segunda-feira, 13 de abril de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (127)

Fulgurante como mil sóis, António Tapadinhas, 2008
Acrílico sobre Tela, 40x50cm

Rómulo de Carvalho, poeta, pedagogo, historiador de ciência e educação, licenciado em Ciência Físico-Químicas, professor, que conheci na Escola Veiga Beirão. Tinha como poeta o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal, Enquanto. Lágrima de Preta e Calçada de Carriche são alguns dos seus mais célebres poemas.
 Nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906 e morreu em Lisboa a 19 de Fevereiro de 1997. 
É dele o "Poema da Morte na Estrada".

António Tapadinhas
  
Poema da Morte na Estrada


Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo
sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos. 

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