quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Aroeira



Não vos venho falar dos primorosos loteamentos com “charmosas” vivendas que ficam perto da praia da Fonte da Telha (concelho de Almada). O sítio ficou a chamar-se Aroeira, prosseguindo uma tradição toponímica ligada à botânica, frequente no nosso país e creio mesmo que em todo o mundo. É curioso que a povoação que antecede a Aroeira denomina-se Verdisela (concelho do Seixal) que também é nome de planta, mais conhecida por corriola.

O termo popular “aroeira” designa vários arbustos ou árvores de espécies diferentes da família das Anacardiaceae. No Brasil, por exemplo, as aroeiras são árvores que dão pelos nomes científicos de Schinus molle ou Schinus terebinthifolius. Tais espécies, oriundas das faixas tropicais, são conhecidas em Portugal por pimenteiras bastardas e podemos encontrá-las amiúde nos jardins urbanos. Mas não são essas que iremos abordar, muito embora elas possuam também valiosos atributos medicinais.
Vamos antes falar de um vulgaríssimo arbusto espontâneo e dióico, nativo da região mediterrânica e da Macaronésia (ilhas dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), cujo nome é Pistacia lentiscus L. Existe praticamente em todo o país sendo mais frequente no sul. Forma densas matas de copas arredondadas, com ramos frondosos desde a base, podendo atingir 4 metros de altura. As suas folhas persistentes, coriáceas, lanceoladas, glabras (sem pelos), têm uma coloração verde um pouco brilhante. As flores surgem minúsculas, vermelhas ou amarelas e sem corola. Os frutos, aos cachos, são pequenas drupas apiculadas e avermelhadas que enegrecem quando maturam. Os caules, não muito grossos, são, no entanto, duros, resistentes e flexíveis.
A aroeira medra em terrenos incultos nas charnecas e florestas e mesmo em áreas costeiras, já que resiste bem à salinidade.
Na “Flora Portuguesa”, Gonçalo Sampaio aponta também outra espécie, a Pistacia terebinthus que se distingue da lentiscus por ser de folha caduca, entre outros pequenos detalhes diferenciadores.
Fazendo incisões nos caules, surge uma oleorresina que, segundo Aloísio Fernandes Costa em “Elementos da Flora Aromática”, é pobre em constituintes voláteis permitindo, por destilação, a separação de essências. Destas, o constituinte mais predominante é o pineno.
Os antigos, nomeadamente Teofrasto, Plínio e Dioscórides tinham esta planta em grande conta. Na ilha grega de Quios ficou famoso o mastique, resina aromática e translúcida baseada no látex extraído do tronco da aroeira. O mastique era usado em odontologia por possuir uma boa atividade antibacteriana. Além disso, fortalecia as gengivas e eliminava o mau hálito. Tanto a mastigação do mastique como os bochechos da decocção das folhas e dos caules podem ser usados como dentífricos naturais para combater a piorreia, a gengivite e a parodontose (degenerescência dos tecidos de fixação dos dentes). A citada resina é também mencionada para aromatizar o pão e os biscoitos e como constituinte de um licor denominado “mástika”.
Em “Flores da Arrábida”, José Gomes Pedro refere que o óleo da aroeira pode ser usado na alimentação e a madeira na indústria de marcenaria.
Alguns autores mencionam que a aroeira é boa para combater catarros pulmonares, gota e reumatismo e que as folhas são boas para feridas, hemorragias, picadas de insetos e diarreias.
Segundo Oliveira Feijão e José Salgueiro, as bagas da aroeira entram na preparação do, outrora muito famoso, óleo-da-mata.  A sua confeção é muito simples:
- Ferver 300 g de bagas bem esmagadas com um pouco de mastique num litro de azeite, até que a água contida nas bagas evapore. Espremer. Arrefecer. Filtrar e guardar ao abrigo da luz e do calor.
O óleo-da-mata é muito eficaz para debelar dores reumáticas e artroses.
Vamos experimentar?

 Miguel Boieiro

Sem comentários: