O termo popular “aroeira” designa vários arbustos ou árvores
de espécies diferentes da família das Anacardiaceae.
No Brasil, por exemplo, as aroeiras são árvores que dão pelos nomes científicos
de Schinus molle ou Schinus terebinthifolius. Tais espécies,
oriundas das faixas tropicais, são conhecidas em Portugal por pimenteiras
bastardas e podemos encontrá-las amiúde nos jardins urbanos. Mas não são essas
que iremos abordar, muito embora elas possuam também valiosos atributos
medicinais.
Vamos antes falar de um vulgaríssimo arbusto espontâneo e
dióico, nativo da região mediterrânica e da Macaronésia (ilhas dos Açores,
Madeira, Canárias e Cabo Verde), cujo nome é Pistacia lentiscus L. Existe praticamente em todo o país sendo mais
frequente no sul. Forma densas matas de copas arredondadas, com ramos frondosos
desde a base, podendo atingir 4 metros de altura. As suas folhas persistentes,
coriáceas, lanceoladas, glabras (sem pelos), têm uma coloração verde um pouco
brilhante. As flores surgem minúsculas, vermelhas ou amarelas e sem corola. Os
frutos, aos cachos, são pequenas drupas apiculadas e avermelhadas que enegrecem
quando maturam. Os caules, não muito grossos, são, no entanto, duros,
resistentes e flexíveis.
A aroeira medra em terrenos incultos nas charnecas e
florestas e mesmo em áreas costeiras, já que resiste bem à salinidade.
Na “Flora Portuguesa”, Gonçalo Sampaio aponta também outra
espécie, a Pistacia terebinthus que
se distingue da lentiscus por ser de
folha caduca, entre outros pequenos detalhes diferenciadores.
Fazendo incisões nos caules, surge uma oleorresina que, segundo
Aloísio Fernandes Costa em “Elementos da Flora Aromática”, é pobre em
constituintes voláteis permitindo, por destilação, a separação de essências.
Destas, o constituinte mais predominante é o pineno.
Os antigos, nomeadamente Teofrasto, Plínio e Dioscórides
tinham esta planta em grande conta. Na ilha grega de Quios ficou famoso o mastique,
resina aromática e translúcida baseada no látex extraído do tronco da aroeira. O
mastique era usado em odontologia por possuir uma boa atividade antibacteriana.
Além disso, fortalecia as gengivas e eliminava o mau hálito. Tanto a mastigação
do mastique como os bochechos da decocção das folhas e dos caules podem ser
usados como dentífricos naturais para combater a piorreia, a gengivite e a
parodontose (degenerescência dos tecidos de fixação dos dentes). A citada
resina é também mencionada para aromatizar o pão e os biscoitos e como
constituinte de um licor denominado “mástika”.
Em “Flores da Arrábida”, José Gomes Pedro refere que o óleo
da aroeira pode ser usado na alimentação e a madeira na indústria de
marcenaria.
Alguns autores mencionam que a aroeira é boa para combater
catarros pulmonares, gota e reumatismo e que as folhas são boas para feridas,
hemorragias, picadas de insetos e diarreias.
Segundo Oliveira Feijão e José Salgueiro, as bagas da aroeira
entram na preparação do, outrora muito famoso, óleo-da-mata. A sua confeção é muito simples:
- Ferver 300 g de bagas bem esmagadas com um pouco de mastique
num litro de azeite, até que a água contida nas bagas evapore. Espremer.
Arrefecer. Filtrar e guardar ao abrigo da luz e do calor.
O óleo-da-mata é muito eficaz para debelar dores reumáticas e
artroses.
Vamos experimentar?
Miguel Boieiro
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