E hoje os alunos trabalharam com a nova palavra telhado.
Excelente, o artigo que Helena Matos apresentou no “Público”, de Sábado passado. (1) Curiosamente e por coincidência, em tese desenvolve um pequeno texto que enviei como comentário de uma notícia no jornal on-line, “Portugal Diário”.
O pior dano que o terrorismo nos causa é a dúvida sobre a nossa culpabilidade pelos crimes que sobre nós ele pratica. Com isso, por um lado estamos a justificá-lo, isto é, a dar-lhe razoabilidade e, por outro lado estamos a ceder à sua chantagem e a recuar no combate implacável que lhe deveríamos travar; em vez de em ele vermos o Mal que realmente é, estamos a confundi-lo como expressão de uma causa que, a existir, visa, entre outros objectivos, a destruição do nosso modo de vida.
A curiosidade está no desenvolvimento que isto faz das ideias centrais daquele textozinho que assinei sob o pseudónimo Rudolfo Wolf, uma pequena brincadeira que consiste na participação cívica ao nível da informação digital.
Foram assim as minhas palavras.
“Se bem que não existam certezas quanto à autoria de mais este massacre, provavelmente terá ele a assinatura da Al-Qaeda. Seja como for, pouco importa, a linguagem do terrorismo é universal e é semelhante em todos os lugares sobre os quais se abate a sua violência cobarde e gratuita. Os desideratos, também eles, são os mesmos em toda a parte e visam o controle do exercício do poder absoluto e, com isso, a imposição de uma determinada cosmovisão e respectivos pontos de vista. Estamos perante poderes totalitários. Ora um dos efeitos mais nefastos do totalitarismo é precisamente a sensação de culpabilidade que incute nas vítimas e é justamente isso que nós temos a obrigação de evitar.
Caso contrário, nunca seremos capazes de compreender que não podemos ceder à chantagem terrorista sob pena de perdermos as nossas garantias de que podemos planear as nossas vidas de forma a que um dia deixemos o nosso legado aos nossos filhos. Mas por muito que custe a muitos dos amigos Leitores que, estou certo disso, são pessoas de bem e amantes da paz e da liberdade, a verdade é que o onze de Setembro só pode ser entendido como um acto inicial, isto é, aquele que marcou o início da guerra mundial que decorre perante os nossos olhos e perplexidades e que opõe a Al-Qaeda e afins aos aliados do Ocidente – entre os quais será bom que nos encontremos. Pois neste sentido, não tenhamos dúvidas que também nós somos um alvo potencial e não só do ponto de vista militar; começamos desde logo por o ser do ponto de vista civilizacional e, para tanto, pouco mais importa perceber que as queridas filhas com que Deus me abençoou, aos olhos odientos desses cérebros prenhes de maldade e fanatismo, não passam de seres inferiores que aos homens devem total obediência e submissão.
Apoiar a guerra contra o terrorismo não significa que façamos a apologia da guerra, em abstracto, mas apenas que não aceitamos o mundo esquizofrénico que essa canalha nos quereria impor. E por mais doloroso que o seja, sabemos por experiência feita que o baixar dos braços perante o tirano só serve para lhe dar mais força na violência que sobre nós ele provoca.
Nunca será de mais meditarmos em trinta e três, nas folhas de pacifismos que ingleses e franceses assinaram nos anos seguintes e naquilo que cinco anos depois aconteceu à Checoslováquia.
Para que não mais se repita.” (2)
Pois é com base neste ponto de vista que vejo com muita apreensão e pessimismo o discurso de Zapatero, no seu primeiro dia após a vitória nas legislativas em que os espanhóis decidiram castigar o partido do governo que lhes mentiu sobre a autoria da matança do dia onze, em Madrid.
Diz o futuro primeiro-ministro que a menos que a soberania, no Iraque, transite para as Nações Unidas, em Junho, as tropas espanholas sairão daquele país, onde, como aliados, contribuem para a pacificação e normalização daquele território.
Será a vitória da Al-Qaeda que assim entenderá o voto do eleitorado espanhol como ditado pelo massacre e a capitulação do mesmo e do governo eleito diante da hipótese de novos morticínios em massa?
Se a Espanha cair, toda a Europa se ajoelhará e mais uma vez os ingleses ficarão sozinhos com o fardo da defesa da civilização que neste lado do mundo construímos?
Já não há paciência para Mário Soares.
Agora diz que Durão Barroso deve tirar as consequências do resultado das eleições em Espanha.
Sem comentários.
E Putin venceu as presidenciais russas pelo que iniciará um segundo mandato que será o da cesarização do cargo, continuando tudo mais ou menos na mesma e o povo cada vez pior.
A exportação mafiosa que do ex-império soviético se espalha pela Europa rica permanecerá nos próximos anos.
E este mundo que tem tantas coisas bonitas.
Alhos Vedros
15/03/2004
NOTAS
(1) Matos, Helena, O MAL, p. 17
(2) Wolf, Rudolfo, PARA QUE NÃO MAIS SE REPITA
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Matos, Helena, O MAL, In “Público”, nº. 5103, de 13/03/2015
Wolf, Rudolfo, PARA QUE NÃO MAIS SE REPITA, In Fórum, “A Ressaca dos Atentados de Madrid”, “Portugal Diário”, iol.pt, de 12/03/2004
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