Francisco Gomes de Amorim
Antiga:
Vamos
à chegada do D. João, com a controversa e horrível Carlota Joaquina, filhinhos
e mamãe louca.
Com
eles veio muita gente, entre tantos, alguém que parece ter sido votado ao
ostracismo, nesta terra a quem tanto deu. Chamou-se esse homem, António de
Araujo de Azevedo, mais tarde Conde da Barca.
Ainda
em Portugal desempenhou cargos da maior confiança. Foi ministro e
embaixador extraordinário junto a Corte de Haia em 1787, embaixador em São
Petersburgo, onde se mantém por três anos. Logo em seguida, torna-se ministro
dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, encarregando-se também, do Ministério do
Reino. Sempre se dedicou à ciência, às matemáticas e história, e foi possuidor
de uma importante biblioteca e até de uma tipografia.
Foi
um dos conselheiros que mais incentivou a vinda da família Real para o Brasil o
que lhe valeu o ódio de grande parte da população em Portugal, e teve que
embarcar de noite carregando as preciosidades que tinha em casa.
Desembarcou no Rio de Janeiro em 6 de Março, véspera da chegada do Príncipe Regente, trazendo consigo toda a magnífica livraria, legada posteriormente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a sua riquíssima colecção mineralógica e a tipografia completa que tinha em casa, e instalou-se num palacete na rua do Passeio, frente para o Passeio Público, de que já falámos.
Em
sua casa, monta um jardim onde cultiva mais de 1.500 espécies botânicas
indígenas e exóticas, que catalogou com o nome de Hortus Araujensis.
Propagou
a cultura do chá no Jardim Botânico para o que mandou vir chineses para
cuidarem do seu plantio e cultura, portugueses e madeirenses para ensaiarem a
cultura da vinha e outras frutas, e sempre ensaiando produtos como a extração
de óleo do urucu.
Em
1814 retorna à política, sendo nomeado Ministro da Marinha. No mesmo ano,
instala em seu Laboratório Químico-Prático um alambique de sistema escocês, com
melhoramentos feitos no Rio de Janeiro. Com este alambique, dedica-se à
fermentação de bebidas e daí supor-se que a principal fonte de renda do
Laboratório tenha sido a venda de licores e aguardente.
Além
de atividades relacionadas com a instituição, constituição e aplicação da
química no Brasil, tem-se notícia de que o Laboratório também teria como
atividade o ensino da disciplina, com o objetivo principal de preparar aqueles
que visavam prestar exames para boticários perante a Fisicatura–Mor.
Era
comendador da grã-cruz da Ordem de Cristo, da Ordem Militar da Torre e Espada,
da Ordem de Isabel a Católica, de Espanha e da Legião de Honra de
França. Além disso, pertenceu também a Academia Real de Ciências de Lisboa.
Foram notáveis seus entraves com a Cúria Romana entre 1814 e 1817. Tinha
frequentemente o assentimento do Príncipe Regente. Exemplo disso é a negativa
dada por ele à ordem do papa Pio VI para que fosse restabelecida em Portugal a
Companhia de Jesus.
Diante
dos clamores do povo da Madeira pela abolição do Tribunal da Santa Inquisição,
sugeriu que D. João VI o abolisse nos seus domínios, a que este não se atreveu.
O Governo do Rio de Janeiro solicita então a Roma a abolição do Santo Ofício,
pedido negado por Pio VII.
No
ano seguinte, intercede junto ao Príncipe Regente para a elevação do Brasil à
categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, facto que se realiza em
15 de Dezembro de 1815.
Era
também colecionador de obras de arte. Foi o responsável pela fundação da Escola
Real de Ciências, Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro, para a qual mandou vir da
França um competente quadro de professores. Tal quadro incluía nomes como: Le
Breton, Debret, Nicolas-Antoine de Taunay e seu filho Felix de Taunay,
Grandjean de Montigny e Charles Pradier. Encomendou o projeto do palácio da
Academia a Grandjean de Montigny, mas não viveu o suficiente para vê-lo pronto,
já que suas obras só terminaram em 1826.
Volta
a ocupar o Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Guerra em 1816/1817 e foi
convidado a assumir todas as pastas do governo. Contudo, com sua saúde já
bastante debilitada, veio a falecer. Foi o único conde da Barca. Seu título foi
lhe conferido em vida, pelo ainda príncipe regente, D. João VI, em 27 de
Dezembro de 1815.
O
destino do Laboratório Químico-Prático, inicialmente uma iniciativa particular
do Conde da Barca, foi o de ser apropriado pelo Estado, passando a ser um órgão
do Governo subordinado ao Ministério dos Negócios do Reino, e assim continuando
com suas atividades sob a direção de João Caetano de Barros. A garantia do
funcionamento do Laboratório foi endossada por decreto real do dia 27 de
Outubro de 1819, criando um Laboratório Químico.
Mas,
possivelmente o seu mais importante legado foi a tipografia, que aqui se
instituiu, transformando-se logo, por decreto de 13 de Maio de 1808, em
Imprensa Régia.
É
voz corrente dizer que foi D. João que trouxe a primeira tipografia para o
Brasil. Não foi. Mas sim este senhor António de Araujo de Azevedo, por sua
conta.
Há
um livro, História da Tipografia no Brasil, edição do Museu de Arte de São
Paulo, de Março de 1979, a que pomposamente chamam a primeira “História da
Tipografia no Brasil”, que se ficou a dever ao então secretário de cultura do
Estado de São Paulo, um tal dr. Max Feffer, segundo o Prefácio escrito pelo mui
justamente celebrado Pietro Maria Bardi.
