terça-feira, 23 de março de 2010

PÁSSAROS DE FOGO


Flamingos no Rosário Acrílico sobre Tela 25x56cm
Autor António Tapadinhas
(clique sobre a imagem para a ver em pormenor)

Escrevi quando esta obra foi apresentada:
“Este quadro é o número um da exposição “Tejo Cintilante”. Não houve nenhum motivo especial: simplesmente, aconteceu. No entanto, a minha filha Elsa, que não esteve presente, quando me telefonou a desejar aquilo que uma filha querida deseja para o seu pai, pediu-me para lhe enviar uma fotografia da última obra que tinha feito para a mostra, porque alguém lhe tinha dito que era espectacularmente bela. Aconteceu também que esta foi adquirida, logo na abertura da exposição. Todos, sem excepção, achavam algo de especial nela. Chegaram ao ponto de dizer que seria um documento histórico, porque daqui a alguns anos, com a pressão urbana, os locais em que vivem os flamingos terão desaparecido, e o quadro seria um dos testemunhos vivos da sua presença na zona dos esteiros e sapais da Moita.
Depois de pensar um pouco sobre o assunto, quero confessar que, desta vez, foram os meus amigos que me ensinaram a ver a obra que eu tinha criado: manter o espírito aberto para aprender, é um sinal de humildade que eu gostaria de manter...
Sobre a execução da obra, foram os flamingos, pássaros-de-fogo, que me deram a inspiração para cobrir todo a tela com o meu mais profundo e afogueado laranja. Todas as outras cores nunca chegam a esconder a chama que está por baixo delas: vibra por entre as nuvens, espreita nas águas do Tejo, fornece luz às casas e dá o tom róseo aos flamingos!”
Não mencionei que alguém me disse que a obra lhe lembrava Turner. Sempre que me referem Mestres a propósito de alguma obra minha, fico honrado e envergonhado, acho que na mesma proporção.
Agora, a propósito de “Pastor de Sonhos”, apareceu a mesma referência. Por ser um texto de grande qualidade, reproduzo-o aqui com a devida vénia.

Texto de António Tapadinhas

6 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva Tó,

Cá estão, os flamingos que tanto prazer me deram de ver voar, sobre as cores com que imaginaste este quadro.

E lá está o Turner, contemplando a partir de uma nesga da Eternidade, pensando para com ele como também esta criação regista aquilo que já ouviu aos geo-físicos do futuro em que já não esteve presente, segundo os quais algumas das suas telas mais emblemáticas registaram um episódio climático que agora, para lá de toda a beleza que as suas pinturas encerram e nos legaram, ainda tem a particularidade bonita de lhes permitir acesso à busca de dados empíricos que avolumem os seus conhecimentos a respeito dos climas e da sua história.
E o Turner satisfaz-se por isso, pensando agora como valeu a pena o prazer que sentiu, a alegria infinita que lhe iluminou a alma enquanto se entregou àquelas sinfonias de céus em tons alaranjados e amarelecidamente baços. Encontrou um adicional de felicidade na sua Arte.
E sorri, neste preciso momento, contemplando este teu "Pássaros de Fogo", lá está ele sorrindo, perguntando-se se não estaremos perante a coincidência engraçada de mais um registo de um pequeno episódio climático, aquele que possibilitou aos flamingos colonizarem as invernias destas latitudes mais meridionais.

Pessoalmente, do ponto de vista da climatologia, não estarei assim tão certo da perspicácia e acerto do ponto de vista daquele imortal da pintura, mas gosto de pensar poeticamente que é isso que está a suceder e que em conformidade, esta tua obra está para os futuros climatologistas tal como o testemunho que o génio de Turner legou aos cientistas que nos são coevos.

Continuo assim a pensar o mesmo de que te falei no dia em que visitei essa tua exposição, não importa há quanto tempo isso tenha ocorrido.
E o encanto permanece o mesmo.

Obrigada pela partilha de uma pintura que eu gostaria de ter em casa, pelo egoísmo de estar à disposição do meu prazer de ver o belo de que este pedacinho do teu engenho é simplesmente uma manifestação.

Saúde companheiro, paz e saúde para ti

Luís

luis santos disse...

Já me tinham dito que os tinham visto por cá. Para mim foi a primeira vez. Numa das minhas habituais passeatas ao Moinho da Encharroqueira, no meio de alguns exercícios físicos, eis que de repente, como se de uma visão se tratasse, eles lá estavam.

Bem perto de mim, a uma distância de cinquenta metros, nas suas fogueantes cores, brilhantes, entre os brancos e os rosas, um bando de doze, calmamente ia estando, sem que revelassem medo da presença humana. De muita calma se tratava, de facto, porque devia estar fora da hora da refeição. Até parece que em repouso meditavam. Pareciam anjos.
(...)

SANTOS, Luis Carlos dos (2009) O Espírito dos Pássaros. Alhos Vedros: Edições Casa de Estudos, 2ª ed.

A.Tapadinhas disse...

Luís: Mais uma vez, tenho pena de um tão belo texto, ficar por aqui, meio escondido e envergonhado, ofuscado, talvez, pelo brilho abrasador do pássaros de fogo, os reais, aqueles que vemos neste Tejo do nosso contentamento, e os outros que povoam o nosso imaginário.

Só Turner, lá do alto do seu trono dourado, saberá qual o real e o imaginário...

Nós, mortais, teremos cada um a sua verdade...

Abraço,
António

A.Tapadinhas disse...

Luis Santos: Cá estamos mais uma vez à volta com os pássaros!
rsrsrs

E a propósito: as minhas caturras, aquela que apanhámos à saída da reunião do jornal (o macho), e a outra que apanhei no jardim de minha casa (a fêmea), continuam bem vivas, numa mesma gaiola.

Por enquanto, não notei sinais de aproximação, que me permitam supor que o acasalamento esteja para breve. Espero que a Primavera e a Natureza sigam o seu curso...

Abraço,
António

luis santos disse...

Mas será que a gaiola é suficientemente grande?

A.Tapadinhas disse...

Se o raciocínio tivesse alguma coisa a ver com estas coisas da paixão, eu diria que quanto maior for o tamanho da gaiola, menos hipóteses eles teriam acasalar.

Mas, tu és o especialista: estás dentro d´o espírito dos pássaros...

Vou seguir o teu conselho.

Abraço,
António