domingo, 14 de março de 2010

Estudo Geral


Uma outra vez, fomos visitar o Professor Agostinho da Silva a sua casa. Gentilmente recebidos, mandou-nos entrar para a sala de conversas. Uma meia dúzia de cadeiras estavam dispostas em círculo e em cima duma delas, sentado, um livro do cronista do reino, Rui de Pina, intitulado justamente Crónica de D. Dinis.

Já não nos recordamos quantas pessoas estavam presentes, mas a imagem do livrinho que acompanhou todo o encontro, e ali pousado nos olhava, não mais nos abandonou. Acabámos por adquiri-lo assim que surgiu a oportunidade.

É sabido que D. Dinis e, sobretudo, a sua esposa, Rainha Santa Isabel, têm lugar de destaque na abordagem que o Professor faz à história e à cultura portuguesa, desde logo, pela introdução no país do culto popular do Espírito Santo, feito pela princesinha de Aragão.

Mas que mais? Porque seria tão importante o reinado do Lavrador, ou do "plantador das naus a haver", como lhe chamou Fernando Pessoa na sua resumida e iniciática História de Portugal, a singela Mensagem?

Sabemos das suas significativas reformas agrícolas, onde, por exemplo, ganhou evidência a plantação do Pinhal de Leiria. Ganhámos um meio de expressão próprio com a instituição da Língua Portuguesa em substituição do galaico-português. Conseguimos prolongar a existência da Ordem do Templo (Templários), depois destes terem sido cruelmente excomungados, perseguidos e, muitos deles, assassinados, alterando-lhe o nome para Ordem de Cristo, a tal onde se desenvolveu o nobre Projecto da Expansão Ultramarina. E foi também por Ele que ganhou vida a primeira Universidade Portuguesa chamada de Estudo Geral.

Hoje os tempos são outros. Mas a pujança da Língua Portuguesa no mundo, a necessidade de bons estadistas em prole de uma organização social de excelência e a necessidade de uma sublimação espiritual constante, aconselham-nos a perscrutar os ecos da nossa história que muito bom legado nos deixou.

No Rei Poeta reconhecemos um conjunto de inovadoras medidas que nos permitiram avançar no tempo, como se houvesse tempo, construindo uma história digna de valor que, ainda hoje, pode ajudar a conduzir-nos universo fora, irmãos entre irmãos.

Fica, assim, feita justiça aquele enigmático livrinho que sentado nos olhava, como uma outra das inúmeras razões de estarmos aqui.

Bem hajam.

Luís Santos

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