Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Nasruddin, o mestre-escola e os ratos de laboratório
José Flórido
Estamos condicionados. E dificilmente somos capazes de nos libertar deste condicionamento e pensar por nós próprios. Pois, tanto é peso do meio envolvente, que exerce sobre nós uma influência asfixiante! Por isso, aquilo que vulgarmente se chama "cultura" não passa muitas vezes de um somatório de conhecimentos dispersos, desordenados e sem dimensão espiritual. Uma espécie de "culto das exterioridades"... (sobre isso, teremos ainda muito que falar...)
Gurdjieff advertia frequentemente os seus discípulos dessa realidade. E referia-se ao facto das bibliotecas conterem muitos milhares de livros, escritos por "adormecidos" para outros "adormecidos". Assim, o sono pega-se com facilidade e é quase impossível acordar. É que este "saber", de que tanto nos orgulhamos, apresenta-se muitas vezes divorciado da vida, sobrevalorizando determinadas realidades em detrimento de outras. Vem então a propósito esta história:
"Um dia, quando Nasruddin ajudava um mestre-escola a atravessar um rio de barco, disse, a determinada altura, uma palavra errada, que mereceu imadiatamente a reprovação do professor:
- Nunca aprendeste gramática? - perguntou o mestre-escola ao barqueiro.
- Não - respondeu Nasruddin.
- Então, perdeste metade da tua vida.
Mas, alguns minutos depois, foi a vez de Nasruddin perguntar:
- O senhor nunca aprendeu a nadar?
- Não - disse o professor.
- Então, vai perder a vida toda, porque vamos afundar-nos.
Estamos realmente condicionados. E, por isso, a nossa vida assume muitas vezes um aspeto puramente convencional e até mesmo "mecânico". As nossas palavras, os nossos gestos, os nossos atos são mecânicos, repetitivos, perdendo a espontaneidade e a criatividade. Por esse motivo, temos de estar "vigilantes" se nos queremos libertar, pelo menos parcialmente, desse condicionamento. Os nossos atos provêm de solicitações do mundo exterior que exercem sobre nós um domínio tirânico. Tanto as nossas ideias como as nossas ações são, por assim dizer, "fabricadas", de acordo com os interesses e os objetivos da organização social onde estamos inseridos. Tudo isto nos leva a pensar que não são unicamente os ratos de laboratório que podem estar "condicionados" (segundo a experiência de Pavlov e a sua teoria dos "reflexos condicionados"). Também o homem pode estar "condicionado". Por isso, o psicólogo inglês, Hans Eysenck, parodiando a experiência de Pavlov, contava uma engraçada anedota sobre o rato de laboratório que dizia para o outro rato: "Sabes... tenho um homem muito bem "condicionado". Sempre que carrego nesta alavanca, ele deixa cair um pedaço de comida para mim."
joseflorido.weebly.com/textos
9/12/2016
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