A FOLGA INESPERADA
Inesperadamente, a Matilde teve hoje um dia em cheio.
Perante a falta da Professora lá deve ter convencido a mãe e em vez de regressar a casa, seguiu para Lisboa que o bom que tem este marasmo em que se vive são estas pequenas ternuras de poder levar um filho para o local de trabalho.
Mas não chateou quem quer que fosse, disse a progenitora.
Esteve sempre entretida com desenhos e pinturas e, estando o terreno livre, com jogos de computador também.
“-Margarida! Hoje, eu e a mãe almoçamos pizza.”
E também assim se faz a felicidade de uma família.
Lá anda outra vez a educação sexual como se fosse a falta de uma disciplina com tal objecto a principal lacuna do ensino.
E a desorientação em torno deste caso da pedofilia continua.
Nos Açores já se fizeram as audições para memória futura.
A diferença é manifesta. Lá, os arguidos não têm dinheiro para tirarem partido das garantias que os buracos na lei conferem se formos capazes de pagar os custos dos muitos requerimentos e esclarecimentos e impedimentos possíveis e que têm e muitas vezes conseguem a finalidade de protelar, protelar até que a justiça se apague e as vítimas se cansem.
É uma vergonha o que se passa e o que tudo isto deixa a nu.
A defesa de Carlos Cruz está de cabeça perdida e parece querer descontrolar-se na política do vale tudo.
Os dois advogados que na semana passada, numa táctica digna daqueles compradores de feira que fazem da manha moeda para comprar o burro, fartaram-se de elogiar o Juiz de Instrução como estando a ter uma conduta de grande abertura e imparcialidade, acusam-no agora de ser injusto e cruel. E um daqueles causídicos propôs-se mesmo a solicitar autorização à ordem dos advogados para divulgar na praça pública as suas alegações e o acórdão do Juiz.
O estado de direito, para esta gente, não passa de uma figura de retórica.
Tem-se falado muito de uma república de juízes.
Pois eu digo que é antes de temer uma república de advogados que é o que toda esta palhaçada deixa bem claro.
A legislação portuguesa tem nuances e regulamenta procedimentos por onde os mais poderosos podem escapar às teias da justiça.
Dia nevoento, excelente inimigo de um corpo castigado pela festa do fim-de-semana.
Salva-nos uma alma que voa alto.
Alhos Vedros
09/02/2004
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