por Miguel Boieiro
Sei agora que há diferentes plantas com a designação popular
de erva-prata. Quando era criança os meus pais advertiam-me com frequência para
não misturar no forrejo uma tal erva-prata rasteirinha e de flores brancas. Ela
não matava os bichos mas conferia um sabor muito desagradável ao leite e à
carne, de tal maneira que os mesmos não se podiam tragar.
Num exame escrito da disciplina de Matérias-Primas do antigo
Instituto Comercial de Lisboa, para além do que se encontrava nas respetivas
sebentas que presidiam ao estudo, atrevi-me a falar de uma erva que, depois de
comida pelas vacas, transmitia ao leite odores e sabores desagradavelmente
enjoativos. A professora, que não conhecia tal facto, ficou estupefacta com o à
vontade do aluno, mas a ausência do nome científico acabou por colocar um ponto
final no assunto. Humildemente acrescento que ainda não detetei a respetiva
designação binominal latina e assim, não posso, por ora, caracterizar tal
erva-prata com o necessário rigor.
A que desta feita venho abordar é talvez, de todas as
ervas-prata, a mais divulgada em Portugal. Dá pelo nome de Paronychia argentea e pertence à família das Caryophyllaceae. Há também quem a conheça por paroníquia,
paroninquia-de-clusío, erva-gelada e erva-do-orvalho. Os americanos chamam-lhe
“Algerian Tea” o que, desde logo, indicia a sua origem mediterrânica.
Trata-se de uma herbácea perene com brácteas secas que fazem
lembrar papel translúcido. Nasce espontaneamente nos terrenos arenosos ou
pedregosos expostos às radiações solares e encontra-se com frequência nas
clareiras das matas xerófitas, solos incultos, bermas dos caminhos, dunas e
areias litorais formando vistosos tapetes. Possui vários caules prostrados de
cor avermelhada. As pequenas folhas são opostas, ovais ou ligeiramente
lanceoladas com pecíolos curtos. Na floração aglomerada, o que desperta a
atenção são as brácteas prateadas, protegendo e quase escondendo o respetivo
perianto. Dificilmente se enxergam as minúsculas flores axilares de tons
amarelos, com cinco sépalas e cinco pétalas. Elas são hermafroditas,
beneficiando da polinização facultada por pequenos insetos.
A Paronychia argentea
é bem visível nos “chás” compostos vendidos nas ervanárias visto que, pelo seu
aspeto singular, se distingue facilmente das outras espécies.
Considera-se que possui propriedades diuréticas,
adstringentes e vulnerárias.
A medicina popular utiliza-a, desde remotas eras, para os
problemas dos rins e do fígado, dores abdominais e albuminúria e ainda para
tratar transtornos gastrointestinais de cães e gatos.
O Dr. Lyon de Castro aconselhava o infuso de 30 g da planta
num litro de água para tomar três vezes por dia, fora das refeições.
Consultei vários tratados estrangeiros de plantas medicinais
e não encontrei, em nenhum deles, qualquer referência à erva-prata. Isso faz
supor que o seu uso é essencialmente devido à tradição popular que se transmite
oralmente através das sucessivas gerações. A corroborar esta ideia temos o
interessante livro de recolhas do historiador Domingos Boieiro. Na sua obra
“Ervas e Mezinhas – Corpo e Alma – Cadernos da Memória do Alandroal” este meu
“primo alentejano” regista o resultado de várias entrevistas feitas a
camponeses idosos do seu concelho onde a Paronychia
argentea aparece elencada como erva diurética e adstringente. Na página 64
refere-se mesmo que “o chá de erva-prata é excelente para fazer funcionar o
aparelho urinário e em banhos serve para diminuir as secreções glandulares e
limpar a pele”.
Por fim, devo acrescentar que encontrei também uma menção à
erva-prata no pequeno dicionário “Nomes Vulgares de Algumas Infestantes e
Respetivo Nome Botânico”, de Fátima Rocha, publicado em 1979 pela Direção Geral
de Proteção da Produção Agrícola do Ministério da Agricultura.
6 comentários:
Muito bem, mas a foto não parece ser a da erva-prata!
A escolha da foto é da minha responsabilidade. Tirei-a do banco de imagens do Google. Lá dizia erva-prata, mas talvez que existam várias espécies. Bem, certeza, certeza, não tenho.
Bom dia Luís!
O ideal é procurar a imagem, usando a designação científica, a qual é composta por dois nomes em latim.
Bom Dia Miguel!
Faremos isso.
Obrigado e Abraço.
A erva-prata é rasteira. No motor de busca, " Paronychia argentea Flora-on " há muitas fotos.
Gostei do site. Obrigado.
A erva prata é benéfico para quem sofre de gota ácido úrico?
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