quarta-feira, 15 de abril de 2015

Apontamentos Políticos


Duas Teorias Renascentistas: Maquiavel e Thomas More


Nicolau Maquiavel

Florença, pintada por Canaletto,
 e Maquiavel em pintura de Borgo Sansepolcro, século XVI.

Um dos representantes das novas ideias políticas é Nicolau Maquiavel cujo pensamento se apresenta como um produto típico do Renascimento. Nasceu em Florença, em 1469. O seu livro mais importante para a história do pensamento político é “O Príncipe”, publicado em 1513.

Neste livro, ele propõe-se procurar “qual é a essência dos principados, quantas espécies de principados existem, como se adquirem, como se mantêm e porque se perdem”. Mais concretamente, em relação aos principados italianos, ele procura definir as condições de que depende a ordem e de como é possível estabelecer um Estado estável que era coisa difícil de conseguir nos tempos que corriam.

A sua proposta sobre o poder político, onde se louva a arte da guerra, pois que o homem é “mau por natureza”, é que uma vez alcançado devia ser assegurado sob quaisquer circunstâncias. Para ele, a manutenção do poder é a verdadeira essência da política. Antes de um comportamento ético deverá estar a astúcia do “príncipe”, que deve ser capaz de tomar a decisão certa na altura certa em relação a forças antagónicas que constituem aa sociedades humanas. Assim, a religião ou a moral deverão constituir, antes de mais, instrumentos políticos face à necessidade de manutenção do poder. Nele, o "príncipe", o monarca, confunde-se com o próprio estado e a sua proposta passa por uma inteira centralização do poder, um sistema político designado de "absolutismo monárquico".

Maquiavel é considerado um dos fundadores da Ciência Política. Depois de Aristóteles é ele quem avança mais um passo no desenvolvimento desta ciência, pois ele tenta analisar o que as sociedades são, em vez do que deveriam ser. Embora tenha contribuído para o desenvolvimento da ciência política, alguns autores de espírito mais humanista referem-se às suas ideias como sendo, antes, por razões óbvias, um passo atrás.

Como é sabido Maquiavel(ico) ficou na linguagem corrente como sinónimo de sistema de ação que usa da velhacaria, da perfídia e da astúcia, para atingir os seus fins, sem se preocupar com os meios que utiliza. Mas há muito quem se refira ao exagero da adjetivação, pois que paralelamente à necessidade de preservação do poder, havia que tomar decisões que zelassem pelo equilíbrio do estado e pela sua coesão social Esta ambivalência de princípios é designada nele pela “crença na dupla moralidade”.


 Thomas More

Execução de Thomas More
pintura de Antoine Caron (séc. XVI).

Um outro nome do Renascimento muito importante para o desenvolvimento das ideias políticas é Thomas More que, todavia, se situa nas antípodas da maneira de pensar de Maquiavel.

Nasceu em Londres em 1478 e a sua principal obra é “A Utopia”. Morreu no cadafalso por se ter recusado a repudiar a chefia espiritual do pontífice, tal como exigia Henrique VIII. A Igreja Católica acabou por lhe prestar justo reconhecimento ao canonizá-lo em 1935.

Para além de um crente fervoroso era um incondicional humanista. As suas principais influências encontram-se em Platão e Santo Agostinho. Embora ao descrever esta sua obra não faça referências ao Evangelho, as preocupações morais do humanismo cristão estão sempre presentes e levam-no a criticar duramente os problemas políticos do seu tempo. Ele vê o homem como um sujeito capaz do bem, onde a mãe natureza trata todos por igual, e as sociedades humanas com possíveis reinos de paz, onde a guerra deveria ser evitada a todo o custo.

A descrição da sua “Utopia” é precedida de um diálogo em que More faz crítica à organização social do seu tempo: os príncipes só pensavam na guerra, preocupando-se pouco com a administração dos Estados sob seu domínio. A organização política da sociedade revelava inúmeros problemas, onde um número excessivo de nobres e ociosos, com as suas clientelas, viviam à custa do trabalho dos outros; tal como se verificava também a existência de um grande número de mendigos que também nada produziam. Em França e em Inglaterra, o cenário era idêntico.

A Utopia, cuja primeira edição é publicada em 1516 e ainda hoje constitui obra muito referenciada, representava uma proposta alternativa à realidade vigente. More descreve uma ilha imaginária que apresenta um Estado e organização social perfeitos. No fundo uma sociedade absolutamente igualitária, de produção coletivista, com costumes, instituições e leis iguais, onde, numa expressão, “tudo é de todos”. Constitui com “A Cidade Bela” de Platão, as primeiras propostas de sociedades comunistas da história.


Luís Santos

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