quarta-feira, 6 de março de 2024

Textos Soltos

 Luís Santos

"De que árvore florida chega? Não sei. Mas é seu perfume."
(Matsuo Basho)



O ESTUDO GERAL, um pasquim digital que temos vindo a realizar, fez 14 anos. Ao longo destes anos muita e boa gente tem passeado por aqui. A tónica dominante tem sido a Língua Portuguesa, mas não exclusivamente. A última publicação foi do chileno Professor Catedrático Emérito Raul Angel Iturra, com quem temos tido gosto em aprender, já lá vão 40 anos. Um texto próprio de um sábio.
Muito mais se pode ver neste ESTUDO... Já este ano participaram autores como Firmino Pascoal (Projeto Musical Lindu Mona), Luís Souta (Literatura, o pão nosso de cada dia), Agostinho da Silva (a propósito dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões), Luís Santos (editorial e fotografia) e, por último, Raul Iturra (Leitura em Voz Alta).
Fica também um apreciável, adorável, "photopoema de Kity Amaral, pintora brasileira, mineira, que muito estimamos.

Vou até lá, mas volto já. Um miradouro, uma paisagemm uma paz: que beleza de natureza, aquela que gosta de regressar. E, depois, um rio que dá num rio, num doce balançar que trás à memória proncesinha do mar. Um antigo estaleiro naval e a água escura que molha a areia branca. Abaeté. A chuva molhava-me o rosto. Bacalhau de molho. Fevereiro, Carnaval e Março. Alô, Alô, Ernestina aquele abraço. Mas náo é José que o Egito resplandece em plemo umbigo e o sinal que vejo é este, onde o cujo faz a curva, o cu do mundo esse nosso sítio. E para você que me esqueceu, aquele abraço. Aquela bahia já me deu régua e compasso, quando Jorge assentou praça na cavalaria e eu fiquei feliz, porque eu também sou da sua companhia. De Iaparica à cidade da Praia, uma cidade com dois nomes. Logo mais, mornas e coladeras.



HOJE ao pequeno-almoço estivemos muito bem acompanhados. Uma roda de amigos, foi o Pomar que se lembrou, vieram o Ricardo, o Álvaro, o Alberto e a Hoffélia, como se vê na foto. Mais do que uma teoria, uma mónada de verdade, uma congregação de espíritos simples que encontramos amiúde, e que já vêm desde o início, inacessíveis e incorruptíveis a tudo quanto existe, pois que existe por inteiro e é ela própria sem partes. Uma evolução e desenvolvimento até chegar ao intelecto. União perfeita de espírito e matéria. Um frequenta o mesmo hipermercado e é engenheiro, outro vive na mesma rua ajudante de telecomunicações, também um guardador de rebanhos, ela professora, o promotor do encontro é pintor. Um deles disse que "o Homem é do tamanho do seu sonho", ao que se aproveita a ocasião para perguntar, afinal quantos somos cada um, ó Fernando Pessoa?

Sentimos saudades daquele pequeno promontório do nosso familiar ROSÁRIO. Já não nos permitíamos aquela boa contemplação, fazia demasiado tempo. Um dia destes António Lobo Antunes há-de descrevê-lo por magistrais palavras. À beira do sítio onde mora, uma pequenina igreja que está perto de comemorar quinhentos anos. Portal manuelino, arco triunfal de volta perfeita do mesmo estilo e paínéis de azulejos azuis e brancos com cenas da Senhora com o Menino. Senhora que certamente lhe dá nome, tantas as voltas que foram dadas a desfiar as contas maiores e as contas menores... o Rosário.
Mas, desta vez, o que nos levou lá foi aquela boca da ponta da passadeira por onde, depois de kilómetros a fio, nos entras o Tejo. Por detrás, ponte 25 de Abril e Cristo-Rei, Almada e Lisboa, foz do rio feito um estuário que se despeja no Atlântico. Oceano que nos trás a água do rio misturada com o salgado vai-vém do mar. Movimentos de maré. E até o Coina que vem descendo da Arrábida e se enfia neste seu braço do Tejo, ali na crescente beleza do nosso Barreiro, ajuda à festa da dança prateada das águas que nos assistem. O resultado é esta baía de águas calmas, mar da palha, onde tantas vezes nos enfiámos da cabeça aos pés e nos vai ajudando a desfiar esta maravilhosa coisa rara e preciosa, do estar aqui.

Bem hajam.

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