eu faço bem ou faço mal já não sei, não estou treinado. Como não estão treinados os funcionários do lar e ainda muito menos treinado está o residente que a senilidade em qualquer idade o levou a falhar na racionalidade social.

 A Lídia Jorge no seu romance “Misericórdia” remete o leitor para estas lógicas em confronto mas como escritora não residente num lar acaba por romancear o que presenciou nas suas visitas. A mãe, que ela denominou Dona Alberti, transmite-lhe através do seu diário de vida os elementos que me permite pensar na lógica do lar. O livro serve como um panegírico para reformular essas vidas, diário amigo. Obrigada Lídia Jorge que me tem ajudado a perceber a minha vida como utente de um lar. 


O livro de que falo é “Misericórdia”, Lídia Jorge, Dom Quixote, 2022

Professor Doutor Raul Iturra, Catedrático Emérito do ISCTE-IUL

Texto Editado por Claire Smith Antropóloga

Barra Mansa, Março de 2024 


domingo, 17 de março de 2024

Paulo Borges, curso online

 


E se tudo fosse uma Presença luminosa, sem princípio nem fim, aquilo a que uns chamam Buda, outros "Deus", outros "Tao", ouyros "Brahman" e outros o que não tem nome?

E se a tua essência, tal como a de tudo quanto existe, nada fosse senão esta mesma Presença infinita, consciente e amorosa, livre de nascimento e morte?

E se o que chamas “eu” não fosse senão a máscara desta Presença, que num sentido a manifesta e noutro a encobre?

E se toda a tua vida, bem como a vida do universo e de todos os seres, nada fosse senão a manifestação contínua desta Presença?

E se tudo o que experiencias, gratificante ou doloroso, não fossem senão oportunidades para reconheceres quem verdadeiramente és?

E se tudo o que mais procuras – liberdade, felicidade, conhecimento, amor, beleza, poder, riqueza, realização – não fossem senão qualidades desta Presença que é a verdade mais funda de ti e de tudo?

E se o sentido último e supremo da tua vida e do cosmos fosse descobrires e realizares isto, para assim ajudares os outros a cumprirem-se plenamente?

E se tudo isto fosse o Tesouro que és e ignoras, enquanto estiveres a dormir e sonhar que não és desde sempre a plenitude que procuras?

E se desde tempos imemoriais até hoje muitos seres humanos, mulheres e homens como tu, houvessem despertado e, movidos por amor e compaixão, tivessem deixado mensagens e instruções claras sobre como podes também despertar do sono e do esquecimento para a fruição da Preciosa Jóia em ti escondida?

sexta-feira, 15 de março de 2024

JOSÉ GIL

 "O homem, professor e amigo, mais apaixonado pelo Teatro que nós conhecemos"

encenador dramaturgista ator teatro artes do palco e de rua
de 1973-2024 teatro mundial

novos dias novas fotos teatro trabalho regular sempre, lutamos por estrear em Setúbal 24-maio-2024 pode escrever joseamilcarcapinhagil@hotmail.com
Professor Adjunto de Teatro na empresa Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal durante muitos anos, agora jubilado, mas não por vontade própria.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Textos Soltos

 Luís Santos

"De que árvore florida chega? Não sei. Mas é seu perfume."
(Matsuo Basho)



O ESTUDO GERAL, um pasquim digital que temos vindo a realizar, fez 14 anos. Ao longo destes anos muita e boa gente tem passeado por aqui. A tónica dominante tem sido a Língua Portuguesa, mas não exclusivamente. A última publicação foi do chileno Professor Catedrático Emérito Raul Angel Iturra, com quem temos tido gosto em aprender, já lá vão 40 anos. Um texto próprio de um sábio.
Muito mais se pode ver neste ESTUDO... Já este ano participaram autores como Firmino Pascoal (Projeto Musical Lindu Mona), Luís Souta (Literatura, o pão nosso de cada dia), Agostinho da Silva (a propósito dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões), Luís Santos (editorial e fotografia) e, por último, Raul Iturra (Leitura em Voz Alta).
Fica também um apreciável, adorável, "photopoema de Kity Amaral, pintora brasileira, mineira, que muito estimamos.

Vou até lá, mas volto já. Um miradouro, uma paisagemm uma paz: que beleza de natureza, aquela que gosta de regressar. E, depois, um rio que dá num rio, num doce balançar que trás à memória proncesinha do mar. Um antigo estaleiro naval e a água escura que molha a areia branca. Abaeté. A chuva molhava-me o rosto. Bacalhau de molho. Fevereiro, Carnaval e Março. Alô, Alô, Ernestina aquele abraço. Mas náo é José que o Egito resplandece em plemo umbigo e o sinal que vejo é este, onde o cujo faz a curva, o cu do mundo esse nosso sítio. E para você que me esqueceu, aquele abraço. Aquela bahia já me deu régua e compasso, quando Jorge assentou praça na cavalaria e eu fiquei feliz, porque eu também sou da sua companhia. De Iaparica à cidade da Praia, uma cidade com dois nomes. Logo mais, mornas e coladeras.



HOJE ao pequeno-almoço estivemos muito bem acompanhados. Uma roda de amigos, foi o Pomar que se lembrou, vieram o Ricardo, o Álvaro, o Alberto e a Hoffélia, como se vê na foto. Mais do que uma teoria, uma mónada de verdade, uma congregação de espíritos simples que encontramos amiúde, e que já vêm desde o início, inacessíveis e incorruptíveis a tudo quanto existe, pois que existe por inteiro e é ela própria sem partes. Uma evolução e desenvolvimento até chegar ao intelecto. União perfeita de espírito e matéria. Um frequenta o mesmo hipermercado e é engenheiro, outro vive na mesma rua ajudante de telecomunicações, também um guardador de rebanhos, ela professora, o promotor do encontro é pintor. Um deles disse que "o Homem é do tamanho do seu sonho", ao que se aproveita a ocasião para perguntar, afinal quantos somos cada um, ó Fernando Pessoa?

Sentimos saudades daquele pequeno promontório do nosso familiar ROSÁRIO. Já não nos permitíamos aquela boa contemplação, fazia demasiado tempo. Um dia destes António Lobo Antunes há-de descrevê-lo por magistrais palavras. À beira do sítio onde mora, uma pequenina igreja que está perto de comemorar quinhentos anos. Portal manuelino, arco triunfal de volta perfeita do mesmo estilo e paínéis de azulejos azuis e brancos com cenas da Senhora com o Menino. Senhora que certamente lhe dá nome, tantas as voltas que foram dadas a desfiar as contas maiores e as contas menores... o Rosário.
Mas, desta vez, o que nos levou lá foi aquela boca da ponta da passadeira por onde, depois de kilómetros a fio, nos entras o Tejo. Por detrás, ponte 25 de Abril e Cristo-Rei, Almada e Lisboa, foz do rio feito um estuário que se despeja no Atlântico. Oceano que nos trás a água do rio misturada com o salgado vai-vém do mar. Movimentos de maré. E até o Coina que vem descendo da Arrábida e se enfia neste seu braço do Tejo, ali na crescente beleza do nosso Barreiro, ajuda à festa da dança prateada das águas que nos assistem. O resultado é esta baía de águas calmas, mar da palha, onde tantas vezes nos enfiámos da cabeça aos pés e nos vai ajudando a desfiar esta maravilhosa coisa rara e preciosa, do estar aqui.

Bem hajam.