Neste
livro tem até algo que parece anedótico, mentira ou camuflagem. Hipolito da
Costa no seu “Correio Brasiliense” escreveu: “Saiba o mundo, e a posteridade,
que, no ano de 1808 da era cristã, mandou o governo português, no Brasil,
buscar à Inglaterra uma impressão, com seus apendículos necessários, e a
remessa que daqui se lhe fez importou em cem libras esterlinas. Contudo diz-se
que aumentará este estabelecimento tanto mais necessário quanto o governo ali
nem pode imprimir as suas ordens para lhes dar publicidade. Tarde,
desgraçadamente tarde: mas, enfim, aparecem tipos no Brasil; e eu de todo o meu
coração dou os parabéns aos meus compatriotas”.
António
de Araújo de Azevedo faleceu em Junho de 1817, na sua casa na rua do Passeio.
Pelo
que se expõe não parecem restar quaisquer dúvidas de que este senhor, foi um
dos GRANDES homens do Brasil, e mais especificamente do Rio de Janeiro.
A
triste verdade é que ninguém sabe nada dele, e nem sequer a cidade lhe dedicou,
no mínimo, o nome de uma rua!
Merecia
até um busto, frente à casa onde morou e se instalou a Impressão Régia.
Atual
(mais ou menos):
Escrever
alguma coisa sobre a história atual do Brasil, ninguém é capaz. É isso; parece
impossível começar por dar uma ideia dessa triste, tristíssima história sem
lembrar de De Gaulle.
Muita
gente diz e com toda a razão que o Brasil …. “Le Brésil n’est pas un pays
serieux” – “O Brasil não é um país sério” – frase atribuída a Charles de
Gaulle.
E
agora com a Lava Jato, com este dilúvio de escândalos, do Mensalão, do
Petrolão, da Petrobras, do BNDS, do INSS, da Máfia das Sanguessugas, dos
Transportes, Operação Navalha, etc. que somados atingem largos trilhões de
rombo aos cofres públicos, ganha particular acuidade a frase, tanto mais que De
Gaulle continua a ser considerado uma das figuras mais respeitadas da política
no século XX. A verdade é que De Gaulle nunca disse que o Brasil não era um
país sério. O autor da frase foi o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza
Filho, embaixador do Brasil em França entre 1956 e 1964, quando surgiu um
desaguisado entre o Brasil e França, conhecido como a Guerra da Lagosta,
conflito “gravíssimo” onde não se disparou um único tiro! Tudo causado por
embarcações francesas, que pescavam lagostas em águas territoriais brasileiras,
cuja notícia chegou até ao Presidente João Goulart que mandou despachar para a
região uma Esquadra Naval apoiada pela Força Aérea! De Gaulle ao saber desta
teórica beligerância convocou o embaixador brasileiro para uma conversa no
Palácio do Eliseu, sede do governo francês.
Detalhe:
Na noite que seguiu a conversa com De Gaulle, o embaixador foi convidado para
uma festa na casa do presidente da Assembléia Nacional. Afinal a guerra não era
tão séria assim. Na recepção, o embaixador foi interpelado por outro convidado
e, o embaixador que sempre achou o governo brasileiro inábil no trato da
questão a nível diplomático, arrematou a conversa, como que em desabafo, com a
famosa frase: “O Brasil não é um pais sério”.
O
pior é que De Gaulle, ou não De Gaulle, alguém estava certíssimo!
Futura:
Falar
de “História do futuro do Brasil” seria plagiar mal e porcamente o Padre
António Vieira, que previu o Reino do Espírito Santo, da criança como imperador
na sua inocência e de algo importantíssimo: a transparência!
Ou
então voltar a citar Stephan Zweig que no seu delírio escreveu “Brasil, o país
do futuro” e que acabou por se suicidar, deixando uma carta que começa por
cantar: “Antes
de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida,
imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso
país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e
hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em
parte alguma poderia eu reconstruir minha vida...”
É
evidente que não podemos, ainda, começar a desenterrar o futuro. Mas hoje
questiona-se se a “antevisão” do tal futuro teria sido um sincero grito de
alma, ou a premonição que, se estava muito bem em 1926, ele pretendia “ver”
esse futuro em termos de eternidade, onde, se o tempo não passa, porque tudo é
presente, o futuro do Brasil seria a vergonha eterna, tal como a estamos a
vivenciar?
Só
no Rio de Janeiro, este ano, mais de 100 policiais assassinados, dezenas de
áreas da cidade onde não se pode entrar porque lá impera a droga, o contrabando
de armas, o crime, onde um juiz prende o ladrão e outro solta porque é
amiguinho, outros ganham “de acordo com a lei que eles fazem”, oitenta a cento
e cinquenta mil Euros, POR MÊS, onde um polícia atropela um ciclista, que
morre, foge, não tem o carro licenciado e mais de 5000 mil multas de trânsito e
não é preso, outro é apanhado com 35.000 balas de espingarda de guerra roubadas
no seu quartel e nada lhe acontece, onde, todos os dias, todos os dias, as
notícias se repetem: prefeito “tal”, governadores “tais”, juízes “tais”,
deputados “tais”, senadores idem, ex-presidentes idem, todos condenados a anos
de cadeia, e aí à solta gozando os trilhões roubados aos cofres públicos!
Bem
desejo que a alma de Stephan Zweig descanse em paz. Mas, lá do alto, devia
explicar melhor o que ele entende de FUTURO, porque nós, miseráveis terráqueos,
só vemos um futuro: triste e sujo.
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